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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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gente vai falar mal dele. Todos os meus filmes são assim: eu ganho dinheiro<br />

do Estado, falo mal dele e o Estado fica puto comigo. Mas é isso, eu não sou<br />

publicitário, né? Então, sabe como é a coisa? É muito, assim, um bolo, uma<br />

doideira, como tudo é muito contraditório na minha cabeça hoje. Quando<br />

eu falo da ideia de sofrimento, não é do sofrimento existencialista francês,<br />

não – eu até gosto desses caras franceses, até leio de vez em quando, mas<br />

não é esse sofrimento –, é muito mais assim, “cara, não é confortável”. A<br />

nossa reflexão não é confortável, porque ela nunca vai ocupar um espaço<br />

de: “Ah, legal, vamos ficar aliviados, agora só curtir”. O dia que a gente parar<br />

pra curtir, a gente para de fazer cinema, eu acho isso. Parar de fazer cinema<br />

também é um lugar legal com o tempo, sabe? É isso, as coisas também vão<br />

mudando e vão. Deu o que tinha que dar, talvez, e a fila anda, sabe?<br />

LORENA: Se você quiser fazer alguma última consideração.<br />

ADIRLEY: Eu gosto muito dessas conversas assim. Porque é um dos poucos<br />

lugares que me dão a chance talvez de – por exemplo, eu não falo mais,<br />

não é só porque eu acho ruim, né – falar sobre a militância do radicalismo.<br />

Acho que no cinema radical eu sou um cara mais, assim, que não tem essa<br />

ilusão de ser radical, sabe? No sentido de não achar que ser radical é negar<br />

entrevista ou negar aparecer. Acho que radical é outra coisa. Radical é o<br />

modo de viver honesto, assim, saber que o mundo é contraditório e que a<br />

gente também vai ser. Tudo o que eu falar hoje daqui a cinco anos vai ser<br />

usado contra mim, inclusive pelas gerações mais novas. Pra mim é tranquilo<br />

entender que cabeças estão aí pra serem cortadas, sabe? Inclusive a minha,<br />

é muito tranquilo pensar assim. Mas eu fico puto às vezes de falar, por<br />

exemplo, quando a gente ganhou Brasília ou até antes. Eu não falo com<br />

Globo, eu não falo com SBT, eu não falo com nenhum desses caras. Primeiro<br />

porque eu acho que eles são chatos pra caralho, acho feios pra caramba,<br />

sabe? Enjoados, eles não têm axé nenhum, não têm poesia na fala, não<br />

têm – vamos dizer assim – honestidade nenhuma, não têm nada assim.<br />

Então, de antemão, eu já não teria tesão em falar com eles. Segundo porque<br />

eles nos colocam na pauta, né? Essa é a pauta e a gente só vai até ali só.<br />

Quando eu falo com eles, a minha tática é ser incompreensível, assim,<br />

236 QUEBRADA?

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