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Notas sobre criação audiovisual, Via: Ed. Alápis

Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp

Notas sobre criação audiovisual, redes sociais e web - Cinusp

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<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong><br />

<strong>criação</strong><br />

Audiovisual,<br />

redes sociais<br />

e WEB


<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong><br />

<strong>criação</strong><br />

Audiovisual,<br />

redes sociais<br />

e WEB<br />

Organização Patricia Moran


CINUSP<br />

Reitor da Universidade de São Paulo João Grandino Rodas<br />

Prorreitora de Cultura e Extensão Universitária Maria Arminda do Nascimento Arruda<br />

Diretora do Cinusp ‘Paulo Emílio’ Esther Império Hamburger<br />

Vice-Diretora Patricia Moran Fernandes<br />

Coordenador de Produção Thiago de André<br />

Secretária Maria José Ipólito<br />

Auxiliar Administrativa Maria Aparecida Santos<br />

Projeto Novos Talentos<br />

Financiamento CAPES<br />

Professores Responsáveis pelas Oficinas<br />

Almir Almas – ECA<br />

Oficina de edição e finalização de conteúdo para Web.<br />

Patrícia Moran – ECA<br />

Realização Audiovisual para a formação do olhar<br />

Estagiários<br />

Breno Issac Benedykt – Graduação em Pedagogia<br />

Juliana Santos – Graduação em Letras<br />

Milena Szafir – Doutoranda PPGMPA<br />

Renata La Rocca – Doutoranda PPCVA<br />

Thiago Batista Costa – Graduação em Pedagogia


Ficha Catalográfica<br />

Moran, Patrícia (org.)<br />

NOTAS SOBRE CRIAÇÃO AUDIOVISUAL, REDES SOCIAIS E WEB. São Paulo: CINUSP, 2011<br />

Cartilha <strong>sobre</strong><br />

1. Cinema: história e realização. 2. WEB: blogs, redes sociais,<br />

informações técnica. 3. Literatura e educação: teoria.<br />

Cartilha<br />

notas <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> <strong>audiovisual</strong>, redes sociais e web<br />

Material de circulação restrita ao projeto Novos Talentos<br />

apoiado pela Capes e pela Universidade de São Paulo<br />

Revisão Leonardo Gonçalves<br />

Design Suzana Coroneos


5<br />

Flip-book realizado<br />

com parte dos frames<br />

do filme A Dança<br />

da Serpentina,<br />

de Thomas <strong>Ed</strong>ison<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>criação</strong> Audiovisual<br />

ADIVINHAÇÃO, esse nome, como<br />

não associá-lo às duas máquinas<br />

sublimes que eu utilizo para trabalhar?<br />

Câmera e gravador, levemme<br />

para longe da inteligência que<br />

complica tudo.<br />

Robert Bresson,<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> o cinematógrafo<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


7<br />

Sumário<br />

Apresentação<br />

8<br />

Capítulo 1<br />

A imagem ganha movimento<br />

Por Patricia Moran<br />

10<br />

Capítulo 2<br />

Um breve estado da arte do vídeo digital online<br />

em 2011: da produção/ <strong>criação</strong> ao armazenamento/<br />

distribuição e consumo<br />

Por Milena Szafir<br />

34<br />

Capítulo 3<br />

Literatura e educação<br />

Por Rogério de Almeida<br />

86<br />

Livros de referência<br />

Pequeno repertório de cinema<br />

Sobre os autores<br />

110<br />

116<br />

127<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Apresentação<br />

Esta apostila foi elaborada para os professores da rede pública do<br />

estado de São Paulo que participaram, em julho de 2011 e em janeiro<br />

de 2012, das oficinas de vídeo e web na Universidade de São<br />

Paulo. As oficinas foram realizadas no Departamento de Cinema,<br />

Rádio e Televisão (CTR) da Escola de Comunicação e Artes, uma<br />

iniciativa do Cinusp Paulo Emílio vinculado à Prorreitoria de cultura<br />

e extensão da Universidade de São Paulo. Contou com o apoio<br />

da CAPES no programa Novos Talentos. Trata-se de uma linha de<br />

ação com o objetivo de apoiar projetos extracurriculares destinados<br />

à rede de educação pública. Visa a inclusão social e desenvolvimento<br />

da cultura científica, busca o aprimoramento e a atualização<br />

de professores e/ou alunos. As oficinas se tornaram possíveis<br />

graças à união dos esforços do Departamento de Cinema, Rádio e<br />

Televisão, do Cinusp Paulo Emílio e do apoio da Capes.<br />

Esta apostila é uma introdução ao cinema e ao vídeo. Ela não<br />

pretende tratar o assunto de maneira exaustiva. Nosso objetivo, ao<br />

propor esta publicação é oferecer um mapa da história do cinema,<br />

e de como foi sendo constituída a linguagem do cinema e do <strong>audiovisual</strong>.<br />

Nesta introdução também apresentamos em linhas gerais<br />

algumas técnicas para a realização <strong>audiovisual</strong>. Nosso objetivo<br />

é responder a uma demanda reprimida por formação <strong>audiovisual</strong> já<br />

que, como podemos perceber, o mundo mudou, e a velocidade das<br />

transformações coloca diversos desafios para os profissionais do<br />

ensino. A aceleração do tempo iniciada com o processo de industrialização<br />

alcança hoje um ritmo vertiginoso, e a informatização do<br />

cotidiano é um dos aceleradores da vida, intensificando processos<br />

que ocasionam uma situação até então inédita, o enfraquecimento<br />

ou desaparecimento da experiência como um valor e a dissociação<br />

entre conhecimento e experiência.<br />

As ferramentas tecnológicas do cotidiano do professor mudam<br />

rapidamente e as portas de acesso à informação e, em alguns casos,<br />

ao conhecimento, exigem, para contrabalancear esse excesso,<br />

disponibilidade de tempo e de cultura <strong>audiovisual</strong>. Por isso, é pre-


9<br />

ciso um esforço para problematizar com os professores o conhecimento<br />

presente nas novas mídias, no <strong>audiovisual</strong> em geral e na<br />

internet. Construir com eles conhecimentos a serem desdobrados<br />

nas salas de aula. Acreditamos que, com o acesso crítico a estas<br />

ferramentas e a possibilidade de <strong>criação</strong>, todos se sentirão mais<br />

seguros para enfrentar os desafios colocados por nossa época e<br />

por nossos alunos, nascidos no furacão das mudanças. Podemos<br />

conjecturar que a maioria dos alunos têm uma proficiência técnica<br />

superior a seus mestres. Com essa oficina buscamos aproximar<br />

os professores desta ferramenta e também iniciar um processo<br />

de leitura da imagem, de leitura do <strong>audiovisual</strong> que poderá lhes<br />

ser útil para discutir com os alunos suas criações, ou mesmo de<br />

propor novas estratégias didáticas. Esperamos receber um retorno<br />

dos professores envolvidos nas oficinas <strong>sobre</strong> os pontos positivos<br />

e problemas deste movimento ora iniciado.<br />

A apostila consta de três partes. A primeira traz um pouco da<br />

história da linguagem e técnica de realização cinematográfica tendo<br />

em vista preparar os professores para a <strong>criação</strong> dos seus vídeos.<br />

Aprender a ver melhora a qualidade do fazer. Na segunda parte<br />

trazemos uma discussão <strong>sobre</strong> o vídeo na web, a <strong>criação</strong>, produção<br />

e edição por usuários amadores, ou seja, aqueles que se dedicam<br />

a criar por amor à arte, sem objetivos financeiros. A terceira parte é<br />

do professor Rogério Almeida da Faculdade de <strong>Ed</strong>ucação da USP.<br />

Ele também desenvolve um projeto no Novos Talentos, seu texto<br />

ilumina a discussão <strong>sobre</strong> o uso de formas artísticas em sala de<br />

aula. A literatura é o foco principal do texto, mas suas analises cabem<br />

para o cinema, pois ele chama a atenção para a importância<br />

da experiência estética ao entrarmos em contato com a literatura<br />

ou cinema. Enfim, valem mais os deslocamentos simbólicos, a possibilidade<br />

de se experimentarem outras realidades através do livro<br />

ou do filme, do que meramente apreender conteúdos. Ao final oferecemos<br />

uma pequena referência bibliográfica e relação de filmes<br />

para completar a aventura de exploração do mundo <strong>audiovisual</strong> ao<br />

ser findada a oficina.<br />

Patricia Moran<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


capítulo 1<br />

A imagem<br />

ganha movimento<br />

Por Patricia Moran


11<br />

Dezembro de 1895 é a data oficial da primeira exibição comercial<br />

de imagens fotográficas animadas, o cinema. É assim o<br />

mecanismo que produz a imagem em movimento: sucessões de<br />

imagens fotográficas em sequência.<br />

Vejamos pois, como o movimento acontece:<br />

Um filme é constituído por diversos fotogramas. fotograma<br />

é a unidade do filme, é semelhante ao slide. Quando a câmera<br />

cinematográfica começa a rodar para captar as imagens do mundo,<br />

cada fotograma capta um momento da ação. Como as ações<br />

geralmente têm movimento, em cada fotograma fica impresso<br />

um instante diferente. Ao ser projetado o filme, percebemos o<br />

movimento sem perceber o intervalo entre os fotogramas. No<br />

primeiro cinema, ou seja, nos primeiros filmes realizados, a velocidade<br />

de gravação e projeção era dada pela mão do realizador,<br />

pois as primeiras câmeras que também eram projetores rodavam<br />

acionados por uma manivela. A velocidade da imagem não<br />

era constante e como ainda podemos ver nos trabalhos daquela<br />

época, não correspondem à velocidade natural das ações. Um<br />

exemplo que nos ajuda a entender a composição do movimento<br />

são os flip-books, livrinhos muito comuns em livrarias de arte que<br />

trazem em suas páginas momentos diferentes de um movimento.<br />

Quando folheados, vemos uma ação em movimento, seja uma<br />

dança, um voo, etc. Os projetores também animam imagens estáticas,<br />

como nos flip-books.<br />

Com o surgimento de mecanismos técnicos automáticos, os<br />

equipamentos passam a ser mecânicos, sendo possível se implementar<br />

padrões de velocidade na câmera e no projetor. Deste<br />

modo os movimentos da captação e da projeção trazem a mesma<br />

velocidade. Este avanço técnico possibilitou também a <strong>criação</strong> de<br />

movimentos mais próximos do real, bem como sua alteração (a<br />

câmera lenta e a câmera acelerada, por exemplo). A velocidade<br />

de projeção costuma ter dois padrões básicos. Na America é de<br />

24 quadros (ou fotogramas) por segundo e na Europa de 25<br />

quadros por segundo.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

No caso do vídeo não temos quadros, pois a imagem é magnética<br />

e não fotoquímica como nas projeções acima mencionadas.<br />

Pulsos elétricos são gravados na fita, mas não podemos<br />

ver a imagem fora dos aparelhos reprodutores como acontece<br />

com a película cinematográfica. No Brasil as imagens de vídeo<br />

magnético rodam a 30 frames (unidade do quadro no vídeo) por<br />

segundo. Atualmente, nos sistemas digitais, podem conviver as<br />

duas velocidades. Vale lembrar que a televisão normalmente roda<br />

seus programas em vídeo. Então, tente comparar a imagem de<br />

cinema e da televisão. As diferenças visíveis devem-se ao modo<br />

como o movimento é realizado e também a como a imagem é<br />

projetada. Na imagem do cinema temos projeção, na da TV não.<br />

Nela, a fonte de luz está no próprio aparelho. A projeção cinematográfica<br />

parte de uma luz que atravessa o fotograma e amplia a<br />

imagem numa tela através de um jogo de lentes e mecanismos<br />

para rodar o filme.<br />

Projetor /câmera<br />

do Primeiro Cinema


13<br />

O cinema e a vida moderna<br />

Agora que vocês sabem um pouco <strong>sobre</strong> como o movimento<br />

das imagens se compõe vamos voltar ao Grand-Café de Paris<br />

onde se realizou a primeira exibição dos irmãos Louis e Auguste<br />

Lumière, considerados pais do cinema. A data de dezembro de<br />

1895 não deve ser tomada como verdade absoluta. A história do<br />

cinema já mostrou terem existido experiências anteriores às de<br />

Paris em países como a Alemanha e os Estados Unidos, mas o<br />

registro e a divulgação em larga escala conferiu a estes realizadores<br />

o lugar histórico de inventores daquilo que seria conhecido<br />

como a Sétima Arte. O livro de Laurent Mannoni, presente na<br />

referência bibliográfica, nos oferece uma arqueologia do cinema,<br />

apresentando os diversos nomes que o cinema teve e aparelhos<br />

do que se convencionou chamar de pré-cinema. Arlindo Machado,<br />

também na bibliografia, analisa o ambiente do pré-cinema e a<br />

estrutura dos primeiros filmes e dos subsequentes.<br />

O filme projetado em 1895 pelos irmãos Lumière foi A chegada<br />

de um trem na estação. Ele mostra pessoas paradas na margem<br />

direita do quadro e, na margem esquerda, o trem se aproxima.<br />

Saem do quadro pela esquerda os primeiros vagões. O trem para<br />

e nele entram e saem passageiros. Este filme é curto e aparentemente<br />

simples, aliás, como todos os filmes deste momento da<br />

cinematografia conhecida como primeiro cinema. Os filmes eram<br />

curtos devido a condições técnicas. Se hoje nos parecem simples,<br />

na época causaram espanto, afinal a síntese do movimento por si<br />

só já era um espetáculo, ver objetos se movimentarem, conhecer<br />

outros países através de imagens em movimento foi uma novidade<br />

encantadora. Esta simplicidade já traz uma dimensão espaçotemporal<br />

cara ao cinema. Como o trem sai do quadro, perdemos<br />

de vista alguns vagões, sabemos existir uma parte do trem no<br />

espaço não visível. Este espaço também é tempo, pois o vagão<br />

principal e outros estão situados temporalmente adiante.<br />

A chegada de um trem na estação pode ser considerado<br />

uma espécie de síntese daquele momento. Traz o seu tempo na<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

construção espaço-temporal e é análogo ao cinema na produção<br />

do movimento. As janelas do trem, como o quadro (janela) do<br />

cinema mostram o mundo em deslocamento. Nas duas situações<br />

o sujeito está parado, quem se move é o trem. No cinema são as<br />

imagens, mas em termos relativos é o mundo que se move.<br />

Naquela época em transformação visível graças à mudanças<br />

técnicas e de costumes, meios de transporte como o trem representavam<br />

os novos tempos. A cultura urbana se desenvolvia e<br />

o cinema faz parte desse processo ao povoar o imaginário com<br />

mundos distantes, ao criar a ilusão de que se podia duplicar o<br />

mundo. Digo ilusão, pois não se trata de duplicação, mas de <strong>criação</strong><br />

de novos mundos, de espaços a serem habitados pela imaginação.<br />

O livro O cinema a invenção da vida moderna traz uma<br />

série de artigos <strong>sobre</strong> o espanto causado pelo trem, pelo cinema<br />

e o surgimento da imprensa sensacionalista atenta a todas as<br />

mudanças. O filme de Dziga Vertov O homem com uma câmera<br />

mostra um dia de Moscou e como a industrialização, o cinema e<br />

os meios de transporte fazem parte do mesmo processo em curso:<br />

a constituição da cultura urbana e a industrialização, a era do<br />

tempo medido, como mostra bem Charles Chaplin em Tempos<br />

Modernos, um filme realizado quando a linguagem cinematográfica<br />

já estava consolidada.<br />

O primeiro cinema e suas estratégias<br />

Outro filme dos irmãos Lumière do primeiro cinema é O café da<br />

manhã do bebê. Ele também nos oferece a dimensão do que representou<br />

o primeiro cinema e traz uma ação do bebê que muito<br />

fala <strong>sobre</strong> a linguagem cinematográfica. A cena também é simples<br />

e curta, um bebê toma café da manhã com seus pais. O filme foi<br />

bastante comentado à época não pela ação do bebê, mas pelas<br />

árvores ao fundo da cena. As folhas se moviam, os mecanismos de<br />

captação e projeção traziam o movimento para o quadro. Algo corriqueiro<br />

hoje em dia, mas que no final do século XIX foi visto com<br />

admiração, entusiasmo: a observação da dança da copa da árvore.


15<br />

Cultura urbana<br />

Industrialização,<br />

A era do tempo<br />

medido<br />

Charles Chaplin<br />

em Tempos Modernos<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

O Café da Manhã<br />

do Bebê<br />

irmãos Lumière<br />

Este pequeno filme também nos fala da linguagem do cinema<br />

que se compõe não apenas de seu quadro mas também do extracampo,<br />

ou seja, da imagem que não está no quadro mas pode ser<br />

incluída de diversas maneiras. Os personagens estão no centro<br />

do quadro de frente para o público, a câmera é frontal, como em<br />

quase todos os filmes desta época. Graças à espontaneidade do<br />

bebê temos a revelação de que alguém filma, este alguém é a<br />

pessoa para quem o bebê oferece um biscoito. Ao olhar para a<br />

câmera e oferecer o biscoito o bebê nos lembra a existência de<br />

um espaço fora de tela, atrás da câmera, ou fora de campo. Noel<br />

Burch em Práxis do Cinema (37:52) faz uma bela análise de<br />

diversos cineastas que usam bem estes espaços ausentes em<br />

termos visíveis, mas presentes em termos dramáticos. Ele propõe<br />

uma metáfora segundo a qual o quadro cinematográfico pode ser<br />

entendido como uma pirâmide. Seu limite mais evidente é dado<br />

pelos quatro lados da tela, ou seja, além das bordas superior, inferior<br />

e laterais há a sugestão ou indicação de um espaço, ele<br />

está ali latente, podendo se fazer visível a qualquer momento. O<br />

espaço onde o bebê olhou é a frente, um dos vértices da pirâmide.


17<br />

Já a parte de trás é o outro vértice e pode ter sua existência em<br />

uma porta, parede, cortina ou qualquer outro elemento situado no<br />

fundo do quadro, na ponta da pirâmide imaginária.<br />

Mas os primeiros filmes não exploravam dramaticamente<br />

esse espaço. Como mencionamos acima, a ação se dava no centro<br />

da tela. A própria noção de dramaturgia excede a proposta<br />

dos filmes. Os irmãos Lumière tinham o ar livre como ambiente<br />

de gravação. Buscavam principalmente dois tipos de situações,<br />

as encenadas e as que se convencionou chamar de atualidades.<br />

Das encenadas destacamos Guerra com bolas de neve na qual<br />

um grupo de pessoas brinca com bolas de neve. Nesse trabalho<br />

fica evidente que a ação foi feita para a câmera. Já entre os<br />

filmes de atualidades, que durante anos foram considerados os<br />

precursores do documentário, destacam-se o já mencionado A<br />

chegada de um trem na estação e o famoso A saída da fábrica.<br />

Este último consiste em uma cena que se inicia com a porta da<br />

fábrica fechada, a porta se abre e os trabalhadores saem. A câmera<br />

continua como nos filmes anteriores, fixa, sem movimento<br />

de eixo ou lente e frontal. Com o passar dos anos ficou evidente<br />

que o filme era posado, o início do filme coincide com a abertura<br />

da porta, o final com seu fechamento e a cadência da saída dos<br />

trabalhadores e trabalhadoras denunciam a pressa, a urgência<br />

de se seguir o ritmo da filmagem e não da saída da fábrica.<br />

A Chegada do Trem na Estação<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

A suposta divisão de gêneros ficção e documentário é tão<br />

antiga quanto o próprio cinema. Na Europa, os irmãos Lumière e<br />

suas atualidades foram tratadas como precursores do documentário.<br />

Já na America Thomas <strong>Ed</strong>ison e seus filmes como O beijo,<br />

Briga de Galo e Dança da Serpentina, rodados entre 1895 e<br />

1896 foi considerado o primeiro a realizar filmes encenados, e<br />

a encenação é uma das principais marcas dos filmes de ficção.<br />

Os filmes de <strong>Ed</strong>ison também adotavam as mesmas opções em<br />

termos de posição e ângulo de câmera. Essa discussão, aqui<br />

simplificada, visa chamar a atenção para a produção <strong>audiovisual</strong><br />

