Revista Suinocultura Industrial
Suinocultura Industrial aborda temas como manejo, produção, nutrição, genética, equipamentos, unidades de pesquisa, sanidade e muitos outros relacionados ao setor. Seus leitores são em sua maioria: produtores, empresários, técnicos, pesquisadores envolvidos com o setor, médicos veterinários, sanitaristas, zootecnistas e estudantes.
Suinocultura Industrial aborda temas como manejo, produção, nutrição, genética, equipamentos, unidades de pesquisa, sanidade e muitos outros relacionados ao setor.
Seus leitores são em sua maioria: produtores, empresários, técnicos, pesquisadores envolvidos com o setor, médicos veterinários, sanitaristas, zootecnistas e estudantes.
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Granulometria de<br />
milho para suínos<br />
De extrema importância, a granulometria<br />
tem impacto direto sobre o rendimento<br />
da moagem, afetando a produtividade<br />
das fábricas de ração e o consumo<br />
de energia. Também, tem efeito<br />
sobre a digestibilidade dos suínos<br />
em crescimento e terminação.<br />
Entrevista<br />
Augusto Togni, gerente Adjunto da Unidade de<br />
Agronegócio do Sebrae Nacional, fala sobre a<br />
atuação da entidade no setor agropecuário e<br />
destaca o trabalho desenvolvido em cadeias<br />
produtivas como a da carne suína.
Editorial<br />
SI 272<br />
Guia Gessulli chega<br />
como encarte<br />
O Guia Gessulli da Avicultura e <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> é a mais tradicional ferramenta<br />
de busca por informações de empresas, produtos e serviços. Nesse ano,<br />
vem com uma grande novidade. Toda a parte do guia será um encarte especial,<br />
que acompanhará a edição. Aliado ao conteúdo completo de <strong>Suinocultura</strong><br />
<strong>Industrial</strong>, o leitor terá a sua disposição um sistema de fácil consulta, que o ajudará<br />
a encontrar o que for preciso para potencializar o seu negócio.<br />
O foco central da elaboração desse encarte é migrar futuramente o Guia Gessulli<br />
para um formato totalmente digital. Hoje, o guia já dispõe de um site que facilita<br />
a consulta pelos usuários, sendo inclusive responsivo para smartphones e tablets.<br />
Com a internet cada vez mais presente na vida das pessoas, o objetivo<br />
é buscar uma interatividade ainda maior por meio do desenvolvimento de um<br />
aplicativo específico de busca. Essa futura ferramenta permitirá que produtores,<br />
técnicos, empresários e outros profissionais do setor tenham sempre<br />
em mãos as melhores opções de empresas, produtos e serviços, encontrando<br />
com facilidade o que procuram.<br />
O crescente uso de aplicativos no campo é inclusive tema de matéria especial<br />
dessa edição. Com a popularização dos smartphones, começam a surgir diversas<br />
opções voltadas ao uso específico na avicultura e na suinocultura. A adoção<br />
dos aplicativos é um caminho sem volta, que contribui decisivamente para a<br />
melhoria da produtividade e da eficiência dentro dos sistemas produtivos.<br />
Na área de processamento de carnes, a revista traz um artigo explicando os<br />
conceitos da nanotecnologia. Essa tecnologia inovadora tem sido utilizada em<br />
diversas áreas da atividade humana, tornando-se cada vez mais importante para<br />
indústrias, como a de alimentação animal. O leitor também vai encontrar no conteúdo<br />
dessa revista uma matéria especial destacando os diferenciais produtivos<br />
da Ianni Agropecuária, sediada no município de Itu (SP). Responsável por produzir<br />
a própria ração, mantendo um alto controle de qualidade, a propriedade<br />
tem como um dos destaques a sua creche totalmente automatizada.<br />
Fundador: Oswaldo Gessulli (1921-1999)<br />
Diretores: Andrea Gessulli e Ricardo Gessulli<br />
Boa leitura a todos!<br />
Os editores<br />
Índice ›<br />
16 Estudos da Embrapa<br />
A granulometria do milho é de extrema importância,<br />
com efeitos diretos sobre o rendimento da moagem dos<br />
moinhos, afetando a produtividade das fábricas de ração.<br />
E, em decorrência, tem efeito sobre o consumo de<br />
energia elétrica. Uma granulometria menor reduz a produtividade<br />
na fábrica e aumenta o consumo de energia.<br />
28 Tecnologia em<br />
alimentos<br />
A nanotecnologia tem sido utilizada amplamente nas áreas<br />
de cosméticos, fármacos e na medicina como potencial<br />
revolucionário em diagnósticos, novas drogas e novas<br />
formas de liberação, assim como no desenvolvimento de<br />
