Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis
Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp
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melhor o homem e o mundo, enriquecer sua vida, situar-se social<br />
e psicologicamente, enfim, ampliar seu universo, imaginar outros<br />
modos de existência. E o seu perigo parece residir justamente<br />
em sua potencialidade.<br />
Como reconhece Candido (2004, p. 175), a literatura pode ter<br />
importância equivalente à educação familiar, grupal ou escolar, já<br />
que, como a vida, transfigura os impulsos, as crenças, os sentimentos<br />
e as normas da sociedade. Razão pela qual se considera<br />
a literatura um instrumento poderoso de educação. No entanto,<br />
a literatura também pode causar problemas psíquicos e morais,<br />
pois age na formação da personalidade, “segundo a força indiscriminada<br />
e poderosa da própria realidade. Por isso, nas mãos do<br />
leitor o livro pode ser fator de perturbação e mesmo de risco. (...)<br />
No âmbito da instrução escolar o livro chega a gerar conflitos, porque<br />
o seu efeito transcende as normas estabelecidas” (Candido,<br />
2004, p. 176). Como exemplo, dentre vários possíveis, o paradoxo<br />
das sociedades cristãs, baseadas na repressão do sexo, e que, no<br />
entanto, adotam obras com marcante imaginário erótico: Camões,<br />
Aluísio Azevedo, Jorge Amado e, até mesmo, Olavo Bilac, “poeta<br />
que em muitos versos apresentava o sexo sob aspectos bastante<br />
crus, perturbando a paz dos ginasianos, cujos mestres não ousavam<br />
todavia proscrevê-los porque se tratava de um escritor de<br />
conotações patrióticas acentuadas” (Candido, 2002, p. 84).<br />
Mais recentemente, foram notificadas pela mídia algumas<br />
polêmicas em torno da indicação ou mesmo da aquisição para a<br />
biblioteca de determinadas obras consideradas “impróprias” para<br />
os alunos, como Bukowski, por exemplo. Recordo-me que, na<br />
época em que lecionava literatura para o ensino médio, trabalhei<br />
com os alunos do primeiro ano O Apanhador nos campos de<br />
centeio, de J. D. Salinger (1969), surpreendendo positivamente<br />
os alunos e angariando algumas inimizades docentes, principalmente<br />
das professoras mais conservadoras que se escandalizaram<br />
com um livro “cheio de gírias e palavrões”.<br />
Além desse aspecto moral, a literatura também perturba por<br />
<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB