07.02.2017 Views

Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

totalmente incompreensível. Eu falo rápido e falo um monte de besteira,<br />

palavras sem nexo, fico grunhindo, bato na parede, aí os meus filhos entram,<br />

o telefone toca. Eu faço tudo pra não ter uma fala de dez minutos,<br />

falo em dez segundos, e eles vão ter que ficar lá dois dias pra cortar de um<br />

lado e de outro, pra montar. Eu faço questão de ser um incômodo pra essas<br />

pessoas assim. Essas pautas me incomodam muito. Por exemplo, quando a<br />

gente ganhou o festival de Brasília essas pautas eram totalmente xaropes,<br />

assim: “Ah, os caras são Robin Hood”, porque a gente dividiu o prêmio, né.<br />

Porra de Robin Hood nada, cara, não é nada disso, a gente tem um modo de<br />

viver. Acho uma palheira essa coisa de ser Robin Hood, muito pelo contrário,<br />

a divisão foi uma discussão política, o “Robin Hood” tira o lugar do<br />

político, né: “Ah, esses caras não são políticos. Eles são emocionais, eles<br />

são heróis”. Herói é uma merda, né. O herói morre. Morre com a família<br />

fodida inclusive, e eu não quero que a minha família seja fodida, não – eu<br />

quero que meus filhos cresçam bem, vão pra universidade, tenham uma<br />

vida legal, sabe, não quero que a vida meus filhos seja igual à minha, quero<br />

que eles tenham muito mais tranquilidade do que eu tive. Então, eles não<br />

falam, por exemplo, que a discussão foi planejada quase uma semana antes,<br />

que não fui eu que propus a divisão sozinho, que era uma questão coletiva<br />

de fato. Porque quando eles tiram a decisão do coletivo, tiram a força política<br />

do coletivo, dizem assim: “O Adirley quis dividir. Ah, o Adirley é herói”.<br />

Foda-se. Não foi confortável pra mim, não é tão simples falar em dividir<br />

dinheiro. Foi uma questão política pensada, que foi o melhor pra possibilidade<br />

do cinema nosso, independente de quem fosse, isso já era pensado<br />

há muito tempo. Independente de como os filmes foram aceitos. Até o<br />

[Sérgio] Alpendre escreveu: “Ah, mas eu acho que os caras já tinham uma<br />

noção de quem que ia ganhar”. Não, a gente tinha feito isso antes de saber<br />

como esse filme ia ser recebido. Mas, assim, não vou nem dizer do Alpendre<br />

porque eu acho ele desenvolve mais, e de certa forma eu até o respeito –<br />

mesmo falando mal de nós, eu respeito, não concordo, mas respeito –, ao<br />

contrário de outros caras que falam mal da gente, dessas coisas do exótico,<br />

sabe? Então, me incomoda muito essas pautas do herói, do cara que: “Ah,<br />

como assim esses caras podem fazer?”. Pô, podemos fazer porque a gente<br />

ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 237

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!