03.03.2017 Views

Freud

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

168/225<br />

posterior, que se fez a partir dele; a sucessão também envolve uma coexistência,<br />

embora se trate dos mesmos materiais em que transcorreu toda a série de<br />

mudanças. O estado anímico anterior pode não ter se manifestado durante<br />

anos, mas continua tão presente que um dia pode novamente se tornar a forma<br />

de expressão das forças anímicas, a única mesmo, como se todos os desenvolvimentos<br />

posteriores tivessem sido anulados, desfeitos. Essa extraordinária<br />

plasticidade dos desenvolvimentos anímicos não é irrestrita quanto à sua<br />

direção; podemos descrevê-la como uma capacidade especial para a involução<br />

— regressão —, pois bem pode ocorrer que um estágio de desenvolvimento<br />

ulterior e mais elevado, que foi abandonado, não possa mais ser atingido. Mas<br />

os estados primitivos sempre podem ser restabelecidos; o que é primitivo na<br />

alma é imperecível no mais pleno sentido.<br />

As chamadas doenças mentais produzem inevitavelmente, no leigo, a impressão<br />

de que a vida intelectual e psíquica foi destruída. Na realidade a<br />

destruição toca apenas a conquistas e desenvolvimentos posteriores. A essência<br />

da doença mental reside na volta a estados anteriores da vida afetiva e do funcionamento.<br />

Um ótimo exemplo da plasticidade da vida anímica nos é dado<br />

pelo estado do sono, que buscamos a cada noite. Desde que aprendemos a<br />

traduzir também sonhos loucos e confusos, sabemos que toda vez que dormimos<br />

nos livramos de nossa moralidade penosamente conquistada, como<br />

fazemos com uma roupa — para novamente vesti-la na manhã seguinte. Esse<br />

desnudamento é sem dúvida inócuo, pois devido ao sono estamos paralisados,<br />

condenados à inação. Apenas o sonho pode informar sobre a regressão de<br />

nossa vida afetiva a um dos mais antigos estágios de desenvolvimento. É digno<br />

de nota, por exemplo, que todos os nossos sonhos sejam dominados por<br />

motivos puramente egoístas. * Um de meus amigos ingleses defendeu essa tese<br />

num encontro científico na América, ao que uma senhora presente fez a observação<br />

de que isso talvez fosse correto quanto à Áustria, mas ela podia asseverar,<br />

de si mesma e de seus amigos, que também nos sonhos eles tinham sentimentos<br />

altruístas. Meu amigo, embora também da raça inglesa, teve de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!