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Freud

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algumas semanas, creio — ela recuperou a confiança e tornou a visitá-lo em<br />

seu apartamento. O restante já sabemos do primeiro relato.<br />

As novas informações eliminam a dúvida quanto à natureza patológica das<br />

suspeitas, em primeiro lugar. Facilmente se nota que a superiora de cabelos<br />

brancos é um sucedâneo da mãe, que o amante, apesar de sua juventude, foi<br />

posto no lugar do pai, e que é a força do complexo relativo à mãe que leva a<br />

paciente a imaginar uma relação amorosa entre dois parceiros tão improváveis.<br />

Com isso vai embora também a aparente contradição em relação à expectativa,<br />

alimentada pela teoria psicanalítica, de que um vínculo homossexual forte seria<br />

a precondição para o desenvolvimento de uma mania de perseguição. O<br />

perseguidor original, a instância a cuja influência o indivíduo quer se furtar,<br />

não é aqui o homem, mas a mulher. A chefe sabe da ligação amorosa da garota,<br />

menospreza essa ligação e a faz perceber isso com alusões misteriosas. O<br />

vínculo com o mesmo sexo contraria o esforço em adotar um membro do<br />

outro sexo como objeto amoroso. O amor à mãe torna-se o porta-voz de todos<br />

os impulsos que, no papel de “consciência”, procuram deter a garota em seu<br />

primeiro passo no caminho novo, perigoso em muitos sentidos, da satisfação<br />

sexual normal — e consegue perturbar a relação com o homem.<br />

Quando a mãe inibe ou detém a atividade sexual da filha, realiza uma função<br />

normal, já traçada nas relações da infância, que possui fortes motivações<br />

inconscientes e tem a sanção da sociedade. Cabe à filha libertar-se dessa influência<br />

e, com base em motivos amplos, racionais, decidir-se por um certo<br />

grau de permissão ou negação do prazer sexual. Se nessa tentativa de liberação<br />

sucumbe a uma neurose, via de regra existe um forte complexo relativo à mãe,<br />

não dominado, cujo conflito com a nova tendência libidinal será resolvido, segundo<br />

a predisposição, na forma dessa ou daquela neurose. Em todo caso, os<br />

fenômenos da reação neurótica não serão determinados pela relação presente<br />

com a mãe real, mas pelas relações infantis com a imagem primeva da mãe.<br />

A paciente nos disse que há muitos anos perdera o pai, e podemos supor<br />

que não teria permanecido afastada dos homens até os trinta anos se uma forte<br />

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