vacinas e na engenharia de tecidos. Nos últimos anos vem<br />
se tornando cada vez mais importante na área de alimentação<br />
humana e animal.<br />
52 Nutrição<br />
O uso de enzimas exógenas e peletização aumentam a<br />
digestibilidade da dieta em suínos na fase pré-inicial.<br />
Estudo buscou verificar o efeito da peletização e da inclusão<br />
de uma mistura de enzimas na dieta de suínos na<br />
fase pré-inicial de produção. Foram utilizados 24 suínos<br />
machos, castrados, com idade média de 35 dias.<br />
Redação: Humberto Luis Marques. Site: Fernanda Oliva. Editoração: Diego Veloso Barbosa. Tráfego<br />
e Circulação: Leila Carla Xavier. Comercial: Anderson Silva (executivo de negócios). Adriana Maciel,<br />
Evelyn Pelissari Corrêa, Guilherme Ferrari e Jéssica Gomes (assistentes comerciais). Relações Internacionais:<br />
Camila Bezerra (Europa), Glaucio Amaral (Ásia), Joice Miotto Gaiotto (EUA e América<br />
Latina). Financeiro: Luma Ferreira Brisson de Souza e Jacqueline Saraiva.<br />
Administração, Assinaturas, Comercial e Redação:<br />
Av. Antonio Gazzola, 1001, 8º andar, Jardim Corazza, Itu (SP), Cep 13301-916.<br />
Tel.: (11) 2118-3133/ (11) 4013-1277.<br />
E-mail: gessulli@gessulli.com.br<br />
Internet: www.suinoculturaindustrial.com.br<br />
<strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> é uma publicação dirigida a produtores, empresários, técnicos e pesquisadores ligados à produção e industrialização de carne suína no Brasil e América Latina. Os<br />
artigos assinados não expressam necessariamente a opinião da revista. Não é permitida a reprodução parcial ou total das reportagens e artigos publicados sem a autorização por escrito dos<br />
editores. Registrada no Regime especial DRT-1 n 011391/90.
Agenda 2016<br />
Outubro<br />
4º Simpósio da Ciência do Agronegócio<br />
Data: 06 e 07 de outubro<br />
Local: Porto Alegre (RS)<br />
Realização: UFRGS<br />
Tel.: (51) 3308-6001<br />
Site: www.ufrgs.br/cepan<br />
IX Simpósio Paranaense de Pós-colheita de Grãos<br />
Data: 19 a 21 de outubro<br />
Local: Campo Mourão (PR)<br />
Realização: Abrapos<br />
Tel.: (43) 3345-3079<br />
Site: www.abrapos.org.br<br />
E-mail: abrapos@fbeventos.com<br />
Novembro<br />
30ª Reunião Anual do CBNA<br />
Congresso sobre Nutrição de Aves<br />
e Suínos - Micotoxinas<br />
Data: 08 a 10 de novembro<br />
Local: Instituto Agronômico - Campinas (SP)<br />
Realização: CBNA<br />
Tel.: (19) 3232-7518<br />
Site: www.cbna.com.br<br />
E-mail: cbna@cbna.com.br<br />
Eurotier 2016<br />
Data: 15 a 18 de novembro<br />
Local: Hanover - Alemanha<br />
Realização: DLG<br />
Tel.: +49 (0) 69 24 788-0<br />
Site: www.eurotier.com<br />
E-mail: expo@dlg.org<br />
Avisulat 2016<br />
Data: 22 a 24 de novembro<br />
Local: Centro de Eventos FIERGS - Porto Alegre (RS)<br />
Realização: Asgav, SIPS, Sindilat/RS<br />
Tel.: (51) 3228-8844<br />
Site: www.avisulat.com.br<br />
E-mail: comercial@avisulat.com.br<br />
20ª Rodada Goiana de Tecnologia em Manejo<br />
de Suínos<br />
Data: 24 e 25 de novembro<br />
Local: Auditório França Gontijo - Goiânia (GO)<br />
Realização: AGS<br />
Tel.: (62) 3203-1666<br />
Site: www.ags.com.br<br />
E-mail: ags@ags.com.br<br />
2º Simpósio Baiano de Produção Animal (SBPA)<br />
Data: 25 de novembro<br />
Local: Itapetinga (BA)<br />
Realização: UESB<br />
Tel.: (77) 3261-8450<br />
Site: www.zootecniaativa.com/sbpa<br />
E-mail: sbpa@zootecniaativa.com<br />
Dezembro<br />
II Encontro Nacional da Agroindústria<br />
Data: 05 a 08 de dezembro<br />
Local: Bananeiras (PB)<br />
Realização: UFPB<br />
Site: www.iienag2016.wixsite.com/enag<br />
Encontro Nacional da Cultura do Milho<br />
Data: 15 e 16 de dezembro<br />
Local: Uberlândia (MG)<br />
Realização: Universidade Federal<br />
de Uberlândia (UFU)<br />
Tel.: (34) 3239-4411<br />
Site: www.fealq.org.br<br />
Fevereiro<br />
Show Rural Coopavel<br />
Data: 06 a 10 de fevereiro<br />
Local: Cascavel (PR)<br />
Realização: Coopavel<br />
Tel.: (45) 3225-6885<br />
Site: www.showrural.com.br<br />
Fale com a redação<br />
Críticas, sugestões de assunto, discussões sobre as reportagens<br />
ou envio de material para publicação, entre em contato<br />
conosco pelo e-mail: redacao@gessulli.com.br<br />
É você colaborando com a difusão da informação ao seu setor!<br />
Os editores se reservam ao direito de condensar e editar os<br />
e-mails para adaptá-los à linguagem e espaço da revista.<br />
4 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Nossa História<br />
