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Voltemos agora ao fato singular de a paciente se defender do amor ao<br />
homem com a ajuda de um delírio paranoico. A história do desenvolvimento<br />
desse delírio fornece a chave para a sua compreensão. Originalmente, como<br />
podíamos esperar, ele era dirigido à mulher, mas então se realizou, no terreno da<br />
paranoia, o avanço da mulher para o homem como objeto. Um tal avanço não é<br />
comum na paranoia; via de regra vemos que o perseguido permanece fixado<br />
nas mesmas pessoas, ou seja, no mesmo sexo sobre o qual recaía sua escolha<br />
amorosa antes da transformação paranoica. Mas a enfermidade neurótica não o<br />
exclui; nossa observação pode ser exemplar para muitas outras. Existem, fora<br />
da paranoia, muitos processos semelhantes que até hoje não foram considerados<br />
sob essa perspectiva, entre eles alguns bastante conhecidos. Por exemplo,<br />
os assim chamados neurastênicos são impedidos, por sua ligação inconsciente<br />
a objetos amorosos incestuosos, de tomar outra mulher como objeto, e<br />
sua atividade sexual é limitada à fantasia. Mas no terreno da fantasia ele realiza<br />
o avanço que lhe foi negado e pode substituir mãe e irmã por outros objetos.<br />
Como nestes está ausente a objeção da censura, a escolha dessas pessoas<br />
substitutas torna-se consciente para ele em suas fantasias.<br />
Os fenômenos de um avanço tentado a partir de novo terreno, em geral<br />
conquistado regressivamente, colocam-se ao lado dos esforços, empreendidos<br />
em várias neuroses, de readquirir uma posição da libido que já se teve, mas foi<br />
perdida. É difícil separar conceitualmente essas duas séries de fenômenos.<br />
Inclinamo-nos demais a pensar que o conflito subjacente à neurose termina<br />
com a formação do sintoma. Na verdade, a luta prossegue variadamente após a<br />
formação do sintoma. De ambos os lados surgem novos componentes instintuais<br />
que a continuam. O próprio sintoma torna-se objeto dessa luta; impulsos<br />
que buscam afirmá-lo medem-se com outros, empenhados em removê-lo e<br />
restabelecer o estado anterior. Com frequência buscam-se meios de tirar o valor<br />
do sintoma, tratando de reconquistar por outros acessos o que foi perdido e<br />
que o sintoma recusa. Tal situação lança alguma luz sobre uma colocação de<br />
C. G. Jung, segundo a qual uma peculiar inércia psíquica, que se opõe à<br />
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