como um artifício. Se por um lado, neste primeiro cinema ainda<br />

prevalece a ingenuidade em relação às possibilidade expressivas<br />

do meio em fase de surgimento, por outro, já temos a preocupação<br />

de se compor um quadro, de organizar os elementos nele<br />

dispostos, de dirigir o olhar do espectador para um ponto. No<br />

caso, o centro do quadro. O primeiro cinema também revela alguma<br />

dose de arbitrariedade para a divisão de gêneros, hoje fica<br />

evidente como é problemático se circunscrever o gênero. Haverá<br />

alguma utilidade em termos didáticos e de análise, mas cuidados<br />

O Beijo


19<br />

devem ser tomados para os trabalhos serem abordados em sua<br />

complexidade. Mencionamos este ponto para futuro debate, para<br />

evitarmos simplificações e pensarmos haver marcas de encenação,<br />

ou seja, de artifício no documentário e na ficção. A ficção<br />

por sua vez também traz dados de uma época, também constrói a<br />

realidade de uma época, seja pelas técnicas, pelos problemas levantados,<br />

pela ideologia sugerida, pelos objetos mostrados, etc.<br />

A discussão acima proposta objetiva, entre outras questões,<br />

trazer uma problemática ainda hoje presente: a de se considerar<br />

erroneamente a imagem como verdade. Essa postura é comum<br />

no fotojornalismo, no jornalismo televisivo e em documentários<br />

ingênuos. As imagens surgem como comprovação de uma suposta<br />

verdade, de uma verdade imanente. O semioticista Zunzunegui<br />

Santos faz um jogo de palavras interessantes para pensarmos<br />

a relação da imagem com a verdade. Para o autor inexiste a<br />

imagem da verdade, ou seja, a imagem não deve ser considerada<br />

como atestado de verdade de fato ou situação. Ela é polifônica,<br />

pode ter diversos sentidos. É complicado vê-la como comprovação<br />

de um o acontecimento, a imagem como expressão de um<br />

Dança da Serpentina<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

real. Afinal, uma imagem supõe uma série de escolhas de quem a<br />

fez. Escolhe-se o que e o como mostrar. Escolhe-se qual imagem<br />

é colocada antes e depois. Escolhe-se a proximidade em relação<br />

ao objeto e escolhe-se ainda uma narração para dirigir o olhar do<br />

espectador. À imagem da verdade, Zunzunegui propõe a verdade<br />

da imagem, ou seja, uma imagem forte o suficiente para ser<br />

verdadeira. Ela pode se referir ao mundo, mas a sua verdade está<br />

na sua realização, em como ela produz e expressa uma força,<br />

que existe no mundo material, mas ela é construída e não pode<br />

assegurar a verdade do mundo, mas sim a verdade da imagem<br />

fabricada pelo autor. Ela nos passa verdade e não é verdade.<br />

Essa colocação é importante para nossa análise do mundo das<br />

imagens. Ela também pode nos auxiliar ao gravar imagens, ao<br />

produzir trabalhos. Nunca podemos nos esquecer que estamos<br />

propondo um mundo, logo, é preciso pensar como dizer o que se<br />

diz, quais pontos de vista adotar.<br />

A câmera se move: o corte<br />

Como vimos, os filmes do primeiro cinema eram realizados em<br />

uma única tomada e posição de câmera. Ainda no primeiro cinema<br />

a câmera vai se deslocar, o filme precisará ser montado, mas<br />

a montagem não será ainda entendida como elemento expressivo.<br />

O próprio corte não é pensado como elemento expressivo, ele<br />

não é resultado de um planejamento para a constituição de relação<br />

entre os planos, mas acontece por necessidades de outra ordem.<br />

Corta-se para colocar a câmera em outra posição quando a<br />

cena realizada em um espaço determinado havia sido concluída.<br />

Segundo Arlindo Machado na montagem do primeiro cinema havia<br />

o “encadeamento descontínuo de vários quadros sucessivos,<br />

que funcionam cada um como um tableau alegórico e autônomo<br />

e se sucedem uns depois dos outros de forma mais ou menos<br />

arbitrária. (90)” Para o autor, essa maneira de ordenar o filme<br />

corresponde a processos correntes no teatro, onde a ação é separada<br />

por atos. O filme <strong>Via</strong>gem à lua (1902) de George Méliès


21<br />

é exemplar neste sentido. A câmera ainda se mantém distante da<br />

cena, ou seja, é enquadrada em plano geral. O corte é resultado<br />

de mudança de espaço. Algumas das informações são dadas<br />

pela imagem, outras, por textos colocados entre as cenas.<br />

Aos poucos, americanos e europeus começam a desenvolver<br />

estratégias culturais técnicas do cinema para realizar um filme<br />

linear e proporcionar ao espectador um espetáculo continuo, ou<br />

seja, um espetáculo onde não se percebem cortes e os artifícios<br />

necessários à realização do filme são escamoteados. Neste processo<br />

o cineasta americano D. W. Griffith terá um papel central.<br />

O pesquisador Ismail Xavier destaca que não coube ao diretor<br />

inventar todas as técnicas e procedimentos como o close-up, a<br />

montagem paralela e movimentos de câmera. Estes eram utilizados<br />

mesmo antes de Griffith iniciar sua carreira. Coube a ele<br />

inventar a figura do diretor, figura responsável pelo conceito do<br />

filme, por buscar coerência dramática através de técnicas já em<br />

uso. Seu papel foi o de “transformar o close-up em canal de “subjetivação<br />

das imagens, adensar a psicologia no cinema e ampliar<br />

o alcance da narrativa, não só no plano da continuidade das ações<br />

mas também no plano da carga simbólica atribuída às imagens.<br />

Enfim, Griffith foi o mestre da decupagem não por tê-la inventado<br />

mas por tê-la transformado em peça-chave de um sistema narra-<br />

<strong>Via</strong>gem à Lua<br />

George Méliès<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

tivo.” (Xavier, 2007: 41) Coube ao diretor, entre outras invenções,<br />

a invenção de um espetáculo que conferia à imagem em movimento<br />

a continuidade, produzindo o desaparecimento das marcas<br />

da realização. A partir de então um corte brusco na imagem passou<br />

a ser percebido como problema, como falta de perícia, salvo<br />

quando o realizador tinha tal intenção, como é o caso do cineasta<br />

russo Seguei Eisenstein e das vanguardas de quem trataremos<br />

adiante. Vamos agora falar de como essa técnica funciona, alguns<br />

dos recursos para criar a continuidade espaço-temporal.<br />

Planos – decupagem – eixo – ponto de vista<br />

O desenvolvimento da linguagem cinematográfica foi conquistado<br />

com o corte em uma sequência, com a mudança de posição<br />

da câmera e uso de diferentes lentes. Essa organização da sequência<br />

deve considerar ainda o ponto de vista, ou seja, a história<br />

contada na perspectiva de um ou mais personagens. O close,<br />

por exemplo, é normalmente a aproximação do olhar de alguém,<br />

o ponto de vista de um personagem. Neste caso estamos nos<br />

referindo ao cinema clássico.<br />

Os principais tipos de enquadramento são:<br />

A ilustração ao lado coloca a figura humana como referência<br />

para definir os tipos de plano, mas vale para outros objetos. Em filmes<br />

que acontecem em grandes espaços como uma cidade, praia<br />

ou descampados, os planos gerais incluem uma grande quantidade<br />

de elementos, mostram grandes áreas. A maneira de nomear<br />

os planos também pode mudar. Um plano bastante conhecido é o<br />

plano americano, ele enquadra uma pessoa até a metade da coxa,<br />

ficou assim conhecido por ser bastante utilizado no cinema americano.<br />

Outro plano ausente da imagem é o conhecido plano detalhe.<br />

Como o próprio nome indica, ele é uma espécie de primeiro plano<br />

que mostra detalhes de objetos como, por exemplo, os famosos<br />

planos de revólver em filmes de suspense. Quando a câmera está<br />

abaixo da pessoa a ser gravada damos o nome de contra-plongeé.


23<br />

Alguns exemplos são imagens mostrando pessoas em cima de um<br />

edifício, ou o rosto de uma pessoa visto de baixo, no caso contrario,<br />

quando a câmera está acima, chama-se plongeé. Essa palavra é<br />

de origem francesa, vem de plonger, que significa mergulhar. Estamos,<br />

no caso, falando da posição do espectador, ele olha para a<br />

cena como se fosse mergulhar, ou seja, de cima.<br />

PG Planno Geral<br />

PM Planno Médio<br />

MPP Primeiro Plano<br />

PP Close-up<br />

PPP Primeiríssimo Plano<br />

A Liberdade Guiando o Povo<br />

Eugène Delacroix<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

Os planos, ao serem gravados, precisam respeitar o eixo, ou<br />

seja, uma direção na tela de modo a serem evitados os pulos na<br />

imagem. Os eixos são de diversas naturezas. Há eixos de luz, de<br />

olhar e de câmera, por exemplo. Se no plano geral a luz entra<br />

da esquerda para a direita do quadro iluminando um vaso de<br />

flores à direita do quadro, quando cortarmos para o detalhe ele<br />

deverá levar em consideração essa disposição dos elementos<br />

na tela, ou seja, a luz precisa manter uma coerência com a do<br />

plano geral. Se voltarmos para o close-up do rosto de uma pessoa<br />

olhando para o vaso de flores, seu olhar deve estar dirigido<br />

para a direita, a isso chamamos eixo do olhar. Caso ela esteja<br />

olhando para a esquerda, fica-se a impressão de que a pessoa<br />

espera alguém entrar, ou está com receio de estar sendo observada<br />

por alguém no extra-campo.<br />

A atenção ao eixo é especialmente importante quando há<br />

deslocamento de personagens e veículos como automóveis,<br />

trens, bicicletas, etc. Em cenas de perseguição, se um carro<br />

sai pela direita do quadro, no quadro seguinte ele deverá entrar<br />

pela esquerda, pois caso ele esteja na direita teremos a impressão<br />

que voltou para o mesmo lugar. Se, ao sair pela esquerda,<br />

ele fizer uma volta em direção ao fundo do quadro, no plano<br />

seguinte deverá estar de costas para a câmera. Para ficar mais<br />

fácil o entendimento da continuidade de eixo devemos acionar<br />

nossa câmera mental e pensar no movimento, em como ele<br />

varre a tela e ocupa o espaço. Pense em uma pessoa atravessando<br />

uma rua de mão dupla. Como será a decupagem desta<br />

cena? Uma opção é: Primeiro fazemos um plano geral localizando<br />

a pessoa de costas e a rua. Depois um primeiro plano<br />

do rosto da pessoa, ela olha para a direita, depois outro plano<br />

da rua seguindo um eixo longitudinal para a direita, voltamos<br />

para o rosto da pessoa que olha à esquerda, e outro plano da<br />

rua, agora longitudinal, à esquerda, finalmente voltamos para<br />

o primeiro enquadramento e vemos a pessoa de costas atravessando<br />

a rua. Tente imaginar outra possibilidade de decupar


25<br />

essa cena. Agora você já sabe que decupar um roteiro é planejar<br />

quanto planos serão realizados, segundo qual ponto de vista<br />

e com qual enquadramento. Decupar também vem do francês,<br />

significa recortar. Decupa-se o roteiro para produzir sentido e<br />

ritmo durante a montagem.<br />

A decupagem prevê ainda como serão realizados os deslocamentos<br />

no quadro e se haverá algum movimento de câmera.<br />

De modo simplificado, podemos pensar em dois movimentos de<br />

câmera, um quando ela se desloca, a câmera anda. A este chamamos<br />

de travelling, do inglês, significa viagem. Como em uma<br />

viagem a câmera se desloca. O outro movimento é de eixo, ou<br />

seja, a câmera está parada mas se desloca no eixo horizontal ou<br />

vertical, a este movimento chamamos de pan. Pan é uma abreviatura<br />

de panorâmica: podemos pensar que estamos no topo de<br />

um morro e queremos ver o entorno, rodando a cabeça temos<br />

uma panorâmica do local. Nós permanecemos parados, só nosso<br />

pescoço se deslocou, este é um movimento no eixo da nossa<br />

visão. Ele também pode ser para cima e para baixo, temos ai a<br />

pan vertical. As pans são muito úteis para acompanharmos movimentos<br />

dos personagens, seja o deslocamento em uma sala, ou<br />

de uma pessoa se levantando de uma cadeira.<br />

Como temos visto, denominamos planos as unidades mínimas<br />

do filme decupado. O plano se inicia com a filmagem<br />

e termina ao ser desligada a câmera. Ao assistirmos ao filme<br />

pronto, o plano situa-se entre dois cortes, em uma sequência<br />

temos diversos planos. As sequencias definem uma unidade<br />

espacial. Há um plano denominado plano sequência, a história<br />

do cinema é pródiga em belos planos sequência como o do<br />

filme de Orson Welles A marca da maldade, onde há uma sequência<br />

desenvolvida sem corte de câmera. Planos sequencias<br />

costumam ser admirados, pois desafiam o diretor e exibem o<br />

seu virtuosismo técnico. Como dramaturgia permitem ao espectador<br />

acompanhar o evento por inteiro, sem a intervenção<br />

do corte, o que pode significar um aumento da tensão. No caso<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

do filme de Welles uma bomba foi colocada no porta-malas de<br />

um carro. A qualquer momento poderá haver uma explosão. A<br />

manutenção da imagem sem corte cria uma tensão extra devido<br />

à duração da cena.<br />

A montagem<br />

Como vimos, coube a Griffith o reconhecimento histórico de<br />

criar a montagem invisível. O domínio do eixo, a variação de<br />

enquadramentos e pontos de vista. Ele criou a possibilidade<br />

de se realizar a passagem suave de um plano a outro. Quando<br />

imerso no filme, o espectador se esquece dos cortes. Além<br />

da montagem entre os planos, o diretor também trouxe para o<br />

cinema a já mencionada montagem paralela. Trata-se de criar<br />

um paralelo temporal, de mostrar duas ações se desenvolvendo<br />

simultaneamente. Caso exemplar são os filmes de ação. Enquanto<br />

uma mulher frágil é ameaçada por um bandido, o seu<br />

salvador, seja ele a polícia ou seu marido, se aproximam. Vemos<br />

ora uma situação, ora a outra, e assim temos a impressão de<br />

que as duas acontecem simultaneamente.<br />

Se Griffith desenvolveu os princípios da filmagem para a <strong>criação</strong><br />

da montagem invisível, coube ao cinema soviético dos anos<br />

20 pensar teoricamente <strong>sobre</strong> a montagem e propor outros modelos.<br />

Kuleshov realizou uma experiência para demonstrar que<br />

a técnica cinematográfica da montagem e não a imagem, eram<br />

os produtores de sentido. Ele utilizou a imagem do rosto do ator<br />

Mosjoukine que foi montada com objetos distintos como um prato<br />

de sopa, uma mulher e uma situação de morte. Ele mostrava a<br />

públicos diversos os grupos de imagem, as pessoas analisavam<br />

o rosto do ator em função da imagem seguinte. Ou seja, ele era<br />

visto como um faminto, um homem generoso ou um depravado<br />

em função da imagem subsequente. Este experimento ficou conhecido<br />

como efeito Kuleshov. Entendemos a montagem paralela<br />

como simultaneidade entre os acontecimentos devido a sua<br />

proximidade, devido ao retorno das situações em um momento


27<br />

um pouco adiante em termos da ação. É pela proximidade das<br />

ações que as entendemos como paralelas. Paralelas e devido ao<br />

tipo de corte invisível, como já foi dito.<br />

O cineasta russo Serguei Eisenstein buscava, ao contrário,<br />

tornar visível o corte. Ele reconhece a contribuição de Griffith<br />

para dois procedimentos presentes na montagem por ele denominadas<br />

métrica e rítmica. A métrica referindo-se ao comprimento<br />

de cada plano utilizado e a rítmica relacionada à construção da<br />

temporalidade do filme como um todo. Mas propõe a montagem<br />

vertical e a intelectual, na qual seria alcançada a quarta dimensão<br />

do cinema. Inspirado pelos ideogramas chineses, nos quais as<br />

palavras são como imagens das coisas e o sentido é dado pela<br />

justaposição dessas imagens. Assim, muitos primeiros planos utilizados<br />

por Eisenstein não visam chamar a atenção para um objeto,<br />

não são ponto de vista de personagem, mas intervenção do<br />

diretor de modo a propor uma espécie de qualidade. Na verdade<br />

são metáforas políticas e sociais. Como na cena do Encouraçado<br />

Potemkin em que um padre segura um crucifixo e o bate na mão<br />

como se este fosse um martelo. Quando o navio é tomado, a cruz<br />

voa até o chão e entra na madeira como se fosse uma faca ou<br />

objeto cortante. Vale lembrar que a igreja como poder apoiava o<br />

regime que oprimia aqueles trabalhadores.<br />

Em linhas gerais, pensar a montagem em termos de uma<br />

quarta dimensão implica em esquecer noções absolutas e considerar<br />

a coexistência de diversos espaços produzindo sentido na<br />

obra <strong>audiovisual</strong>. A construção de sentidos se dá pela justaposição<br />

das imagens, como nos ideogramas. Eisenstein pretende<br />

alcançar com o seu cinema harmônico “a representação visual<br />

de conceitos abstratos” (Eisenstein 1929/1986: 168). Os objetos<br />

dispostos na tela seriam como “dois braços infinitos que se<br />

encontram, como dizemos, no infinito” (Eisenstein 1929/1986:<br />

174). Onde fica o espaço infinito? O que é o infinito? Ele brinca<br />

com o uso da expressão infinito, pois “ninguém nunca visitou uma<br />

região tão distante”. Esse infinito é uma dimensão da percepção,<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

é uma quarta dimensão onde espaço e tempo são categorias<br />

relativas. Eisenstein chega a citar nominalmente o físico Einstein<br />

ao se referir à quarta dimensão do cinema possibilitada pela<br />

montagem. Este é o espaço da formulação conceitual. O espaço<br />

desprezado é o referencial, é o da representação naturalista, do<br />

corte invisível, de uma suposta verdade que, como vimos, inexiste.<br />

Em sua teoria do cinema intelectual ele se propõe a “restaurar a<br />

plenitude emocional do processo intelectual”. A quarta dimensão<br />

do cinema é uma dimensão do pensamento, das sensações <strong>sobre</strong><br />

o trabalho onde tempo e espaço são relativos, não se referem<br />

ao mundo físico e ao tempo cronológico. Espaço e tempo são<br />

construídos por um jogo dos sentidos dos objetos e das coisas.<br />

As dimensões espacial e temporal estão juntas.<br />

Não devemos nos esquecer que o pensamento e o trabalho<br />

de Eisenstein e de seu grupo soviético com Alexandrov e Pudovkin<br />

foram gestados durante o realismo socialista, momento<br />

de consolidação da Revolução Russa. Ao defender um cinema<br />

intelectual, ao defender uma montagem de choques, ou montagem<br />

de atrações, pretendia retirar o público de uma posição<br />

passiva. Em vez da montagem invisível, propunha o choque, ou<br />

seja, uma montagem visível, ou como é conhecida na teoria do cinema,<br />

a montagem da opacidade. Sua opção, oposta à de Griffith<br />

e toda uma tradição americana, é por um cinema antinaturalista.<br />

Na própria União Soviética surgirá uma oposição potente a suas<br />

colocações, ao cine-punho defendido por Eisentein, Dziga Vertov<br />

propõe o cine-olho. Vertov propunha uma exploração sensorial<br />

do cinema, diferente do naturalismo e do antinaturalismo.<br />

Mesmo menos estruturado conceitualmente, Vertov foi mais<br />

radical. Ouso dizer que as ideias de Vertov <strong>sobre</strong> a quarta dimensão<br />

da imagem levaram mais longe, tendo influenciado mais de<br />

uma geração do cinema. Na sua época influenciou uma série<br />

de diretores, como Alberto Cavalcanti, que passaram a realizar<br />

filmes <strong>sobre</strong> cidades. Continuou presente como referência no<br />

cinema francês dos anos 1960, a Nouvelle Vague, quando Jean-


29<br />

Um Homem com<br />

uma Câmera<br />

Dziga Vertov<br />

Luc Godard e Jean-Pierre Gorin, entre outros criaram o grupo<br />

Dziga Vertov, uma homenagem explícita ao cineasta. Hoje é considerado<br />

contemporâneo de trabalhos produzidos com mídias<br />

digitais. Para o teórico Lev Manovich a estrutura do trabalho de<br />

Vertov pode ser vista como um trabalho inaugural da linguagem<br />

das novas mídias, pois entre outras marcas das novas mídias explora<br />

o paralelismo de situações em uma mesma tela e tem a<br />

narrativa na imagem e em apelos visuais, não no enredo.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

Godard segue Vertov em sua declaração contra o cinema<br />

comercial e também adota procedimentos de montagem pouco<br />

ortodoxos. Ele também quebra a continuidade, com seus<br />

faux-raccords. Raccord significa continuidade em francês. O<br />

faux-raccord é uma falsa continuidade. Não são respeitados<br />

os eixos, mas o movimento cria uma ilusão de continuidade, o<br />

movimento dirige o olhar do espectador e assim ele não se dá<br />

conta de que houve descontinuidade. A despreocupação com<br />

a continuidade também esteve presente nas vanguardas artísticas<br />

dos anos 20, um cinema plástico contando com artistas<br />

das artes visuais como a fotografia e as artes plásticas. Para<br />

encurtar de maneira abrupta essa discussão <strong>sobre</strong> montagem<br />

que por si só renderia e rendeu diversos livros, gostaria de mencionar<br />

um procedimento de quebra de continuidade chamado<br />

jump cut, o corte em pulo. Este recurso resulta da parada da<br />

câmera cinematográfica durante a filmagem, de modo de que<br />

em um mesmo plano uma imagem velada, ou seja queimada,<br />

aparece no meio do plano, no meio da ação. O negativo fotográfico<br />

quando exposto à luz queima, fica branco, a ação fica<br />

interrompida pelo branco. Assim monta-se na própria câmera,<br />

antes da montagem entendida no sentido convencional. Andy<br />

Warhol oferece casos exemplares de jump cut.<br />

A imagem eletrônica e digital<br />

artes do vídeo e cinema expandido<br />

Em 1970, o pesquisador americano Gene Youngblood lançou o<br />

livro Expanded Cinema, cinema expandido. Youngblood defende<br />

que se amplie a noção de cinema. O cinema narrativo clássico não<br />

comportava a radicalização de experiências audiovisuais em processo.<br />

Essa radicalização já vinha produzindo novas experiências<br />

com as vanguardas cinematográficas americana e francesa. Mas<br />

o surgimento do vídeo, especialmente do VHS e suas câmeras portáteis<br />

fez surgir a arte do vídeo, ou videoarte como se costumava<br />

dizer na época. Estes trabalhos primam por se construir, sem um


31<br />

Autorretrato<br />

e trabalhos de<br />

Nam June Paik<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 1<br />

enredo evidente e sem relações de causalidade, como na narrativa<br />

cinematográfica clássica. Como bem colocou Arlindo Machado, a<br />

produção de sentido no vídeo se dá principalmente por metáforas<br />

e metonímias. O coreano Nam June Paik, radicado nos Estados<br />

Unidos, é considerado o pai da arte do vídeo. A arte do vídeo também<br />

expandiu o suporte de exibição. Agora, além de trabalhos para<br />

serem exibidos em televisões ou telões, há vídeo-instalações. As<br />

imagens ganham o espaço físico, abandonam o dispositivo da sala<br />

escura, tem volume como nas esculturas, o espectador precisa se<br />

movimentar para se relacionar com os trabalhos.<br />

Os trabalhos de vídeo não exploram o extra-campo, as imagens<br />

são centradas. A sucessão das imagens se dá por incrustação<br />

e por fusão. Uma imagem entra na outra, uma cor se<br />

mistura a outra e assim se organizam em ritmo mais próximo à<br />

música e à poesia do que a um enredo. São como um fluxo de<br />

cores e de gráficos. De uma maneira geral tem o sentido em<br />

aberto, tende a se constituir por associações e por sugestões,<br />

não é dado por inteiro. O vídeo se fez presente na televisão. A<br />

MTV e seus videoclipes muito devem a esta arte. Os gráficos de<br />

abertura e encerramento dos programas, ou seja, as vinhetas<br />

de abertura também têm clara inspiração da arte do vídeo. Na<br />

verdade podem ser considerados como representantes desta<br />

forma expressiva. Cineastas como Peter Greenaway e Jean-<br />

Luc Godard, por exemplo, também abraçam o vídeo e seus<br />

recursos expressivos como ferramenta de expressão. A tela é<br />

dividida, palavras escritas na tela com função poética fornecem<br />

outra camada de sentido ao trabalho. Além da imagem, da música,<br />

dos diálogos temos palavras.<br />

Hoje o <strong>audiovisual</strong> está em toda parte e é realizado por todos.<br />

As galerias de arte se renderam ao vídeo. Nas Bienais, no Brasil<br />

e no mundo, uma grande quantidade de trabalhos é <strong>audiovisual</strong>.<br />

Na internet amadores e profissionais postam suas histórias e experiências<br />

muitas vezes despretensiosas. O remix, que significa<br />

reaproveitar imagens e sons existentes para produzir novos tra-


33<br />

balhos, é uma constante. A simplicidade no manuseio do equipamento<br />

e a facilidade de acesso fazem de todas as pessoas<br />

potenciais realizadores. Nesta época da videosfera precisamos<br />

de atenção e crítica para consumir e produzir <strong>audiovisual</strong>.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


capítulo 2<br />

Um breve estado da arte<br />

do vídeo digital online em 2011:<br />

da produção/ <strong>criação</strong><br />

ao armazenamento/<br />

distribuição e consumo<br />

Por Milena Szafir


35<br />

[Este texto será uma mescla entre o ensaio escrito-verbal<br />

e uma espécie de manual da pesquisa técnico-científica]<br />

São Paulo, 10 de novembro de 2011<br />

Caros “alunos-professores”,<br />

me rendi ao FB (el panopticon)...<br />

admito que, em 20 de agosto deste ano, foi com intenções pedagógicas<br />

– motivada a entender uma metodologia de processo<br />

(e resultado) educativo entre o presencial físico e o online –, que<br />

adentrei à plataforma de relacionamentos sociais “mais popular<br />

[rentável] da atualidade”. que // talvez por possuir o melhor “design<br />

de interface” {estética + [arquitetura da navegação / design<br />

de informação / usabilidade]} // por escritas, imagens, vídeos &<br />

sons (“audiovisuais completos” & embed) e links, tem me sugado<br />

semanalmente em sua dinâmica hipertextual.<br />

Ali, publico o que tenho visto, sentido, apre[e]ndido e ensinado.<br />

(...) recuerden, guerrilleros informáticos, lo que se escribe hoy<br />

en el papel, en las redes electrónicas, en tu diario personal<br />

puede ser usado en tu contra por el aparato de vigilancia<br />

inherente en el nacimiento de las redes digitales que proclaman<br />

una falsa democratización de las comunicaciones.<br />

Raúl Moarquech Ferrera-Balanque em “El futuro<br />

postecnológico del arte digital comenzó ayer”<br />

[www.cartodigital.org]<br />

Aunque seja um “outrar-se” distinto do testado na plataforma<br />

Twitter durante o mestrado: “Afetos, links, trocas e a disseminação<br />

do conhecimento nas redes sociais” (USP, 2009)<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Outrar-se não é “tornar-se outro” em sentido frenia<br />

[mente/ personalidade#schizofrénie]<br />

mas talvez dialogue perfeitamente com o vocábulo deleuziano:<br />

desterritorializar-se…<br />

Outrar-se pode ser um “tornar-se outro” a medida em que,<br />

ao nos relacionarmos com os outros, somos afetados [assim<br />

como afetamos] e<br />

nestas constantes trocas nos transformamos em um novo ser.<br />

Não devoramos o outro [o desapropriando],<br />

mas nos permitimos sermos penetrados<br />

numa relação de penetração e reapropriação mútua.<br />

o Outrar-se, portanto, faz parte de uma nova ética: a ética da<br />

confiança na rede. confia-se que o enunciador do discurso<br />

apreendido — blog ou outro sítio— publicou [digitalizou sua<br />

escrita e a tornou pública] na data referente ao post [publicação<br />

relacionada à pesquisa]. E é a partir desta primeira ética<br />

— em rede – que pode ser validada a enunciação d’outrem:<br />

citação/ pertencente a<br />

Outrar-se exige, portanto: estima, respeito e confiança no<br />

‘outro’ e no relacionar-se.<br />

Ao ser convidada a participar como bolsista-doutoranda do<br />

projeto Novos Talentos, solicitaram-me que desenvolvesse uma<br />

atividade didático-assistencial de vertente tecnológica das “novas<br />

mídias” audiovisuais. Devo dizer desde já, do início deste texto,<br />

que cada dia aprendo mais com meus alunos. O papel do<br />

professor sendo mais o de orientador-fomentador em uma determinada<br />

área (disciplina) do que de “mestre-que-tudo-sabe”–<br />

uma visão tão antiga quanto as “novas tecnologias”.


