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transformar os instintos egoístas em sociais, à qual bastam leves incitamentos<br />
para realizar essa transformação. Outra parcela dessa transformação instintual<br />
tem que ser efetuada na vida mesma. Desse modo, o ser individual se encontra<br />
não apenas sob o influxo do seu meio cultural presente, mas está sujeito também<br />
à influência da história cultural de seus antepassados.<br />
Se chamarmos de aptidão para a cultura a capacidade de um homem mudar<br />
os instintos egoístas por influência do erotismo, poderemos dizer que ela consiste<br />
de duas partes, uma inata e outra adquirida na vida, e que a relação das<br />
duas entre si e com a parte não transformada da vida instintual é bastante<br />
variável.<br />
Em geral tendemos a atribuir demasiada importância à parte inata, e além<br />
disso corremos o perigo de superestimar a aptidão total para a cultura, em sua<br />
relação com a vida instintual que permaneceu primitiva; isto é, somos levados<br />
a julgar os homens “melhores” do que são na realidade. Pois há ainda um<br />
outro fator que turva nosso julgamento e falseia o resultado num sentido<br />
favorável.<br />
Naturalmente os impulsos instintuais de outro ser humano escapam à nossa<br />
percepção. Nós os inferimos de seus atos e sua conduta, que remontamos a<br />
motivos oriundos de sua vida instintual. Tal inferência falha necessariamente<br />
em certo número de casos. As mesmas ações culturalmente “boas” podem num<br />
caso proceder de motivos “nobres”, e em outro, não. Os teóricos da ética denominam<br />
“bons” apenas os atos que são expressão de impulsos instintuais<br />
bons, e negam aos demais esse reconhecimento. A sociedade, conduzida por<br />
intenções práticas, em geral não se preocupa com essa distinção; contenta-se<br />
em que um homem regule seu comportamento e seus atos pelos preceitos da<br />
cultura, e pouco interroga por seus motivos.<br />
Vimos que a coação externa, que a educação e o meio exercem, contribui<br />
ainda para mudar a vida instintual da pessoa em direção ao bem, para transformar<br />
seu egoísmo em altruísmo. Mas esse não é o efeito necessário ou regular<br />
da coação externa. A educação e o meio não têm apenas brindes de amor a<br />
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