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Fevereiro 2017

Edição nº 216 - Fevereiro 2017

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8 Lusitano<br />

ENTREVISTA<br />

continuação da página anterior<br />

na o que crês e vive o que ensinas.”<br />

Esta é a verdadeira missão<br />

do diácono. É nisto que ele tem<br />

que se concentrar e esforçar<br />

por viver. É esta a responsabilidade<br />

de que falo.<br />

Lusitano de Zurique — A tua ordenação<br />

na Suíça foi algo novo<br />

no seio das comunidades. Esta<br />

prática uma cultura religiosa<br />

especifica. Também vais manter<br />

esta cultura religiosa ou<br />

vais abraçar outras ideias?<br />

PC — Enquanto diácono estou<br />

incardinado na diocese de Braga.<br />

No dia da minha ordenação<br />

prometi ao meu Bispo e aos<br />

seus sucessores reverência e<br />

obediência. Isto significa que<br />

eu estarei onde ele precisar e<br />

onde ele me pedir para estar.<br />

Neste momento sinto-me bem<br />

com a comunidade portuguesa<br />

e espero ficar por cá muitos<br />

mais anos, dando continuidade<br />

ao trabalho que temos feito nos<br />

últimos anos. Mas o futuro a<br />

Deus pertence.<br />

Lusitano de Zurique — O teu<br />

trabalho enquanto diácono<br />

será só direccionado para a comunidade<br />

portuguesa ou para<br />

os católicos em geral?<br />

PC — Na ordenação o diácono<br />

assume um compromisso:<br />

de estar ao serviço do povo de<br />

Deus. Isto quer dizer que ele<br />

não está ao serviço de quem ele<br />

quer, mas de quem dele precisa.<br />

Claro que todos os membros do<br />

clero têm ao seu cuidado uma<br />

ou várias comunidades nas dioceses<br />

onde estão incardinados<br />

ou não. No meu caso, o Dom<br />

Jorge nomeou-me para a comunidade<br />

portuguesa de Zurique.<br />

Lusitano de Zurique — Quais as<br />

suas expectativas e preocupações<br />

como diácono?<br />

PC — Em relação à minha nova<br />

missão eu espero ser capaz de a<br />

cumprir fazendo o meu melhor,<br />

dando às pessoas tudo aquilo<br />

que precisarem.<br />

Enquanto diácono preocupa-<br />

-me aquilo que já antes me<br />

preocupava. Estamos numa<br />

sociedade muito diferente daquela<br />

que existia há 30 ou 40<br />

anos atrás. Seria bom que a<br />

Igreja acompanhasse mais esta<br />

mudança. E para isso basta<br />

uma coisa muito simples: que<br />

seja misericordiosa. Vivemos<br />

no ano 2016 o ano da Misericórdia.<br />

O papa Francisco, nos<br />

seus gestos, tem relevado esta<br />

misericórdia. Ao sermos misericordiosos<br />

estamos a seguir o<br />

exemplo de Jesus Cristo. Ninguém<br />

é dono ou senhor da verdade.<br />

A Igreja estará no bom<br />

caminho quando for um local<br />

onde as pessoas se sintam acolhidas<br />

sem julgamentos apesar<br />

dos erros que cometam. Não<br />

estou a dizer que não o seja.<br />

Tem que ser mais.<br />

NUNCA ABDIQUEM NEM SE<br />

Lusitano de Zurique — Tu vives<br />

em Zurique há já alguns anos<br />

tendo por isso um conhecimento<br />

dos valores da nossa comunidade.<br />

O que gostarias de desenvolver<br />

para melhorar a vida<br />

sociocultural da comunidade?<br />

PC — Este é um tema que não<br />

está directamente relacionado<br />

com o meu trabalho cá. Mas<br />

em todo o caso tenho, como é<br />

óbvio, uma opinião. As várias<br />

associações que por cá existem<br />

têm feito um excelente trabalho<br />

na transmissão e vivência<br />

da nossa cultura. Infelizmente<br />

há ainda sectores culturais que<br />

