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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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duas informações centrais de que fará uso, mas a repetição desse recurso<br />

é vital para provocar a sensação que pretende. Isoladamente, o recurso<br />

da câmera lenta não é uma novidade na história do cinema, tampouco<br />

uma inovação estética. Mas, no caso de um curta-metragem que se passa<br />

todo nessa velocidade, com imagens intercaladas das mariposas, a aposta<br />

na criação de uma sensação em detrimento da interpretação facilmente<br />

acessada, torna o documentário um experimento estético que destoa do<br />

conjunto da produção documental periférica, muito ancorada na construção<br />

de uma impressão de realidade verossímil ou “um tipo de abordagem<br />

mais naturalista”, conforme detecta Alvarenga, “em que o <strong>vídeo</strong> é usado<br />

para mostrar o retrato de uma determinada comunidade, seus personagens,<br />

grupos, iniciativas, problemas e soluções”. 21<br />

Julgamento traça um “deslocamento do intolerável na imagem para o<br />

intolerável da imagem” 22 . Nos termos de Rancière, essa é uma questão que<br />

“tem estado no centro das tensões que afetam a arte política”. 23 A potência<br />

desse deslocamento reside na construção de um ponto de vista distanciado<br />

do panfleto, sem deixar, contudo, de expressar uma opinião política claramente<br />

definida. Há o reconhecimento de que um documentário pode não<br />

mudar uma conjuntura desigual e injusta, mas reconfigura a militância a partir<br />

da experiência particular, devolvendo para o público novos ordenamentos<br />

do visível e do dizível, para utilizar de empréstimo os termos deleuzeanos.<br />

Essa perspectiva desloca a política de uma esfera meramente conceitual<br />

para a arena da práxis, uma reivindicação feita por Foucault em suas<br />

análises da organização e funcionamento das estruturas políticas corporificadas<br />

em instituições ou sistemas de pensamento. Nas palavras do autor:<br />

“jamais procurei analisar seja lá o que for do ponto de vista da política: mas<br />

sempre interrogar a política sobre o que ela tinha a dizer a respeito dos<br />

21 Clarisse Alvarenga, “Vídeo e experimentação social: um estudo sobre o <strong>vídeo</strong><br />

comunitário contemporâneo no Brasil” (Dissertação de mestrado, Instituto de<br />

Artes da Unicamp, 2004), 104.<br />

22 Jacques Rancière, El espectador emancipado (Buenos Aires: Manantial, 2010), 86.<br />

23 Ibid., 94.<br />

ESTÉTICA E POLÍTICA NO CINEMA DE PERIFERIA 93

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