Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis
Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp
Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp
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O educar se constitui no processo em que a criança ou o<br />
adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se<br />
transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de<br />
viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro<br />
no espaço da convivência. O educar ocorre, portanto, todo<br />
o tempo e de maneira recíproca.<br />
Com a literatura não é diferente. A voz que salta de dentro<br />
dos livros para dentro de nós nos coloca em contato com pessoas<br />
literárias com quem, de certa forma, podemos conviver, ainda<br />
que em bases diferentes da convivência que travamos cotidianamente<br />
com as personagens concretas, de carne e osso, do mundo-aí.<br />
No diálogo travado com o mundo do texto, não só ouvimos<br />
confissões dessas vozes literárias, como essas vozes ouvem as<br />
nossas. De fato, lemos a nós próprios nas páginas alheias.<br />
É essa a primeira lembrança que tenho como leitor. Diante de<br />
palavras alheias, tive o pasmo de reconhecê-las como minhas.<br />
Por que não fui eu que as escrevi? Isso não quer dizer, simplesmente,<br />
que há uma identificação entre leitor e texto, mas diálogo.<br />
O fato de eu não as ter dito significa que não eram minhas, porque<br />
nenhuma palavra é de alguém, assim como não é do escritor.<br />
A linguagem, como foi dito, é preenchimento de hiato, da distância<br />
que vai entre o que reconheço como um eu e o mundo-aí, o<br />
de-fora, mas também do hiato que há entre o meu eu-agora e<br />
o meu eu-devir. É por conta desse hiato, desse vácuo, que há<br />
movimento, passagem, formação.<br />
Desse modo, a literatura, pelo imaginário que expressa, pelos<br />
sentidos que veicula, é formativa, porque age <strong>sobre</strong> sensibilidades<br />
e prolifera modos de existir, de viver, por meio do diálogo<br />
constante e renovável entre leitor e texto.<br />
Na objetivação convocada pelo mundo-aí, é a sensibilidade<br />
que constrói as escolhas, que elabora os modos de viver, pensar,<br />
sentir e se relacionar com essa objetividade do de-fora, num<br />
circuito recursivo, interdependente e suscetível sempre aos ar-<br />
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<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB