Freud
CONSIDERAÇÕES ATUAIS SOBRE A GUERRA E A MORTE (1915) TÍTULO ORIGINAL: “ZEITGEMÄSSES ÜBER KRIEG UND TOD”; OS DOIS SUBTÍTULOS ORIGINAIS SÃO: “DIE ENTTÄUSCHUNG DES KRIEGES” E “UNSER VERHÄLTNIS ZUM TODE”. PUBLICADO PRIMEIRAMENTE EM IMAGO, V. 4, N. 1, PP. 1-21. TRADUZIDO DE GESAMMELTE WERKE X, PP. 324-55; TAMBÉM SE ACHA EM STUDIENAUSGABE IX, PP. 33-60.
I. A DESILUSÃO CAUSADA PELA GUERRA Apanhados no torvelinho desse tempo de guerra, informados de maneira unilateral, sem distanciamento das grandes mudanças que já ocorreram ou estão para ocorrer e sem noção do futuro que se configura, ficamos nós mesmos perdidos quanto ao significado das impressões que se abalam sobre nós e quanto ao valor dos julgamentos que formamos. Quer nos parecer que jamais um acontecimento destruiu tantos bens preciosos da humanidade, jamais confundiu tantas inteligências das mais lúcidas e degradou tão radicalmente o que era elevado. Até mesmo a ciência perdeu sua desapaixonada imparcialidade; profundamente exasperados, seus servidores buscam extrair-lhe armas, para dar contribuição à luta contra os inimigos. O antropólogo tem que declarar o adversário um ser inferior e degenerado, o psiquiatra tem que diagnosticar nele uma perturbação espiritual ou psíquica. Mas provavelmente sentimos o mal desse tempo com intensidade desmedida, não tendo o direito de compará-lo com aquele de tempos que não vivenciamos. O indivíduo que não se tornou um combatente e, portanto, uma partícula da enorme máquina da guerra, sente-se perplexo quanto à sua orientação e inibido em sua capacidade de realização. Penso que acolherá de bom grado qualquer pequena indicação que o ajude a situar-se pelo menos no seu próprio íntimo. Entre os fatores responsáveis pela miséria psíquica dos não combatentes, contra os quais é tão difícil eles lutarem, gostaria de destacar dois e de abordá-los aqui. Eles são: a desilusão provocada pela guerra e a diferente atitude ante a morte, à qual ela — como todas as guerras — nos obrigou. Quando falo de desilusão, cada um sabe de imediato o que isso significa. Não é preciso ser um entusiasta da compaixão, pode-se reconhecer a necessidade biológica e psicológica do sofrimento para a economia da vida humana e
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I. A DESILUSÃO CAUSADA<br />
PELA GUERRA<br />
Apanhados no torvelinho desse tempo de guerra, informados de maneira unilateral,<br />
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para ocorrer e sem noção do futuro que se configura, ficamos nós mesmos perdidos<br />
quanto ao significado das impressões que se abalam sobre nós e quanto<br />
ao valor dos julgamentos que formamos. Quer nos parecer que jamais um<br />
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tantas inteligências das mais lúcidas e degradou tão radicalmente o que era<br />
elevado. Até mesmo a ciência perdeu sua desapaixonada imparcialidade; profundamente<br />
exasperados, seus servidores buscam extrair-lhe armas, para dar<br />
contribuição à luta contra os inimigos. O antropólogo tem que declarar o adversário<br />
um ser inferior e degenerado, o psiquiatra tem que diagnosticar nele<br />
uma perturbação espiritual ou psíquica. Mas provavelmente sentimos o mal<br />
desse tempo com intensidade desmedida, não tendo o direito de compará-lo<br />
com aquele de tempos que não vivenciamos.<br />
O indivíduo que não se tornou um combatente e, portanto, uma partícula<br />
da enorme máquina da guerra, sente-se perplexo quanto à sua orientação e inibido<br />
em sua capacidade de realização. Penso que acolherá de bom grado<br />
qualquer pequena indicação que o ajude a situar-se pelo menos no seu próprio<br />
íntimo. Entre os fatores responsáveis pela miséria psíquica dos não combatentes,<br />
contra os quais é tão difícil eles lutarem, gostaria de destacar dois e de<br />
abordá-los aqui. Eles são: a desilusão provocada pela guerra e a diferente atitude<br />
ante a morte, à qual ela — como todas as guerras — nos obrigou.<br />
Quando falo de desilusão, cada um sabe de imediato o que isso significa.<br />
Não é preciso ser um entusiasta da compaixão, pode-se reconhecer a necessidade<br />
biológica e psicológica do sofrimento para a economia da vida humana e