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Freud

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dentro, e de que ela tem por condição que a regressão vá ao ponto de alcançar<br />

esse sistema mesmo, podendo assim colocar-se fora do exame da realidade. 4<br />

Num contexto anterior (“Os instintos e seus destinos”) reivindicamos, para<br />

o organismo ainda desamparado, a capacidade de obter uma primeira orientação<br />

no mundo por meio de suas percepções, ao distinguir entre “fora” e<br />

“dentro” com referência a uma ação muscular. Uma percepção levada a desaparecer<br />

mediante uma ação é reconhecida como externa, como realidade;<br />

quando tal ação nada modifica, a percepção vem do próprio interior do corpo,<br />

não é real. Para o indivíduo é valioso possuir um tal meio de distinguir a realidade,<br />

* que significa ao mesmo tempo uma ajuda contra ela, e ele bem gostaria<br />

de ser dotado de um poder similar contra as exigências muitas vezes implacáveis<br />

de seus instintos. Daí ele se esforçar tanto em transpor para fora o que o<br />

incomoda de dentro, em projetar.<br />

Após uma dissecção minuciosa do aparelho psíquico, devemos atribuir<br />

apenas ao sistema Cs (P) tal função de orientação no mundo através da distinção<br />

entre fora e dentro. Cs deve dispor de uma inervação motora, mediante<br />

a qual é constatado se a percepção pode ser levada a desaparecer ou se resiste.<br />

O exame da realidade não precisa ser outra coisa além desse dispositivo. 5 Mais<br />

não podemos dizer sobre isso, pois a natureza e o modo de trabalho do sistema<br />

Cs ainda são pouco conhecidos. Situaremos o exame da realidade, como uma<br />

das grandes instituições do Eu, ao lado das censuras entre os sistemas psíquicos,<br />

as quais já conhecemos, e esperamos que a análise das afecções narcísicas nos<br />

ajude a descobrir outras instituições desse tipo.<br />

Por outro lado, já agora a patologia nos ensina de que maneira o exame da<br />

realidade pode ser suspenso ou colocado fora de ação, e aprenderemos isso de<br />

modo mais inequívoco na psicose de desejo, na amentia, do que no sonho: a<br />

amentia é a reação a uma perda que a realidade afirma, mas que o Eu deve negar<br />

por insuportável. Em consequência o Eu rompe a relação com a realidade,<br />

subtrai ao sistema das percepções Cs o investimento ou, melhor talvez, um investimento<br />

cuja natureza especial ainda pode ser objeto de investigação. Com<br />

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