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Volume 2 - Machinima - Via: Ed. Alápis

O segundo volume da oleção CINUSP, Machinima, trata sobre filmes criados em ambientes virtuais, originalmente a partir de videogames

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Além disso, a voz faz vir à tona uma engenharia reversa de um objeto de consumo<br />

em massa que se torna uma ferramenta de expressão artística e narrativa. Com o machinima,<br />

podemos falar de emergência de um jogo com o videogame: uma forma inusitada<br />

de usar um videogame com objetivo artístico. Aqui, jogar funciona na forma mais plena<br />

e artística da palavra. Mesmo que, claro, agora anúncios sejam criados com técnicas de<br />

machinima - para propósitos comerciais - , o machinima permanece uma ferramenta disponível<br />

para qualquer um que tenha um game engine em casa e que queira se expressar<br />

combinando voz e os elementos visuais do videogame.<br />

Vozes em machinima como um détournement situacionista de games de<br />

computador e videogames<br />

Através de espaços virtuais e da mudança da perspectiva como estratégia artística, o machinima<br />

permite uma crítica distanciada do mundo simulado. Esses recursos tendem a apagar<br />

as fronteiras entre realidade e ficção e redefinir o poder transgressor do videogame. “Quando<br />

o mundo real é transformado em meras imagens, meras imagens tornam-se seres reais - ficções<br />

dinâmicas que fornecem as motivações diretas para um comportamento hipnótico” (Debord,<br />

1967)8 9. Eles reatualizam o conceito situacionista de cinema, no qual imagens, vozes em diálogos,<br />

entrevistas ou voicemvers, atuam como diferentes camadas de conteúdo. Guy Debord e<br />

Gil J. Wólman, em um texto em conjunto escrito em 1956, adicionaram à teoria situacionista<br />

de détournement9 (Debord e Wólman, 1956) a questão de que o cinema é o método mais<br />

eficiente de détournement, onde o détournement tende à beleza pura. Ele não precisa ser uma<br />

paródia ou crítica de um filme. Nesse texto, ambos os autores argumentam a favor da estratégia<br />

de se alterar um filme, como o racista O nascimento de uma nação (Birth o f a Nation) de D.<br />

W. Griffith, apenas alterando-se a trilha sonora para denunciar os horrores da guerra e das<br />

atividades da Klu Klux Klan.<br />

Alguns machinimas, como Th is Spartan Life (TSL) de Chris Burke, ou Landlord<br />

Vigilante, escrito pelo artista <strong>Ed</strong>do Stern e a escritora Jessica Hutchins, podem ser comparados<br />

a filmes situacionistas. This Spartan Life é um talk show sobre cultura digital e<br />

do videogame dirigido no espaço virtual do game em rede Halo 2. Chris Burke, aka Damian<br />

Lacaedemion, recebe convidados especiais no game: por exemplo, ele entrevistou<br />

Bob Stein sobre o futuro do livro e Malcom McLaren sobre música de 8-bit e as raízes<br />

da música punk. Enquanto o talk show é filmado, os jogadores estão lutando ao redor de<br />

Lacaedemion e seus convidados. Às vezes outros jogadores, que não percebem que um talk<br />

8 “Là où le monde réel se change en simples images, les simples images deviennent des êtres<br />

réels, et les motivations efficientes d’un comportement hypnotique”. Traduzido por Ken Knabb,<br />

Bureau o f Public Secrets, http://www. bopsecrets.org/SI/debord/ l.htm (Acesso em 19 de agosto de<br />

2009).<br />

9 Palavra francesa que significa desvio, reencaminhamento etc. Foi uma técnica adotada pela<br />

Internacional Situacionista na década de 50 que consistia em desviar o uso de expressões do sistema<br />

capitalista contra o próprio capitalismo.<br />

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