37<br />

Quando ministrei a primeira parte do curso a vocês, me interessava,<br />

<strong>sobre</strong>tudo, mostrar-lhes que todo o imenso e crescente<br />

material online era (e ainda neste exato instante é) passível do<br />

que se conformou chamar “remix”. Especialmente no âmbito <strong>audiovisual</strong>,<br />

a partir da popularização cada vez maior da plataforma<br />

<strong>audiovisual</strong> YouTube.<br />

A ideia do minicurso (de uma semana, oito horas diárias) era<br />

fazer com que os professores (alunos) ficassem confortáveis<br />

com as ferramentas e os elementos que englobam a navegação/<br />

utilização da web em três frentes que defino como: 1) produção/<br />

<strong>criação</strong>, 2) distribuição e 3) consumo. Deste modo, que eles se<br />

tornassem aptos à prática também em edição não-linear de conteúdos<br />

audiovisuais digitais. Para ajudá-los, esta etapa primeira<br />

apresentou uma visão geral da navegação web (a ideia de rede)<br />

e uma ampla faixa de questões relacionadas às teorias da internet,<br />

do ciberespaço, do vídeo online e da tv digital, privilegiando<br />

o “estado da arte” do vídeo digital, mote deste meu texto (em<br />

detrimento dos demais temas e conceitos vistos em sala de aula<br />

como as possíveis ramificações das “novas mídias”, além de democratizar,<br />

mas também rastrear).<br />

La ilusión de poder creada por los medios de comunicación<br />

puede ser tan seductora como la caída en la utopía. Y aunque<br />

la colonización del ciberespacio por parte de los artistas<br />

y los teóricos revele una enorme creatividad, no hay que que<br />

olvidar que estamos sometidos a las fuerzas combinadas de<br />

la privatización y del control.<br />

Timothy Druckrey<br />

E, para finalizar esta introdução em formato de carta, lembram-se<br />

quando o Almir Almas solicitou a projeção do vídeo “Retóricas<br />

Audiovisuais ME#02”, gerando em sala de aula as pertinentes<br />

discussões <strong>sobre</strong> pirataria e direitos autorais? Acredito<br />

que tenhamos concordado todos que o conjunto (direito à co-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

municação e compartilhamento de informações) é, não somente<br />

um bem mas, principalmente, um desejo implícito do ser humano<br />

(Gary Hall, 2009), ou seja, “Comunicação é compartilhamento e,<br />

em uma sociedade da informação, produzir cultura é uma maneira<br />

de fazer parte da sociedade” (Stalder apud Hall – tradução<br />

livre) Embora pudéssemos – e devêssemos – adentrar corretamente<br />

ao tema da “pirataria digital” aqui, infelizmente não temos<br />

espaço hábil nesta cartilha para um devido aprofudamento destas<br />

questões que, de certa maneira, espero tê-las minimamente<br />

contemplado no trecho a seguir <strong>sobre</strong> “remix”.<br />

Frames de “Retóricas<br />

Audiovisuais ME#02”:<br />

< http://youtu.be/<br />

kc-vi-I8AVc >.<br />

Vídeo-remix de<br />

minha dissertação<br />

de mestrado (parte<br />

<strong>audiovisual</strong> entregue<br />

à banca junto à parte<br />

escrita-verbal em<br />

agosto de 2010).<br />

1. O estado do vídeo digital [e online]<br />

• A ideia do remix e dos memes audiovisuais,<br />

• Os vídeos-interativos no YouTube e<br />

• As produções em HTML5 a partir do Chrome Experiments<br />

1.1. O remix <strong>audiovisual</strong> hoje:<br />

Plataformas videográficas na rede digital, como o YouTube, são<br />

muito mais do que apenas participativas quanto ao arquivamento<br />

online. Convivem ali diversos tipos de <strong>audiovisual</strong>, material de reapropriações<br />

da cultura do remix e do mash up oriundas de uma<br />

cultura jammer. Uma construção <strong>audiovisual</strong> assim se dá pela<br />

apropriação, descontextualização e remontagem de materiais


39<br />

“filmográficos” no intuito de criar um novo trabalho, uma nova<br />

obra. Em sua maior parte, esses vídeos implicam em paródia, em<br />

humor. Nos últimos anos, um dos modelos cada vez mais em<br />

voga são os chamados meme, distribuídos ao redor do mundo<br />

em diversos idiomas. Parodiando inúmeras situações da realidade,<br />

temos a onda de incontáveis filmes que partem de A queda:<br />

as últimas horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel e o: “WikiLeaks’<br />

Brilliant MasterCard Commercial Parody”, desenhado e realizado<br />

especialmente para a ocasião. Essas paródias seguem a<br />

trilha das ideias situacionistas de meados da década de 1960,<br />

na França, frequentemente resultando daí um ato de crítica ao<br />

discurso das mídias de massa. Valem-se de seus códigos narrativos<br />

para “deturpá-los” em suas próprias convenções de edição,<br />

questionando-se, assim, não somente uma possível autoridade<br />

desses meios como transmissores de significados ideológicos,<br />

mas também a ideia de autoria e de copyright.<br />

O crescimento da capacidade de diferentes bancos de dados<br />

audiovisuais online, aliado ao avanço da velocidade de conexão<br />

das redes telemáticas e seu relativo baixo custo de acesso, tem<br />

feito da internet um espaço propício à pesquisa e à atuação no<br />

tema que nos concerne. Em particular, vale a pena ressaltar o<br />

desenvolvimento e o acesso aos softwares de edição não-linear,<br />

assim como novos codecs e plataformas para streaming media<br />

(como o Flash12, da Adobe, utilizado pelo próprio YouTube, dentre<br />

outras plataformas). Cada vez mais, “não-especialistas” produzem<br />

material <strong>audiovisual</strong> a partir da ideia de reapropriação e subjetividade<br />

ensaística. A reciclagem de materiais audiovisuais para a<br />

construção de diferentes modelos de collage não é uma novidade<br />

oriunda da tecnologia digital e sua rede. Mas, quando adentramos<br />

ao processo digital, tudo é facilitado de alguma maneira em comparação<br />

com os processos anteriores. Ou seja, possuímos hoje<br />

um extenso acervo (biblioteca) online de material <strong>audiovisual</strong> que<br />

pode ser constantemente buscado (pesquisado), baixado e modificado.<br />

Este processo – e as técnicas a ele atreladas – permite<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

não somente um novo desenvolvimento da prática de reapropriação<br />

e <strong>criação</strong> <strong>audiovisual</strong>, mas também problematiza o termo “pirataria”<br />

nestas novas produções na rede. As novas tecnologias<br />

digitais – de armazenamento e distribuição – têm, portanto, produzido<br />

impacto nos modos de produção <strong>audiovisual</strong>.<br />

A plataforma website, fundada em 1996, que merece um breve<br />

destaque em nossa pesquisa é a Internet Archive, com cerca<br />

de 140 mil vídeos digitalizados e disponibilizados para download<br />

sob domínio público, além de centenas sob as diferentes licenças<br />

do Creative Commons. Esses materiais – desde vídeos históricos<br />

como <strong>Via</strong>gem à lua (1902), de Meliès, educativos, industriais a<br />

cartoons – podem ser ali encontrados e reutilizados para fins nãocomerciais.<br />

Como poderíamos traduzir esta participação – que torna<br />

a todos tanto consumidores quanto usuários – em um âmbito<br />

da produção, apropriação e distribuição do <strong>audiovisual</strong> online?<br />

O YouTube, por exemplo, mal foi criado em fevereiro de 2005<br />

e alcançou, surpreendentemente, em julho de 2006, a marca de<br />

100 milhões de vídeos assistidos por dia (42,2% de representatividade<br />

da internet à época), onde os usuários alimentam em<br />

torno de 65 mil novos vídeos digitais diariamente. Alguns meses<br />

depois, a revista norte-americana Times classificou o YouTube<br />

como a “invenção do ano”. Finalmente, no mesmo ano, o YouTube<br />

é comprado pela Google.<br />

1.2. Vídeos-Interativos no YouTube:<br />

Alguns vídeos publicados no YouTube são considerados interativos<br />

por sua dinâmica de além-espectatorialidade, onde o internauta<br />

é convidado a participar de uma mínima narrativa pré-existente<br />

ao transformá-la. Há dois modelos em perspectiva no atual<br />

“estado da arte” nesta linha de vídeos:<br />

1.2.1. elaborados por artistas e/ou amadores;<br />

1.2.2. desenvolvidos por empresas em parceiria com a Google<br />

[materiais promocionais].


41<br />

Neste segundo modelo, comumente novos links surgem associados<br />

a um sistema via metadados verbais (tags) ou então um<br />

layout fake do YouTube é criado – ou seja, uma página é comprada<br />

dentro desta plataforma, parecendo um canal comum de<br />

qualquer usuário – onde a interação se constrói para além do<br />

espaço “<strong>audiovisual</strong>”. Enquanto no primeiro a linkagem somente<br />

pode ser construída a partir de possibilidades de anotação existentes<br />

na própria postagem da plataforma, neste modelo (mais<br />

simples e limitado em termos técnicos) os que melhor funcionam<br />

são aqueles que elaboram esta linkagem internamente ao vídeo<br />

(não sendo necessário ao usuário carregar outras tantas páginas<br />

em seu browser). Talvez hajam exceções a essas regras, mas o<br />

principal encontra-se sempre na lógica de uma narratividade-interativa.<br />

Há sempre que se tomar como princípio ativo que a função<br />

de “anotações” (annotations) do YouTube deve estar ligada e que<br />

estes vídeos interativos não funcionam em dispositivos móveis da<br />

Apple (ipad, iphone e ipod). Abaixo seguem alguns exemplos (a<br />

quantidade de views – visitas – apresentados junto aos títulos – e<br />

devidos print screens – datam de novembro de 2011).<br />

1.2.1. Modelos criados por usuários, ou seja,<br />

com funções não-comerciais:<br />

“Play the piano”<br />

[902053 visitas/<br />

views; vídeo<br />

publicado em:<br />

04/01/2010]<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

“YouToRemix_Bike<br />

C-Mapping_<br />

YouTubeMix<br />

(teste02)”<br />

[1386 visitas/ views;<br />

vídeo publicado em:<br />

19/07/2010]<br />

[trabalho premiado na<br />

II Mostra Internacional<br />

de Arte Digital @<br />

Memorial da América<br />

Latina em 2011<br />

e selecionado ao<br />

HTTPvideo do Instituto<br />

Sérgio Motta em 2010]<br />

O funcionamento do vídeo interativo é bem fácil, e está explicado<br />

no começo dele. Através de uma pad lateral, o usuário<br />

tem acesso a várias partes da peça e, consequentemente,<br />

aos vários sons e imagens editados nela. A cada clique nos<br />

botões, o VJ tem uma experiência <strong>audiovisual</strong> diferente e, assim,<br />

a possibilidade de refazer o percurso apresentado pelo<br />

produto, experimentando novas possibilidades. Para ter um<br />

melhor desempenho como visual jockey, o usuário tem que<br />

esperar o vídeo carregar por inteiro.<br />

Thiago Venanzoni (crítica online)<br />

Existem ainda outras produções – estas desenvolvidas por<br />

amadores – com interfaces gráficas normalmente relacionados<br />

a game, a quiz-games e controles de pseudo-players etc, como<br />

o “YouTube Radio!”, “YTPBR - Um YouTube Poop Interativo” [ambas<br />

publicadas em maio de 2009], “Bboy Joker”, “Who Wants to<br />

be a YouTubillionaire!?” [modelos game, publicados também em<br />

2009] e “Gerador de insultos para trolls” [6022 visitas/ views;<br />

vídeo publicado em: 07/01/2011]:


43<br />

“Gerador de<br />

insultos para trolls”<br />

[6022 visitas/ views;<br />

vídeo publicado em:<br />

07/01/2011]<br />

Assim como produções mais complexas – que se relacionam<br />

a narrativas fílmicas – com diferentes caminhos predefinidos que<br />

devem ser escolhidos sempre ao final de um determinado trecho<br />

pelo usuário-espectador: “Let him in – DELIVER ME TO HELL –<br />

an interactive zombie adventure” [2503162 visitas/ views; vídeo<br />

publicado em: 28/07/2010], “The Briefcase” [22995 visitas/<br />

views; vídeos publicados em janeiro/2010] e o brasileiro “A Gruta”<br />

[39009 visitas/ views; vídeo publicado em janeiro/2010].<br />

“Let him in –<br />

DELIVER ME<br />

TO HELL – an<br />

interactive zombie<br />

adventure”<br />

[2503162 visitas/<br />

views; vídeo publicado<br />

em: 28/07/2010]<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

1.2.2. Modelos promocionais, ou seja, comprados<br />

por empresas e destinados à propaganda:<br />

Já diferentemente dos anteriores, aqui a interface revela um<br />

pseudo-vídeo, que normalmente trabalha com metadados. Os<br />

exemplos mais populares neste caminho são: “A hunter shoots a<br />

bear!” (de 2010) e “The desperados experience” (de 2011).<br />

“A hunter shoots<br />

a bear!” (de 2010)<br />

“The desperados<br />

experience”<br />

(de 2011)


45<br />

Há também outras vertentes, como a educativa “Sesame Street<br />

Science: Sink or Float?” (de 2010) ou o pseudo-website “Portfolio<br />

BooneOakley” (de 2009), assim como tantos outros online,<br />

mas irei parar por aqui <strong>sobre</strong> vídeos-interativos no YouTube.<br />

“Sesame Street<br />

Science: Sink or<br />

Float?” (de 2010)<br />

“Portfolio<br />

BooneOakley”<br />

(de 2009)<br />

Para quem tiver interesse em como vocês mesmos podem<br />

montar esta interatividade, há uma explicação bastante completa<br />

na própria web: < http://vitamincm.com/how-to-create-interactive-youtube-video/<br />

><br />

1.3. Vídeos-Interativos em HTML5 e JavaScript<br />

e metadados: um novo cinema?<br />

O HTML não é considerado uma linguagem de programação, mas<br />

sim um protocolo de marcação. Todos os browsers o utilizam, ele<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

é a base de todo e qualquer site visualizado na internet atualmente.<br />

Podemos testar esta disponibilidade interativa via Chrome (o<br />

navegador da Google), mas lembremos que a própria Google, via<br />

YouTube, já havia iniciado a possibilidade de assistirmos aos vídeos<br />

em HTML5 em outros navegadores desde 2009 ou 2010. No<br />

entanto, vídeos interativos – como os apresentados acima – não<br />

funcionam participativamente no YouTube com o HTML5...<br />

Lançado ao público em dezembro de 2008, o navegador da<br />

Google prometia inovações à web. Em 18 de março de 2009, a<br />

empresa lançou sua página de portfólios <strong>sobre</strong> as novas possibilidades<br />

na web através de vídeos e animações – testes interativos<br />

– em HTML5 e JS: nascia o “Chrome Experiments”. Citarei aqui<br />

não as animações interativas em JS, mas sim os vídeos ali realizados<br />

com HTML5 que têm em comum o todo via o conjunto de<br />

pequenas janelas independentes ou inter-dependentes. Os dois<br />

vídeos que exemplifico abaixo me surpreenderam não por suas<br />

pseudo-interatividades, mas principalmente porque apresentam<br />

uma nova maneira de espectatorialidade de narrativas audiovisuais.<br />

Nos últimos anos, o YouTube trouxe um novo formato de atenção<br />

aos vídeos, os assistimos com várias outras janelas abertas<br />

e, na maioria das vezes, estamos imersos ao mesmo tempo em<br />

chats, textos e/ou emails. Ou seja, a maneira de se assistir a um<br />

material <strong>audiovisual</strong> foi transformada quando passamos à web.<br />

Agora, com os exemplos que aqui listo abaixo, novamente nasce<br />

uma percepção distinta e uma recepção desfigurada daquela<br />

que foi proposta inicialmente pelo cinema. Apresentarei aqui dois<br />

exemplos que me têm tomado a atenção para esta nova possibilidade<br />

de narrativa <strong>audiovisual</strong> na web via HTML5, pois aqui temos<br />

diversas janelas ainda também abertas, mas a diferença principal<br />

no momento é que as janelas foram predispostas para gerar uma<br />

nova maneira de espectatorialidade da narrativa presente: todas<br />

as janelas dialogam entre si e nos convidam a uma espécie de<br />

atenção somatória – e/ou talvez redobrada – nelas para que melhor<br />

possamos acompanhar as retóricas propostas:


47<br />

1.3.1. “Arcade Fire: The Wilderness Downtown”<br />

[direção de Chris Milk]<br />

No início dessa experiência, há um espaço para que o internauta<br />

preencha com o endereço sua residência durante infância.<br />

Ao digitá-lo, aparecem escolhas prévias já digitadas anteriormente<br />

por outros usuários (e armazenadas então pelo sistema). O<br />

“relógio” de carregamento (loading) inicia-se e aparece um aviso<br />

em inglês: “The film is processor intensive. Please shut down<br />

other programs and close unnecessary browser tabs. Being this<br />

will enhance your viewing experience. Thanks [O filme tem processamento<br />

intensivo. Por favor, desligue outros programas e<br />

feche abas desnecessárias de seu browser. Isso irá aumentar a<br />

intensidade de sua experiência visual. Obrigado.]”<br />

Ao terminar o carregamento, nos avisa que será melhor se o<br />

seu som do computador estiver ligado. Você dá o play, as janelas<br />

começam a pulular pela tela, com vídeos, às vezes os mesmos<br />

às vezes outros, novos, novas perspectivas. O endereço de onde<br />

você está acessando a internet é captado (além do endereço previamente<br />

fornecido), a personagem principal do vídeo corre pelas<br />

ruas de seu cotidiano e vislumbra a sua cidade em 360 graus.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

1.3.2 “All is not lost”<br />

[videoclipe da banda OK Go com dançarinos]<br />

Na imagem inicial há o mesmo aviso em inglês dado pelo vídeo<br />

apresentado anteriormente: “The film is processor intensive...” Com<br />

menos tecnologias utilizadas (agora somente HTML5 e Canvas),<br />

para iniciar esta nova experiência, há uma solicitação de escrita de<br />

uma mensagem criada pelo próprio internauta. Ao lado desta caixa<br />

para escrita há dois botões [links]: um deles pergunta se você gostaria<br />

de assistir a todo o videoclipe, enquanto a escolha do outro oferecerá<br />

somente um trecho (a parte onde entra a sua mensagem). Ao<br />

escolher qualquer um deles, o relógio de carregamento aparece.


49<br />

Na mesma linha dos anteriores, mas independente do Chrome<br />

Experiments, há o videoclipe “Mirror”, dirigido por Masashi<br />

Kawamura para a homônima canção da banda japonesa de rock<br />

altrnativo Sour (a banda já havia anteriormente, em 2009, realizado<br />

– via webcams – outro interessante videoclip para a música<br />

“Hibi No Neiro”). “Mirror”, de 2010, é claramente inspirado no<br />

“Arcade Fire”, com a diferença de que trabalha numa combinação<br />

entre código proprietário (Flash) e o opensource.<br />

Assim como os demais interativos nesta linha HTML5, a tendência<br />

aqui é uma produção <strong>audiovisual</strong> online com múltiplos<br />

pop-ups que dividem o videoclipe na tela do usuário enquanto<br />

retrabalham materiais a partir das informações pessoais do<br />

internauta (geolocalização, redes sociais etc), neste também é<br />

imprescindível que tenhamos uma excelente conexão de internet<br />

para que a obra online não “trave” em seu percurso.<br />

1.3.3. “MIRROR”<br />

[dirigido por Masashi Kawamura; videoclipe da banda Sour]<br />

A tela inicial solicita que – para uma experiência mais proveitosa<br />

(sic) – você esteja conectado a sua conta do Facebook,<br />

Twitter ou mesmo com a webcam de seu computador ativada.<br />

Mas não há obrigatoriedade nestas conexões e você pode apreciar<br />

o vídeo japonês da mesma maneira.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

