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Freud

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Voltemos agora ao fato singular de a paciente se defender do amor ao<br />

homem com a ajuda de um delírio paranoico. A história do desenvolvimento<br />

desse delírio fornece a chave para a sua compreensão. Originalmente, como<br />

podíamos esperar, ele era dirigido à mulher, mas então se realizou, no terreno da<br />

paranoia, o avanço da mulher para o homem como objeto. Um tal avanço não é<br />

comum na paranoia; via de regra vemos que o perseguido permanece fixado<br />

nas mesmas pessoas, ou seja, no mesmo sexo sobre o qual recaía sua escolha<br />

amorosa antes da transformação paranoica. Mas a enfermidade neurótica não o<br />

exclui; nossa observação pode ser exemplar para muitas outras. Existem, fora<br />

da paranoia, muitos processos semelhantes que até hoje não foram considerados<br />

sob essa perspectiva, entre eles alguns bastante conhecidos. Por exemplo,<br />

os assim chamados neurastênicos são impedidos, por sua ligação inconsciente<br />

a objetos amorosos incestuosos, de tomar outra mulher como objeto, e<br />

sua atividade sexual é limitada à fantasia. Mas no terreno da fantasia ele realiza<br />

o avanço que lhe foi negado e pode substituir mãe e irmã por outros objetos.<br />

Como nestes está ausente a objeção da censura, a escolha dessas pessoas<br />

substitutas torna-se consciente para ele em suas fantasias.<br />

Os fenômenos de um avanço tentado a partir de novo terreno, em geral<br />

conquistado regressivamente, colocam-se ao lado dos esforços, empreendidos<br />

em várias neuroses, de readquirir uma posição da libido que já se teve, mas foi<br />

perdida. É difícil separar conceitualmente essas duas séries de fenômenos.<br />

Inclinamo-nos demais a pensar que o conflito subjacente à neurose termina<br />

com a formação do sintoma. Na verdade, a luta prossegue variadamente após a<br />

formação do sintoma. De ambos os lados surgem novos componentes instintuais<br />

que a continuam. O próprio sintoma torna-se objeto dessa luta; impulsos<br />

que buscam afirmá-lo medem-se com outros, empenhados em removê-lo e<br />

restabelecer o estado anterior. Com frequência buscam-se meios de tirar o valor<br />

do sintoma, tratando de reconquistar por outros acessos o que foi perdido e<br />

que o sintoma recusa. Tal situação lança alguma luz sobre uma colocação de<br />

C. G. Jung, segundo a qual uma peculiar inércia psíquica, que se opõe à<br />

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