São Paulo • Brasil • Março 1982 - Número 41 - Ano 5<br />
A influência do Clima na<br />
Agropecuária<br />
Pesquisas de 1982 e ferramentas modernas atuais convergem<br />
para soluções tecnológicas de produção.<br />
Oclima é discussão em todas as vertentes da<br />
agropecuária e, desde os primórdios, realizam-se<br />
experimentações a fim de considerar<br />
a temperatura ideal para determinadas<br />
atividades. Na suinocultura, por exemplo, os animais<br />
sofrem com demasiado calor ou demasiado frio; exigindo,<br />
assim, ambiente ideal que garanta maior qualidade<br />
de carcaça e conversão alimentar.<br />
Na revista <strong>Suinocultura</strong><br />
<strong>Industrial</strong> do mês de<br />
Março de 1982, o veterinário<br />
e zootecnista<br />
Alberto Neves Costa realizava<br />
pesquisa sobre a<br />
influência do clima nas<br />
fases de crescimento e<br />
de engorda dos suínos.<br />
Na época, os sistemas de climatização<br />
eram limitados e os resultados não poderiam<br />
ser diferentes: a eficiência, na produção de suínos,<br />
é severamente limitada pelas altas temperaturas,<br />
enquanto que no frio invernal, os animais apresentaram<br />
um aumento significativo no percentual de pernil, lombo<br />
e cortes magros na carcaça.<br />
Atualmente, com a evolução da automação das granjas<br />
suinícolas, soluções para controle de umidade e temperatura<br />
são itens considerados obrigatórios, bem como<br />
antecipar medidas para sanar emergências ambientais.<br />
Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e<br />
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), para realizar<br />
previsões num esforço para reduzir os impactos das<br />
mudanças climáticas sobre a agropecuária, anunciaram<br />
em setembro de 2016, o desenvolvimento de uma<br />
plataforma digital capaz de prever episódios de veranico<br />
– fenômeno caracterizado por alguns dias de seca<br />
durante a estação chuvosa – com até quatro semanas de<br />
antecedência. A ferramenta pode servir para auxiliar<br />
no planejamento de todas as atividades rurais.
Aprovação para<br />
venda de carne<br />
suína à Coreia do<br />
Sul deve ocorrer<br />
no início de 2017<br />
O ministro Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) considerou positivo o saldo da sua visita a Seul, na Coreia do Sul.<br />
Ele conseguiu do vice-ministro da Agricultura, Lee Jun-won, a promessa de que o processo para a aprovação da importação da carne<br />
suína de Santa Catarina seja concluído no início do próximo ano, quando técnicos do governo coreano deverão vir ao Brasil para uma<br />
série de visitas técnicas a frigoríficos. O mercado da Coreia do Sul é de 50 milhões de consumidores. As negociações para a entrada<br />
de carne suína brasileira no mercado coreano já se arrastam por uma década. O processo de liberação de importação de carne suína<br />
de Santa Catarina entrou na sétima fase, que é a aprovação pelo Congresso da Coreia do Sul.<br />
Crédito: Beto Barata/PR<br />
PIB do agronegócio avança<br />
2,45% no 1º semestre<br />
Visite o site | www.suinoculturaindustrial.com.br<br />
Mapa quer aumentar para<br />
10% a participação no<br />
mercado mundial<br />
Em palestra no Seminário Empresarial de Alto Nível Brasil-China,<br />
em Xangai, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,<br />
Blairo Maggi, afirmou que a agricultura brasileira tem<br />
capacidade de aumentar ainda mais sua participação no mercado<br />
mundial do agronegócio. “O complexo do agro é bastante<br />
diversificado no Brasil. Temos condições de atender a toda a<br />
população brasileira e as demandas mundiais”, garantiu o ministro.<br />
Maggi revelou que sua meta a frente do Ministério da<br />
Agricultura é aumentar a participação brasileira no mercado<br />
mundial de 6,9% para 10% em um prazo de cinco anos. Um dos<br />
objetivos é que o Brasil amplie o comércio com a China, o que<br />
foi discutido em encontro do presidente Michel Temer com o<br />
presidente chinês Xi Jinping durante viagem ao país.<br />
O Produto Interno Bruto do agronegócio brasileiro cresceu<br />
0,62% em junho e registrou alta de 2,45% no primeiro semestre<br />
deste ano, em comparação com o igual período de 2015,<br />
segundo dados da Confederação Nacional de Agricultura e<br />
Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados<br />
em Economia Aplicada (Cepea), divulgados no final de setembro.<br />
O crescimento semestral se deve principalmente à alta na<br />
