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psicológica, escorando-se essencialmente na biologia. Então serei consistente o<br />
bastante para descartar essa hipótese, se a partir do trabalho psicanalítico<br />
mesmo avultar outra suposição, mais aproveitável, acerca dos instintos. Até<br />
agora isso não aconteceu. Pode ser que — em seu fundamento primeiro e em<br />
última instância — a energia sexual, a libido, seja apenas o produto de uma<br />
diferenciação da energia que atua normalmente na psique. Mas tal afirmação<br />
não tem muito alcance. Diz respeito a coisas já tão remotas dos problemas de<br />
nossa observação e de que possuímos tão escasso conhecimento, que é ocioso<br />
tanto combatê-la quanto utilizá-la; possivelmente essa identidade primeva tem<br />
tão pouco a ver com nossos interesses psicanalíticos quanto o parentesco primordial<br />
de todas as raças humanas tem a ver com a prova de que se é parente do<br />
testador, exigida para a transmissão legal da herança. Não chegamos a nada<br />
com todas essas especulações. Como não podemos esperar até que uma outra<br />
ciência nos presenteie as conclusões finais sobre a teoria dos instintos, é bem<br />
mais adequado procurarmos ver que luz pode ser lançada sobre esses enigmas<br />
biológicos fundamentais por uma síntese dos fenômenos psicológicos.<br />
Estejamos cientes da possibilidade do erro, mas não deixemos de levar adiante,<br />
de maneira consequente, a primeira hipótese mencionada de uma oposição<br />
entre instintos sexuais e do Eu, que se nos impôs através da análise das neuroses<br />
de transferência, verificando se ela evolui de modo fecundo e livre de<br />
contradições e se pode aplicar-se também a outras afecções, à esquizofrenia,<br />
por exemplo.<br />
Naturalmente a situação seria outra, caso se provasse que a teoria da libido<br />
já fracassou na explicação da última doença mencionada. C. G. Jung fez tal<br />
afirmação, 6 e obrigou-me assim a esta última discussão, que eu bem gostaria de<br />
ter evitado. Teria preferido seguir até o final o curso tomado na análise do<br />
caso Schreber, silenciando a respeito de suas premissas. A afirmação de Jung é<br />
no mínimo precipitada. Seus fundamentos são parcos. Primeiro ele invoca o<br />
meu próprio testemunho, segundo o qual, devido às dificuldades da análise de<br />
Schreber, fui obrigado a estender o conceito de libido, isto é, a abandonar o<br />
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