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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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cinema de periferia ainda, temos que construir esse cinema. Se a gente chegar<br />

agora e falar assim: “Tem um cinema de periferia”, seria um equívoco<br />

enorme. Porque nem sabemos realmente onde estamos, a gente nem sabe<br />

pra onde vamos, eu acho. Onde estamos a gente sabe, acho que a gente sabe<br />

muito bem de onde vem, quem a gente é. Por exemplo, no caso de vocês, eu<br />

acho que vocês sabem muito bem o corpo que ocupam na universidade, o<br />

corpo político que vocês ocupam, o espaço. Eu acho que essa juventude tem<br />

uma clareza muito grande de onde vem, mas não sei pra onde vai, não. Essa<br />

é a questão, eu não sei onde vamos estar daqui a cinco anos, eu não sei se a<br />

gente vai ser cortado, por exemplo. Eu acho que é quase impossível a gente<br />

não ser cortado, porque tem essa contradição de fazer e viver. Como a gente<br />

vai viver de cinema se a gente não se enquadrar em certas leis de Estado,<br />

leis de edital, leis de mercado, como a gente vai viver? É quase impossível<br />

viver, porque a gente não pode viver como pessoas diletantes, não temos<br />

esse privilégio. Porque quando a gente tiver 25, 26, 27 anos, você vai ter que<br />

trabalhar, cara, e então a gente vai fazer filme por quê? Por diversão? Ou a<br />

gente pode transformar os nossos filmes em possibilidades reais de trabalho?<br />

“Possibilidades reais de trabalho” é enquadrar em algo que já é status<br />

quo, isso aí não é periferia, entendeu? Será que a periferia vai empregar a<br />

gente? É sobre isso que eu estou falando, “pra onde a gente vai” é a grande<br />

reflexão, eu acho. Onde a gente está, eu acho que estamos num lugar legal,<br />

mas e o cinema de periferia, pra onde vai? Por isso que eu acho que a gente<br />

tem que pensar primeiro o que seria o cinema periferia. Todo filme que é<br />

feito em periferia pode ser cinema de periferia? Se um filme é feito fora da<br />

periferia, mas tem a estética de periferia, não é cinema de periferia? Como<br />

é isso, né? Assim, eu acho um absurdo falarem: “Somente um cara de periferia<br />

pode falar da periferia”, isso é uma besteira. Eu acho que qualquer<br />

pessoa pode falar sobre qualquer lugar, desde que ela tenha sensibilidade.<br />

E é fascismo falar que só o cara de periferia pode falar de periferia. Eu conheço<br />

muita gente de periferia que fala isso, que é fascista, que faz uns filmes<br />

de merda – uns filmes perversos e covardes, sabe, que estão só se aproveitando<br />

daquele espaço, que hoje é um espaço midiático, é um espaço que<br />

ocupa lugares, festivais, políticas públicas. Então, acho que o cinema de<br />

ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 233

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