Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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Apontamentos de um regaste histórico<br />
A década de 1980 foi uma “década perdida”, segundo alguns estudiosos, em<br />
relação ao desenvolvimento dos países latino-americanos e à sua inserção<br />
na nova ordem internacional. Estagnação econômica, dívida externa, concentração<br />
de renda, descaso com a cultura, entre outros. O projeto de modelo<br />
neoliberal, implantado de forma desigual pelo continente, consolidou<br />
as desigualdades internas e regionais entre os países do bloco, dificultou<br />
a igualdade de direitos e aumentou os desequilíbrios <strong>sociais</strong>, colocando a<br />
América Latina frente ao mundo internacional com uma vulnerabilidade<br />
profunda. Soma-se a isso a excessiva concentração no campo da produção<br />
e difusão audiovisual, o que atravancou profundamente o processo de democratização<br />
dos países latino-americanos.<br />
Essa demasiada concentração econômica e do controle político dos<br />
meios de comunicação de massa no continente impossibilitaram que esses<br />
meios servissem como canais de expressão e de participação popular, o que<br />
é considerado, por Regina Festa, “o pior entrave ideológico que a comunicação<br />
impõe à sociedade, definindo e estabelecendo a temática e as áreas do<br />
discurso social”. 10 Em meio ao empecilho constante de uma infraestrutura<br />
acanhada e subdesenvolvimento econômico, eclodiu por todo o bloco vias<br />
alternativas de comunicação – jornais independentes, revistas universitárias,<br />
rádios comunitárias, teatro alternativo, além da produção de <strong>vídeo</strong>.<br />
É nesse contexto, com grande pressão social por mudanças, que surge<br />
a produção do que veio a ser chamado de “<strong>vídeo</strong> popular”, expressão<br />
que passou a identificar o conjunto das produções e dos modos de atuação<br />
de grupos de <strong>vídeo</strong> junto aos movimentos <strong>sociais</strong> e populares no Brasil<br />
durante a década de 1980. A produção estava então ligada aos anseios de<br />
participação e, portanto, de voz da população, que passou a ver no <strong>vídeo</strong><br />
um canal de comunicação para ecoar suas demandas e reivindicações, entre<br />
as quais estavam aquelas de ordem política, econômica, social, e logo,<br />
10 Regina Festa e Carlos <strong>Ed</strong>uardo Lins da Silva org., Comunicação popular e<br />
alternativa no Brasil (São Paulo: Paulinas, 1986), 11.<br />
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