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Freud

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trabalho comum de civilização, para o qual haviam demonstrado ser suficientemente<br />

aptos. Mas mesmo os grandes povos, podia-se pensar, haviam adquirido<br />

tamanha compreensão pelo que tinham em comum, e tanta tolerância<br />

por suas diferenças, que “estrangeiro” e “inimigo” não mais se fundiam numa<br />

única noção, como ainda ocorria na Antiguidade clássica.<br />

Confiados nessa união dos povos civilizados, inúmeros indivíduos trocaram<br />

sua moradia na terra natal pela permanência no estrangeiro, ligando sua<br />

existência às relações de intercâmbio dos povos amigos. E aquele que não se<br />

achava, pelas necessidades da vida, limitado a um só lugar, podia compor para<br />

si, a partir de todas as vantagens e atrações dos países civilizados, uma pátria<br />

nova e maior, onde circulava insuspeito e desimpedido. Assim desfrutava do<br />

mar azul e do mar cinza, da beleza das montanhas de neve e dos prados verdes,<br />

da magia da floresta nórdica e do esplendor da vegetação meridional, da atmosfera<br />

das paisagens ligadas a grandes recordações históricas e do silêncio da<br />

natureza intocada. Essa nova pátria era para ele também um museu, repleto<br />

dos tesouros que os artistas da humanidade culta haviam criado e legado desde<br />

muitos séculos. Andando de uma sala a outra desse museu, podia verificar imparcialmente<br />

os diversos tipos de perfeição que a história, a miscigenação e as<br />

peculiaridades da mãe Terra haviam produzido com seus novos compatriotas.<br />

Aqui se desenvolvera ao máximo a fria, inflexível energia; ali, a arte graciosa<br />

de embelezar a vida; acolá, o sentido da ordem e da lei, ou alguma outra das<br />

características que fizeram do homem o senhor da Terra.<br />

Não nos esqueçamos também que todo cidadão civilizado do mundo havia<br />

criado para si um “Parnaso” e uma “Escola de Atenas” especiais. Entre os<br />

grandes pensadores, poetas e artistas de todas as nações ele havia escolhido<br />

aqueles aos quais acreditava dever o melhor que obtivera em termos de fruição<br />

e compreensão da vida, e em sua veneração os havia posto junto aos antigos<br />

imortais e aos familiares mestres de sua própria língua. Nenhum desses<br />

grandes lhe era estrangeiro por se expressar em outra língua, nem o<br />

inigualável perscrutador das paixões humanas nem o adorador inebriado da<br />

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