2. A lógica do hipertexto,<br />

os metadados e a busca na web<br />

“Formas completamente novas de enciclopédias aparecerão,<br />

feitas instantaneamente com trilhas associativas conectadas<br />

através delas, prontas para serem lançadas na memex e então<br />

amplificadas”.<br />

Vannevar Bush<br />

“As we may think”, 1945<br />

Ilustração do<br />

MEMEX<br />

Vannevar Bush<br />

Todos os conteúdos e tarefas desenvolvidos em sala de aula<br />

iniciaram-se a partir de pesquisas na internet, ou melhor, os exercícios<br />

eram elaborados pensando em como obter um desempenho<br />

mais preciso – garimpagem de dados/informações – no<br />

principal (e mais popular) robô-de-busca da rede nesta primeira<br />

década do século XXI: o Google. Para esta busca, o mote (conteúdo)<br />

foi a teoria de rede e do hipertexto, de Vanevar Bush a<br />

Pierre Levy e Ted Nelson, entre outros.<br />

Teoria de rede


51<br />

E como se dão essas buscas, esses mecanismos? Qual a diferença<br />

da web de antes para a atual, que é denominada “Web 2.0”?<br />

O que são metadados e seus funcionamentos? O que são tags<br />

e metatags? Quem controla o registro de domínios na internet?<br />

Estas questões, explicadas brevemente – sem um aprofundamento<br />

técnico deveras – são importantes para a compreensão não<br />

somente do funcionamento da web hoje, mas também para uma<br />

edição mais precisa de publicações em blogs e em HDs virtuais.<br />

Estrutura do<br />

mecanismo de<br />

busca na rede<br />

2.1. A Busca de informação nos “Search Engine<br />

Optimization” (SEO)<br />

• As buscas no Google não são sensíveis a maiúsculas e minúsculas.<br />

Todas as palavras, independentemente da forma<br />

como forem escritas, serão entendidas como minúsculas;<br />

• As pesquisas padrões do Google não são sensíveis a acentos,<br />

ou seja, [ética] e [etica] encontrarão as mesmas páginas.<br />

Se quiser discriminar as duas palavras, use um sinal + antes<br />

de cada palavra [tanto para uma quanto para a outra];<br />

• Use o sinal “+” para incluir palavras descartáveis na sua<br />

pesquisa. Inclua um espaço antes do sinal “+”. [Você pode<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

também incluir o sinal “+” na busca de frases.]<br />

• Você mesmo pode adicionar a sua URL [Universal Resource<br />

Locator], o endereço, ao sistema de buscas da Google:<br />

.<br />

• A URL é identificada na WWW [World Wide Web] através do<br />

Hyper Text Transfer Protocol, ou seja, como dissemos aqui<br />

anteriormente, há um protocolo básico a todos os browsers<br />

(navegadores) que identifica o caminho de transferência<br />

entre o usuário e o servidor onde esses dados se encontram<br />

armazenados.<br />

Utilizaremos na prática a lógica de hipertexto mais adiante, no<br />

trecho “a <strong>criação</strong> de blogs”.<br />

3. Plataformas Videográficas e<br />

Serviços de Compartilhamento:<br />

• streamings: pré-gravados e live streaming;<br />

• publicar [compartilhar] vídeos;<br />

• produzir e editar material <strong>audiovisual</strong>;<br />

• editar online;<br />

• como selecionar somente alguns trechos do YouTube<br />

• considerações <strong>sobre</strong> a escolha de uma plataforma videográfica<br />

para armazenar e compartilhar seus vídeos.<br />

3.1. Plataformas Videográficas Alternativas<br />

Websites, como o YouTube, atualmente utilizam a tecnologia chamada<br />

de streaming para materiais audiovisuais. <strong>Via</strong> streaming, o<br />

conteúdo pode ser assistido (ou escutado se for somente áudio)<br />

durante o tempo de seu carregamento, ou seja, a diferença encontra-se<br />

na não necessidade de se esperar o loading completo<br />

do arquivo online. O live refere-se aos conteúdos transmitidos<br />

em tempo real (ao vivo) e, para obter sucesso, depende de corretas<br />

taxas de velocidade da rede e compactação do <strong>audiovisual</strong>;<br />

a não perfeita combinação entre esses dois aspectos pode gerar


53<br />

grandes delays (atrasos, ou mesmo falhas, durante a recepção<br />

do conteúdo transmitido).<br />

Existe um número enorme de alternativas ao YouTube na<br />

World Wide Web, tais como Html5video, 5min, Activistvideo,<br />

Vimeo, Metacafe, Break, Blinkx, Blip, Clipshack, Currenttv, Dailymotion,<br />

Videolog , Dalealplay, Exposureroom, Flurl, Getmiro,<br />

Graspr, Howcast, Liveleak, MegaVideo, Mixplay, Mojoflix, Myvideo,<br />

Sapovideo, Screenjunkies, TuTv, Tvig, Veoh, Viddler, Vodpod, Vxv,<br />

Wildscreen, Yahoo!video, Youku, Zencoder, entre outras tantas.<br />

Você mesmo pode buscar – garimpar – na internet quais são<br />

os serviços de compartilhamento online, formatos de vídeo e<br />

streaming que existem atualmente (porque muitas já nem mais<br />

existem, enquanto outras foram criadas nesta última década) e, a<br />

partir de seu objetivo, garimpar aqueles que lhe interessem para<br />

utilização. O Vimeo, por exemplo, acolhe um seleto público (mais<br />

voltado ao cinema, ao motion design e à videoarte), tornando-se<br />

uma plataforma que atrai preferencialmente realizadores que já<br />

transitem numa esfera profissional.<br />

3.2. Plataformas para live streaming<br />

(transmissão de vídeo ao vivo):<br />

Assim como muitas plataformas videográficas on demand foram<br />

criadas e desapareceram nos últimos cinco anos – conforme falamos<br />

anteriormente –, o mesmo ocorreu com as dedicadas à<br />

transmissão ao vivo. Abaixo seguem as que ainda encontram-se<br />

atuantes e em versões gratuitas (embora existam dezenas além<br />

com versões business – pagas – voltadas para diferentes mercados).<br />

A maioria ainda utiliza o plugin do Flash, mas em breve<br />

passarão, quem sabe, a operar em HTML5. Como pode ser visto<br />

abaixo, em sua maioria elas foram lançadas ao público a partir<br />

de abril de 2007, tendo um reconhecimento mais amplo entre<br />

2008-2009; ou seja, qualquer usuário online com uma simples<br />

webcam poderia fazer um evento e facilmente transmiti-lo na<br />

rede em tempo real: http://www.blogtv.com/, http://www.justin.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

tv/ [criada entre 2004-2007], http://www.stickam.com/ [criada<br />

em fevereiro/2006], http://www.livestream.com/ [antiga plataforma<br />

“Mogulus”, inovadora em live streaming, também criada<br />

em 2007], http://www.livevideo.com/ [criada em 2007, com live<br />

streaming em Beta], http://make.tv/ [criada em 2009] e http://<br />

stupeflix.tv/ [criada em 2009].<br />

E os dois últimos anos (2009-2010) foram então passíveis de<br />

comparações entre as plataformas existentes (e concorrentes) enquanto<br />

se investia em aplicativos para transmissão ao vivo também<br />

via dispositivos móveis (celulares) nestas mesmas plataformas e<br />

em novas como: http://qik.com/66n e http://bambuser.com<br />

3.3. Serviços de Compartilhamento online:<br />

p2p vs. HD Virtual<br />

Peer-to-Peer (p2p) é conhecido em português como “compartilhamento<br />

entre pares”. Neste modelo, os arquivos em rede passíveis<br />

de downloads não ficam hospedados em um servidor específico,<br />

mas nos computadores pessoais de usuários em rede<br />

que, quando conectados, permitem a troca de materiais online.<br />

Este foi o sistema da Napster, inovador na década de 1990, o<br />

Kazaa, nos anos 2000 e atualmente o mais popular é o Torrent<br />

. Para os iniciantes, neste endereço há um<br />

manual de como criar uma torrent: .<br />

Para entender o compartilhamento de arquivos do BitTorrent,<br />

é necessário conhecer alguns termos :<br />

• Seed (ou seeding): é a denominação dada à máquina que<br />

possui um arquivo completo compartilhado, como o computador<br />

que primeiramente disponibilizou o arquivo e os outros<br />

que posteriormente o baixaram por inteiro;<br />

• Peer: nome dado a cada computador que compartilha arquivos.<br />

Quando você está baixando algo pelo BitTorrent, seu<br />

computador é um peer, ou seja, um ponto ou um nó da rede;


55<br />

• Leech (ou leeching): é a denominação dada ao momento<br />

em que um computador faz download;<br />

• Tracker: denominação dada ao servidor que é responsável por<br />

organizar os arquivos disponíveis e direcionar os downloads;<br />

• Swarm: nome dado ao conjunto de computadores que estão<br />

compartilhando o mesmo arquivo. Se, por exemplo, o arquivo<br />

infowester.avi está sendo compartilhado por 2 seeds e por 8<br />

peers, o swarm do arquivo contém 10 computadores (2 seeds<br />

+ 8 peers). <br />

Já um HD virtual, como o próprio nome diz, é um “disco rígido<br />

online”. Nos últimos anos, muito tem se falado <strong>sobre</strong> cloud<br />

computing (computação em nuvem), veremos esta definição e<br />

utilização mais adiante, principalmente quando introduzirmos os<br />

atuais aplicativos de edição.<br />

Um HD virtual é um espaço de armazenamento e compartilhamento<br />

online de arquivos, onde o internauta pode salvar seus<br />

documentos pessoais e/ou compartilhar diversos arquivos com<br />

pessoas definidas previamente. O acesso pode ser privado ou<br />

não. Os HDs virtuais surgiram porque há alguns anos era muito<br />

complicado anexar um arquivo, costumava ser maior do que<br />

o espaço virtual disponibilizado e possibilitado pelo serviço de<br />

email. Abaixo segue uma lista dos principais sites gratuitos de<br />

compartilhamento de arquivos, cada qual com suas próprias especificações<br />

relativas a espaço disponível:<br />

4shared (http://www.4shared.com): reconhecido como<br />

um dos melhores para se buscar materiais “piratas” digitais – ou<br />

digitalizados – e colocados em rede para amplo acesso passíveis<br />

de busca via Google ou pelo próprio robô deste serviço de armazenamento<br />

e compartilhamento, que opera por palavras-chave<br />

através de tags, títulos e, muitas vezes também, conteúdos.<br />

DropBox (https://www.dropbox.com): tornou-se o mais<br />

popular em 2010 por haver combinado HD virtual com cloud<br />

computing. O aplicativo desenvolvido pelo DropBox, para ser ins-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

talado no computador do usuário, oferece uma pasta de arquivos<br />

sincronizada com o serviço online de armazenamento e compartilhamento<br />

(a nuvem); assim, qualquer material colocado nesta<br />

pasta em seu computador estará automaticamente na rede, podendo<br />

ser acessada em qualquer lugar e com pessoas por você<br />

designadas (estas necessitam também ter uma conta no Drop-<br />

Box para acesso aos conteúdos dos designadores). A diferença<br />

encontra-se em que os demais somente funcionavam via browser,<br />

sendo então necessário os três passos mínimos: upload do<br />

arquivo, copy & paste do endereçamento referente.<br />

Sites conhecidos para compartilhamento de arquivos<br />

Media Fire (http://www.mediafire.com)<br />

You Send It (https://www.yousendit.com)<br />

RapidShare (https://www.rapidshare.com)<br />

DivShare (http://www.divshare.com)<br />

Send Space (http://www.sendspace.com)<br />

Stream File (http://streamfile.com)<br />

Files 2 U (https://www.files2u.com)<br />

Big Upload (http://www.bigupload.com)<br />

4. download, edição e codecs de vídeos<br />

1. Download de vídeos visualizados em streaming<br />

videos websites<br />

2. Ferramentas para edição de vídeos<br />

3. O que são Codecs<br />

4.1. Baixando vídeos de plataformas videográficas:<br />

Em 2006 – ano em que se popularizou o YouTube – já era possível<br />

baixar vídeos desta plataforma: havia métodos via Safari (o<br />

browser da Apple) e alguns dois aplicativos para sistemas Mac<br />

(Apple). Para Windows a alternativa era um plugin que poderia<br />

ser adicionado ao próprio Browser Firefox (Mozilla) e, quando<br />

acionado, facilmente armazenava o vídeo em seu computador


57<br />

pessoal. A dificuldade à época era a extensão, até então pouquíssimo<br />

conhecida e utilizada, o .flv (Flash Video). Até então,<br />

os vídeos que poderiam ser assistidos online – por suas taxas<br />

de compressão – possuíam dois padrões concorrentes: .mov<br />

(Apple) e .wmv (Microsoft). Por vezes o .avi sob o codec DivX<br />

(utilizado pelos usuários de Windows para altas compressões) ou<br />

o .rmvb do Real Player, mais utilizado para arquivos em alta definição<br />

baixados em serviços de p2p ou HD Virtuais. Mais adiante<br />

veremos o que são codecs (que geram diferentes possibilidade<br />

de extensões) e quais os mais utilizados atualmente.<br />

O .flv poderia ser convertido para outras extensões através de<br />

aplicativos específicos (à época, em sua maioria, pagos). No percurso<br />

desta dificuldade em se converter arquivos .flv, um player<br />

então se tornou bastante popular: o VLC (VideoLAN74). Este tocador<br />

de vídeos – realizado sob código aberto (open source),<br />

livre e gratuitos (free) – rodava então (e ainda segue em funcionamento<br />

e utilização cada vez maior) não somente arquivos digitais<br />

com diferentes extensões e seus codecs (MPEG-2, H.264,<br />

DivX, MPEG-4, WebM, WMV) como também servia de player<br />

para áudio, DVD – e como leitor de arquivo dos DVD mount, o<br />

.img – além de funcionar como uma plataforma de vídeo streaming.<br />

A popularização do VLC se deu também por ser compatível<br />

– ter sido designado – a diferentes sistemas operacionais, como<br />

os principais atualmente: Windows, Linux e Mac OS.<br />

Existem muitos vídeos em sites interessantes como o YouTube<br />

e que seriam de grande utilidade se você pudesse baixar para<br />

seu computador. Um exemplo de utilização positiva desse recurso<br />

acontece com professores de todo Brasil. Muitos deles estão<br />

tornando as aulas mais ricas ao baixar vídeos educativos no You-<br />

Tube para exibição na sala de aula. Muitas crianças e adultos que<br />

não têm acesso a internet, pessoas de baixa renda e que moram<br />

em localidades remotas têm a oportunidade de acessar conteúdos<br />

relevantes graças a possibilidade de baixar vídeos e gravar<br />

em um simples pendrive ou CD virgem. Por isso, é importante<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

que todos tenham acesso a este tipo de conhecimento para que<br />

seja utilizado para o bem. Este é o objetivo deste site. Queremos<br />

que mais pessoas possam compartilhar o conteúdo rico e útil que<br />

existe em sites de vídeos com outras pessoas que infelizmente<br />

ainda têm acesso de internet lento ou que não tenham qualquer<br />

tipo de acesso à rede. Através dos conhecimentos deste site é<br />

possível democratizar a informação.<br />

Abaixo segue uma listagem dos programas e plugins para<br />

baixar vídeos. Atualmente há muitas opções além das apresentadas<br />

a seguir e muitos desses softwares (ferramentas/ aplicativos)<br />

já fazem também a conversão do arquivo para o codec de<br />

sua preferência ao baixá-lo.<br />

!! ATENÇÃO !!<br />

Antes de qualquer instalação, salve o HD do computador.<br />

[os programas podem danificar sua máquina]<br />

1. Instaláveis: EllTube (para Linux e Windows), iSquint (somente<br />

Mac), somente Windows: Clipnabber, Free Video Downloader<br />

e KastorSoft,<br />

2. Diretamente via browsers: IcyVideo, KeepTube, Filsh,<br />

SaveVideo.Me, KeepVid, KeepHD, DownThisVideo! e os plugins<br />

(extensions ou add-ons) para os dois principais navegadores: o<br />

Chrome e o Firefox. No Chrome: Easy YouTube Video Downloader,<br />

Chrome YouTube Downloader, Jordy, YouSniff, One-Click<br />

Download Links, FastestTube e no Firefox: VideoDownloader<br />

Helper, Easy YouTube Video Downloader, Ant Video Downloader,<br />

Flash Video Downloader, BYTubeD5, NetVideoHunter, One-Click<br />

YouTube Video Download, Fast Video Download e NetiUS.<br />

Uma coisa importante que se deve destacar é que você<br />

precisa tomar cuidado na hora de baixar vídeos no YouTu-


59<br />

be pois você pode estar infringindo os direitos de alguém.<br />

Muitos vídeos do YouTube não devem ser baixados porque o<br />

autor destes vídeos não autoriza este procedimento. Muitos<br />

vídeos também não podem ser distribuídos por você sem a<br />

autorização da pessoa que criou vídeo e colocou o mesmo<br />

no YouTube. As ferramentas e download de vídeos criadas<br />

por diversos programadores e desenvolvedores de software<br />

de todo mundo e disponibilizadas na internet gratuitamente<br />

só devem ser utilizadas (…) dentro das condições legais do<br />

país onde você mora.<br />

<br />

4.2. Atuais softwares online gratuitos<br />

[Free, Freeware ou OpenSource] para <strong>Ed</strong>ição de Vídeos<br />

[estes NÃO precisam ser instalados no computador]<br />

JayCut<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

YouTube <strong>Ed</strong>itor<br />

Assim como dissemos anteriormente <strong>sobre</strong> as plataformas<br />

videográficas, estes editores online têm surgido, nos últimos<br />

anos, embora em bem menor quantidade, na mesma velocidade<br />

em que desaparecem. Com diferentes interfaces, e muitas vezes<br />

também com distintas funcionalidades/possibilidades, alguns<br />

(ainda) encontram-se em funcionamento: Pixorial, Kaltura (imagem<br />

abaixo), VideoToolBox, Animoto, OneTrueMedia, Magisto,<br />

MixMoov, Stupeflix, Stroome, WeVideo e Cellsea


61<br />

4.3. Codecs:<br />

Codec é um acrônimo para codificador/ decodificador. A importância<br />

dos codecs está na compressão e qualidade de um arquivo<br />

(seja ele foto, áudio ou vídeo). Ou seja, ao gravar ou exportar<br />

um vídeo editado digitalmente, o usuário é quem define o melhor<br />

codec para sua utilização, se o material será assistido em telas<br />

grandes ou pela web etc. Assim, o codec define como um arquivo<br />

<strong>audiovisual</strong> será comprimido em seu fechamento e como ele<br />

será descomprimido ao ser aberto para assistir.<br />

Por exemplo, estamos acostumados a diferentes codecs de<br />

imagem estática: .jpeg, .gif, .png, .tiff, cada qual com sua porcentagem<br />

de danos ou não. Os dois primeiros são considerados codecs<br />

com perdas – a compressão privilegia o tamanho do arquivo<br />

em detrimento da qualidade. No entanto, este balanceamento<br />

nem sempre é perceptível na decodificação e, portanto, muitos<br />

utilizamos cotidianamente o .jpeg –, enquanto os outros são sem<br />

perdas: comprimem a imagem para deixá-la mais leve e estas,<br />

ao serem descomprimidas, terão a mesma qualidade da original.<br />

Áudio também já é algo corriqueiro em nossas vidas: o wav é<br />

considerado um dos “áudios puros”, sem perdas de qualidade,<br />

enquanto o mp3 é um som codificado e com perda de qualidade<br />

(existe também o Ogg Vorbis, codec rival em potencial do MP3,<br />

que vem ganhando adeptos por causa de sua alta taxa de compactação,<br />

aliada ao fato de ser um formato open source, livre de<br />

patentes e pagamentos de royalties).<br />

Enquanto a maioria dos visualizadores atualmente abre todos<br />

os tipos de codificadores de imagens estáticas, em vídeo e áudio<br />

a coisa se complica um pouco. Cada player (tocador) é capaz de<br />

abrir alguns codecs, nem sempre todos os existentes:<br />

.avi, .mov (Apple) ou .wmv (Microsoft), até há pouco tempo<br />

eram os mais conhecidos e utilizados. No entanto, essas extensões<br />

trazem escondidas em si diferentes tipos de codecs utilizados<br />

em seus fechamentos. O .mov possui codecs próprios como<br />

o H.264 entre outros.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Há alguns anos, os codecs mais comuns em plataformas<br />

Windows eram: DivX e Cinepak. Devido à grande quantidade de<br />

codecs diferentes, torna-se difícil saber qual deles foi usado para<br />

certos arquivos. Assim, foram lançados diversos pacotes de codecs,<br />

todos com fácil instalação e de enorme utilidade, pois tornam<br />

qualquer computador compatível com uma variedade muito<br />

grande de formatos. O pacote mais famoso é o “K-Lite Codec<br />

Pack”. A Microsoft tem uma interessante página em seu website<br />

que explica <strong>sobre</strong> os codecs e tira as principais dúvidas. Em meio<br />

à listagem de questões, deixa um alerta aos seus clientes:<br />

Tenha cuidado ao instalar codecs encontrados na Internet,<br />

especialmente alguns dos pacotes de codecs gratuitos que<br />

alegam ter codecs de uma vasta gama de empresas ou organizações.<br />

Sabe-se que há incompatibilidades com alguns dos<br />

componentes desses pacotes de codec que podem causar<br />

problemas graves de reprodução no Player e em outros programas<br />

multimídia, corromper o sistema e dificultar o diagnóstico<br />

e a solução de problemas de reprodução por parte<br />

do Suporte da Microsoft. Por esses motivos, é altamente recomendável<br />

não instalar esses tipos de pacotes de codec e,<br />

caso você os tenha instalado e esteja tendo problemas com<br />

o Player, remova-os. Só instale codecs, filtros ou plug-ins de<br />

fontes autorizadas e confiáveis, como o site oficial do fornecedor.<br />

Mesmo assim, tenha cuidado: alguns fornecedores<br />

de codecs oferecem suporte mínimo ao consumidor. Antes<br />

de instalar qualquer componente de mídia digital, defina um<br />

ponto de restauração do sistema. Isso permite voltar à configuração<br />

original do sistema, se necessário.<br />

Ao lado apresentamos uma tabela dos formatos de vídeos<br />

mais populares do momento, como dito anteriormente o VLC é o<br />

player de maior acessibilidade:


63<br />

Os aplicativos para edição de vídeos tampouco aceitam todos<br />

os tipos de codecs (áudio, foto, vídeo), assim é sempre bom ter<br />

em sua máquina duas boas ferramentas de conversão. No caso<br />

de vídeos, importantíssimo ter um conversor de .wmv para .avi ou<br />

.mp4 ou .mov, pois a extensão do Windows Media Video não é<br />

muito amigável para ser trabalhada em outros editores além do<br />

MovieMaker. A maioria dos softwares de edição de vídeos aceita<br />

.avi, .mov e, dependendo dos codecs utilizados, .mp4.<br />

Atualmente temos online possibilidades de softwares gratuitos<br />

para identificação de codecs em um vídeo via 4CC e listas<br />

dos principais codecs existentes e explicações como trabalhar<br />

com eles. Também online podemos encontrar muitas informações<br />

técnicas como a quantidade de frames por segundo em um<br />

vídeo, os diferentes tipos de padrões (NTSC, PAL, PAL-M etc),<br />

as novas resoluções – qualidades – cinematográficas (2Kb ou<br />

4Kb), formatos de HDvideos, as diferenciações de taxas e sinais<br />

entre os formatos analógicos e os atuais digitais.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

A Criação de blogs:<br />

Se você criar um blog via WordPress, no formulário de <strong>criação</strong><br />

ele lhe pergunta se você gostaria de comprar um domínio.<br />

Comprar um domínio significa ter um nome somente seu (com<br />

uma determinada extensão) na rede.<br />

Por exemplo:<br />

manifesto21.tv (significa que o nome é “manifesto21” e a<br />

extensão escolhida é internacional – não há o .br)<br />

manifesto21.com.br (novamente o mesmo nome, mas com<br />

uma extensão distinta. Poderia ser somente .com – implicando<br />

em um domínio internacional –, mas decidiu-se pela compra em<br />

território nacional, atribuindo-se assim o “.br”.<br />

Já manifesto21.com (novamente com o mesmo nome) não<br />

pertence ao mesmo proprietário, o que implica – talvez – em um<br />

erro de logística, pois o mesmo nome foi adquirido por outra pessoa<br />

(física ou jurídica). Na escolha de um domínio único (nome<br />

reconhecido internacionalmente), é importante contemplá-lo à<br />

época de sua <strong>criação</strong> em diferentes extensões internacionais<br />

possíveis. As mais comuns são: “.org”, “.net” e “.com”.<br />

Uma maneira talvez mais simples de se compreender o que<br />

significa possuir um domínio e onde este está locado é via email.<br />

Os emails mais comuns nos últimos 20 anos são fulano@hotmail.<br />

com ou fulano@gmail.com. O arroba significa “at” (pertencente a).<br />

Quer dizer que seu email pertence a uma das maiores empresas<br />

provedoras de caixas postais na rede: Microsoft ou Google (são<br />

também populares o Yahoo, o Ig, o Uol entre outros). Quando você<br />

adquire um domínio próprio, há a possibilidade de ter mais de um<br />

email que por sua vez será distinto desses populares, um email<br />

somente seu, como: profmilena@manifesto21.tv. Da mesma maneira,<br />

ao contratar um serviço de hospedagem – e aí também há o<br />

fator de anuidade e escolha de “serviços periféricos”, assim como<br />

em qual sistema operacional você irá querer criar seu site (Windo-


65<br />

ws ou Linux). Você pode escolher quantos emails precisar, como:<br />

contato@manifesto21.tv, listas@manifesto21.tv etc.<br />

Até junho de 2008, para fazer o registro de um domínio no<br />

Brasil (.com.br, .org.br, .odo.br) era necessário possuir um CNPJ<br />

ou CPF dependendo da extensão adotada. Por exemplo, para<br />

domínios .com.br era obrigatório um CNPJ. Já para domínios internacionais<br />

(.com ou .net), não existia qualquer restrição. Dados<br />

retirados deste mesmo site, aqui apresentado em nota de rodapé,<br />

indicam que também o órgão de registro nacional não mais possui<br />

tantas restrições (para .com.br ou .net.br) como antigamente.<br />

Mas, o que realmente mudou em junho de 2008?<br />

“Na última quinta-feira [26 de junho de 2008] houve a votação<br />

na ICANN [Internet Corporation for Assigned Names and<br />

Numbers] em Paris, <strong>sobre</strong> uma proposta que muda radicalmente<br />

a forma dos endereços web: a personalização dos TLDs (Top-<br />

Level Domains) (…) E a ideia foi aprovada”: em vez das TLDs e<br />

ccTLDs comuns .com, .net, .org, .com.br, etc, as companhias poderiam<br />

escolher as letras que vêm depois do ponto. Por exemplo,<br />

poderiam existir endereços como apple.mac, intel.pc, forum.gdh<br />

etc. Eventos, cidades e locais em geral também seriam beneficiados,<br />

como ibirapuera.sp ou amazonia.brasil.<br />

Outra curiosidade é que extensões com apenas duas letras significam<br />

relações com uma região ou um país: “.br”, por exemplo,<br />

representa um domínio registrado no Brasil; “.cc”: Ilhas Cocos, na<br />

Oceania; “.tv”: Ilhas Tuvalu, no Oceano Pacífico. Não há restrição na<br />

compra de um domínio “.tv”, como ocorre com a extensão “.tv.br” aqui<br />

no Brasil desde sua <strong>criação</strong> há alguns anos. Ao redor do mundo,<br />

tanto redes de canais televisivos comerciais como independentes<br />

ou amadoras utilizam a extensão “.tv” junto a seus domínios na web,<br />

pela comunicabilidade implícita nela. Em Niue, país dependente da<br />

Nova Zelândia, a extensão é “.nu”. A de Samoa do Oeste, na Nova<br />

Zelândia: “.ws”. Não há restrições ou impedimentos para você registrar<br />

esses domínios, nem para o conteúdo de tais domínios.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Voltemos à <strong>criação</strong> do blog:<br />

