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Freud

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transformar os instintos egoístas em sociais, à qual bastam leves incitamentos<br />

para realizar essa transformação. Outra parcela dessa transformação instintual<br />

tem que ser efetuada na vida mesma. Desse modo, o ser individual se encontra<br />

não apenas sob o influxo do seu meio cultural presente, mas está sujeito também<br />

à influência da história cultural de seus antepassados.<br />

Se chamarmos de aptidão para a cultura a capacidade de um homem mudar<br />

os instintos egoístas por influência do erotismo, poderemos dizer que ela consiste<br />

de duas partes, uma inata e outra adquirida na vida, e que a relação das<br />

duas entre si e com a parte não transformada da vida instintual é bastante<br />

variável.<br />

Em geral tendemos a atribuir demasiada importância à parte inata, e além<br />

disso corremos o perigo de superestimar a aptidão total para a cultura, em sua<br />

relação com a vida instintual que permaneceu primitiva; isto é, somos levados<br />

a julgar os homens “melhores” do que são na realidade. Pois há ainda um<br />

outro fator que turva nosso julgamento e falseia o resultado num sentido<br />

favorável.<br />

Naturalmente os impulsos instintuais de outro ser humano escapam à nossa<br />

percepção. Nós os inferimos de seus atos e sua conduta, que remontamos a<br />

motivos oriundos de sua vida instintual. Tal inferência falha necessariamente<br />

em certo número de casos. As mesmas ações culturalmente “boas” podem num<br />

caso proceder de motivos “nobres”, e em outro, não. Os teóricos da ética denominam<br />

“bons” apenas os atos que são expressão de impulsos instintuais<br />

bons, e negam aos demais esse reconhecimento. A sociedade, conduzida por<br />

intenções práticas, em geral não se preocupa com essa distinção; contenta-se<br />

em que um homem regule seu comportamento e seus atos pelos preceitos da<br />

cultura, e pouco interroga por seus motivos.<br />

Vimos que a coação externa, que a educação e o meio exercem, contribui<br />

ainda para mudar a vida instintual da pessoa em direção ao bem, para transformar<br />

seu egoísmo em altruísmo. Mas esse não é o efeito necessário ou regular<br />

da coação externa. A educação e o meio não têm apenas brindes de amor a<br />

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