Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis
Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp
Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp
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Meu trabalho finalmente foi reconhecido. E eu ainda escrevia<br />
da maneira que queria e como achava que devia escrever. Eu<br />
ainda escrevia para não enlouquecer, ainda escrevia tentando<br />
explicar a mim mesmo essa vida miserável.<br />
Charles Bukowski<br />
Ficção e realidade<br />
Literatura é fingimento. A etimologia de “fingimento”, do latim<br />
fingere (modelar, moldar, esculpir, representar), assinala que literatura<br />
é invenção, trabalho de <strong>criação</strong>, de devaneio, jogo de<br />
palavras, manipulação de enredos. A literatura injeta vida à vida.<br />
Nesse sentido, os personagens inventados se assemelham à<br />
nossa própria invenção de nós. Somos contos contando contos,<br />
como nos lembra Ricardo Reis (Pessoa, 1994), ou seja, somos<br />
nada preenchido de histórias, recheado de palavras, assediado<br />
de emoções, de sensações. Apelamos constantemente à memória<br />
para criarmos a ilusão de continuidade, como o quadro a quadro<br />
de um filme que projetado na velocidade certa cria a ilusão<br />
de movimento. Mas apelamos também à imaginação para atribuir<br />
sentido ao que fazemos, ao que sentimos, para nos inventarmos.<br />
A literatura, como ficção, como qualquer forma de ficção, nos<br />
fornece modos de existência com os quais dialogamos, munidos<br />
também de modos de existir. Nesse sentido, a literatura é mais<br />
que um produto – palavras impressas em papéis encadernados<br />
–, é processo de (re)<strong>criação</strong> constante, sempre que alguém se<br />
põe a ler. Não se difere, portanto, de todo e qualquer tipo de<br />
ficção, seja a do sonho do sono, seja a do sonho acordado (devaneio),<br />
ou mesmo das pequenas conversas cotidianas nas quais<br />
nos narramos, nos inventamos. Aí está o seu sentido formativo<br />
(da literatura e da ficção): preenche de vida nossa própria vida,<br />
dialoga com nossa trajetória existencial, é o centro referencial<br />
ao qual nos reportamos para sairmos do nada e penetrarmos no<br />
reino dos sentidos. Somos contos contando contos, nada.<br />
<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB