Revista LiteraLivre
Revista Literária que une textos de autores do Brasil e do mundo com textos de todos os estilos escritos em Língua Portuguesa. Acesse nosso site e participe também: http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 1<br />
impressão que havia passado. Ficou esperando. Esqueceu os poemas de Pessoa. Na<br />
sua cabeça só havia espaço para aquela divindade que nem conhecia ainda.<br />
A noite chegou. Vicente ficou esperando. Não sentia frio, não sentia fome. Estava<br />
amando. O tempo foi passando e a ansiedade crescendo. Ela haveria de sair, para<br />
guardar o carro ou para ir embora. Afinal havia entrado na casa da tia somente com a<br />
roupa do corpo. E que roupa! Um vestido curto, tecido macio que realçava coxas, peitos e<br />
bumbum. Ela teria que voltar. Mesmo que o carro fosse passar a noite na rua, teria que<br />
pegar alguma coisa nele. Talvez uma escova de dente, roupa de dormir. Ele ia esperar o<br />
tempo que fosse preciso.<br />
E esperou. Sofreu. Já eram quase vinte e duas horas, quando a porta da casa em<br />
frente se abriu. Dela saiu a morena. Para Vicente, ainda mais linda do que havia entrado,<br />
apesar de estar com a mesma roupa, os mesmos cabelos soltos, o mesmo sorriso. Ele<br />
levantou-se da cadeira. Ia falar. Precisava falar, tinha que procurar alguma conversa. Mais<br />
uma vez, nada saiu. Estava travado, não conseguiu abrir a boca. Ela olhou para ele,<br />
balançou a cabeça de modo afirmativo, cumprimento típico de alguém que quer ser<br />
simpático com um desconhecido qualquer, abriu a porta do carro, pegou uma maleta<br />
vermelha, fechou o carro, atravessou a rua e entrou na casa da tia.<br />
Mesmo sabendo que a moça não sairia mais naquela noite, Vicente sentou e ficou<br />
ali por mais um tempo. Olhava para o carro e imaginava dentro dele com a sua dona. Já<br />
estava apaixonado até pelo carro dela. Não pela marca ou modelo, mesmo porque na sua<br />
garagem havia um muito mais caro e mais confortável. Era pelo fato de ser dela.<br />
Finalmente, Vicente entrou. Precisava tomar banho, comer alguma coisa. Foi até a<br />
cozinha e encontrou uma garrafa de vinho. Há tempo não bebia, mas naquela noite<br />
precisava beber. Abriu a garrafa e bebeu no gargalho, quase metade do vinho. Sentiu<br />
tontura e alegria. Foi até o banheiro, ficou um tempo embaixo do chuveiro, nem se lavou<br />
direito, pois se sentia como um adolescente apaixonado. Enquanto enxugava, olhou no<br />
espelho embaçado. Viu outro homem, alguém que não conhecia, mas gostou.<br />
Não conseguiu dormir. Aquela mulher estava ali o tempo todo. Nunca vira noite tão<br />
grande. Levantou às quatro da manhã. Tinha medo de a moça ir embora muito cedo, se<br />
isso acontecesse, ele poderia não vê-la nunca mais. Não poderia correr esse risco. Às<br />
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