• Se você criou seu blog em WordPress, sem a compra de um<br />

domínio ou hospedagem, seu endereço online (URL) será: www.<br />

NOME_ESCOLHIDO.wordpress.com<br />

• No caso de haver sido criado no Blogger (site adquirido<br />

há alguns anos pela Google), será: www.NOME_ESCOLHIDO.<br />

blogspot.com, significando que o servidor-hospedeiro de seu<br />

blog pertence – está locado – em um desses principais sistemas<br />

PHP. Ou seja, seu site é um subdomínio em uma hospedagem<br />

maior (e, na maior parte das vezes, gratuita).<br />

1. O WordPress:<br />

[em português: http://pt-br.wordpress.com/ ou em inglês: http://<br />

wordpress.org/]<br />

A primeira visão geral ao efetuar login: o Painel de Controle<br />

[Dashboard].<br />

O design de interface do WordPress permanece o mesmo há<br />

bastante tempo (enquanto o já atrapalhado design do Blogger<br />

transformou-se para pior, dificultando assim uma fácil compreen-


67<br />

são/utilização). Logo à esquerda, na barra vertical lateral podemos<br />

ver todas as usabilidades possíveis. Se queremos escrever<br />

uma nova postagem, cliquemos em Post e lá um drop-downmenu<br />

se abrirá, contendo:<br />

• All Posts: visualização de todas as postagens efetuadas/<br />

gravadas (as já publicadas e as ainda como rascunhos);<br />

• Add New: para criarmos uma nova;<br />

• Categories: visualizar a lista de postagens por categoria<br />

indicada;<br />

• Tags: visualizar a lista de postagens via as tags administradas;<br />

• Copy a Post: duplicar uma postagem já pré-existente.<br />

A primeira postagem: <br />

EXERCÍCIO 01<br />

Incluir uma imagem em minha postagem<br />

1. Upload/Insert: clique no primeiro ícone à esquerda;<br />

2. Na janela Add Image, que se abre no browser, há 4 abas<br />

disponíveis: 1. From Computer, 2. From URL, 3. Gallery e 4.<br />

Media Library. Neste primeiro exercício (postagem), escolherei<br />

fazer o upload de uma imagem;<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

3. Ao fazer o upload, abrem-se novas opções nesta janela:<br />

• Add Image: título do arquivo, texto alternativo (caso a imagem<br />

não apareça em algum browser ou demore mesmo a aparecer<br />

• Caption (legenda da imagem)<br />

• Descrição da imagem (oculta ao leitor)<br />

• URL onde a imagem será armazenada<br />

• Alinhamento da imagem na postagem (nenhum, à esquerda,<br />

centralizada, à direita)<br />

Tamanho da imagem (em pixels: thumbnail 150 x 150, média<br />

300 x 210, grande ou full size 640 x 448).<br />

Todas essas opções de apresentação da imagem na caixa de<br />

texto podem ser reeditadas posteriormente. Observação: somente<br />

o título da imagem é obrigatório nesta janela. No final da janela<br />

há um botão: Insert into Post, clique nele para adicioná-la a sua<br />

nova postagem;<br />

4. Definidos todos os parâmetros, a imagem é jogada na galeria<br />

de meu blog, onde ficará também armazenada para futuras<br />

possíveis inserções.


69<br />

Categorias e Tags (etiquetas)<br />

No WordPress há uma diferenciação entre “categoria” e “etiqueta”<br />

(Tag). A Categoria será como uma pasta que armazenará<br />

suas postagens relativas, enquanto as etiques podem ser diversas<br />

e não necessariamente as mesmas sempre. Tanto por uma<br />

como pela outra, há a possibilidade de organização e busca de<br />

suas postagens (arquivo).<br />

Atenção: é muito importante esta auto-orgnanização.<br />

Você pode adicionar quantas Categorias quiser (Add New<br />

Category), quando você esquecer de adicionar uma nova ou escolher<br />

uma pré-existente para guardar a sua postagem, o próprio<br />

aplicativo guardará seus textos sob “Uncategorized”. Da mesma<br />

maneira funcionam as Tags, mas aqui você cria estas colocandoas<br />

entre vírgulas. Caso já exista alguma a ser utilizada: Choose<br />

from the most used tags (haverá uma lista das etiquetas mais<br />

utilizadas por você em seu blog)<br />

A segunda postagem: < http://tekhneclasses.WordPress.<br />

com/2011/07/20/incluir-um-video/ ><br />

Antes da existência do YouTube e outras plataformas videográficas,<br />

o WordPress possuía espaço para que seus usuários<br />

pudessem fazer upload gratuitamente seus vídeos. Atualmente,<br />

há um custo anual para a utilização do VideoPress.<br />

EXERCÍCIO 02<br />

Inserir vídeos que já estão em plataformas online<br />

(como YouTube, Vimeo, Uol, entre outros)<br />

• Upload/ Insert: clique no segundo ícone da esquerda para a<br />

direita;<br />

• Na janela Add Video, que se abre no navegador, há 03 abas<br />

disponíveis: 1. From Computer (para quem possua o Video-<br />

Press), 2. From URL e 3. Media Library. Neste segundo exercício<br />

(postagem), escolheremos embed um vídeo (ou seja, mate-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

riais audiovisuais que já estejam em plataformas online), pois na<br />

primeira aba está claro: “If you just want to embed videos from<br />

other sites such as YouTube, click the From URL tab above” [se<br />

você quer apenas incluir vídeos de sites como o YouTube, clique<br />

na aba From URL acima];<br />

• Nesta segunda aba, From URL há um espaço a ser preenchido<br />

com a URL onde estiver o vídeo ou você pode seguir as instruções<br />

diretas (“Embedding video is as simple as copy and paste”<br />

[Para inserir vídeo, basta copiar e colar]) para embutir o vídeo<br />

através das plataformas mais populares da atualidade, como<br />

o YouTube, o Vimeo e o DailyMotion. Todas ss instruções são<br />

facilmente encontradas online.<br />

Caso você escolha o modo copy & paste – não necessitando,<br />

portanto, abrir a janela Add Video –, há um aviso importante nas<br />

instruções para que seu link não esteja formatado como um hiperlink;<br />

ou seja, caso você o visualize em azul (como na imagem<br />

a seguir), selecione-o completamente e clique no botão-ícone do<br />

modo Visual de seu <strong>Ed</strong>itor (não no modo HTML!!) para des-linkar<br />

(Unlink) a URL selecionada. A própria plataforma identificará o<br />

seu link (unlinked) como sendo um vídeo:


71<br />

A terceira postagem: <br />

Opções – formatos etc – de apresentação dos vídeos.<br />

No próprio <strong>Ed</strong>itor Visual, exemplo via YouTube:<br />

[YouTube=http://www.YouTube.com/watch?v=qLEBAPA7yqo + …]<br />

Opções de tamanhos:<br />

• Formato 320 x 240 pixels: + [&w=320&h=240]<br />

[YouTube=http://www.YouTube.com/<br />

watch?v=qLEBAPA7yqo&w=320&h=240<br />

• Formato 160 x 120 pixels + [&w=160&h=120]<br />

[YouTube=http://www.YouTube.com/watch?v=qLEBAPA7yqo&<br />

w=160&h=120]<br />

• Para que não mais apareçam – ao final – os vídeos relacionados:<br />

+ [&rel=0]<br />

[YouTube=http://www.YouTube.com/watch?v=qLEBAPA7yqo&rel=0]<br />

A quarta postagem: < http://wp.me/p1IDpq-m ><br />

Preformatação no próprio YouTube via código de embeded (incorporar)<br />

gerado pela própria plataforma:<br />

• Compartilhar (share: abrirá a janela com short link)<br />

• Clicar em: “mostrar opções” à direita da janela com o link encurtado;<br />

• Escolher link longo (há duas escolhas: a primeira é em que<br />

tempo o vídeo deve ser iniciado);<br />

• Clicar no botão abaixo: “Incorporar” (embeded), abrirá o espaçamento<br />

com o código HTML e um aviso: “Após fazer sua<br />

seleção, copie e cole o código de incorporação acima. O código<br />

muda de acordo com a seleção.”<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Atenção: o novo código de marcação funciona melhor<br />

nas postagens do WordPress<br />

HIPERLINKS<br />


73<br />

Ao passar o mouse <strong>sobre</strong> uma frase (ou imagem) clicável<br />

dentro de um hipertexto, esta mudará de cor, significando pois<br />

que é um hiperlink. Um hiperlink leva-nos a novos caminhos, determinadas<br />

páginas – sempre apresentando nas infos de seu<br />

browser este destino, é interessante você sempre observar qual<br />

será o endereço para onde você será levado antes de clicar em<br />

qualquer hiperlink.<br />

Blogger/ Blogspot (Google):<br />

[www.blogspot.com]<br />

• É necessário possuir uma conta Gmail (com esta conta você<br />

poderá criar quantos – e diferentes – blogs quiser dentro do<br />

Blogspot);<br />

• A parte mais interessante dessa plataforma é a possibilidade de<br />

personalizar seu Favicon;<br />

• Sobre a nova interface (2º. semestre/2011).<br />

Após acessar/inscrever-se no Blogger, você será convidado a:<br />

2.2.2.1. Digitar um título para seu blog (que pode ser mudado<br />

depois);<br />

2.2.2.2. Criar um nome para o endereço (URL) que conterá o seu<br />

blog sob o domínio do Blogspot (assim como no Word-<br />

Press, é necessário verificar a disponibilidade, ou seja, se<br />

esse mesmo nome já não foi previamente cadastrado por<br />

outro usuário).<br />

Obs.: é recomendável que se escolha ou crie um endereço<br />

de nome pequeno e fácil para memorização<br />

(assim, outros poderão ter também seu blog como referência<br />

por ser um nome simples)<br />

2.2.2.3. Escolher seu template (a cara estrutural – formato – para<br />

o seu blog. Esta opção também poderá ser alterada posteriormente).<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Modelo antigo<br />

Modelo atual<br />

(novembro 2011)<br />

Agora, já com seu blog criado, será apresentado seu “painel<br />

de controle” (Dashboard):


75<br />

O que pode ser feito a partir daqui [pelo novo Dashboard]:<br />

Básico:<br />

Escrever uma nova postagem: clique no lápis do botão laranja<br />

e assim você terá acesso ao seu editor de hipertexto;<br />

Visualização de sua lista de postagens: o ícone logo à<br />

direita do botão-laranja-lápis é o link para sua lista de postagens<br />

(que podem ser re-editadas), apresenta as já publicadas e as<br />

que estão gravadas ainda como “rascunho” (draft), ou seja, estas<br />

últimas somente você tem acesso para visualização;<br />

Lista de Leitura: o que tem sido publicado<br />

nos blogs que você acompanha (segue) e no<br />

seu próprio, assim como o trecho destas publicações<br />

recentes;<br />

Para os demais menus: à direita do ícone<br />

de “listagem de postagens” há uma seta, que<br />

indica a existência de um drop-down menu<br />

(menu de rolagem para baixo). Ao clicar ali,<br />

você encontrará o caminho para as 8 páginas<br />

de usabilidades (Overview, Posts, Pages,<br />

Comments, Stats, Earnings43, Layout, Template<br />

e Settings) em seu blog.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Dicas vistas em aula:<br />

• Postar uma imagem: para colocar uma imagem que não esteja<br />

no seu computador e que pertença a outro site, você não precisa<br />

baixá-la e então fazer o upload novamente em seu blog. Basta<br />

publicá-la referenciando o link da imagem escolhida, como<br />

fizemos: <br />

Observação: a imagem será incorporada em sua postagem<br />

(como acontece com um vídeo). É bom saber que, caso ela seja<br />

apagada ou tenha seu link (endereçamento) mudado, ela também<br />

não aparecerá mais em sua postagem.<br />

Conhecendo algumas importantes <br />

- Hiperlink textual e a importância do :<br />

neste exemplo, citamos um trecho do blog da Tania Vargas.<br />

Se quisermos direcionar nosso leitor à fonte desta citação,<br />

devemos selecionar a frase (palavras) que serão transformadas<br />

em hyperlink e clicamos no botão link do editor de postagem.


77<br />

Se não escolhermos nesta caixa de opções a alternativa<br />

“Open this link in a new window”, o html ficará da seguinte maneira:<br />

Tania Vargas<br />

No entanto, não queremos perder nosso internauta e, portanto,<br />

devemos avisar que neste hiperlink que uma nova página, aba<br />

ou guia – tab deverá ser aberta no browser, permitindo assim<br />

que nosso blog continue aberto no browser do usuário, mesmo<br />

ele clicando para abir um novo caminho. Nosso HTML ficará portanto<br />

desta maneira:<br />

Tania Vargas<br />

*grifos e sublinhados meus<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Como seria no WordPress:<br />

Aqui há também a possibilidade de facilmente linkar um antigo<br />

post dentro de seu próprio blog [no Blogger, precisamos<br />

copiar o link da postagem anterior e colá-la como uma URL comum.<br />

Ao final da escolha – “Add Link” –, o próprio código de<br />

marcação aparece já formado no <strong>Ed</strong>itor HTML, como podemos<br />

ver nas imagens abaixo:


79<br />

- Hiperlink textual de email:<br />

Link para seu email, sem necessidade de escrever o endereço<br />

deste no texto corrido, se seu browser permitir – você escolhe<br />

isto nas configurações –, o caminho será abrir algum aplicativo<br />

de e-mails que seu computador tenha.<br />

Sabemos que via Blogger é mais fácil, pois já há esta alternativa<br />

na janela de linkagem. Mas, e via WordPress? Mesmo que<br />

você nada saiba <strong>sobre</strong> HTML, veja esta imagem abaixo:<br />

Ao passarmos o mouse <strong>sobre</strong> as palavras “saiba mais” (que<br />

ali estão como na forma de hiperlink), aparece o endereço de<br />

destino no canto inferior à esquerda (neste lugar porque estou<br />

utilizando o navegador Firefox versão 7.0.1, cada navegador decide<br />

onde irá mostrar essas informações). Assim, como poderemos<br />

ver neste exemplo, a metatag feita no HTML a partir do hiperlink<br />

“saiba mais” é um . Sabemos<br />

que este código de marcação foi gerado automaticamente em<br />

um Blogspot. Mas, como podemos gerar este mesmo código em<br />

um WordPress, onde a janela de linkagem não possui esta opção<br />

automática? Vejamos “manualmente” como se constrói o HTML<br />

de um hiperlink para email:<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Lembra-se desta imagem, desta janela de linkagem do WordPress<br />

que vimos anteriormente aqui? Voltamos a ela. No local<br />

da URL (onde devemos colocar o endereço de destino de nosso<br />

link), retiramos o “http://” previamente ali colocado e escrevemos<br />

“mailto:” adicionado ao endereço de email que queremos linkar<br />

à palavra selecionada. O protocolo que inclui o “http://” é para<br />

uma URL típica (www), encaminha para um site. O “mailto:” é o<br />

código de email.<br />

Agora vejamos os códigos de marcação – HTML – formados<br />

em cada blog:<br />

• Blogger:<br />

saiba mais<br />

• WordPress:<br />

MEU<br />

CLIQUE AQUI<br />

EMAIL:


81<br />

O atributo “title” à metatag funciona opcionalmente, como<br />

podem ver: ela indica o que estará escrito quando o mouse passar<br />

<strong>sobre</strong> o hiperlink (mouse-over) ao qual ela está atribuída. O<br />

resultado é quase o mesmo, embora no WordPress, tenhamos<br />

uma maior interação com o usuário, pois durante o mouse-over,<br />

é gerada uma informação adicional a respeito desse hiperlink,<br />

como podemos ver nas imagens a seguir:<br />

HIPERLINK através de uma IMAGEM<br />

e seu código de marcação:<br />

a) via computador (uploaded) tanto a plataformas WordPress<br />

quanto a Blogger utilizam o botão-ícone de linkagem conforme<br />

fizemos com as palavras anteriormente.<br />

b) via URL: no WordPress, a mesma janela que busca uma<br />

imagem via URL, pode transformá-la em um hiperlink e<br />

editar os demais atributos. Aqui surge uma dificulade do<br />

Blogger, que somente pode ser resolvida via HTML (daí a<br />

importância de sabermos minimamente alguns códigos de<br />

marcação. Atenção: o WordPress possui as abas “Visual”<br />

vs. “HTML”, enquanto o novo layout de postagem do Blogger<br />

divide-se entre “Escrever” vs. “HTML”).<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

Já sabemos que, em HTML, um hiperlink é criado da seguinte<br />

maneira: TEXTO-CLICÁ-<br />

VEL <br />

Agora precisamos descobrir a URL de uma imagem:<br />

• Clique com o botão direito do mouse <strong>sobre</strong> a imagem requerida.<br />

Aparecerá uma janela de opções.<br />

• Escolha a que diz “localização da imagem” ou “diretório da imagem”<br />

ou “copiar url da imagem” ou “copy image location”. A URL<br />

da nossa imagem escolhida é: <br />

Nosso próximo passo é adicioná-la como um hiperlink através<br />

da aba “Escrever”:<br />

<br />

Para o tamanho e alinhamento desta sua imagem via URL, o<br />

próprio Blogspot lhe indicará os atributos possíveis quando você<br />

escrever o HTML.<br />

WordPress<br />

No Menu “Aparência” temos: Temas, Complementos, Menus,<br />

Fundo, Cabeçalho, customização do design, modelo para celulares<br />

e iPad. Veremos os acessíveis na versão sob o domínio (hospedagem)<br />

no próprio WordPress (se você tiver uma hospedagem<br />

à parte, pode subir diferentes modelos de WordPress em seu site<br />

e customizá-los à sua maneira!)<br />

• Temas: há centenas de templates gratuitos para WordPress.<br />

Você pode navegar nos que estão disponíveis nesta hospedagem<br />

gratuita e escolher o seu.<br />

• Complementos são as caixas que temos como funcionalidades<br />

do nosso blog. As básicas (ou primárias): “busca”, “postagens re-


83<br />

centes”, “arquivos”, “categorias” e “Meta” (linkagens). Cada tema<br />

possui diferentes complementos disponíveis (aplicáveis) a um<br />

blog. É sempre importante, na escolha de um tema (template),<br />

saber quais complementos poderão existir e quais não.<br />

• Fundo: você pode colocar uma imagem ou mudar a cor;<br />

• Cabeçalho: você pode colocar uma imagem (como um banner<br />

com logotipo etc)<br />

Blogger/ Blogspot (Google)<br />

[desde outubro/2011 toda a interface mudou]<br />

Com interface mais parecida com a do WordPress, Blogger<br />

confunde um pouco a usabilidade para quem estava acostumado<br />

ao design de interface anterior.<br />

Vamos agora modificar as aparências externas do design de<br />

interface. O que parece haver mudado: a nova estrutura do design:<br />

“Visualizações dinâmicas Selecione um modo de visualização<br />

padrão para seu blog. Os leitores podem navegar pelo blog<br />

com todas as Visualizações dinâmicas exibidas.” (sic)<br />

No menu à esquerda, iremos apresentar aqui somente duas<br />

opções: “Layout” e “Modelo”. Começaremos pelo segundo e, ao<br />

adentrá-lo, clicaremos no botão “Personalizar”.<br />

Aqui há um retorno ao “Designer de modelo do Blogger” (interface<br />

anterior), onde se pode escolher no menu à esquerda as<br />

opções para alterações como “Modelos” (templates), “Planos de<br />

Fundo”, “Ajuste de larguras”, “Layout” e “Avançado” (fontes – tamanhos,<br />

negrito etc –, cores do plano de fundo e cor do texto em<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 2<br />

“Página”, “Links”, “Título do blog”, “Descrição do blog”, “Texto das<br />

guias”, “Plano de fundo das guias”, “Cabeçalho de data”, “Título<br />

da postagem”, “Plano de fundo da postagem”, “Título do gadget”,<br />

“Texto do gadget”, “Links do gadget”, “Plano de fundo do gadget”,<br />

“Plano de fundo da barra lateral”, “Imagens”, “Feed”, “Links de<br />

feed”, “Pager”, “Mobile Button color” e “Adicionar CSS”.<br />

No “Layout” podemos organizar as preconfigurações realizadas<br />

no “Modelo” e adicionar ou excluir gadgets, que são os<br />

widgets no WordPress (caixas de usabilidades) como: “posts recentes”,<br />

“seguidores”, “colaboradores”, “ação no twitter” etc.<br />

Você conhece estes ícones?<br />

Esta é a minha parte predileta: configurar o Favicon. O Blogger<br />

permite fazê-lo via interface, não sendo necessário ao usuário<br />

com menos conhecimento de códigos de marcação fazê-lo<br />

manualmente.


