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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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Essa imagem pontua o filme três vezes – aos 2’18’’, voltando aos 4’<br />

e, por último, aos 7’05’’ – e, ao organizar o encadeamento discursivo do<br />

documentário, sintetiza o posicionamento dos moradores, em um giro que<br />

a torna também uma “imagem testemunha”, não somente pelo conteúdo<br />

que apresenta, mas pela articulação entre passado e presente, reunindo<br />

em si mesma um histórico de luta por moradia que desemboca no atual<br />

momento pelo qual passa a favela. A dimensão de testemunha dessa imagem<br />

reside na relação dialética entre esse dois momentos temporalmente<br />

distintos, mas intimamente conectados, tornando-a parte de uma evidência<br />

histórica dos fatos cotidianos. Tal argumento, ancorado na reflexão de<br />

Waterson sobre memória e meios de comunicação, torna-se útil para se<br />

pensar o papel dessa fotografia em Na real do Real.<br />

Esse diagnóstico, porém, exige que se pense no papel de tal imagem,<br />

ou seja, ela contribui para a transmissão de uma memória coletiva ao<br />

postular que atualmente a mudança social não se dá por meio de “revoluções”,<br />

mas por ações integradas de setores ou grupos da sociedade civil<br />

diante de situações e contextos referentes à esfera cotidiana. Isoladamente,<br />

tal fotografia é capaz de comunicar, especialmente por certo nível de<br />

ambiguidade presente na faixa retratada, em que a palavra “real” pode<br />

se referir aos moradores da favela Real Parque, que recorrem ao local de<br />

moradia como núcleo agregador, em outras palavras, violência policial não<br />

silencia [os moradores do] o Real; mas esse mesmo “real” também pode<br />

ser considerado o agora, a realidade, a situação. No entanto, o “páthos do<br />

acontecimento” 6 que ela apresenta intensifica-se na repetição promovida<br />

pela montagem junto aos depoimentos que resgatam a história do lugar,<br />

o qual, em um trabalho de reconhecimento e arquivamento, postula uma<br />

vibrante existência que se apropria do episódio e fixa um ponto de vista.<br />

6 Jane M. Gaines, “Political mimesis,” in Colecting Visible Evidence, org. Jane<br />

M. Gaines e M. Renov (Minneapolis: University of Minesota Press, 1999), 92.<br />

A noção de páthos do acontecimento se refere a uma evidência irrefutável da<br />

imagem, no sentido de que “isso aconteceu; pessoas morreram; outras estão<br />

sofrendo; esta vítima pode ser salva se algo for feito” (Ibid., 92).<br />

ESTÉTICA E POLÍTICA NO CINEMA DE PERIFERIA 85

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