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desejo. A alucinação deve ser, portanto, mais do que a animação regressiva de<br />
imagens mnêmicas em si ics.<br />
Tenhamos presente, ainda, que é de grande importância prática distinguir<br />
percepções de ideias, mesmo que intensivamente lembradas. Toda a nossa relação<br />
com o mundo externo, com a realidade, depende dessa capacidade. Formulamos<br />
a ficção de não termos sempre possuído tal capacidade, e de que no<br />
início de nossa vida psíquica realmente alucinamos o objeto gratificante, ao<br />
sentirmos necessidade dele. Mas a satisfação não ocorria nesse caso, e logo o<br />
fracasso deve ter nos movido a criar um dispositivo que ajudasse a distinguir<br />
entre essa percepção fruto do desejo e uma real satisfação, e a evitá-la no futuro.<br />
Em outras palavras, bem cedo abandonamos a satisfação alucinatória do<br />
desejo e instituímos uma espécie de exame da realidade. Surge agora a questão<br />
de em que consistia tal exame da realidade, e de como a psicose de desejo alucinatória<br />
do sonho, da amentia e de condições análogas chega a suspendê-lo,<br />
restabelecendo o antigo modo de satisfação.<br />
A resposta pode ser obtida se determinarmos com maior precisão o terceiro<br />
de nossos sistemas psíquicos, o sistema Cs, que até o momento não separamos<br />
nitidamente do Pcs. Já na Interpretação dos sonhos tivemos de enxergar a percepção<br />
consciente como realização de um sistema particular, ao qual atribuímos<br />
certas características notáveis e ao qual temos bons motivos para conferir<br />
mais alguns traços. Tal sistema, lá denominado P, nós o faremos coincidir com<br />
o sistema Cs, de cujo trabalho depende habitualmente a passagem para a consciência.<br />
No entanto, o fato de algo se tornar consciente não coincide totalmente<br />
com o dado de pertencer a um sistema, pois já verificamos que é possível<br />
notar imagens mnêmicas sensoriais a que não podemos conceder um<br />
lugar psíquico no sistema Cs ou P.<br />
Mas será lícito adiar o tratamento dessa dificuldade, até colocarmos o<br />
próprio sistema Cs no centro de nosso interesse. No contexto presente nos será<br />
permitida a hipótese de que a alucinação consiste num investimento do sistema<br />
Cs (P), que porém sucede não a partir de fora, como é normalmente, mas de<br />
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