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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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Se existe o <strong>Cinema</strong> de <strong>Quebrada</strong>, existe também o que podemos chamar<br />

de <strong>Cinema</strong> de Centro. E o que seria este cinema? Bem, imagine uma<br />

pessoa jovem que queira estudar cinema por diversos motivos que a fazem<br />

desejar isso. O que ela faria? Tentaria uma faculdade de cinema ou realizaria<br />

cursos nessa área. Outra possibilidade seria adquirir equipamentos,<br />

como câmera profissional, microfone direcional, gravador de áudio etc. E<br />

uma vez que esta pessoa tivesse vencido o degrau de formação cinematográfica<br />

– seja em linguagem seja em técnica –, então seria o momento de<br />

ela pleitear editais para produzir seus curtas, ou produzir com recursos<br />

próprios, ou mesmo contar com a infraestrutura da faculdade em que cursa<br />

(mas isso depois de ter vencido disputas internas para utilizar tais recursos).<br />

Além disso, há o fato de que a história que ela queira contar precisa<br />

fazer sentido para quem analisa um edital ou o processo interno da faculdade<br />

em que estuda. Ao final, o filme seria exibido em algum festival de<br />

cinema em uma região próximo aos eixos econômicos da nossa cidade ou<br />

em locais considerados reservas de algo que ainda possa ser chamado de<br />

cultural. O cinema de centro poderia ser considerado o lugar normativo de<br />

se fazer cinema no Brasil.<br />

CINUSP: Então fica a pergunta: a pessoa que nasce e vive na periferia<br />

consegue arregimentar sua estrutura de conhecimento e de relações<br />

pessoais para fazer parte de todo esse rito que é exigido enquanto<br />

prática para ser possível cinematograficamente?<br />

Durante a primeira década do século XXI, diversos protagonistas culturais<br />

de periferia acessaram o ensino superior. Muitas vezes, essas pessoas eram<br />

as primeiras em suas famílias a cursarem o ensino superior, logo, não herdaram<br />

todo o legado econômico e de relações pessoais que validaria suas<br />

jornadas no meio cinematográfico. Dessa forma, realizar cinema ou realizar<br />

a prática audiovisual revela um recorte de raça e de classe social. Mas,<br />

se a prática revela esses recortes, o que justifica um cinema de quebrada?<br />

O cinema de quebrada existe pela demanda de autorrepresentação,<br />

uma vez que o cinema e a TV se baseiam no padrão de branquitude<br />

como forma de representação normativa de nossos personagens negros e<br />

182 QUEBRADA?

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