Revista LiteraLivre
Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />
Rio Doce<br />
Marcos Santiago<br />
Governador Valadares/MG<br />
Permita-me apresentar:<br />
Chamo-me Rio Doce, ou melhor, os outros é que assim me chamam.<br />
Não sei se há algo de doce em mim, senão a várzea que enamoro.<br />
Nasci no aconchego montanhoso de Minas Gerais, no encontro entre Do Carmo e<br />
Piranga.<br />
Como menino inquieto, rompi a terra rumo ao Atlântico, iluminado pelo Espírito<br />
Santo.<br />
Mato a sede de muita gente, de cidade em cidade. Essa é minha sina, e doravante<br />
arrisco rima, sou de dar alegria pra quem é de amizade.<br />
Mas já me excedi, peço desculpas. É que o ressentimento me transbordou. Note<br />
que o tom amarronzado pode ser claustrofobia. Às vezes tenho saudades do<br />
tempo em que me espreguiçava pelas margens que hoje me sufocam (noite e dia).<br />
Ando meio esgotado, se é que me entende. Carente de atenção dessa gente, que<br />
culpada ou inocente, faz minha alma assorear.<br />
Trafego magro e melancólico, sem o reflexo cristalino de outrora. Até os peixes me<br />
deixaram como se em triste degola. Mas para os amigos, não vou lamuriar, ainda<br />
me resta - o resto - da mata ciliar.<br />
Aos pés do Pico da Ibituruna sigo corrente, pelo caminho que bravamente construí.<br />
Guardo comigo os feitos de desbravadores que navegaram por aqui. E quando a<br />
chuva vem, minha rima melhora, minha cabeceira se alegra e me deleito como<br />
outrora.<br />
Ainda vivo e vou cantando pelas terras que beijei. Se sou doce, isso já não sei.<br />
Sei é que sou líquido da vida – tomara que bem vivida - na torneira dos que ouvem<br />
minha estória. E se ainda rego o sorriso de uma criança, isso me basta como<br />
memória.<br />
84