Volume 2 - Machinima - Via: Ed. Alápis
O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames
O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames
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Quanto dura o tempo real, se a cada minuto milhões de realidades demonstram<br />
sua defasagem em relação a outras milhões de realidades igualmente legítimas? Nesta<br />
babel de durações sobrepostas, as tecnologias existentes permitem esticar a duração<br />
de toda e qualquer fagulha atirada ao espaço compartilhado das redes. Este é o paradoxo<br />
de uma época em que há dados acessíveis como nunca houve antes, mas o acesso<br />
acontece de forma estilhaçada, distribuída, volátil. A cultura recente parece retomar<br />
o formato provisório e íntimo das conversas. E um processo que substitui modelos<br />
vigentes por séculos, quando a maior parte das culturas (especialmente no ocidente)<br />
confiou suas memórias e ideais à concentração robusta, seletiva, hierárquica, sequencial,<br />
duradoura, das mídias analógicas. Conforme mais e mais coisas acontecem “em<br />
tempo real”, a experiência iguala-se a este fluxo contínuo, o que abrevia o espaço da<br />
memória interna e projeta as mentes dos homens para lugares públicos e etéreos. Ao<br />
mesmo tempo, esvai-se o sentido de tudo que for passado. Resta apenas surfar o que<br />
está no tempo presente.<br />
Esse volume desproporcional de dados, que escapa por entre os dedos como<br />
páginas de livros de areia dissolvidos a cada novo clique na tela, instala num lugar<br />
central dos processos de comunicação a provisoriedade dos momentos. E possível<br />
pensar nesses processos a partir do conceito de acontecimento, conforme discutido<br />
na edição especial da revista Communication editada por <strong>Ed</strong>gar M orin em torno do<br />
tema (Morin, 1972). Morin baseia-se nos estudos sobre sistemas complexos para balizar<br />
esta categoria que abriga fenômenos acidentais, descontínuos ou improváveis.<br />
E um momento da história da ciência em que o caos e os fenômenos aparentemente<br />
desordenados passam a ser entendidos como sistemas passíveis de análise e explicação,<br />
o que resulta, sobretudo, numa reviravolta na própria forma como os homens<br />
propõem-se a entender o mundo que os cerca, desvencilhando-se da necessidade de<br />
explicações completas e reconhecendo ordens que escapam das lógicas mais tangíveis<br />
em um determinado momento histórico. Reflexo do quase século em que as ciências<br />
dedicam-se aos processos infinitesimais das partículas subatômicas e suas invisibilidades,<br />
que só podem ser inferidas a partir da análise de dados.<br />
Num sentido contrário, este fluxo retorna à superfície, por meio de interfaces<br />
digitais que modelam temporariamente os dados ali em trânsito (Bastos).<br />
A cultura contemporânea espelha a velocidade com que fragmentos de fatos e fotos<br />
rolam tela abaixo e logo desaparecem, no ritmo das atualizações compartilhadas de sites<br />
como os já citados Facebook e Twitter. Seja em formatos televisivos (como o Big Brother)<br />
ou em formatos experimentais (como o Live Cinema), as articulações de sentido tornam-<br />
-se mais imediatas, improvisadas, casuais. Não se trata, necessariamente, de advogar em<br />
favor do duradouro, mas de discutir o que significa este novo regime onde predomina a<br />
dispersão, em seus dois sentidos (espalhamento e falta de concentração).<br />
Cidades Visíveis, webdocumentário recente do LAT-23, investiga de forma irônica<br />
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