cadeia produtiva da agricultura, que registrou avanço de 3,64%.<br />
Todos os setores do agronegócio tiveram avanços no primeiro<br />
semestre, mas o setor primário se destacou com expansão de<br />
3,05% atribuída à alta dos preços agrícolas, o que compensou<br />
a queda na produção, especialmente de soja e milho, afetada<br />
pela seca. Já o PIB da Agroindústria registrou alta de 2,28% no<br />
primeiro semestre de 2016 em comparação com o mesmo período<br />
de 2015, principalmente devido à indústria de processamento<br />
vegetal, que teve aumento de preços no semestre. Com<br />
informações da Reuters.<br />
6 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
7
FNDS alcança 36% do plantel<br />
de suínos no Brasil<br />
Abate de suínos chega a<br />
10,46 milhões de cabeças,<br />
o maior desde 1997<br />
O abate de suínos no país chegou a 10,46 milhões de cabeças,<br />
o maior desde 1997. O abate de frangos cresceu 6,5% no mesmo<br />
período. Essas e outras informações estão disponíveis nos<br />
resultados do 2º trimestre de 2016 das Pesquisas Trimestrais<br />
do Abate de Animais, do IBGE. No 2º trimestre de 2016, foram<br />
abatidas 10,46 milhões de cabeças de suínos, com alta de 3,9%<br />
em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 8% (770,93<br />
mil cabeças de suínos a mais) na comparação com o mesmo<br />
período de 2015. Trata-se do maior resultado desta pesquisa,<br />
iniciada em 1997. Santa Catarina continua liderando o abate<br />
de suínos, seguido por Rio Grande do Sul e Paraná. Houve aumento<br />
no abate de suínos em 19 das 25 UFs participantes da<br />
pesquisa. Os principais aumentos ocorreram em Santa Catarina<br />
(+189,29 mil cabeças), Rio Grande do Sul (+137,43 mil<br />
cabeças), Minas Gerais (+115,83 mil cabeças), Mato Grosso<br />
(+96,43 mil cabeças) e Paraná (+87,42 mil cabeças).<br />
Criado pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos<br />
(ABCS) no final de 2014 para garantir sustentabilidade e defender<br />
as ações de produção, indústria e comercialização, o<br />
Fundo Nacional de Desenvolvimento da <strong>Suinocultura</strong> (FNDS)<br />
já conta com mais de 579 mil matrizes – correspondente a<br />
36% do plantel de suínos do país. Os números divulgados pela<br />
associação indicam que a adesão de produtores ao Fundo<br />
alcançou quase todas as regiões do país, conforme infográfico<br />
abaixo. Os recursos arrecadados pelo FNDS também são<br />
convertidos em frentes de estímulo ao consumo da proteína –<br />
como exemplo, o lançamento do conceito Escolha + Carne<br />
Suína. A recente adesão do<br />
Grupo JBS, um dos líderes<br />
mundiais do ramo<br />
de alimentação, foi<br />
fator decisivo para<br />
o crescimento<br />
do Fundo. A empresa,<br />
representada<br />
pela marca Seara,<br />
acresce em cerca<br />
de 200 mil matrizes<br />
– coadjuvando<br />
no alcance da considerável marca de<br />
36% do plantel nacional de suínos.<br />
Visite o site | www.suinoculturaindustrial.com.br<br />
Embarques de carne suína in natura acumulam<br />
alta de 36,6% no ano<br />
De acordo com números levantados pela Associação Brasileira de Proteína Animal<br />
(ABPA), as exportações brasileiras de carne suína in natura seguem em forte alta<br />
neste ano. Em agosto foram embarcadas 57,5 mil toneladas, volume 36,6% superior<br />
ao registrado no mesmo período do ano passado. No acumulado<br />
entre janeiro e agosto de 2016 o setor registrou elevação de 41,4%, com<br />
411 mil toneladas. Com estes números, o setor obteve uma receita<br />
cambial de US$ 127 milhões em agosto, saldo 19,8% superior<br />
ao registrado no oitavo mês de 2015. No ano, a alta é de<br />
7,7%, com US$ 812,2 milhões alcançados nos oito primeiros<br />
meses de 2016. Já em reais, o resultado do setor chegou a<br />
R$ 407,5 milhões em agosto (+9,4%) e R$ 2,878 bilhões entre<br />
janeiro e agosto (+22,6%).<br />
8 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
9
Mudança de modelo econômico da China<br />
gera oportunidades de negócios no País<br />
Ao deixar de priorizar as exportações de manufaturas baratas para focar no imenso mercado<br />
doméstico, a China passou a apresentar crescimento bem mais modesto e tornou-se<br />
motivo de preocupação global. Depois de crescer a taxas superiores a 10% entre 2003 e<br />
2012, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês avançou somente 6,9% em 2015. O resultado, o pior<br />
desde 1990, colocou no radar os sérios problemas do país como, por exemplo, a distribuição<br />