85<br />

Com tantas opções, o Blogger permite variadas alterações<br />

aos seus usuários. No entanto, os “templates dinâmicos” não funcionaram<br />

até o fechamento deste texto (novembro/2011).<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


capítulo 3<br />

Literatura<br />

e educação<br />

Por Rogério de Almeida


87<br />

Meu trabalho finalmente foi reconhecido. E eu ainda escrevia<br />

da maneira que queria e como achava que devia escrever. Eu<br />

ainda escrevia para não enlouquecer, ainda escrevia tentando<br />

explicar a mim mesmo essa vida miserável.<br />

Charles Bukowski<br />

Ficção e realidade<br />

Literatura é fingimento. A etimologia de “fingimento”, do latim<br />

fingere (modelar, moldar, esculpir, representar), assinala que literatura<br />

é invenção, trabalho de <strong>criação</strong>, de devaneio, jogo de<br />

palavras, manipulação de enredos. A literatura injeta vida à vida.<br />

Nesse sentido, os personagens inventados se assemelham à<br />

nossa própria invenção de nós. Somos contos contando contos,<br />

como nos lembra Ricardo Reis (Pessoa, 1994), ou seja, somos<br />

nada preenchido de histórias, recheado de palavras, assediado<br />

de emoções, de sensações. Apelamos constantemente à memória<br />

para criarmos a ilusão de continuidade, como o quadro a quadro<br />

de um filme que projetado na velocidade certa cria a ilusão<br />

de movimento. Mas apelamos também à imaginação para atribuir<br />

sentido ao que fazemos, ao que sentimos, para nos inventarmos.<br />

A literatura, como ficção, como qualquer forma de ficção, nos<br />

fornece modos de existência com os quais dialogamos, munidos<br />

também de modos de existir. Nesse sentido, a literatura é mais<br />

que um produto – palavras impressas em papéis encadernados<br />

–, é processo de (re)<strong>criação</strong> constante, sempre que alguém se<br />

põe a ler. Não se difere, portanto, de todo e qualquer tipo de<br />

ficção, seja a do sonho do sono, seja a do sonho acordado (devaneio),<br />

ou mesmo das pequenas conversas cotidianas nas quais<br />

nos narramos, nos inventamos. Aí está o seu sentido formativo<br />

(da literatura e da ficção): preenche de vida nossa própria vida,<br />

dialoga com nossa trajetória existencial, é o centro referencial<br />

ao qual nos reportamos para sairmos do nada e penetrarmos no<br />

reino dos sentidos. Somos contos contando contos, nada.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

Em A literatura e a formação do homem, Antonio Candido<br />

(2002, p. 80) diferencia a literatura compreendida como sistema<br />

de obras e a literatura como força humanizadora, “que exprime o<br />

homem e depois atua na própria formação do homem”.<br />

A literatura apresenta, então, algumas funções: uma função<br />

psicológica, que atende a uma “espécie de necessidade universal<br />

de ficção e de fantasia” (p. 80), presente tanto na criança como<br />

no adulto, no culto ou no analfabeto; agir na formação da personalidade,<br />

porque a literatura “faz viver” (p. 85); e contribuir para<br />

o conhecimento do mundo e da realidade, ainda que preserve<br />

certa autonomia de significado.<br />

Nas abordagens de Cambpell (2010, p. 20-21) <strong>sobre</strong> as funções<br />

da mitologia, encontramos certo paralelo: função de reconciliar<br />

nossa consciência que se depara com o mistério do universo;<br />

função de apresentar uma imagem interpretativa total desse<br />

mesmo universo; função de impor uma ordem moral, conformar<br />

o indivíduo às necessidades de seu grupo; e a função de auxiliar<br />

o indivíduo a encontrar o seu centro, a se desenvolver, buscando<br />

uma congruência consigo mesmo, com sua cultura, com o universo<br />

e com o mistério da própria existência.<br />

Em linhas gerais, a literatura e a mitologia perfazem a mediação<br />

do homem com o mundo-aí, com o outro e consigo mesmo,<br />

para se inserir, para se situar, para se apaziguar, para se individualizar,<br />

para viver em grupo, para produzir cultura, para se formar,<br />

enfim, para existir.<br />

Pode-se afirmar, portanto, que o animal simbolicum (Cassirer,<br />

1994, p. 50) necessita de poesia, de devaneio (Bachelard,<br />

2009), de mito, romances, contos, causos, necessita de cinema,<br />

de teatro, enfim, das formas disponíveis de ficção para dar conta<br />

justamente da realidade que o cerca e da sua própria realidade<br />

existencial, pessoal, identitária.<br />

E, nesse sentido, não devemos excluir a ciência ou a filosofia<br />

das formas simbólicas (Cassirer, 1994) de mediar o real; são também<br />

formas de ficção (não que sejam “mentiras”, mas “traduções”


89<br />

de certa realidade). Candido (2002, p. 81) sugere mesmo que há<br />

uma “relação curiosa” entre a imaginação explicativa e a imaginação<br />

fantástica, ficcional ou poética, unindo o cientista ao artista.<br />

Já Boaventura de Souza Santos (1988, p. 67) é mais enfático,<br />

admite que “todo o conhecimento científico é autoconhecimento.<br />

A ciência não descobre, cria”. Na mesma linha, Deleuze e Guattari<br />

(1992) postulam os pontos de contato entre filosofia, arte e ciência,<br />

que, a despeito de serem planos irredutíveis, seguem uma<br />

mesma estratégia: a filosofia opera com conceitos, a arte com a<br />

força da sensação e das figuras estéticas e a ciência com a função<br />

de conhecimento, por meio de observações e proposições.<br />

Portanto, a formação humana se destina à – e ocorre por<br />

meio da – mediação simbólica com a realidade, mediação que<br />

é sempre dinâmica e processual, constantemente aprendida e<br />

reaprendida. É o que se compreende por cultura: “<strong>criação</strong>, transmissão,<br />

apropriação e interpretação de bens simbólicos e suas<br />

relações” (Ferreira Santos, 2004). É em uma cultura e em contato<br />

com outras culturas que inventamos e apreendemos o mundoaí,<br />

nos situamos nele, expressamos nossos sentimentos, enfim,<br />

significamos a existência.<br />

Literatura na escola<br />

Quando confrontamos o aspecto formativo da literatura com as<br />

práticas de formação (e contenção) da escola, há um descompasso,<br />

quando não um abismo, que distancia da escola o potencial<br />

de vida da literatura. Abordada como sistema de obras, a<br />

literatura perde a dinamicidade processual da leitura, pela qual<br />

autor e leitor participam da mediação simbólica do mundo, para<br />

se reduzir a um corpus estático de autores e obras, devidamente<br />

contextualizadas pelas características histórico-estético-sociais<br />

da época em que foram escritas.<br />

Mas não só a literatura é negligenciada em seu potencial<br />

formador, seu potencial de vida, como é também dissociada da<br />

própria prática da leitura. Ler, na e para a escola, é um verbo in-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

transitivo. Não pede complemento. Assim, deve-se aprender a ler,<br />

ter o domínio técnico da língua, conhecer as regras gramaticais<br />

para decodificar as palavras, as frases, os textos.<br />

Os testes oficiais, utilizados como ferramentas de orientação<br />

para as políticas públicas de educação, apresentam resultados<br />

considerados alarmantes: a maior parte da população em idade<br />

escolar é incapaz de interpretar corretamente um texto. Em outras<br />

palavras, é incapaz de assinalar a resposta correta para uma<br />

pergunta elaborada a partir de um texto.<br />

No entanto, é preciso observar que o texto em si jamais é<br />

considerado, serve apenas de pretexto para que se verifique a<br />

capacidade do leitor em decodificar o mesmo sentido encontrado<br />

por quem elaborou a questão. Nessa abordagem, a leitura<br />

deve ser operada de uma única e determinada forma, semelhantemente<br />

às verificações das operações matemáticas, em que<br />

não se valoriza o raciocínio empregado pelo aluno no exercício<br />

de buscar a resposta, mas a reprodução da sequência ensinada<br />

para se efetivar a operação. Assim, o resultado deve ser o mesmo<br />

porque o processo, a operação foi a mesma. A técnica, o modo<br />

de operar, importa mais do que o exercício, o trajeto percorrido<br />

na busca da solução.<br />

No caso da leitura, o aluno deve iluminar o mesmo sentido<br />

que o professor, importando menos seu itinerário de leitura que<br />

a coincidência da resposta. Isso não quer dizer que os alunos sabem<br />

ler melhor do que se julga ou que não tenham dificuldades<br />

de leitura, mas significa que há um equívoco do que seja leitura<br />

e de como trabalhá-la no interior da escola. De forma resumida,<br />

não se estimula o prazer da leitura, o processo de ler, com as dúvidas,<br />

inquietações e motivações que a atividade pode gerar, mas<br />

se cobra o resultado da leitura, que pode ser resumido na resposta<br />

à questão: o que o texto diz? Essa resposta será sempre uma<br />

tradução empobrecida, resumida, uma traição do sentido figurado,<br />

o qual deverá se apagar para que <strong>sobre</strong>viva apenas o sentido<br />

próprio. Essa redução do percurso da leitura à intenção do texto


91<br />

empobrece o contato do leitor com a literatura, pois rejeita as<br />

imagens do texto, sua potência simbólica, o delírio da linguagem<br />

e a dinâmica narrativa e/ou poética da imaginação, para ficar<br />

com o sentido racionalizado, livre das ambiguidades propositais<br />

das imagens figuradas.<br />

Evidentemente, há alunos que gostam de ler e estão habituados<br />

à prática da leitura, e que sofrem menos às investidas<br />

mutilantes das ações escolares, assim como no outro extremo<br />

temos alunos que não gostam – ou não querem gostar – de ler,<br />

independente dos incentivos ou intimações que <strong>sobre</strong> eles recaiam.<br />

Mas o fato é que a maior parte não sabe ler – e, portanto,<br />

não tem oportunidade de gostar de ler –, preferindo adaptar-se<br />

ao jogo escolar, que cobrará a reposta certa e não efetivamente a<br />

leitura. É por isso que a leitura de resumos tornou-se prática disseminada.<br />

Na lógica produtivista da escola, economiza tempo.<br />

Outro ponto importante da (de)formação escolar assenta-se<br />

no fato de que, a rigor, se aprende, quando se aprende, a história<br />

da literatura. Caracterização do movimento literário, contexto<br />

histórico, brevíssima biografia do autor, lista das principais obras<br />

e leitura de trechos que comprovam suas características – esse<br />

é o percurso padrão das aulas de literatura. O aluno que for hábil<br />

em reconhecer o sistema e se adaptar a ele saberá tirar notas<br />

altas sem que, com isso, tenha alguma intimidade com a leitura<br />

e com a literatura.<br />

Porque a literatura, assim compreendida e tratada, se limita à<br />

aquisição e reprodução de informações <strong>sobre</strong> as obras, enquadradas<br />

em seus respectivos sistemas literários. Enquanto o leitor<br />

mergulha no mundo do texto, sofre, goza, ri etc., os reprodutores<br />

de sentidos alheios verificam características, classificações e estruturas,<br />

endossando a estabilização, a uniformização das leituras<br />

oficialmente aceitas.<br />

Assim, são raríssimos os casos em que o educando tem oportunidade<br />

de abrir um livro, ouvir a voz do autor, dialogar com a<br />

narrativa, penetrar em seu universo simbólico e extrair fruição.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

A experiência estética, quando resgatado o sentido etimológico<br />

do termo – aisthesis: percepção, sensação –, nos ensina que a<br />

literatura não é um exercício do intelecto, mas da sensibilidade.<br />

A literatura em perigo, de Todorov (2009), é um alerta para as<br />

consequências dessa prática instrumentadora dos ensinos literários<br />

na escola. Como um dos responsáveis pela disseminação das<br />

abordagens estruturalistas da década de 60 e 70, reconhece que<br />

o estudo da história literária ou de alguns princípios resultantes da<br />

análise estrutural podem ser meios úteis de acesso ao texto, mas<br />

não podem “substituir o sentido da obra, que é o seu fim” (Todorov,<br />

2009, p. 31). Relembra ainda a longa tradição, tanto acadêmica<br />

quanto escolar, de se considerar o texto como resultado de forças<br />

sociais, políticas, étnicas e psíquicas, ou ainda, de se estudar a<br />

difusão, o impacto no público, a influência de determinadas obras<br />

<strong>sobre</strong> outros autores etc. Tais abordagens consideram o estudo<br />

do sentido como não científico, pois não concebem a literatura<br />

como “a encarnação de um pensamento e de uma sensibilidade,<br />

tampouco como interpretação do mundo” (Todorov, 2009, p. 38).<br />

Contemporaneamente, predominam os estudos da obra como um<br />

reino à parte, com leis e lógicas próprias, como um objeto de linguagem<br />

fechado, sem relação com o “mundo empírico” ou a “realidade”.<br />

Por fim, o autor nos lembra que os estudos literários são<br />

dirigidos aos especialistas em literatura (ensino superior) enquanto<br />

a literatura se destina a todos (ensino médio). Isso não significa,<br />

obviamente, que devemos abrir mão dos métodos, mas utilizá-los<br />

como meios de compreensão das obras e de seus sentidos e não<br />

como fins em si mesmos (Todorov, 2009, p. 90).<br />

O perigo da literatura<br />

Qual a finalidade da literatura? Por que se deve estudar determinadas<br />

obras na escola? O leitor comum certamente não busca<br />

em um livro de ficção as informações <strong>sobre</strong> a sociedade da época<br />

em que foi escrito, como se estudasse um documento histórico,<br />

mas deseja encontrar um sentido que possibilite compreender


93<br />

melhor o homem e o mundo, enriquecer sua vida, situar-se social<br />

e psicologicamente, enfim, ampliar seu universo, imaginar outros<br />

modos de existência. E o seu perigo parece residir justamente<br />

em sua potencialidade.<br />

Como reconhece Candido (2004, p. 175), a literatura pode ter<br />

importância equivalente à educação familiar, grupal ou escolar, já<br />

que, como a vida, transfigura os impulsos, as crenças, os sentimentos<br />

e as normas da sociedade. Razão pela qual se considera<br />

a literatura um instrumento poderoso de educação. No entanto,<br />

a literatura também pode causar problemas psíquicos e morais,<br />

pois age na formação da personalidade, “segundo a força indiscriminada<br />

e poderosa da própria realidade. Por isso, nas mãos do<br />

leitor o livro pode ser fator de perturbação e mesmo de risco. (...)<br />

No âmbito da instrução escolar o livro chega a gerar conflitos, porque<br />

o seu efeito transcende as normas estabelecidas” (Candido,<br />

2004, p. 176). Como exemplo, dentre vários possíveis, o paradoxo<br />

das sociedades cristãs, baseadas na repressão do sexo, e que, no<br />

entanto, adotam obras com marcante imaginário erótico: Camões,<br />

Aluísio Azevedo, Jorge Amado e, até mesmo, Olavo Bilac, “poeta<br />

que em muitos versos apresentava o sexo sob aspectos bastante<br />

crus, perturbando a paz dos ginasianos, cujos mestres não ousavam<br />

todavia proscrevê-los porque se tratava de um escritor de<br />

conotações patrióticas acentuadas” (Candido, 2002, p. 84).<br />

Mais recentemente, foram notificadas pela mídia algumas<br />

polêmicas em torno da indicação ou mesmo da aquisição para a<br />

biblioteca de determinadas obras consideradas “impróprias” para<br />

os alunos, como Bukowski, por exemplo. Recordo-me que, na<br />

época em que lecionava literatura para o ensino médio, trabalhei<br />

com os alunos do primeiro ano O Apanhador nos campos de<br />

centeio, de J. D. Salinger (1969), surpreendendo positivamente<br />

os alunos e angariando algumas inimizades docentes, principalmente<br />

das professoras mais conservadoras que se escandalizaram<br />

com um livro “cheio de gírias e palavrões”.<br />

Além desse aspecto moral, a literatura também perturba por<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

sua possível influência psíquica, seu convite ao alheamento, à solidão,<br />

à inatividade. Nessa perspectiva, ler se torna o contrário da<br />

ação, o reino da inutilidade, a recusa ao engajamento no mundoaí.<br />

Por estimular a imaginação, seria um empecilho à compreensão<br />

do mundo, como se o mundo sem literatura também não<br />

fosse concebido com imaginação, como se todos os sentidos<br />

que circulam pelo mundo-aí não fossem também imaginados.<br />

Quixote é a ilustração clássica desse perigo. Torna-se um<br />

cavaleiro andante por culpa das novelas de cavalaria. Madame<br />

Bovary é outro exemplo. Seu adultério é culpa dos romances que<br />

lia com avidez e imaginação.<br />

Além dos romances que estabelecem críticas à leitura de romances<br />

por meio de seus personagens, como Quixote e Bovary,<br />

diversos setores sociais, ao longo do tempo, fazem a mesma ressalva<br />

quanto a seus “efeitos mórbidos”:<br />

Já em 1666, em Visionnaires, Pierre Nicole definia “o criador<br />

de romances e poeta de teatro” como um “envenenador público”.<br />

Cem anos depois, em Traité des affectives vapoureuses<br />

des deux sexes (1767), o Dr. Pomme apresentava a hipótese<br />

de que entre as causas que punham em risco a saúde das<br />

mulheres “a principal era a infinita multiplicação dos romances<br />

nos últimos cem anos”. Ainda em 1900, em Le Cabinet<br />

de toilette, Staffe exprimia as suas preocupações com relação<br />

às mulheres: “Ficar sentada até altas horas da noite lendo<br />

romances, eis o que provoca aquelas terríveis rugazinhas que<br />

se cruzam sob os olhos e que desfiguram também o rosto<br />

mais bonito” (Goody in Moretti, 2009, p. 58 e 59).<br />

Mas independente dos riscos, a literatura contribui para a mediação<br />

do homem com o mundo e os outros homens. Os símbolos<br />

preenchem o hiato entre o que somos e o mundo-aí. É por isso<br />

que a história da cultura humana pode ser lida como a história das<br />

várias formas de mediação entre os homens e o mundo dado.


95<br />

Nesse sentido, a educação – e o controle dos modos de ler<br />

– é uma forma de adaptar o homem ao mundo-aí. Adaptá-lo para<br />

a vida em sociedade, para o universo do trabalho, para os valores<br />

da cidadania, enfim, para a aceitação do controle. Daí o “conflito<br />

entre a ideia convencional de uma literatura que eleva e edifica<br />

(segundo os padrões oficiais) e a sua poderosa força indiscriminada<br />

de iniciação na vida, com uma variada complexidade nem<br />

sempre desejada pelos educadores. Ela (...) humaniza em sentido<br />

profundo, porque faz viver” (Candido, 2002, p. 84 e 85).<br />

Interpretando<br />

Pela ordem reprodutivista da escola, o exercício da interpretação<br />

textual deve responder à questão: o que o texto diz? Pinça-se<br />

dele uma determinada afirmação e, tal qual uma chave, ela o abre<br />

ao correto entendimento. Não raro, os alunos são incitados a<br />

descobrir qual a intenção do autor, o que ele quis dizer. Evidentemente,<br />

o professor, bem preparado para levar adiante a aula que<br />

planejou, já sabe de antemão qual deve ser a resposta do aluno.<br />

Portanto, caberá ao aluno uma dupla tarefa: primeiro, entender o<br />

texto e, depois, achar no texto o que se espera como resposta. A<br />

maior parte dos alunos aprende que é mais fácil saltar à segunda<br />

etapa. É como se respondesse à pergunta <strong>sobre</strong> o que o texto<br />

diz com uma outra pergunta: o que o texto deve dizer? Porque,<br />

de fato, a resposta já está lá antes mesmo de o texto ganhar vida<br />

pelo exercício da leitura.<br />

De certo modo, essa é a prática de leitura e interpretação a<br />

partir da perspectiva da literatura como sistema. Não se espera<br />

de nenhum sistema que seja aberto a intromissões, sob risco de<br />

se deixar contaminar por algo estranho a ele e que o descaracterizaria.<br />

No caso da literatura, o risco é a subjetividade do leitor.<br />

Ainda mais quando ela exprime o que há de imaturo no aprendiz<br />

ou quando apressadamente arrisca uma intuição, nem sempre<br />

plausível, de seu sentido. E, com efeito, parece haver consenso<br />

quanto ao fato de que a interpretação não deve ser fruto de es-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

pontaneísmos de nenhuma ordem.<br />

No entanto, se considerarmos o aspecto formativo da<br />

literatura, sua “força humanizadora”, como afirma Candido (2002,<br />

p. 80), a compreensão do sentido do texto se impõe, primeiramente,<br />

como minha compreensão do texto, porque, como sujeito<br />

da leitura, jamais poderei abandonar meu papel de observador.<br />

Isso não exclui o enriquecimento interpretativo que a leitura ganha<br />

quando o texto é contextualizado, seja histórica ou socialmente,<br />

seja por meio da análise de seus elementos estruturais.<br />

No entanto, essa contextualização passa também pela minha<br />

compreensão desses diversos aspectos contextualizadores. O<br />

que está em questão, aqui, é a observância do sentido do texto,<br />

do diálogo que o leitor empreende com o texto e, possivelmente,<br />

se for o caso, o diálogo que manterá com outros leitores, especialistas<br />

ou não, desse mesmo texto.<br />

Assim, a compreensão do sentido de um texto literário também<br />

se transforma, à medida que o leitor amplia e enriquece sua<br />

relação com o mundo do texto e com o mundo-aí. É por isso que<br />

uma obra multiplica os itinerários de formação, pois, ao mesmo<br />

tempo que explicita a formação do escritor, depende da formação<br />

dos leitores, dos quais, por sua vez, contribuirá na formação.<br />

Nessa perspectiva, interpretar não é entender o que o texto<br />

diz, mas dizer com o texto, extrair dele sentidos que não são,<br />

e nem podem ser, cristalizados, paralisados, estabilizados. Como<br />

ensina Ricoeur (2008, p. 68),<br />

Aquilo de que finalmente me aproprio é uma proposição<br />

de mundo. Esta proposição não se encontra atrás do texto,<br />

como uma espécie de intenção oculta, mas diante dele, como<br />

aquilo que a obra desvenda, descobre, revela. Por conseguinte,<br />

compreender é compreender-se diante do texto.<br />

Essa compreensão diante do texto desestabiliza qualquer intenção<br />

de fazer do sentido um sentido único, estável, verificável


97<br />

por todos os leitores, porque não só o leitor recria o texto como<br />

o texto recria-se ao longo do tempo, pela reconfiguração das<br />

culturas e, em consequência, das leituras e dos leitores.<br />

Exemplo dessa desestabilização do sentido é o Quixote de<br />

Pierre Menard, que aparece num conto de Jorge Luis Borges<br />

(1998) escrito como ensaio literário acerca de uma obra inventada.<br />

Séculos depois do Dom Quixote de la Mancha original, de Cervantes,<br />

Menard reescreve a história para os leitores contemporâneos.<br />

No entanto, trabalho findo, a obra é rigorosamente idêntica,<br />

com as mesmas palavras, pontos e vírgulas. Mas pelo fato de ter<br />

sido escrita em outra época, em outro contexto e para outros leitores,<br />

convoca outras leituras, o que faz com que a obra, apesar de<br />

conter as mesmas palavras, seja inevitavelmente outra. A metáfora<br />

nos alerta que toda obra é constantemente reescrita, não mais por<br />

quem grafou as palavras na folha, mas pelos que a leem.<br />

As palavras podem ser as mesmas, mas a compreensão delas<br />

não, pois cada época, cada lugar, cada contexto, cada leitura<br />

e cada leitor produz sentidos que podem, integralmente ou em<br />

certos pontos, coincidir, mas que é também diverso, pois nem<br />

texto nem leitor são puros, ou seja, estão todos contaminados<br />

pela cultura na qual se inscrevem.<br />

É o que enfatiza Paulo Freire (2003) com sua concepção<br />

abrangente de leitura: o ato de ler é contínuo à leitura de mundo.<br />

Leitura como ato, ação, prática, como diálogo do leitor com a palavra<br />

escrita e com o mundo que o circunda. Nenhuma obra literária,<br />

portanto, esgota-se como algo em si, pois é sempre prolongamento,<br />

continuidade, interrogação. Elas são importantes pelo<br />

que causam em nós, pelo diálogo que estabelecemos com elas,<br />

pela leitura do mundo-aí que faremos quando emergirmos delas,<br />

quando retornarmos para a nossa leitura e escrita do mundo.<br />

Roberto Machado (2009, p. 211), retratando a visão de Deleuze<br />

<strong>sobre</strong> a literatura, afirma que “o de-fora da linguagem, que não<br />

se reduz à exterioridade nem à interioridade, aparece aqui como<br />

vida e como saber”. De fato, a literatura promove “novas possibi-<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

lidades vitais, novas formas de existência” (idem). E isso porque<br />

devasta as designações e as significações, deixa de ser representativa<br />

para “dizer o que é indizível”. Assim, a linguagem literária<br />

cria uma língua dentro da língua, singulariza sensações, possibilita<br />

modos de viver diferentes, ainda que na imaginação, mesmo que<br />

virtualmente. E não porque o leitor, ouvindo as palavras do escritor,<br />

passará a imitar este ou aquele personagem, mas porque, no embate<br />

com os personagens e com essa voz que os cria, é incitado a<br />

(re)criar-se também, a ouvir suas próprias sensações.<br />

De fato, o que produz enunciados em cada um de nós não<br />

se deve a nós como sujeitos, mas a outra coisa, às multiplicidades,<br />

às massas e às matilhas, aos povos e às tribos, aos<br />

agenciamentos coletivos que nos atravessam, que nos são interiores<br />

e que não conhecemos porque fazem parte de nosso<br />

próprio inconsciente (Deleuze apud Machado, 2009, p. 216).<br />

Não é diferente da “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa,<br />

embora com outra perspectiva: o poeta é um fingidor, mas finge<br />

uma dor alheia, que só é possível a partir da experiência que<br />

tem de sua própria dor. Por outro lado, o leitor, lendo as dores<br />

alheias, não sente nenhuma das duas, nem a do poeta, nem a<br />

que foi escrita, nem mesmo a que ele tem, mas outra, que é por<br />

ele criada por meio da leitura. Mas que, por sua vez, só pode<br />

ser compreendida pela experiência que tem com sua própria dor<br />

(Almeida, 2011).<br />

A literatura assim enfatizada propicia sempre um diálogo e,<br />

como todos os diálogos, vale, para além do que se diz, pela sensibilidade<br />

que sustenta a voz de quem diz, pela troca entre os<br />

interlocutores, pela distância, pelo hiato que há entre eles: texto<br />

e leitor. Portanto, o ato de ler não se reduz à apreensão de um<br />

único sentido, mas convoca o embate de sensibilidades, visões<br />

de mundo, enfim, estabelece diálogo.


