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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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espeitado em sua intocabilidade, mas deve ser transformado, pois o próprio<br />

filme coloca-se como agente da transformação 38 .<br />

No caso de Luto como mãe, o destaque à fala dos ‘sujeitos fílmicos’ e a potência<br />

dos encontros e acontecimentos narrados inscrevem-se, como dito,<br />

nas imagens. Em suas filmagens, essas mulheres mostram como sua organização<br />

acarretou em maior entendimento sobre seus direitos e possibilitou o<br />

surgimento de outros movimentos e redes, baseados nas relações locais de<br />

solidariedade. Em contraponto à desesperança em relação à impunidade;<br />

trouxe a reflexão, uma percepção mais complexa das suas realidades e um<br />

questionamento do papel do poder público. Constatamos que esse processo<br />

de luta pela justiça conduziu a uma politização maior das envolvidas, no<br />

sentido de discernir que aquele esforço não era mais só pelos entes queridos,<br />

mas sim por uma mudança no cotidiano das periferias em que vivem.<br />

Eu Vera Lúcia, que não era uma pessoa leiga de tudo, não sabia que eu<br />

podia entrar e sair da câmara dos vereadores. Eu falava - isso aí não é pra<br />

mim – entendeu? E aí depois a gente vai vendo os nossos direitos. Você tá<br />

dentro de uma comunidade, você não sabe que tem direitos, você sabe que<br />

tem deveres 39 .<br />

Assim, a luta ressignificou a vida das mães, em movimento de superação<br />

dos traumas. As marcas vão ficar para sempre, mas lutar é quase uma salvação.<br />

Lutar é uma forma de não precisar de remédios, diz uma das mães.<br />

Há um esforço de rememoração dos mortos pela comunidade, e uma preocupação<br />

e cuidado com os que ficam, como no campeonato de futebol<br />

organizado em homenagem aos mortos da Chacina da Baixada. Nos encadeamentos<br />

das falas e dos casos, percebemos certo agenciamento entre<br />

um passado traumático, de luto, um presente de luta e um futuro aberto<br />

38 Jean-Claude Bernadet, Cineastas e imagem do povo (São Paulo: Companhia das<br />

Letras, 2003), 75.<br />

39 Luto como mãe (2010, Luís Carlos Nascimento).<br />

140 QUEBRADA?

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