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posterior, que se fez a partir dele; a sucessão também envolve uma coexistência,<br />
embora se trate dos mesmos materiais em que transcorreu toda a série de<br />
mudanças. O estado anímico anterior pode não ter se manifestado durante<br />
anos, mas continua tão presente que um dia pode novamente se tornar a forma<br />
de expressão das forças anímicas, a única mesmo, como se todos os desenvolvimentos<br />
posteriores tivessem sido anulados, desfeitos. Essa extraordinária<br />
plasticidade dos desenvolvimentos anímicos não é irrestrita quanto à sua<br />
direção; podemos descrevê-la como uma capacidade especial para a involução<br />
— regressão —, pois bem pode ocorrer que um estágio de desenvolvimento<br />
ulterior e mais elevado, que foi abandonado, não possa mais ser atingido. Mas<br />
os estados primitivos sempre podem ser restabelecidos; o que é primitivo na<br />
alma é imperecível no mais pleno sentido.<br />
As chamadas doenças mentais produzem inevitavelmente, no leigo, a impressão<br />
de que a vida intelectual e psíquica foi destruída. Na realidade a<br />
destruição toca apenas a conquistas e desenvolvimentos posteriores. A essência<br />
da doença mental reside na volta a estados anteriores da vida afetiva e do funcionamento.<br />
Um ótimo exemplo da plasticidade da vida anímica nos é dado<br />
pelo estado do sono, que buscamos a cada noite. Desde que aprendemos a<br />
traduzir também sonhos loucos e confusos, sabemos que toda vez que dormimos<br />
nos livramos de nossa moralidade penosamente conquistada, como<br />
fazemos com uma roupa — para novamente vesti-la na manhã seguinte. Esse<br />
desnudamento é sem dúvida inócuo, pois devido ao sono estamos paralisados,<br />
condenados à inação. Apenas o sonho pode informar sobre a regressão de<br />
nossa vida afetiva a um dos mais antigos estágios de desenvolvimento. É digno<br />
de nota, por exemplo, que todos os nossos sonhos sejam dominados por<br />
motivos puramente egoístas. * Um de meus amigos ingleses defendeu essa tese<br />
num encontro científico na América, ao que uma senhora presente fez a observação<br />
de que isso talvez fosse correto quanto à Áustria, mas ela podia asseverar,<br />
de si mesma e de seus amigos, que também nos sonhos eles tinham sentimentos<br />
altruístas. Meu amigo, embora também da raça inglesa, teve de