99<br />

A perspectiva antropológica<br />

A ficção, como produto e processo de cultura, é anterior à literatura,<br />

mas dependente, tanto quanto esta, das forças de <strong>criação</strong><br />

de sentido. Não surge, portanto, como mentira ou imitação, mas<br />

é um modo de expressar o real. Esse modo é a narrativa. E aqui,<br />

numa perspectiva antropológica, a narrativa se dá como simbolização,<br />

como ordenação temporal de forças, de percepções, de<br />

intuições, que se elaboram para produzir sentido, para ordenar o<br />

real, a partir do hiato, da brecha, do distanciamento que se abre<br />

entre o real percebido e o real desejado.<br />

Morin associa o surgimento da cultura sapiens à prática, já<br />

comum entre os neanderthaleses, de sepultar os mortos, portanto<br />

há mais de 40 mil anos. A morte deixa de ser um evento como<br />

outro qualquer para ser ritualizada, portanto “já se descortina a<br />

presença do tempo no seio da consciência” (Morin, 1973, p. 94),<br />

além da crença de que “essa transformação alcança uma outra<br />

vida em que se mantém a identidade do transformado” (p. 95). A<br />

pintura também demonstra que, simultaneamente à representação<br />

artística, opera-se uma finalidade ritual e mágica: “comportamento<br />

que visa obter respostas adequadas do ambiente exterior,<br />

mas desta vez já não diretamente <strong>sobre</strong> os objetos e os seres,<br />

mas sim <strong>sobre</strong> os seus duplos, quer dizer, <strong>sobre</strong> as imagens e<br />

símbolos” (p. 99). Isso significa que o sentido, em seus primórdios,<br />

apresenta “uma organização ideológica e prática da ligação<br />

imaginária com o mundo” (p. 100).<br />

O duplo surge, portanto, da irrupção da morte, que se apresenta<br />

como verdade e ilusão, elucidação e mito, ansiedade e garantia, conhecimento<br />

objetivo e uma nova subjetividade, pois o sapiens passa<br />

a ter uma dupla consciência, ainda que combinadas, em que, ao<br />

lado da afirmação objetiva da morte, surge uma “afirmação subjetiva<br />

da mortalidade individual” (p. 96). Portanto, o sentido surge com<br />

a subjetividade, com a individualidade e instaura-se numa brecha<br />

antropológica, em que a morte, constatada objetivamente, é rejeitada<br />

subjetivamente, resolvendo-se numa dimensão imaginária.<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

A consequência dessa dimensão subjetiva que se instaura no<br />

humano é sua parcela demens:<br />

É um ser duma afetividade intensa e instável, que sorri, ri,<br />

chora, um ser ansioso e angustiado, um ser gozador, ébrio,<br />

extático, violento, furioso, amante, um ser invadido pelo imaginário,<br />

um ser que conhece a morte, mas que não pode<br />

acreditar nela, um ser que segrega o mito e a magia, um<br />

ser possuído pelos espíritos e pelos deuses, um ser que se<br />

alimenta de ilusões e de quimeras, um ser subjetivo cujas<br />

relações com o mundo objetivo são sempre incertas, um ser<br />

sujeito ao erro e à vagabundagem, um ser lúbrico que produz<br />

desordem. E, como nós chamamos loucura à conjunção da<br />

ilusão, do excesso, da instabilidade, da incerteza entre real e<br />

imaginário, da confusão entre subjetivo e objetivo, do erro,<br />

da desordem, somos obrigados a ver o Homo sapiens como<br />

Homo demens (Morin, 1973, p. 110 e 111).<br />

Portanto, nessa perspectiva antropológica, o sentido nasce<br />

da brecha, do hiato que se instaura entre uma consciência objetiva<br />

e outra subjetiva, no entremeio sapiens-demens, na disjunção<br />

homem-mundo, e tem como horizonte representações em que<br />

se indissociam real e imaginário, já que o real será sempre e<br />

irremediavelmente, para a consciência do homem, uma representação<br />

do imaginário.<br />

Na gramática dos sentidos, é fundamental a distinção de<br />

dois modos abrangentes de conhecimento. Morin (1999, p.<br />

168) os denomina empírico/técnico/racional e simbólico/mitológico/mágico.<br />

Embora haja uma distinção muito clara entre<br />

os dois modos, eles estão “imbricados de modo complementar<br />

num tecido complexo sem que um atenue ou degrade o outro”.<br />

No entanto, quando o conhecimento, com o pretexto de melhor<br />

aproximar a palavra e sua designação, opera um recorte empírico/técnico/racional<br />

em sua forma de conhecer, privilegiando


o aspecto indicativo da linguagem e ignorando sua dimensão<br />

evocativa, perde-se sua dimensão simbólica.<br />

De certa forma, é como se o pensamento humano se mutilasse<br />

e, privilegiando a razão <strong>sobre</strong> as demais faculdades, ensandecesse<br />

em busca da verdade, da estabilização, do controle.<br />

Loucura da linguagem, é como se o mundo pudesse ser contido<br />

pelos conceitos e pela definição racional. Em seu delírio, tal pensamento<br />

empírico/técnico/racional se incumbe de descobrir o<br />

sentido verdadeiro de tudo o que existe, sentido que, uma vez<br />

descoberto e como expressão da verdade, só pode ser reproduzido.<br />

Portanto, a reprodução dos sentidos estabilizados é uma<br />

forma de contenção da potência do símbolo. É preciso que haja<br />

um sentido verdadeiro para que se anulem os perigos dos sentidos<br />

escolhidos entre os múltiplos que se apresentam em virtualidade<br />

no aspecto simbólico da linguagem.<br />

O espírito humano mora na linguagem, vive de linguagem e<br />

alimenta-se de representações. As palavras são ao mesmo<br />

tempo indicadores, que designam as coisas, e evocadores,<br />

que suscitam a representação da coisa nomeada. É nesse<br />

sentido evocador concreto que o nome tem uma potencialidade<br />

simbólica imediata: nomeando a coisa, faz surgir o seu<br />

espectro e, se o poder de evocação é forte, ressuscita, ainda<br />

que esteja ausente, a sua presença concreta. O nome é pois<br />

ambivalente por natureza (Morin, 1999, p. 171).<br />

Dessa forma, no signo/símbolo opõem-se um sentido indicativo<br />

e instrumental, em que predomina a ideia de signo, e um<br />

sentido evocador e concreto, em que predomina a ideia de símbolo.<br />

No sentido indicativo, instrumental, é marcante a “distinção<br />

entre o signo (a palavra é apenas uma palavra), o sentido (que<br />

não é a coisa) e a coisa; no sentido evocador, há aderência, contaminação<br />

e, no extremo, coagulação de uma das três instâncias<br />

na outra” (p. 172).<br />

101<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

Esse duplo poder das palavras, indicativo e evocador, é experimentado<br />

constantemente e, ainda que um possa prevalecer <strong>sobre</strong><br />

o outro, jamais será capaz de aboli-lo. Na linguagem científica, por<br />

exemplo, predomina o uso instrumental e indicativo das palavras, o<br />

que a qualifica como pensamento empírico/técnico/racional, enquanto<br />

o pensamento simbólico/mitológico/mágico se <strong>sobre</strong>ssai<br />

nos mitos. No entanto, não estão ambos em polos inconciliáveis.<br />

Se são duas formas distintas de representação, a nenhuma cabe<br />

o privilégio da verdade, já que o sentido, como foi dito, é <strong>criação</strong><br />

e, como tal, incapaz de efetivamente expressar o que a coisa é.<br />

Dessa forma, os sentidos postos em jogo pelas duas formas de<br />

pensamento são diversos e representam diversamente o real.<br />

Para Morin, não há possibilidade de uma superação totalizante<br />

que englobaria harmoniosamente essas duas formas de<br />

pensamento, mas haveria como reconciliá-las por meio de uma<br />

racionalidade complexa que reconheça a subjetividade, a concretude<br />

e o singular:<br />

Uma razão aberta pode compreender ao mesmo tempo as<br />

carências e os excessos dos dois pensamentos. Pode também<br />

compreender as suas virtudes contrárias. Assim, entende<br />

que o símbolo, a simpatia, a projeção/identificação e<br />

mesmo o antro-cosmo-morfismo podem ser necessários à<br />

comunicação e à compreensão (Morin, 1999, p. 193).<br />

De certa forma, o que é aqui estabelecido como método serve<br />

bem às demandas de como a literatura se constitui itinerário<br />

de formação. Não há que se tratar o que é literário como a expressão<br />

de um pensamento racional nem tampouco isolá-la no<br />

mítico, porque sua linguagem, movendo-se entre o indicativo e o<br />

evocador, instaura-se numa dimensão simbólica, ou seja, possui<br />

sempre sentidos múltiplos.<br />

Durand (1988) também parte de duas maneiras de representação<br />

do mundo pela consciência: uma direta, “na qual a própria


coisa parece estar presente na mente”; e outra indireta, “quando,<br />

por qualquer razão, o objeto não pode se apresentar à sensibilidade<br />

‘em carne e osso’” (p. 11). Ressalvando que a diferença<br />

entre pensamento direto e indireto não é nítida, afirma que a imagem<br />

– objeto ausente re-(a)presentado à consciência – se refere<br />

a diferentes graus de representação, que vai da adequação total,<br />

a presença perceptiva, até a inadequação mais acentuada, “signo<br />

eternamente privado do significado” (p. 12), ou seja, o símbolo.<br />

Assim, os signos arbitrários seriam indicativos, remeteriam a<br />

uma realidade significada e representável, enquanto os signos<br />

alegóricos figurariam concretamente uma parte da realidade que<br />

significam (p. 13). Esse signo que se refere a um sentido e não a<br />

um objeto sensível é operado pela imaginação simbólica, sendo<br />

o símbolo “a recondução do sensível, do figurado, ao significado;<br />

mas, além disso, pela própria natureza do significado, é inacessível,<br />

é epifania, ou seja, aparição do indizível, pelo e no significante”<br />

(p. 14 e 15).<br />

Dessa forma, o significado, na imaginação simbólica, não pode<br />

ser apreendido pelo pensamento direto, pois se dá no processo<br />

simbólico, o que faz com que o símbolo dependa da redundância,<br />

ou seja, da repetição, para que ultrapasse sua inadequação por<br />

meio de aproximações acumuladas. “Não que um único símbolo<br />

não seja tão significativo como todos os outros, mas o conjunto<br />

de todos os símbolos <strong>sobre</strong> um tema esclarece os símbolos, uns<br />

através de outros, acrescenta-lhes um ‘poder’ simbólico suplementar”<br />

(p. 17).<br />

O símbolo define-se, portanto, como “signo que remete a um<br />

indizível e invisível significado, sendo assim obrigado a encarnar<br />

concretamente essa adequação que lhe escapa, pelo jogo das<br />

redundâncias míticas, rituais, iconográficas que corrigem e completam<br />

inesgotavelmente a inadequação” (p. 19).<br />

De modo geral, o conhecimento expresso pela imaginação<br />

simbólica é que permite representar as particularidades das situações<br />

localizadas no tempo (acepção sócio-histórica); na existên-<br />

103<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

cia (acepção psicológica); ou na obra de arte (acepção estética).<br />

Portanto, a mediação que o símbolo opera cumpre uma função:<br />

ele é a “confirmação” de um sentido para uma liberdade pessoal.<br />

É por isso que o símbolo não pode ser explicitado: a alquimia<br />

da transmutação, da transfiguração simbólica só pode<br />

ser efetuada, em última instância, no cadinho de uma liberdade.<br />

E a força poética do símbolo define melhor a liberdade<br />

humana do que qualquer especulação filosófica: esta se obstina<br />

em ver, na liberdade, uma escolha objetiva, enquanto na<br />

experiência do símbolo sentimos que a liberdade é criadora<br />

de um sentido (...) (Durand, 1988, p. 37).<br />

Essa <strong>criação</strong> de sentido é resultado do trajeto antropológico,<br />

definido por Durand (1997, p. 41) como “a incessante troca que<br />

existe ao nível do imaginário entre as pulsões subjetivas e assimiladoras<br />

e as intimações objetivas que emanam do meio cósmico<br />

e social”. Essa compreensão do humano como trajetividade,<br />

como instabilidade entre o biológico e o cultural, afirma o hiato<br />

que distancia os dois polos da constituição do humano e, simultaneamente,<br />

a mediação que os une (sua interdependência). O<br />

imaginário abarca, portanto, todas as criações humanas que se<br />

estabelecem como mediação entre os dois polos: preenchimento<br />

de hiatos. Como uma forma de mediação entre tantas outras, a<br />

literatura, por mover sensibilidades, é criadora de sentidos, portanto<br />

também uma forma de conhecimento.<br />

Itinerários de Formação<br />

A formação humana, a inserção do homem no universo da<br />

cultura – <strong>criação</strong>, transmissão, apropriação e interpretação de<br />

bens simbólicos e suas relações – ocorre o tempo todo e de<br />

maneiras variadas. Nesse sentido, a família, a comunidade, a<br />

mídia, a escola, o trabalho são instâncias de formação. Para<br />

Maturana (1999, p. 29):


O educar se constitui no processo em que a criança ou o<br />

adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se<br />

transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de<br />

viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro<br />

no espaço da convivência. O educar ocorre, portanto, todo<br />

o tempo e de maneira recíproca.<br />

Com a literatura não é diferente. A voz que salta de dentro<br />

dos livros para dentro de nós nos coloca em contato com pessoas<br />

literárias com quem, de certa forma, podemos conviver, ainda<br />

que em bases diferentes da convivência que travamos cotidianamente<br />

com as personagens concretas, de carne e osso, do mundo-aí.<br />

No diálogo travado com o mundo do texto, não só ouvimos<br />

confissões dessas vozes literárias, como essas vozes ouvem as<br />

nossas. De fato, lemos a nós próprios nas páginas alheias.<br />

É essa a primeira lembrança que tenho como leitor. Diante de<br />

palavras alheias, tive o pasmo de reconhecê-las como minhas.<br />

Por que não fui eu que as escrevi? Isso não quer dizer, simplesmente,<br />

que há uma identificação entre leitor e texto, mas diálogo.<br />

O fato de eu não as ter dito significa que não eram minhas, porque<br />

nenhuma palavra é de alguém, assim como não é do escritor.<br />

A linguagem, como foi dito, é preenchimento de hiato, da distância<br />

que vai entre o que reconheço como um eu e o mundo-aí, o<br />

de-fora, mas também do hiato que há entre o meu eu-agora e<br />

o meu eu-devir. É por conta desse hiato, desse vácuo, que há<br />

movimento, passagem, formação.<br />

Desse modo, a literatura, pelo imaginário que expressa, pelos<br />

sentidos que veicula, é formativa, porque age <strong>sobre</strong> sensibilidades<br />

e prolifera modos de existir, de viver, por meio do diálogo<br />

constante e renovável entre leitor e texto.<br />

Na objetivação convocada pelo mundo-aí, é a sensibilidade<br />

que constrói as escolhas, que elabora os modos de viver, pensar,<br />

sentir e se relacionar com essa objetividade do de-fora, num<br />

circuito recursivo, interdependente e suscetível sempre aos ar-<br />

105<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

ranjos circunstanciais, às ocasiões, ao acaso. Nessa perspectiva,<br />

a literatura propicia contato com uma extensa variedade de escolhas<br />

possíveis, de intensidades experimentadas, de sensações<br />

vividas para a constituição dos modos de viver. De acordo com<br />

Maturana e Varella (1995, p. 252), “é dentro do linguajar mesmo<br />

que o ato de conhecer, na coordenação comportamental que é a<br />

linguagem, produz um mundo”.<br />

É evidente que a literatura está circunscrita à história e à geografia,<br />

à sociedade e à subjetividade, assim como é evidente que<br />

apenas uma parte da população a consome – e também teríamos<br />

de considerar como a consome; no entanto, se a leitura da palavra<br />

escrita é continuidade da leitura de mundo (Freire, 2003), se<br />

a literatura se relaciona sempre com o de-fora (Deleuze, 1997),<br />

e se a literatura é a projeção do mundo do texto (Ricoeur, 2008),<br />

inegavelmente sua fruição implica um ganho de intensidade e<br />

multiplicidade nas possibilidades de formação humana.<br />

Nessa acepção de literatura, o leitor é também, em certa medida,<br />

autor, pois inscreve sua leitura na interpretação do que é lido<br />

como escrita, produção de sentidos. Dada a co-autoria do leitor,<br />

seu processo ativo na produção de sentido, não convém restringir<br />

o aspecto formativo da literatura a um determinado número<br />

de obras, a partir de determinados critérios. Na perspectiva da<br />

formação, não se trata de estabelecer cânones, listar livros obrigatórios<br />

ou prescrever leituras, atendendo assim a um direcionamento<br />

ideológico determinado, mas de percorrer itinerários.<br />

Os itinerários de formação não se confundem com os percursos<br />

curriculares previamente traçados para um determinado<br />

fim (uma graduação, por exemplo), em que há mais ou menos<br />

um consenso <strong>sobre</strong> determinados saberes que devem obrigatoriamente<br />

ser partilhados, mas reforça a ideia de trajeto que se<br />

constrói à medida que é percorrido, como um campo aberto cuja<br />

trilha só se torna visível depois de a percorrermos. Pois os itinerários<br />

de formação dependem menos de consensos e prescrições<br />

do que de diálogos e escolhas.


Ítalo Calvino (1993, p. 16), em Por que ler os clássicos, responde<br />

à questão sem respondê-la, afirmando que “a única razão<br />

que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que<br />

não ler os clássicos”. Não há resposta mais honesta que essa,<br />

porque, se afinal os clássicos tornaram-se clássicos, independente<br />

das circunstâncias que os elevaram a tal condição (sempre<br />

discutíveis e discutidas), é que colocam determinadas questões,<br />

multiplicam possibilidades de sentidos, põem em relevo modos<br />

de vida que continuam a valer o esforço da leitura.<br />

Mas para além dos clássicos há obras e mais obras que<br />

contribuem para a construção de um itinerário pessoal de formação,<br />

o que não descarta os interesses e consequências das<br />

ações da indústria cultural e da produção de uma literatura que<br />

atenda às massas, assim como a produção localizada, artesanal,<br />

que é lida por dez leitores se tanto, mas que pode cumprir o<br />

mesmo papel formativo.<br />

O que é preciso ressaltar é que, embora o itinerário possa<br />

não ser fruto das escolhas do leitor, a sua formação dependerá<br />

do modo como se relaciona com esse itinerário. Abrir-se ou não à<br />

influência da literatura dependerá sempre de sua escolha, aprendida<br />

na difícil e prazerosa convivência com os livros. Se dada<br />

obra interfere na minha compreensão do mundo, ou a transforma,<br />

ou a completa, ou a relativiza, enfim, se a obra dialoga com<br />

meu(s) modo(s) de viver, então, conscientemente ou não, é ela<br />

uma encruzilhada de meu itinerário; perfaz uma passagem em<br />

meu caminho formativo.<br />

107<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Capítulo 3<br />

Referências Bibliográficas<br />

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em Fernando Pessoa. São Paulo: <strong>Ed</strong>uc, 2011.<br />

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1993.<br />

CAMPBELL, Joseph. As máscaras de Deus: mitologia primitiva.<br />

São Paulo: Palas Athena, 2010.<br />

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de intervenção. São Paulo: Duas Cidades / <strong>Ed</strong>itora 34, 2002.<br />

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São Paulo: <strong>Ed</strong>itora 34 / Rio de Janeiro: Ouro <strong>sobre</strong> Azul, 2004.<br />

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filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.<br />

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Janeiro: <strong>Ed</strong>itora 34, 1992.<br />

DURAND, Gilbert. A Imaginação simbólica. São Paulo: Cultrix,<br />

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DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário.<br />

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FERREIRA SANTOS, Marcos. Crepusculário: conferências<br />

<strong>sobre</strong> mitohermenêutica e educação em Euskadi. São Paulo:<br />

Zouk, 2004.<br />

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que<br />

se completam. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

MACHADO, Roberto. Deleuze: a arte e a filosofia. Rio de Janeiro:<br />

Jorge Zahar, 2009.<br />

MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e<br />

na política. Belo Horizonte: UFMG, 1999.<br />

MATURANA, Humberto R.; VARELLA, Francisco G. A árvore do


conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano.<br />

São Paulo: <strong>Ed</strong>itorial Psy II, 1995.<br />

MORETTI, Franco (org.). A cultura do romance. São Paulo: Cosac<br />

Naify, 2009.<br />

MORIN, <strong>Ed</strong>gar. O paradigma perdido: a natureza humana. Lisboa:<br />

Europa-América, 1973.<br />

MORIN, <strong>Ed</strong>gar. O método 3: o conhecimento do conhecimento.<br />

Porto Alegre: Sulina, 1999.<br />

PESSOA, Fernando. Odes de Ricardo Reis. Portugal: Europa-<br />

América, 1994.<br />

RICOEUR, Paul. Hermenêutica e ideologias. Petrópolis, RJ: Vozes,<br />

2008.<br />

SALINGER, J. D. O apanhador no campo de centeio. Rio de<br />

Janeiro: <strong>Ed</strong>itora do Autor, 1969.<br />

SOUZA SANTOS, Boaventura. Um discurso <strong>sobre</strong> as ciências<br />

na transição para uma ciência pós-moderna. São Paulo: Revista<br />

Estudos Avançados, USP, 2 (2): 44-71, maio/agosto, 1988.<br />

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel,<br />

2009.<br />

109<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Livros de<br />

referência<br />

(primeiros encontros)


Bernardet, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São<br />

Paulo: Companhia das Letras, 2003<br />

> Lançado originalmente em 1985, foi reeditado em 2003 incluindo<br />

um apêndice no qual novos filmes são analisados.<br />

Trabalho fundamental em qualquer bibliografia <strong>sobre</strong> documentário<br />

por se deter nos aspectos estilísticos dos filmes e<br />

principalmente por sua leitura crítica <strong>sobre</strong> as representações<br />

do povo propostas nos documentários. Um trabalho pioneiro e<br />

corajoso que questiona o lugar do povo na cinematografia tratada.<br />

Em um país como o nosso, que não se cansa de explorar<br />

a imagem do seu povo, merece atenção especial.<br />

Bernardet, Jean-Claude. O que é cinema. São Paulo: Brasiliense,<br />

1980.<br />

> Como o título do trabalho diz, explica o que vem a ser o cinema.<br />

Burch, Noel. Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 1992.<br />

> Lançado originalmente na França em 1969, é um livro fundamental<br />

por sua busca de didatismo ao analisar elementos expressivos<br />

constitutivos da narrativa cinematográfica, ou seja, os<br />

elementos para a constituição do seu espaço e tempo. A introdução<br />

de Ismail Xavier ilumina a leitura do livro e fala do seu<br />

papel na época em que foi lançado.<br />

Charney, Leo e Schwartz, Vanessa. O cinema e a invenção<br />

da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naif, 2001.<br />

> Coletânea de textos de autores clássicos que analisa a sociedade<br />

em que surge o cinema e seu impacto na época. Problematiza<br />

questões da época que tem no cinema um caso exemplar.<br />

111<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Livros de referência<br />

Eisenstein, Sergei. A Forma do Filme. Tradução: Teresa Ottoni.<br />

Rio de Janeiro: Zahar, 1990.<br />

______________. O princípio cinematográfico e o ideograma.<br />

In: Campos, Haroldo de (org.). Ideograma: lógica poesia linguagem.<br />

São Paulo: Cultrix, 1986.<br />

> Os três textos acima abordam a montagem na perspectiva de<br />

Eisenstein.<br />

Machado, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cinemas. São Paulo:<br />

Papirus, 1997.<br />

> Como indicado no titulo, este livro cobre o período anterior ao<br />

que conhecemos hoje por cinema e formas expressivas contemporâneas<br />

como o vídeo e a televisão. Ao discutir o précinema<br />

apresenta grande quantidade de elementos para pensarmos<br />

o quadro e a constituição da narrativa cinematográfica<br />

como a conhecemos hoje. Apresenta leitura vívida <strong>sobre</strong> o<br />

pré-cinema e a sociedade em que surgiu. Traz aproximação<br />

instigante entre o cinema e o vídeo.<br />

Machado, Arlindo (org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo<br />

brasileiro. São Paulo: Iluminuras, Itaú, 2007.<br />

> Coletânea de textos que analisam a produção de vídeo brasileiro.<br />

Traz ainda artigos <strong>sobre</strong> a televisão, o documentário e<br />

relações entre o cinema e o vídeo.<br />

Mannoni, Laurent. A grande arte da luz e da sombra: arqueologia<br />

do cinema. São Paulo: SENAC, UNESP, 2003.<br />

> Interessante livro com pouco mais de quinhentas páginas que<br />

nos oferece detalhes de dados <strong>sobre</strong> como surgiu o nome do<br />

cinema e dos diversos mecanismos de <strong>criação</strong> de imagens em<br />

movimento anteriores ao cinema como o entendemos. Mannoni<br />

é pesquisador e colecionador de uma série de aparelhos<br />

inventados séculos antes do cinema e responsáveis por criar a<br />

ilusão do movimento.