são pouco queridos e apreciados<br />

por nós. Para ultrapassar<br />

estas dificuldades seria bom<br />

que as várias associações trabalhassem<br />

em conjunto de forma<br />

a promover a nossa cultura<br />

no seu todo. Não pode haver<br />

rivalidades. Já se diz em bom<br />

português não se pode “dividir<br />

para reinar”.<br />

Da minha parte e da parte da<br />

Missão Católica estamos sempre<br />

disponíveis para promover<br />

projectos de integração bem<br />

como projetos de promoção da<br />

nossa cultura, seja de que âmbito<br />

for.<br />

ENVERGONHEM DE SER AQUILO<br />

QUE SÃO. SOMOS E SEREMOS<br />

SEMPRE PORTUGUESES. LUTEM<br />

PELOS SEUS SONHOS… E SEJAM<br />

FELIZES!<br />

Lusitano de Zurique —. Tendo<br />

tu tomado a decisão de abraçar<br />

a diaconia, és certamente<br />

da opinião que a Igreja deveria<br />

acabar com o celibato?<br />

PC — Não necessariamente.<br />

São coisas diferentes. O celibato<br />

é um dos temas fracturantes<br />

dentro da Igreja. Um sacerdote<br />

que faz o voto de celibato, fá-lo<br />

porque entende que tem que<br />

estar ao serviço do povo de<br />

Deus a 100%. Enquanto casado,<br />

um sacerdote nunca poderia estar<br />

a 100% ao serviço da comunidade<br />

e ao mesmo tempo disponível<br />

para a família. Ora, para<br />

Igreja a família é muito importante,<br />

daí entender que não se<br />

consegue estar comprometido<br />

com as duas partes ao mesmo<br />

tempo.<br />

Aqueles que defendem a abolição<br />

deste voto, que existiu<br />

sem limitações na Igreja até<br />

ao século XIII, entendem que é<br />

possível conciliar a vida familiar<br />

com a vocação de sacerdote.<br />

E dão como exemplo os pastores<br />

das igrejas Reformadas e<br />

Orientais.<br />

Se algum dia for abolido este<br />

voto, a mim não me escandalizará.<br />

Mas antes disso há ainda<br />

um grande caminho pela frente.<br />

Lusitano de Zurique — O Papa<br />

Francisco tem tido um pontificado<br />

tido por alguns como<br />

exemplar e corajoso mostrando,<br />

por exemplo, uma abertura<br />

aos divorciados e recasados e<br />

afirmando, entre outras coisas,<br />

que nos padrões actuais o natal<br />

é uma “falsidade”. Pessoalmente<br />

e globalmente que leitura<br />

fazes do seu pontificado?<br />

PC — O papa Francisco foi uma<br />

lufada de ar fresco na Igreja. Ele<br />

é a prova de que a idade não é<br />

sinónimo de conservadorismo.<br />

Mas o que mais me marcou e<br />

marca é a sua simplicidade. O<br />

papa Francisco não é um homem<br />

de muitas e/ou sábias palavras.<br />

É um homem de gestos,<br />

de ação. Ele tem posto o dedo<br />

na ferida. E nós sabemos que há<br />

verdades que doem mais que<br />

determinadas mentiras… É isso<br />

que o torna muito diferente dos<br />

seus antecessores e o seu nome<br />

ficará para sempre nas nossas<br />

memórias. Se tivesse que lhe<br />

dar um cognome seria “Francisco,<br />

o misericordioso”.<br />

Espero que Deus lhe dê forças<br />

para levar avante a sua missão<br />

que não é fácil. Mas eu acredito<br />

que ele vai ainda ser capaz<br />

de fazer grandes mudanças, ou<br />

pelo menos iniciar essas mudanças.<br />

Lusitano de Zurique — Qual a<br />

mensagem que gostarias de<br />

deixar à nossa comunidade?<br />

PC — Que nunca abdiquem<br />

nem se envergonhem de ser<br />

aquilo que são. Somos e seremos<br />

sempre portugueses. Lutem<br />

pelos seus sonhos… e sejam<br />

felizes<br />

n

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