Volume 2 - Machinima - Via: Ed. Alápis
O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames
O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames
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No mundo do tempo real<br />
Marcus Bastos<br />
Em Ontologia da Imagem Fotográfica, André Bazin aponta uma semelhança entre<br />
os processos de mumificação e o esforço para duplicar o real por meio de imagens geradas<br />
a partir de negativos (as imagens do cinema e da fotografia, que Philippe Dubois<br />
define como imagens de inscrição). Ambos atuariam no desejo humano de preservar<br />
coisas, ou momentos efêmeros, estendendo sua duração. Talvez um aspecto desse desejo<br />
de atenuar o sofrimento com perdas e mortes, pela transferência de acontecimentos<br />
(incapazes de durar para sempre) para sistemas (que duram mais que fatos), tenha semelhanças<br />
com os impulsos relacionados às diferentes atividades em tempo real que se<br />
multiplicaram recentemente (<strong>Machinima</strong>, Live Cinema, redes sociais como o Facebook,<br />
microblogs como o Twitter).<br />
Não por acaso, são recorrentes histórias sobre familiares de pessoas recém-falecidas<br />
que continuam a publicar conteúdo nos perfis em redes sociais dos parentes que se<br />
foram. Ou casos de gente que escreve mensagens póstumas para colegas mortos, em um<br />
tom de intimidade que sugere que aquela presença digital, de alguma maneira, prolonga<br />
a interlocução cuja perda eles sentem. São conversas cuja defasagem incongruente instala<br />
um intervalo de tempo em suspensão, em que possibilidade e lógica subitamente parecem<br />
desconectados.<br />
O que dizer sobre a duração exata de uma suposta realidade ampla se, nas fantasias<br />
dos homens, mesmo as realidades mais imediatas encontram durações dilatadas por<br />
afetos, como no exemplo destas configurações improváveis e extremas de vida digital<br />
post mortem'í Supor que a realidade é algo externo a essas fantasias implicaria em reduzir<br />
a um cenário árido e sem imaginação o espaço onde se projetam as miríades de corpos<br />
e vibrações existentes. E o que é a realidade, senão este lugar onde todos os acontecimentos<br />
(sejam eles lógicos ou absurdos) compartilham sua espessura, teatro caótico de<br />
pulsões conflitantes?<br />
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