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Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis

Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp

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87<br />

Meu trabalho finalmente foi reconhecido. E eu ainda escrevia<br />

da maneira que queria e como achava que devia escrever. Eu<br />

ainda escrevia para não enlouquecer, ainda escrevia tentando<br />

explicar a mim mesmo essa vida miserável.<br />

Charles Bukowski<br />

Ficção e realidade<br />

Literatura é fingimento. A etimologia de “fingimento”, do latim<br />

fingere (modelar, moldar, esculpir, representar), assinala que literatura<br />

é invenção, trabalho de <strong>criação</strong>, de devaneio, jogo de<br />

palavras, manipulação de enredos. A literatura injeta vida à vida.<br />

Nesse sentido, os personagens inventados se assemelham à<br />

nossa própria invenção de nós. Somos contos contando contos,<br />

como nos lembra Ricardo Reis (Pessoa, 1994), ou seja, somos<br />

nada preenchido de histórias, recheado de palavras, assediado<br />

de emoções, de sensações. Apelamos constantemente à memória<br />

para criarmos a ilusão de continuidade, como o quadro a quadro<br />

de um filme que projetado na velocidade certa cria a ilusão<br />

de movimento. Mas apelamos também à imaginação para atribuir<br />

sentido ao que fazemos, ao que sentimos, para nos inventarmos.<br />

A literatura, como ficção, como qualquer forma de ficção, nos<br />

fornece modos de existência com os quais dialogamos, munidos<br />

também de modos de existir. Nesse sentido, a literatura é mais<br />

que um produto – palavras impressas em papéis encadernados<br />

–, é processo de (re)<strong>criação</strong> constante, sempre que alguém se<br />

põe a ler. Não se difere, portanto, de todo e qualquer tipo de<br />

ficção, seja a do sonho do sono, seja a do sonho acordado (devaneio),<br />

ou mesmo das pequenas conversas cotidianas nas quais<br />

nos narramos, nos inventamos. Aí está o seu sentido formativo<br />

(da literatura e da ficção): preenche de vida nossa própria vida,<br />

dialoga com nossa trajetória existencial, é o centro referencial<br />

ao qual nos reportamos para sairmos do nada e penetrarmos no<br />

reino dos sentidos. Somos contos contando contos, nada.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB

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