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Volume 6 - Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais - Via: Ed. Alápis

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

Em Quebrada? Cinema, vídeo e lutas sociais, 6° volume da coleção CINUSP, pesquisadores e realizadores de diversas regiões do Brasil colocam suas inquietações sobre atores sociais emergentes, cujo lugar na historiografia do cinema brasileiro ainda é uma incógnita, apesar da calorosa discussão e presença laureada em festivais de cinema nacional e internacional.

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vista de um morador da quebrada sobre os personagens do outro lado. Na<br />

escola de direito, na universidade pública, o estudante preto convive com<br />

o filhinho de papai – o playboy branco – viciado que o confunde com um<br />

traficante. O preto esforçado, talvez personagem premonitório, é o orador<br />

da turma. O funcionário da Light solitário acaba encontrando a solidariedade<br />

dos moradores do morro na véspera do Natal. Há ironia nas pequenas<br />

crônicas, que não buscam potência estética nem a atitude programática dos<br />

filmes dos anos 1960. O ponto de vista especifica o interesse desses curtas<br />

que no entanto não se estabelecem esteticamente – será isso um problema?<br />

Branco sai, preto fica se coloca de maneira diferente nessa vertente<br />

temática. O filme insiste em trazer à tona um caso aberrante de violação<br />

de direitos. Há reivindicação de reparação na rememoração e na denúncia.<br />

Os personagens dispensam sentimentos de pena, pois suas trajetórias são<br />

de superação, mesmo nos espaços de Ceilândia, exibidos de maneira a salientar<br />

sua potência.<br />

Não há entrevistas no documentário. Não há câmera na mão ou imagem<br />

tremida, linguagem que se tornou clichê nessa vertente da filmografia<br />

contemporânea. Os planos são longos e estáveis. A duração é parte do jogo:<br />

a locomoção difícil de um cadeirante, que manteve sua capacidade de se<br />

transportar sozinho graças a equipamentos especiais que não destoam do<br />

local. São equipamentos que parecem construídos por inteligências de lá.<br />

O filme é econômico em personagens e dispensa suas interações domésticas.<br />

Markim, o homem da sequência inicial, aparece sempre sozinho,<br />

seja em sua casa, na varanda ou no porão, seja em trânsito, dirigindo seu<br />

carro especial ou entrando em casa no elevador panorâmico. Shockito, seu<br />

companheiro de infortúnio, perdeu uma perna do joelho para baixo e anda<br />

graças a uma prótese. Shockito vive com uma mulher, cuja presença é sinalizada<br />

somente pela voz.<br />

Muitos dos filmes de ficção na filmografia sobre favelas flertam com<br />

o documentário, tendo no registro documental uma espécie de âncora que<br />

garante a verossimilhança da narrativa. O filme de Adirley Queirós inverte<br />

esse registro, documentário que se quer ficção. Aqui, a ficção enfatiza<br />

o peso do absurdo, ao mesmo tempo que expressa a possibilidade da<br />

O CINEMA IMAGINATIVO DE ADIRLEY QUEIRÓS 113

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