07.02.2017 Views

Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de cada uma das cenas por meio do roteiro, e que se irradia na temporalização<br />

dos planos, na sua decupagem primorosa.<br />

Se ele mantém o pé no bairro onde se criou, ele também frequenta a<br />

história do cinema. É nítido o rigor formal como trata cada detalhe que envolve<br />

as falas, os cantos, as vozes, os gestos e os olhares de cada um deles.<br />

Aprendeu com os grandes mestres da narrativa cinematográfica (clássica<br />

e moderna) como escutar, como observar, como enquadrar, como montar.<br />

Tornou-se narrador capaz de traduzir ao seu modo cada um dos instantes<br />

ali vividos e partilhados pelo grupo.<br />

Política das imagens<br />

Algo da política desse cinema feito em Contagem encontra ressonância<br />

naquilo que Jacques Rancière descreve nos filmes do cineasta português<br />

Pedro Costa. Lá e aqui a política do cinema não se restringe ao fato de o<br />

cineasta se dirigir aos pobres, nem ao fato de inscrever a vida dos miseráveis<br />

dentro de uma paisagem capitalista contemporânea da qual estão<br />

expropriados. O que está em jogo tampouco é uma evocação de outro futuro<br />

mais justo para o coletivo filmado ou a possibilidade de lançar mão<br />

formalmente da precariedade das vidas filmadas para transformá-las em<br />

objetos artísticos. Após descartar essas várias acepções interpretativas do<br />

político, Rancière volta a indagar: “que política é essa que toma como seu<br />

dever registrar, durante meses e meses, os gestos e as palavras que refletem<br />

a miséria de um mundo?” 1<br />

O cineasta não estaria ali apenas para fazer um novo filme mas para<br />

“ver viver os seus habitantes”, “ouvir-lhes a palavra”, “apreender-lhes o<br />

segredo”. O fundamento, o princípio desse cinema político está dado, portanto,<br />

na relação, na diferença. O gesto de filmar não se justifica dentro<br />

de uma lógica que apresente uma finalidade qual seja a necessidade de<br />

1 Jacques Rancière, “Política de Pedro Costa,” in Os filmes de Pedro Costa (Lisboa:<br />

Orfeu Negro, 2009), 55.<br />

O SALTO DO TIGRE – UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO AO FILME A VIZINHANÇA DO TIGRE DE AFFONSO UCHOA 121

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!