desigual da renda. Porém, embora a economia chinesa esteja em franco processo de desaceleração,<br />
o mercado consumidor não para de aumentar, o que representa ótima oportunidade de negócios<br />
a quem souber traçar a estratégia correta e investir no país. Segundo informe elaborado pelo Credit Suisse,<br />
atualmente 109 milhões de pessoas compõem a classe média chinesa e têm uma renda entre US$ 50 mil e US$ 500 mil ao ano. A<br />
população do gigante asiático está em torno de 1,3 bilhão de habitantes. Apesar da ampla desigualdade social, a China possui hoje a<br />
maior classe média do mundo e encontra-se à frente dos Estados Unidos (92 milhões de pessoas) e Japão (62 milhões de pessoas).<br />
BRF investe US$ 16 milhões em processadora de alimentos<br />
da Malásia<br />
A BRF anunciou um novo investimento internacional, desta vez na Malásia, para expandir<br />
presença em mercados muçulmanos. A controladora BRF Foods deterá participação de 70%<br />
na processadora de alimentos da Malásia FFP - FFM Further Processing SDN BHD -, com um<br />
aporte de aproximadamente US$ 16 milhões. Os outros 30% ficarão com a FFM Berhad, que<br />
por sua vez é subsidiária da PPB Group Berhad, que atua no sudeste asiático nos segmentos<br />
de grãos, agribusiness e produtos de consumo. Em março, a companhia havia anunciado abertura de um escritório em Kuala Lumpur<br />
como plataforma para alcançar mercados consumidores muçulmanos. “A transação está em linha com a estratégia da BRF em expandir<br />
sua presença no sudeste asiático e seu contínuo comprometimento com os mercados muçulmanos”, afirma a empresa.<br />
Brasil negocia abertura do mercado de carnes com Myanmar<br />
Visite o site | www.suinoculturaindustrial.com.br<br />
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo<br />
Maggi, deixou a cidade de Yangon, capital de Myanmar, com<br />
a perspectiva de fechamento de acordos bilaterais. O ministro<br />
da Agricultura de Myanmar, Tun Win, disse que a visita de Maggi<br />
foi um grande avanço para a consolidação da parceria entre<br />
os dois países. Para ele, uma cooperação forte com o Brasil<br />
tem um significado importante do ponto de vista geopolítico,<br />
uma vez que pode fortalecer a posição de Myanmar em relação<br />
à China. De olho no mercado de 50 milhões de habitantes,<br />
o Brasil quer exportar carne e abrir as portas do país para<br />
empresas brasileiras instalarem frigoríficos de carnes bovina,<br />
suína e aves para vender no mercado interno de Myanmar ou<br />
mesmo exportar, como já ocorre na Tailândia, Coreia, Emirados<br />
Árabes e China.<br />
10 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Safeeds amplia<br />
participação internacional<br />
A Safeeds iniciou<br />
a comercialização<br />
de seus produtos<br />
para outros países.<br />
Especializada em<br />
aditivos alternativos<br />
e seguros para<br />
nutrição animal, a empresa já exporta para países da<br />
América Latina. Nos próximos anos, a empresa pretende<br />
ampliar as exportações para além das Américas. O<br />
processo de internacionalização da empresa vem de<br />
encontro com os investimentos em pesquisa realizados<br />
para aprimorar os seus produtos e diferenciá-los no<br />
segmento de produção animal livre de antibióticos Para<br />
competir comercialmente em outros países, a empresa<br />
realiza rigorosos testes e validações que garantem a eficácia<br />
de seus produtos nas mais diversas condições de<br />
aplicação. O projeto de internacionalização da Safeeds<br />
também conta com a seleção de agentes e distribuidores<br />
internacionais capacitados para atendimento técnico<br />
especializado nos diferentes mercados de atuação.<br />
Starrett lança linha de facas<br />
para frigoríficos de aves e suínos<br />
Líder mundial no segmento de lâminas de serra de fita para a indústria<br />
de alimentos, a Starrett apresenta o seu mais novo produto para<br />
frigoríficos de aves e suínos: a linha de facas e chairas profissionais. Já<br />
reconhecida pela qualidade e precisão dos seus produtos, este lançamento<br />
oferece para açougues, frigoríficos, supermercados e profissionais<br />
da indústria de alimentos em geral uma nova e excelente opção<br />
para o corte de carnes. Tendo como carro-chefe as serras e equipamentos,<br />
o grupo percebeu a alta eficiência de suas serras também em<br />
frigoríficos, foi então que após alguns anos de pesquisa chegou a um<br />
produto final com a alta qualidade dos produtos Starrett, que fazem do<br />
