Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.
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filme vai ser destaque numa sala, eventualmente algum filme vai ser, o<br />
meu ou de qualquer um, e isso é muito difícil, é um em um milhão. Eu<br />
acho que a nossa regra era essa, eram aqueles filmes medianos, os nossos<br />
filmes são medianos dentro dessa lógica, e nossos filmes medianos poderiam<br />
ser vistos pelas pessoas, que teriam o hábito de ir à sala de cinema,<br />
entendeu? Mas não pensar como seres excepcionais, geniais, não é isso. A<br />
sala de cinema ocupando o espaço público e uma disputa política pública,<br />
porque a sala de cinema é um lugar político, muito político. Eu acho que<br />
a experiência coletiva de ver filmes é a coisa mais fundamental que existe,<br />
porque você sai da sala de cinema com outra energia, sabe, diferente<br />
de que assistir um filme individualmente. Essas salas ocupando espaços,<br />
principalmente fora do centro, trariam uma geração muito crítica com relação<br />
à cinefilia, à curadoria, sabe? Então isso interessava muito, acho que<br />
os filmes poderiam sim ser distribuídos assim, pensando nessa lógica que<br />
hoje é muito perversa, é pouco espaço pra distribuir tantos bons filmes,<br />
tem cem filmes bons no Brasil, cem longas, fora os curtas. É de imaginar<br />
a besteira de a gente pensar que curta tem menos importância que longa,<br />
que isso? Assim, talvez os melhores filmes brasileiros sejam os curtas, de<br />
um tempo pra cá. Agora, pensando na ideia de ocupar a sala de cinema<br />
pública de mercado, que é uma esquizofrenia, mas pensando nessa ideia<br />
de sala de cinema pública de mercado. Em sala de mercado, cara, são dez<br />
filmes que ocupam o espaço durante o ano, isso é muito perverso. Penso<br />
que só há possibilidade, e é uma necessidade imediata de ter mais salas<br />
públicas, se o Estado bancar durante um, dois, três, quatro anos, não sei.<br />
Tem dinheiro pra isso, dinheiro pra isso tem um monte. O primeiro dinheiro<br />
que bancaria a sala de cinema pública é o dinheiro que banca um<br />
monte desses prédios aí, desses da especulação imobiliária, então não é<br />
vergonha bancar uma sala pública de cinema. Porque, você imagina, cara?<br />
Eu fico imaginando se existisse uma sala de cinema pública em Ceilândia,<br />
eu acho que os moleques –quando eu falo moleque é no bom sentido, assim,<br />
a galera nova de quebrada, de escola pública – iam ocupar esse espaço,<br />
eles mesmos começariam a promover festivais, encontros, sabe? Eu acho<br />
que criaria uma geração muito potente, tanto de cinefilia como de outra<br />
ENTREVISTAS – ADIRLEY QUEIRÓS 221