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Freud

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no entanto condenar a guerra nos seus meios e nos seus fins, ansiando pelo<br />

término de todas as guerras. Dizíamos, é verdade, que as guerras não podem<br />

acabar enquanto os povos viverem em condições tão diferentes, enquanto divergirem<br />

de tal modo no valor que atribuem à vida individual, e enquanto os<br />

ódios que os dividem representarem forças psíquicas * tão intensas. Estávamos<br />

então preparados para ver que ainda por longo tempo a humanidade estaria às<br />

voltas com guerras entre os povos primitivos e os civilizados, entre as raças<br />

que estão separadas pela cor da pele, e mesmo guerras contra ou em meio a<br />

nacionalidades europeias que pouco se desenvolveram ou que retrocederam<br />

culturalmente. Mas nós nos permitíamos outras esperanças. Esperávamos, das<br />

nações de raça branca que dominam o mundo, às quais coube a condução do<br />

gênero humano, sabidamente empenhadas no cultivo de interesses mundiais, e<br />

cujas criações incluem tanto os progressos técnicos no domínio da natureza<br />

como os valores culturais artísticos e científicos, desses povos esperávamos<br />

que soubessem resolver por outras vias as desinteligências e os conflitos de interesses.<br />

No interior de cada uma dessas nações haviam se estabelecido elevadas<br />

normas morais para o indivíduo, segundo as quais ele devia conformar sua<br />

vida, se quisesse fazer parte da comunidade civilizada. Tais prescrições, frequentemente<br />

severas demais, exigiam muito dele, uma enorme restrição de si<br />

mesmo, uma larga renúncia da satisfação instintual. Sobretudo lhe era negado<br />

servir-se das extraordinárias vantagens proporcionadas pelo uso da mentira e<br />

da fraude, na competição com seus semelhantes. O Estado civilizado tinha essas<br />

regras morais como base de sua existência, intervindo seriamente quando<br />

se ousava atacá-las, e declarando amiúde ser impróprio até mesmo sujeitá-las<br />

ao exame da inteligência crítica. Era de supor, então, que ele mesmo quisesse<br />

respeitá-las e não pensasse em empreender algo contra elas, pois desse modo<br />

estaria contrariando o fundamento de sua própria existência. Por fim se podia<br />

também perceber, é verdade, que no interior dessas nações civilizadas se<br />

achavam resíduos dispersos de alguns povos, que em geral não eram queridos,<br />

e portanto somente a contragosto, e nunca inteiramente, eram admitidos no<br />

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