grupo líder de mercado neste segmento. Assim, foram desenvolvidos<br />
vários modelos de facas, com lâmina de aço inox alemão, para abates<br />
de aves, bovinos, suínos e para a área de embutidos.<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
11
SI Online<br />
suinoculturaindustrial.com.br<br />
facebook/suinoculturaindustrial twitter/Gessulli instagram/@gessulliagribusiness youtube/tvgessulli<br />
FACEBOOK<br />
4.714 pessoas alcançadas<br />
Produtor aposta na utilização do<br />
biogás para sanar passivos ambientais<br />
e gerar novas fontes de renda<br />
José Carlos Colombari aposta na produção sustentável de suínos desde 2006, quando implantou<br />
o primeiro biodigestor na propriedade com o objetivo de tratar os resíduos dos animais, produzir<br />
biogás e, consequentemente, gerar energia. A Unidade Granja Colombari (UGC) está localizada no<br />
município de São Miguel do Iguaçu, oeste do Estado do Paraná. Em 2008, a propriedade se destacou<br />
pelo pioneirismo, ao tornar-se a primeira granja do Brasil a trabalhar com o sistema de geração<br />
distribuída (GD), termo que designa a geração de energia elétrica em conjunto com os produtores<br />
independentes de fonte de energia. Foi também a primeira unidade produtiva com auto abastecimento<br />
de energia no Brasil, sendo monitorada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel).<br />
Acesse o link e leia na íntegra:<br />
suinoculturaindustrial.com.br/biogas272<br />
Vídeo<br />
Para Alex Atala, carne suína<br />
é um dos grandes exemplos<br />
da cozinha brasileira<br />
Em entrevista à TV Gessulli, durante o lançamento do Festival Suíno no Ponto, o<br />
chef Alex Atala comenta sobre a importância da carne suína em sua gastronomia<br />
Assista!<br />
suinoculturaindustrial.com.br/atala272<br />
FIQUE ATENTO<br />
Prorrogado o prazo para suinocultores<br />
contratarem crédito<br />
O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu prorrogar até 30 de junho de 2017 a possibilidade de contratação de crédito de<br />
custeio com prazo de dois anos destinado à retenção de matrizes suínas. Anteriormente, o crédito estava disponível até 30 de junho<br />
de 2016. A retenção de matrizes ocorre quando os criadores destinam menos fêmeas ao abate, conservando-as de maneira<br />
a poder aumentar a produção de leitões. Segundo nota do Ministério da Fazenda, o aumento do preço do milho e consequente<br />
dificuldade de acesso ao produto foi o motivo da medida. O grão é um dos principais ingredientes usados na ração de suínos.<br />
“O resultado [da alta do preço do milho] é uma queda acentuada na relação entre o preço do suíno vivo e do milho, o que leva os<br />
produtores a elevar o abate de matrizes suínas, ocasionando a sobre oferta de carne”, justificou a Fazenda.<br />
12 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
13
Inside<br />
A Aurora Alimentos fechou parceria com a empresa Topigs Norsvin<br />
para o fornecimento de material genético suíno, em evento realizado<br />
em Chapecó (SC).<br />
Herbert Corrêa de Oliveira<br />
é o novo contratado da<br />
Tectron. O médico veterinário<br />
será coordenador técnico<br />
comercial na empresa e vai<br />
atuar na região oeste<br />
do Paraná.<br />
Entre os dias 02 e 11 de setembro, São Paulo (SP) recebeu o Festival<br />
Suíno no Ponto em mais de 40 restaurantes. Para o lançamento, a<br />
diretoria da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS)<br />
recebeu no restaurante “Dalva e Dito”, renomados convidados,<br />
entre eles o chef Alex Atala e participantes do Masterchef Brasil.<br />
Representantes das associações de suinocultores de diversos Estados<br />
participaram do lançamento oficial da 4ª Semana da Carne Suína, realizada<br />
pela Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).<br />
14 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Flauri Migliavacca, diretor<br />
Técnico da Mig-PLUS,<br />
marcou presença no<br />
12º Seminário Internacional<br />
de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC.<br />
Vinícius de Moura Dias,<br />
FEO, e Gaspar Silva, gerente<br />
de relacionamento do Grupo<br />
Setta durante o 12º Seminário<br />
Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC.<br />
Marco Aurélio Gama, head de Saúde Animal,<br />
e Marcio Vital Ferreira, gerente de Marketing<br />
de Saúde Animal da Boehringer Ingelheim.<br />
Carlos Ercoli e o diretor Raúl Brega receberam<br />
a homenagem pelo reconhecimento apoio e<br />