Nichols, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP:<br />

Papirus, 2005.<br />

> Procura definir o que vem a ser o documentário e faz um exercício<br />

de classificação e de investigação histórica. Aponta características<br />

estilísticas comuns a documentários e busca através<br />

desta organização pensar a diversidade e pontos recorrentes<br />

no gênero. Excelente para se perceber a diversidade dos documentários<br />

enquanto estratégia discursiva, temática e formal.<br />

Rabiger, Michael. Direção de cinema: técnicas e estéticas.<br />

<strong>Ed</strong>. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.<br />

> Livro técnico <strong>sobre</strong> as atividades e atribuições do diretor. Traz<br />

um pouco de história para localizar as questões que aborda.<br />

Coloca de maneira sucinta o processo de roteirização, a direção<br />

de atores e dados <strong>sobre</strong> dramaturgia.<br />

Xavier, Ismail. D.W. Griffith: o nascimento de um cinema.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1984.<br />

> Pela análise do cineasta americano responsável por inaugurar<br />

o uso consciente de recursos como o close-up, o movimento<br />

de câmera e a montagem paralela, o livro traz o surgimento da<br />

linguagem cinematográfica e analisa elementos responsáveis<br />

pelo cinema narrativo clássico ainda em vigor.<br />

Xavier, Ismail. “A continuidade (match-cut) e a montagem paralela<br />

no cinema de Griffith”. In: Bentes, Ivana (org). Ecos do<br />

cinema: de Lumière ao digital. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007.<br />

Xavier, Ismail (org). A experiência do cinema. Rio de Janeiro:<br />

Graal/Embrafilme, 1983.<br />

> Reúne textos teóricos clássicos <strong>sobre</strong> o cinema. Livro fundamental<br />

para quem busca conhecer as principais escolas de<br />

pensamento <strong>sobre</strong> o cinema. Textos de diretores como Eisenstein<br />

e Dziga Vertov.<br />

113<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Livros de referência<br />

Recursos pedagógicos [http://npd.saocarlos.sp.gov.br/<br />

home/cusos-oficinas-e-palestras/recursos-pedagogicos]<br />

> Este site disponibiliza material <strong>sobre</strong> diversos aspectos da realização<br />

e história do cinema e do <strong>audiovisual</strong>. Apresenta uma<br />

cronologia do cinema, ilustra os tipos de plano existentes e<br />

traz ainda dados <strong>sobre</strong> a equipe de cinema e como exercer as<br />

diversas funções na realização de um filme.<br />

VIDEOBRASIL [http://www2.sescsp.org.br/sesc/videobrasil/site/home/home.asp]<br />

> Site do Vídeo Brasil, um festival de vídeo com textos <strong>sobre</strong><br />

diversos realizadores.


Pequeno repertório<br />

de cinema


Nacionais<br />

Matar ou correr (1954). 87 min.<br />

Direção: Carlos Manga.<br />

Como quase todos os filmes de chanchada, mistura gêneros<br />

como o faroeste e o musical e tipos populares da cultura nacional.<br />

Trata-se de uma paródia de Matar ou Morrer (1951) do<br />

cineasta Fred Zinnemann. No filme de Carlos Manga o velho<br />

oeste situa-se na pequena City Down, que recebe a visita de dois<br />

vigaristas atrapalhados, Kid Bolha e Cisco Kada. Após uma briga,<br />

um deles acaba se tornando o xerife do local. A relação com o<br />

cinema americano é explicitada nas cartelas iniciais que defende<br />

ser falado em língua portuguesa para ser melhor entendido. O<br />

Brasil comparece no filme na caracterização dos personagens e<br />

nos trejeitos de Oscarito e Grande Otelo, atores do filme. Essa<br />

comédia fala do Brasil, do carnaval e da possibilidade do subdesenvolvimento<br />

econômico produzir potência artística.<br />

São Paulo S.A (1965). 107 min.<br />

Direção: Luís Sérgio Person.<br />

Um homem vive em conflito por não saber lidar com seus amigos<br />

e seus interesses amorosos dentro do cenário da cidade de São<br />

Paulo. A cidade industrial e as ciladas de uma sociedade administrada<br />

na ótica do capital e da ganância são questões abordadas<br />

no filme. Referência ao abordar o Brasil da industrialização.<br />

Terra em transe (1967). 115min.<br />

Direção: Glauber Rocha.<br />

No país fictício de Eldorado, localizado na América do Sul, o senador<br />

Porfirio Díaz, que detesta seu povo, pretende tornar-se imperador<br />

do país. Porém, vários homens também desejam esse<br />

poder e resolvem enfrentá-lo. Metáfora da política nacional, alegoria<br />

de uma país. Representante do Cinema Novo brasileiro.<br />

117<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Pequeno repertório de cinema<br />

O bandido da luz vermelha (1968). 92 min.<br />

Direção: Rogério Sganzerla.<br />

A história do Bandido da Luz Vermelha, famoso criminoso que ganhou<br />

esse apelido por utilizar uma lanterna de luz vermelha. Ele<br />

existiu. Tornou-se um ícone da mídia. Sganzerla lança mão do bandido<br />

para problematizar a sociedade de comunicação de massa.<br />

Um dos primeiros filmes nacionais a abordar uma problemática<br />

urbana de forma experimental. Clássico do Cinema Marginal.<br />

Iracema, uma transa amazônica (1976). 91 min.<br />

Direção: Jorge Bodanzky e Orlando Senna.<br />

Um motorista de caminhão viaja pela Transamazônica. Em uma<br />

passagem pela floresta, conhece algumas prostitutas e aos poucos<br />

começa a conhecer os problemas da região. Misturando os<br />

gêneros ficção e documentário, Bodansky produz uma leitura<br />

dura <strong>sobre</strong> o suposto desenvolvimento defendido pelo governo e<br />

suas consequências para a população.<br />

Cidade oculta (1986). 75min.<br />

Direção: Chico Botelho.<br />

Anjo, após cumprir sete anos de prisão, reencontra seu antigo<br />

comparsa, se torna chefe de uma organização, se envolve com a<br />

estrela do submundo Shirley Sombra e cria inimizades com um<br />

policial corrupto local.<br />

Anjos da noite (1987). 98 min.<br />

Direção: Wilson Barros.<br />

Diversos personagens se encontram na noite da cidade de São<br />

Paulo em busca de amores e aventuras: Malu, a modelo; Mauro,<br />

uma drag queen; Teddy, um garoto de programa; Guto, um repórter<br />

gay e Marta, uma atriz. Um retrato da solidão urbana, do Brasil contemporâneo,<br />

dos encontros e desencontros na grande cidade.


Anjos do arrabalde (1987). 90 min.<br />

Direção: Carlos Reichenbach.<br />

Drama realista que narra a vida de três professores do subúrbio<br />

de São Paulo. As dificuldades do magistério e a condição feminina<br />

são abordados numa perspectiva poética. A pobreza do ambiente<br />

ganha força na pele de Betty Faria e Clarisse Abujamra.<br />

Classes populares abordadas numa perspectiva dos conflitos e<br />

afetos cotidianos.<br />

Carlota Joaquina, princesa do Brasil (1995). 100 min.<br />

Direção: Carla Camurati.<br />

A princesa espanhola Carlota Joaquina se casa com D. João VI<br />

aos dez anos de idade. Depois de casada, permanece morando em<br />

Portugal. Quando D. João VI assume a coroa, receando a invasão<br />

de Napoleão eles se deslocam para a colônia, o Brasil. Considerado<br />

o filme da retomada do cinema brasileiro, oferece uma imagem<br />

da corte sem glamour ou pompa.<br />

Os matadores (1997). 90min.<br />

Direção: Beto Brant.<br />

Dois golpistas, um veterano e um iniciante, conversam no bar<br />

na fronteira Brasil – Paraguai enquanto esperam aparecer alguma<br />

vítima. Beto Brant traz em sua filmografia um país repleto<br />

de conflitos. Sua linguagem é contemporânea, representa conflitos<br />

de nossa época.<br />

Babilônia 2000 (1999). 80 min.<br />

Direção: <strong>Ed</strong>uardo Coutinho.<br />

Documentário <strong>sobre</strong> pessoas que moram nas favelas do Rio de<br />

Janeiro festejando o ano novo. A voz do povo, as esperanças<br />

renovadas pelo calendário.<br />

119<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Pequeno repertório de cinema<br />

Internacionais<br />

Site consultado: http://www.imdb.com/title/tt0053168/<br />

O homem com a câmera (Chelovek s Kino-apparatom,<br />

1929) – União Soviética /Ucrânia. 80 min. Direção: Dziga Vertov.<br />

Um experimento cinematográfico inovador para a sua época e<br />

que ainda hoje surpreende. Este documentário traz a cidade de<br />

Moscou no seu dia a dia, através de recursos expressivos como<br />

a divisão da tela de diversas maneiras. Esta é apenas uma das<br />

camadas para a leitura do filme. A realização cinematográfica é<br />

outra personagem presente em imagens da sala de cinema, do<br />

cinegrafista e do equipamento de montagem do filme.<br />

Outubro (October: ten days that shook the world, 1927) –<br />

União Soviética. 103 min. Direção: Sergei M. Eisenstein.<br />

Entre o documentário e a ficção, este clássico do cinema usa metáforas<br />

para discutir a Revolução Russa. Apresenta a queda da<br />

monarquia, em fevereiro de 1917 até o fim do governo provisório<br />

e os decretos de paz e de terra em novembro do mesmo ano. Seu<br />

diretor é também um pensador <strong>sobre</strong> a montagem. Em Outubro há<br />

experimentos com a imagem como a estátua de monarcas quebrando<br />

e na sequência se reconstruindo.<br />

Encouraçado Potemkim (Bronenosets Potyomkin, 1925) –<br />

União Soviética - 75 min. Direção: Sergei M. Eisenstein.<br />

Épico <strong>sobre</strong> a tomada do navio Potemkin por marinheiros tratados<br />

de maneira humilhante. Eles se dirigem para o porto de<br />

Odessa onde são aclamados e auxiliados pelo povo. Quando os<br />

marinheiros voltam ao mar, a população é cruelmente atacada.<br />

A cena do massacre da população na escadaria de Odessa é<br />

um clássico do cinema, tendo sido citada em diversos filmes.<br />

Primor de montagem, leva ao máximo a noção de montagem<br />

intelectual de Eisenstein.


M. O vampiro de Düsseldorf (Germany, 1931) –<br />

Alemanha. 110 min. Direção: Fritz Lang.<br />

No final da década de 20, um assassino de crianças aterroriza uma<br />

cidade alemã. A polícia, para resolver o caso rapidamente, aumenta<br />

o policiamento da cidade. Os outros criminosos, ameaçados, se<br />

organizam e encontram o assassino e levam-no a um julgamento<br />

pouco ortodoxo. Filme representante do expressionismo alemão.<br />

Tempos modernos (Modern times, 1936) –<br />

Estados Unidos. 87 min. Direção: Charles Chaplin.<br />

O famoso personagem “O Vagabundo” de Charles Chaplin tenta<br />

<strong>sobre</strong>viver em meio à sociedade administrada da industrialização<br />

fordista. A máquina, vista como inimiga e controladora, imprime ao<br />

trabalhador um ritmo desumano. O amor paterno do vagabundo por<br />

uma menina confere ao filme seu aspecto dramático, enquanto a<br />

atuação do vagabundo na fábrica garante a comicidade do filme.<br />

Alemanha, ano zero (Germania anno zero, 1948) –<br />

Itália. 78 min. Direção: Roberto Rossellini.<br />

A ação se passa na Berlim do pós guerra. <strong>Ed</strong>mund, um garoto de<br />

uma família muito pobre, trabalha para sustentar o pai doente, sua<br />

pequena irmã e o irmão, que não tem documentos. Sua irmã se<br />

prostitui, seu antigo mestre tem interesses escusos por ele. O peso<br />

da vida e a impossibilidade de solucionar problemas criados pelo<br />

mundo adulto levam o pequeno a um gesto trágico. Um dos clássicos<br />

do neorrealismo.<br />

Ladrão de bicicletas (Ladri di biciclette, 1948) –<br />

Itália. 90 min. Direção: Vittorio De Sica.<br />

Estamos em Roma, o desemprego no pós-guerra assola o país.<br />

Um trabalhador vê sua bicicleta roubada após ter conseguido um<br />

emprego para o qual necessitava dela. Com seu filho pequeno<br />

perambula pela cidade em busca da bicicleta. Nos defrontamos<br />

com a vergonha do pai diante do filho. Clássico do neorrealismo.<br />

121<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Pequeno repertório de cinema<br />

Matar ou morrer (High noon, 1952) –<br />

Estados Unidos. 81min. Direção: Fred Zinnemann.<br />

Will Kane é um xerife que fica sabendo na hora de seu casamento<br />

que ao meio-dia chegará um trem com Frank Miller, criminoso<br />

responsável por sua prisão injusta. Como no faroeste clássico<br />

ele irá se vingar. A população, com medo, refugia-se. Sozinho, ele<br />

enfrenta Frank. Grande estilo no gênero.<br />

O batedor de carteiras (Pickpocket, 1959) –<br />

França. 72 min. Direção: Robert Bresson.<br />

Inspirado no romance Crime e Castigo de Dostoievski esta obraprima<br />

não se enquadra em nenhum movimento ou gênero cinematográfico.<br />

Econômico em termos formais, Bresson é exuberante ao<br />

penetrar na alma humana. Um cinema que não julga. Para além do<br />

bem ou do mal, traz personagens e situações repletos de dores<br />

silenciosas. Impressionou e influenciou muitos cineastas.<br />

Minha bela dama (My fair lady, 1964) –<br />

Estados Unidos. 170 min. Direção: George Cukor.<br />

Eliza Doolittle é uma mendiga que vende flores pelas ruas de Londres.<br />

Conhece um culto professor de fonética, Henry, com incrível<br />

habilidade para reconhecer as pessoas através de seus sotaques.<br />

Quando ele ouve o horrível sotaque de Eliza, aposta com o amigo<br />

que é capaz de transformar uma simples vendedora de flores<br />

numa dama da alta sociedade.<br />

Alphavile (Alphaville, 1965) –<br />

França. 99 min. Direção: Jean-Luc Godard.<br />

A cidade de Alphaville é comandada pelo computador Alpha 60,<br />

que aboliu os sentimentos de seus habitantes. Lemmy Caution é<br />

um agente enviado ao local com a missão encontrar o professor<br />

Von Braun, o criador de Alpha 60. Godard usa o computador para<br />

problematizar a linguagem e seu papel como expressão dos valores<br />

e ideologia de uma época.


Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451, 1966) –<br />

França. 112min. Direção: François Truffaut.<br />

Em um Estado totalitário em um futuro próximo, os “bombeiros”<br />

locais têm como função principal queimar qualquer tipo de material<br />

impresso, pois foi convencionado que a literatura era um<br />

propagador da infelicidade. Mas Montag, um bombeiro, começa<br />

a questionar tal linha de raciocínio quando vê uma mulher preferir<br />

ser queimada com sua vasta biblioteca ao invés de permanecer<br />

viva sem ela.<br />

2001: uma odisseia no espaço (2001: a space odyssey, 1968)<br />

– Estados Unidos. 141 min. Direção: Stanley Kubrick.<br />

Desde a “Aurora do Homem” (a pré-história) um misterioso monólito<br />

negro parece emitir sinais de outra civilização interferindo no nosso<br />

planeta. Quatro milhões de anos depois, uma equipe de astronautas<br />

é enviada a Júpiter para investigar o enigmático monolito na nave<br />

Discovery, totalmente controlada pelo computador HAL 9000. Um<br />

clássico <strong>sobre</strong> o homem e seu processo civilizatório.<br />

Laranja mecânica (A clockwork orange, 1971) –<br />

Estados Unidos. 138 min. Direção: Stanley Kubrick.<br />

O líder de uma gangue de delinquentes cai nas mãos da polícia. Ao<br />

ser preso, é usado em experimentos destinados a domesticá-lo. O<br />

jovem sofre. O filme não deixa claro se ele deixou de ser violento.<br />

O livro de cabeceira (The pillow book, 1996) –<br />

França, UK, Holanda, Luxemburgo. 120 min.<br />

Direção: Peter Greenaway.<br />

Em Quioto, uma criança chamada Nagiko recebe todo ano um<br />

estranho presente de aniversário de seu pai, um calígrafo célebre:<br />

ele escreve no rosto da criança. Anos mais tarde, quando<br />

Nagiko se torna mulher, sua vida sexual será marcada por esse<br />

gesto. Experimentação no estilo com a partição das telas.<br />

123<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Pequeno repertório de cinema<br />

Salve o cinema (Salaam cinema, 1995) – Irã. 110 min.<br />

Direção: Mohsen Makhmalbaf.<br />

Documentário <strong>sobre</strong> a busca de um ator para a realização de um<br />

filme. O diretor anunciou nos jornais que iria escolher entre desconhecidos<br />

os atores do seu filme seguinte. Em seguida, filmou<br />

o que aconteceu no decorrer desse processo. É tocante a exposição<br />

do cidadão comum em busca do sucesso no cinema.<br />

Festa de família (Festen, 1998) – Dinamarca. 105 min.<br />

Direção: Thomas Vinterberg.<br />

O patriarca de uma família dinamarquesa comemora seus 60<br />

anos em grande estilo. Reúne a família em um hotel de luxo. Mas<br />

uma revelação de seu filho pode estragar tudo. Primeiro filme do<br />

movimento dinamarquês Dogma.<br />

O pântano (La ciénaga, 2001) – Argentina. 103 min.<br />

Direção: Lucrecia Martel.<br />

A vida de duas mulheres e suas famílias em uma pequena província<br />

argentina. Em meio a um calor insuportável dois grupos de pessoas<br />

vivem entrelaçadas com seus próprios problemas e descobertas.<br />

Relato instigante <strong>sobre</strong> a vida fora das grandes cidades, <strong>sobre</strong> diferenças.<br />

O novo cinema argentino em sua potência máxima.<br />

O filho da noiva (El hijo de la novia, 2001) – Argentina.<br />

113 min. Direção: Juan José Campanella.<br />

Em uma crise com seus pais, sua ex-esposa e sua atual namorada,<br />

um ataque cardíaco faz com que um homem reencontre um<br />

amigo de infância, que o ajuda a reconstruir o passado e a ver o<br />

presente com outros olhos. A relação se torna mais complicada<br />

porque o pai deseja se casar oficialmente com a mãe, que tem o<br />

mal de Alzheimer.


Videogramas de uma revolução (Videogramme<br />

einer revolution, 2002) – Alemanha. 107 min.<br />

Direção: Harun Farocki e Andrei Ujica.<br />

No outono de 1989 uma rebelião popular derrotou a ditadura de<br />

Nicolau Ceausescu na Romênia. Este documentário reúne imagens<br />

da transmissão televisiva do momento em que se inicia a<br />

queda do ditador, e de vasto material produzido por cinegrafistas<br />

amadores nas ruas. O resultado é um filme <strong>sobre</strong> a queda de um<br />

ditador e um estudo <strong>sobre</strong> as relações entre mídia e poder.<br />

Encontros e desencontros (Lost in translation, 2003) –<br />

Estados Unidos. 105 min. Direção: Sofia Coppola.<br />

Bob Harris e Charlotte são dois americanos em Tóquio. Ele é um<br />

decadente astro de cinema que está na cidade para filmar um comercial<br />

de uísque. Ela acompanha o marido, um fotógrafo viciado<br />

em trabalho e distante da relação. Bob e Charlotte estão no mesmo<br />

hotel e não se conhecem. Mas a solidão e a cidade desconhecida<br />

vão aproximá-los. Juntos, os dois vão viver um amor mágico.<br />

125<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Sobre os autores<br />

Milena Szafir<br />

Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP<br />

sob orientação da professora doutora Esther Hamburger. Foi premiada<br />

em diversos festivais. O mais recente foi o #9@PSM, em<br />

2011, pelo conjunto de seus trabalhos nos últimos anos. Participou<br />

da II Mostra Internacional de Arte Digital – com “YouToRemix”,<br />

vídeo-interativo online – e medalha de bronze na Olímpiada USP<br />

de Inovação, pelo projeto-pesquisa de doutorado [bolsa CAPES].<br />

Participa da coordenação do EuroITV Grand Challenge Competition<br />

e é professora universitária de design gráfico, <strong>audiovisual</strong> e<br />

novas tecnologias. Email: milena@manifesto21.tv<br />

Patrícia Moran<br />

Nascida em Belo Horizonte vive e trabalha em São Paulo. Doutora<br />

em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo.<br />

Professora e pesquisadora do Curso Superior do Audiovisual<br />

da ECA-USP. Nos últimos anos tem pesquisado performances<br />

Audiovisuais em tempo real. Dirigiu diversos curtas, vídeos tendo<br />

recebido diversos prêmios no Brasil e no exterior, em 2010<br />

finalizou o filme de longa-metragem Ponto Org a ser lançado<br />

em 2012.<br />

Rogério de Almeida<br />

Professor da Faculdade de <strong>Ed</strong>ucação da USP, bacharel em Letras<br />

e doutor em <strong>Ed</strong>ucação. Coordena o GEIFEC – Grupo de Estudos<br />

<strong>sobre</strong> Itinerários de Formação em <strong>Ed</strong>ucação e Cultura e, em<br />

parceria com Marcos Ferreira Santos, o Lab_Arte – Laboratório<br />

Experimental de Arte-<strong>Ed</strong>ucação e Cultura. Autor, entre outros, do<br />

livro O criador de mitos: imaginário e educação em Fernando<br />

Pessoa, pela <strong>Ed</strong>uc. Site: www.rogerioa.com<br />

127<br />

<strong>Notas</strong> <strong>sobre</strong> <strong>criação</strong> Audiovisual, Redes Sociais e WEB


Papel: capa, guarda e lombada Colorplus 120 g/m 2 , miolo reciclato 90 g/m 2<br />

Fonte: Berthold Akzidenz Grotesk<br />

Data: 12/2011 | Tiragem: 100 exemplares<br />

Impressão: Multiofício

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