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dentro, e de que ela tem por condição que a regressão vá ao ponto de alcançar<br />
esse sistema mesmo, podendo assim colocar-se fora do exame da realidade. 4<br />
Num contexto anterior (“Os instintos e seus destinos”) reivindicamos, para<br />
o organismo ainda desamparado, a capacidade de obter uma primeira orientação<br />
no mundo por meio de suas percepções, ao distinguir entre “fora” e<br />
“dentro” com referência a uma ação muscular. Uma percepção levada a desaparecer<br />
mediante uma ação é reconhecida como externa, como realidade;<br />
quando tal ação nada modifica, a percepção vem do próprio interior do corpo,<br />
não é real. Para o indivíduo é valioso possuir um tal meio de distinguir a realidade,<br />
* que significa ao mesmo tempo uma ajuda contra ela, e ele bem gostaria<br />
de ser dotado de um poder similar contra as exigências muitas vezes implacáveis<br />
de seus instintos. Daí ele se esforçar tanto em transpor para fora o que o<br />
incomoda de dentro, em projetar.<br />
Após uma dissecção minuciosa do aparelho psíquico, devemos atribuir<br />
apenas ao sistema Cs (P) tal função de orientação no mundo através da distinção<br />
entre fora e dentro. Cs deve dispor de uma inervação motora, mediante<br />
a qual é constatado se a percepção pode ser levada a desaparecer ou se resiste.<br />
O exame da realidade não precisa ser outra coisa além desse dispositivo. 5 Mais<br />
não podemos dizer sobre isso, pois a natureza e o modo de trabalho do sistema<br />
Cs ainda são pouco conhecidos. Situaremos o exame da realidade, como uma<br />
das grandes instituições do Eu, ao lado das censuras entre os sistemas psíquicos,<br />
as quais já conhecemos, e esperamos que a análise das afecções narcísicas nos<br />
ajude a descobrir outras instituições desse tipo.<br />
Por outro lado, já agora a patologia nos ensina de que maneira o exame da<br />
realidade pode ser suspenso ou colocado fora de ação, e aprenderemos isso de<br />
modo mais inequívoco na psicose de desejo, na amentia, do que no sonho: a<br />
amentia é a reação a uma perda que a realidade afirma, mas que o Eu deve negar<br />
por insuportável. Em consequência o Eu rompe a relação com a realidade,<br />
subtrai ao sistema das percepções Cs o investimento ou, melhor talvez, um investimento<br />
cuja natureza especial ainda pode ser objeto de investigação. Com<br />
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