desenvolvimento científico da Vetanco.<br />
A Zoetis, companhia global<br />
de saúde animal, anunciou a<br />
contratação de Cintia Santos<br />
como gerente de Produtos<br />
de <strong>Suinocultura</strong>. Cintia é<br />
formada em Administração<br />
de Empresas pela UFRJ, com<br />
especialização em gestão<br />
pela FGV.<br />
José Lúcio, da Microvet,<br />
acompanhado do produtor<br />
Antonio Ianni e da chefe-geral<br />
da Embrapa Suínos e Aves<br />
Janice Zanella no 12º Seminário<br />
Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC.<br />
Os produtores Olinto Arruda e Manoel Lopes estiveram<br />
presentes no 12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC, que aconteceu no Rio de Janeiro.<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
15
Estudos da Embrapa<br />
Granulometria do milho<br />
para suínos em crescimento<br />
e terminação<br />
A granulometria do milho também tem efeito direto sobre o rendimento da moagem dos<br />
moinhos afetando a produtividade das fábricas de ração. E, em decorrência, tem efeito<br />
sobre o consumo de energia elétrica. Uma granulometria menor reduz a produtividade na<br />
fábrica e aumenta o consumo de energia.<br />
Por_Jorge Vitor Ludke 1 , Dirceu Luis Zanotto 1 , Arlei Coldebella 1 , Anildo Cunha Júnior 2 , Teresinha Marisa Bertol 1<br />
Crédito: Marcos V. N de Souza<br />
Omilho é o principal ingrediente usado<br />
na alimentação de suínos participando<br />
em média com 75% na formulação das<br />
rações e, tradicionalmente, de forma isolada,<br />
o cereal representa em torno de 40% do custo de<br />
produção na suinocultura brasileira. Em 2015, cerca de<br />
13,5 milhões de toneladas de milho foram destinados<br />
para a alimentação de suínos no Brasil (Figura 01).<br />
Desde 2005 o preço do milho tem forte correlação com<br />
aquele praticado no mercado internacional (exceto nos<br />
períodos de adversidade climática interna ou externa)<br />
e os altos preços alcançados pelo cereal atualmente, no<br />
Brasil, merecem muita atenção para maximizar a eficiência<br />
do milho na alimentação dos suínos.<br />
É bem conhecido que a utilização de híbridos de milho<br />
com diferente composição físico-química em dietas<br />
para suínos em crescimento e terminação afeta o<br />
desempenho e as características de carcaça (Moore et<br />
al., 2008). Porém, a granulometria traduzida pelo diâmetro<br />
geométrico médio de partícula (DGM, expresso em<br />
micra) também influencia a eficiência na utilização do<br />
milho moído pelos suínos em terminação (Goodband<br />
16 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Figura 01. Produção total de milho em 2015 (84 milhões de toneladas)<br />
sendo 60% destinada à alimentação animal (49,8 milhões de toneladas)<br />
e deste total 84,7% (42 milhões de toneladas) foi para a alimentação<br />
de aves e suínos<br />
et al., 2002). A granulometria do milho pode apresentar vés de uma sequência de projetos nas duas últimas décadas,<br />
foram desenvolvidos conhecimentos, produtos e<br />
variação do DGM das partículas entre 400 e 1.200 micra<br />
e a resposta observada neste intervalo usando rações processos para uma melhor utilização do milho em função<br />
de diferentes granulometrias, por exemplo, dispo-<br />
fareladas está apresentada na Figura 02.<br />
Pesquisas recentes têm confirmado que a redução da nibilização do Software Granucalc (www.cnpsa.embrapa.<br />
granulometria do milho melhora a digestibilidade de br/softgran/softgran.php), onde se avalia e se interpreta a<br />
nutrientes e/ou da energia bruta das rações (Rojas e adequação do grau de moagem do milho para suínos e<br />
Stein, 2015) e o desempenho de suínos em crescimento aves. Porém, para o desenvolvimento de uma nutrição<br />
e terminação (Bertol et al., 2016). Mas apesar de conhecidos<br />
os efeitos da variabilidade físico-química e de um método rápido e prático que associe a composi-<br />
energética de precisão, é necessário o estabelecimento<br />
da granulometria sobre o valor energético para suínos, ção nutricional e a granulometria de cada partida de mina<br />
formulação de rações ainda se<br />
utiliza o mesmo valor médio de Figura 02. Efeito da granulometria do milho sobre a conversão<br />
Energia Metabolizável (EM) para alimentar (F/G) de suínos<br />
qualquer partida e granulometria<br />
de milho, baseado em tabelas de<br />
composição de alimentos (Tabela<br />
01). Isto ocorre porque as equações<br />
de predição da EM disponíveis<br />
