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Volume 2 - Machinima - Via: Ed. Alápis

O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames

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atuam. O vídeo se aproxima da Internet em termos visuais. Boxes lembram sistemas de janelas<br />

com os recursos dos programas, as janelas abertas provocam mudanças de deslocamento<br />

nos personagens ou cenários. Em Wizard o f Os, personagens como um robô e um peixe com<br />

a pele coberta de letras movem-se sobre páginas escritas que rolam horizontalmente. Personagens<br />

e fundo coexistem no mesmo espaço visual, mas sem qualquer relação de significado<br />

ou de composição gráfica, tendo em vista a narrativa. Não se respeitam escalas ou direção dos<br />

objetos em quadro, cada um tem um caminho próprio. A passagem entre as paisagens usa<br />

recursos de efeitos especiais que lembram o morphing, em que há a dissolução de um espaço<br />

em outro, de natureza completamente diferente: de paisagens com neve ao motor de uma<br />

máquina. A fantasia do filme 0 mágico de Oz é estruturada pela simultaneidade de acontecimentos<br />

e pela mistura de imagens realistas e repletas de artifícios em termos de visualidade,<br />

movimento, deslocamento em espaços inverossímeis etc.<br />

No vídeo The remake 7, também de Jantol, há uma releitura de 0 Garoto, de Charles<br />

Chaplin. Do diálogo entre Chaplin e o autor do <strong>Machinima</strong> abre-se um espaço para<br />

a discussão da refilmagem e de estratégias de representação caras a certo cinema, como o<br />

realismo. Chaplin pergunta: “Por que refazer o filme? Há algo de errado com o original?”<br />

Ao que Tom responde não ser este suficientemente real. “Você pode me dar um exemplo<br />

de... suficientemente real?”, pergunta Charles. Uma ironia perpassa a resposta, pois a nova<br />

versão se passa dentro de uma máquina repleta de artifícios, como a construção de uma casa<br />

para Charles, que observa tudo enquanto lê o jornal. O diretor do <strong>Machinima</strong> representa-se<br />

como uma máquina. Sua pele parece de metal envelhecido, seu movimento é mecânico e a<br />

voz de lata. Chaplin e o Garoto ora são uma tela, ora um corpo com uma tela como cabeça.<br />

Criador e criatura movem-se por entre as engrenagens. Tom provoca um incêndio e a história<br />

segue pontuada de poesia e incidentes. A obra de Jantol merece estudo mais acurado<br />

sobre os trânsitos entre animação, ficção e Internet. Suas fisionomias bem cuidadas remetem<br />

a arquétipos do mundo fantástico e das artes. Entre programas distintos, personagens variados<br />

e atitude de resistência à estandardização como realizador de <strong>Machinima</strong> ou de animação,<br />

Jantol cria uma obra ímpar. A partir do jogo, os vídeos começaram a ser feitos; no jogo,<br />

os vídeos continuam não apenas como disputa, mas como crítica e postura.<br />

Outro trabalho singular que destoa da auto-referencialidade dos <strong>Machinima</strong>s é The<br />

French Democracy (2005) de Koulamata 78. Ao estabelecer diálogo não só com a indústria<br />

do videogame ou com seus pares, o vídeo trouxe uma dimensão de denuncia política para<br />

realizações a partir de games. Koulamata atiçou a grande imprensa ao conferir visibilidade e<br />

lastro político ao <strong>Machinima</strong>. Foi produzido no jogo The Movies, que traz um pacote de dados<br />

para animação, contando com estúdios, personagens em pequenos loopings, texturas etc.<br />

O vídeo de Koulamata não se alinha à gênese do <strong>Machinima</strong> de invasão ao motor dos jogos<br />

ou de captura da tela para exibição do desempenho do jogador, utiliza-se de uma ferramenta<br />

acessível e de fácil manuseio criticada por realizadores da velha escola. Paradoxalmente, The<br />

7 http://vim eo.com /userl93906/videos<br />

8 http://www. archive.org/details/thefrenchdemocracy<br />

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