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Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis

Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp

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Capítulo 3<br />

ranjos circunstanciais, às ocasiões, ao acaso. Nessa perspectiva,<br />

a literatura propicia contato com uma extensa variedade de escolhas<br />

possíveis, de intensidades experimentadas, de sensações<br />

vividas para a constituição dos modos de viver. De acordo com<br />

Maturana e Varella (1995, p. 252), “é dentro do linguajar mesmo<br />

que o ato de conhecer, na coordenação comportamental que é a<br />

linguagem, produz um mundo”.<br />

É evidente que a literatura está circunscrita à história e à geografia,<br />

à sociedade e à subjetividade, assim como é evidente que<br />

apenas uma parte da população a consome – e também teríamos<br />

de considerar como a consome; no entanto, se a leitura da palavra<br />

escrita é continuidade da leitura de mundo (Freire, 2003), se<br />

a literatura se relaciona sempre com o de-fora (Deleuze, 1997),<br />

e se a literatura é a projeção do mundo do texto (Ricoeur, 2008),<br />

inegavelmente sua fruição implica um ganho de intensidade e<br />

multiplicidade nas possibilidades de formação humana.<br />

Nessa acepção de literatura, o leitor é também, em certa medida,<br />

autor, pois inscreve sua leitura na interpretação do que é lido<br />

como escrita, produção de sentidos. Dada a co-autoria do leitor,<br />

seu processo ativo na produção de sentido, não convém restringir<br />

o aspecto formativo da literatura a um determinado número<br />

de obras, a partir de determinados critérios. Na perspectiva da<br />

formação, não se trata de estabelecer cânones, listar livros obrigatórios<br />

ou prescrever leituras, atendendo assim a um direcionamento<br />

ideológico determinado, mas de percorrer itinerários.<br />

Os itinerários de formação não se confundem com os percursos<br />

curriculares previamente traçados para um determinado<br />

fim (uma graduação, por exemplo), em que há mais ou menos<br />

um consenso <strong>sobre</strong> determinados saberes que devem obrigatoriamente<br />

ser partilhados, mas reforça a ideia de trajeto que se<br />

constrói à medida que é percorrido, como um campo aberto cuja<br />

trilha só se torna visível depois de a percorrermos. Pois os itinerários<br />

de formação dependem menos de consensos e prescrições<br />

do que de diálogos e escolhas.

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