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8 Lusitano<br />
ENTREVISTA<br />
continuação da página anterior<br />
na o que crês e vive o que ensinas.”<br />
Esta é a verdadeira missão<br />
do diácono. É nisto que ele tem<br />
que se concentrar e esforçar<br />
por viver. É esta a responsabilidade<br />
de que falo.<br />
Lusitano de Zurique — A tua ordenação<br />
na Suíça foi algo novo<br />
no seio das comunidades. Esta<br />
prática uma cultura religiosa<br />
especifica. Também vais manter<br />
esta cultura religiosa ou<br />
vais abraçar outras ideias?<br />
PC — Enquanto diácono estou<br />
incardinado na diocese de Braga.<br />
No dia da minha ordenação<br />
prometi ao meu Bispo e aos<br />
seus sucessores reverência e<br />
obediência. Isto significa que<br />
eu estarei onde ele precisar e<br />
onde ele me pedir para estar.<br />
Neste momento sinto-me bem<br />
com a comunidade portuguesa<br />
e espero ficar por cá muitos<br />
mais anos, dando continuidade<br />
ao trabalho que temos feito nos<br />
últimos anos. Mas o futuro a<br />
Deus pertence.<br />
Lusitano de Zurique — O teu<br />
trabalho enquanto diácono<br />
será só direccionado para a comunidade<br />
portuguesa ou para<br />
os católicos em geral?<br />
PC — Na ordenação o diácono<br />
assume um compromisso:<br />
de estar ao serviço do povo de<br />
Deus. Isto quer dizer que ele<br />
não está ao serviço de quem ele<br />
quer, mas de quem dele precisa.<br />
Claro que todos os membros do<br />
clero têm ao seu cuidado uma<br />
ou várias comunidades nas dioceses<br />
onde estão incardinados<br />
ou não. No meu caso, o Dom<br />
Jorge nomeou-me para a comunidade<br />
portuguesa de Zurique.<br />
Lusitano de Zurique — Quais as<br />
suas expectativas e preocupações<br />
como diácono?<br />
PC — Em relação à minha nova<br />
missão eu espero ser capaz de a<br />
cumprir fazendo o meu melhor,<br />
dando às pessoas tudo aquilo<br />
que precisarem.<br />
Enquanto diácono preocupa-<br />
-me aquilo que já antes me<br />
preocupava. Estamos numa<br />
sociedade muito diferente daquela<br />
que existia há 30 ou 40<br />
anos atrás. Seria bom que a<br />
Igreja acompanhasse mais esta<br />
mudança. E para isso basta<br />
uma coisa muito simples: que<br />
seja misericordiosa. Vivemos<br />
no ano 2016 o ano da Misericórdia.<br />
O papa Francisco, nos<br />
seus gestos, tem relevado esta<br />
misericórdia. Ao sermos misericordiosos<br />
estamos a seguir o<br />
exemplo de Jesus Cristo. Ninguém<br />
é dono ou senhor da verdade.<br />
A Igreja estará no bom<br />
caminho quando for um local<br />
onde as pessoas se sintam acolhidas<br />
sem julgamentos apesar<br />
dos erros que cometam. Não<br />
estou a dizer que não o seja.<br />
Tem que ser mais.<br />
NUNCA ABDIQUEM NEM SE<br />
Lusitano de Zurique — Tu vives<br />
em Zurique há já alguns anos<br />
tendo por isso um conhecimento<br />
dos valores da nossa comunidade.<br />
O que gostarias de desenvolver<br />
para melhorar a vida<br />
sociocultural da comunidade?<br />
PC — Este é um tema que não<br />
está directamente relacionado<br />
com o meu trabalho cá. Mas<br />
em todo o caso tenho, como é<br />
óbvio, uma opinião. As várias<br />
associações que por cá existem<br />
têm feito um excelente trabalho<br />
na transmissão e vivência<br />
da nossa cultura. Infelizmente<br />
há ainda sectores culturais que<br />
