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Freud

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saída, que permitia protelar a decisão. Lembrei-me de que frequentemente nos<br />

víramos na situação de julgar erradamente um doente psíquico, porque não<br />

nos havíamos ocupado dele o suficiente, chegando a conhecê-lo muito pouco.<br />

Declarei então que não podia formular um juízo no momento, e lhe pedi que<br />

me visitasse novamente, a fim de me narrar a história de maneira mais circunstanciada,<br />

com todos os pormenores secundários talvez omitidos então. Com o<br />

auxílio do advogado, obtive a concordância da relutante paciente. Ele também<br />

me ajudou de outra forma, ao dizer que sua presença seria desnecessária na segunda<br />

entrevista.<br />

O segundo relato da paciente não invalidou o primeiro, mas fez-lhe acréscimos<br />

de tal monta que todas as dúvidas e dificuldades desapareceram. Antes de<br />

tudo, ela não visitara o jovem homem apenas uma vez, e sim duas. No segundo<br />

encontro é que foi incomodada pelo ruído que veio a lhe provocar suspeitas;<br />

o primeiro ela havia omitido ou ocultado, em sua primeira comunicação,<br />

porque não lhe parecera significativo. Nele não ocorreu nada digno<br />

de nota; mas no dia seguinte, sim. O departamento da grande firma onde ela<br />

trabalhava era dirigido por uma senhora de idade, que ela descreveu com estas<br />

palavras: “Ela tem os cabelos brancos como minha mãe”. Essa senhora<br />

costumava tratá-la carinhosamente, às vezes até com gracejos, e ela se considerava<br />

sua favorita. No dia após a primeira visita ao jovem funcionário, ele<br />

apareceu para informar a senhora sobre algo ligado ao serviço, e, enquanto falava<br />

com ela em voz baixa, surgiu na garota a certeza de que ele lhe contava<br />

sobre a aventura do dia anterior, de que tinha até mesmo um relacionamento<br />

antigo com a chefe, que ela não havia percebido até então. A senhora maternal<br />

e de cabelos brancos soube de tudo naquele momento, ela acreditou, e no decorrer<br />

do dia pôde reforçar a suspeita, com base na conduta e em várias manifestações<br />

da senhora. Logo aproveitou uma oportunidade para exigir, do<br />

amado, explicações sobre aquela traição. Naturalmente, ele protestou de forma<br />

enérgica contra o que chamou de imputação absurda; e conseguiu, de fato,<br />

livrá-la da ideia delirante naquela vez, de modo que por algum tempo —

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