são pouco queridos e apreciados<br />
por nós. Para ultrapassar<br />
estas dificuldades seria bom<br />
que as várias associações trabalhassem<br />
em conjunto de forma<br />
a promover a nossa cultura<br />
no seu todo. Não pode haver<br />
rivalidades. Já se diz em bom<br />
português não se pode “dividir<br />
para reinar”.<br />
Da minha parte e da parte da<br />
Missão Católica estamos sempre<br />
disponíveis para promover<br />
projectos de integração bem<br />
como projetos de promoção da<br />
nossa cultura, seja de que âmbito<br />
for.<br />
ENVERGONHEM DE SER AQUILO<br />
QUE SÃO. SOMOS E SEREMOS<br />
SEMPRE PORTUGUESES. LUTEM<br />
PELOS SEUS SONHOS… E SEJAM<br />
FELIZES!<br />
Lusitano de Zurique —. Tendo<br />
tu tomado a decisão de abraçar<br />
a diaconia, és certamente<br />
da opinião que a Igreja deveria<br />
acabar com o celibato?<br />
PC — Não necessariamente.<br />
São coisas diferentes. O celibato<br />
é um dos temas fracturantes<br />
dentro da Igreja. Um sacerdote<br />
que faz o voto de celibato, fá-lo<br />
porque entende que tem que<br />
estar ao serviço do povo de<br />
Deus a 100%. Enquanto casado,<br />
um sacerdote nunca poderia estar<br />
a 100% ao serviço da comunidade<br />
e ao mesmo tempo disponível<br />
para a família. Ora, para<br />
Igreja a família é muito importante,<br />
daí entender que não se<br />
consegue estar comprometido<br />
com as duas partes ao mesmo<br />
tempo.<br />
Aqueles que defendem a abolição<br />
deste voto, que existiu<br />
sem limitações na Igreja até<br />
ao século XIII, entendem que é<br />
possível conciliar a vida familiar<br />
com a vocação de sacerdote.<br />
E dão como exemplo os pastores<br />
das igrejas Reformadas e<br />
Orientais.<br />
Se algum dia for abolido este<br />
voto, a mim não me escandalizará.<br />
Mas antes disso há ainda<br />
um grande caminho pela frente.<br />
Lusitano de Zurique — O Papa<br />
Francisco tem tido um pontificado<br />
tido por alguns como<br />
exemplar e corajoso mostrando,<br />
por exemplo, uma abertura<br />
aos divorciados e recasados e<br />
afirmando, entre outras coisas,<br />
que nos padrões actuais o natal<br />
é uma “falsidade”. Pessoalmente<br />
e globalmente que leitura<br />
fazes do seu pontificado?<br />
PC — O papa Francisco foi uma<br />
lufada de ar fresco na Igreja. Ele<br />
é a prova de que a idade não é<br />
sinónimo de conservadorismo.<br />
Mas o que mais me marcou e<br />
marca é a sua simplicidade. O<br />
papa Francisco não é um homem<br />
de muitas e/ou sábias palavras.<br />
É um homem de gestos,<br />
de ação. Ele tem posto o dedo<br />
na ferida. E nós sabemos que há<br />
verdades que doem mais que<br />
determinadas mentiras… É isso<br />
que o torna muito diferente dos<br />
seus antecessores e o seu nome<br />
ficará para sempre nas nossas<br />
memórias. Se tivesse que lhe<br />
dar um cognome seria “Francisco,<br />
o misericordioso”.<br />
Espero que Deus lhe dê forças<br />
para levar avante a sua missão<br />
que não é fácil. Mas eu acredito<br />
que ele vai ainda ser capaz<br />
de fazer grandes mudanças, ou<br />
pelo menos iniciar essas mudanças.<br />
Lusitano de Zurique — Qual a<br />
mensagem que gostarias de<br />
deixar à nossa comunidade?<br />
PC — Que nunca abdiquem<br />
nem se envergonhem de ser<br />
aquilo que são. Somos e seremos<br />
sempre portugueses. Lutem<br />
pelos seus sonhos… e sejam<br />
felizes<br />
n