atualmente podem ser consideradas<br />
de uso limitado, uma vez<br />
que foram geradas para cereais e/<br />
ou alimentos em geral ou, quando<br />
elaboradas especificamente para<br />
o milho não levam em consideração<br />
a influência da granulometria.<br />
Particularmente por não serem<br />
considerados os efeitos da granu-<br />
Fonte: Adaptado de Goodband et al. (2002)<br />
lometria sobre a EM, as equações<br />
de predição apresentam baixa<br />
exatidão a exemplo dos modelos<br />
propostos por Li et al. (2014). Em<br />
contrapartida, a avaliação do valor<br />
de EM específico para cada partida<br />
e granulometria, em tempo<br />
real à formulação de ração, contribui<br />
para maximizar a precisão<br />
no balanceamento das dietas e<br />
melhoria do desempenho animal,<br />
reduzindo os custos de produção<br />
de suínos.<br />
Fonte: Adaptado da ABIMILHO (2015)<br />
RESULTADOS DE<br />
PESQUISA NA EMBRAPA<br />
SUÍNOS E AVES<br />
Na Embrapa Suínos e Aves, atra-<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
17
Crédito: Lucas S. Cardoso/Embrapa<br />
Figura 03. Peneiras com diferentes aberturas de furos (1,5; 1,8; 3,0; “in vivo” com suínos, de acordo<br />
4,5 e 8,0 mm) usadas para obter diferentes granulometrias<br />
com a metodologia de coleta total<br />
de fezes e urina. Foram realizados<br />
14 experimentos envolvendo<br />
672 suínos, com peso médio<br />
inicial de aproximadamente 60<br />
kg. Cada experimento foi conduzido<br />
com 48 suínos usando uma<br />
única partida de milho com os<br />
respectivos cinco DGMs. A análise<br />
descritiva das variáveis avaliadas<br />
é apresentada na Tabela<br />
lho, sob forma de equações de predição, visando obter<br />
valores estimados de EM, os mais próximos possíveis<br />
dos valores reais. Uma pesquisa com o objetivo de estabelecer<br />
equações de predição da EM do milho para<br />
suínos, tendo como base a composição físico-química e<br />
granulometria de diferentes partidas de milho foi realizada.<br />
Foram moídas 14 partidas de milho em moinho de<br />
martelos, de modo a produzir cinco granulometrias por<br />
partida mediante a utilização de peneiras com diferentes<br />
aberturas de furos: 1,5; 1,8; 3,0; 4,5 e 8,0 mm (Figura<br />
03). Desta forma, foram obtidos 70 lotes de milho moído<br />
(14 partidas x cinco DGMs). Determinou-se a composição<br />
físico-química para as 14 partidas de milho, considerando<br />
matéria seca, cinzas, proteína bruta, extrato<br />
etéreo, fibra bruta e fibra detergente ácido. Também foi<br />
avaliada a densidade e a energia bruta. Para os 70 lotes<br />
de milho foram avaliados o DGM e a EM para suínos.<br />
O DGM foi determinado através de análise de granulometria<br />
utilizando um conjunto de peneiras (Figura 04)<br />
conforme metodologia oficial sendo o DGM calculado<br />
pelo software Granucalc ® (EMBRAPA, 2013). A EM foi<br />
determinada através de experimentos de metabolismo<br />
02. Os milhos apresentaram matéria seca variando de<br />
86,22% até 87,60% e valores de DGM entre 421 e 1.235<br />
µm quando avaliados na matéria natural.<br />
Com base nos níveis de exatidão e precisão, foram<br />
escolhidas quatro equações para estimar a EM do milho<br />
(Tabela 03). O DGM teve participação decisiva,<br />
apresentando correlação negativa com o valor de EM,<br />
similarmente aos resultados obtidos por Rojas e Stein<br />
(2015), que observaram aumentos do valor de EM do<br />
milho em função da redução do DGM das partículas.<br />
A densidade influenciou positivamente o valor da EM<br />
devido a sua relação proporcional com a vitreosidade<br />
do endosperma do milho (Li et al., 1996). Isto porque,<br />
a propriedade vítrea se correlaciona de forma positiva<br />
com a fração do amido amilopectina que, por sua vez,<br />
apresenta valor energético superior ao da fração de<br />
amilose. O EE também demonstrou efeito positivo sobre<br />
o valor de EM do milho. Esta observação é perfeitamente<br />
justificável, uma vez que o valor calórico dos<br />
óleos em geral é 2,25 vezes maior do que o conteúdo<br />
energético dos carboidratos e proteínas.<br />
As equações de predição são compostas por dois<br />
segmentos, sendo o primeiro<br />
Tabela 01. Valores de Energia Metabolizável (Kcal/kg) para suínos aplicável a valores de DGM<br />
em tabelas de composição dos alimentos e determinados “in vivo” igual ou menor que 481 µm. O<br />
na Embrapa Suínos e Aves<br />
segundo segmento agrupa os<br />
demais casos, ou seja, quando o<br />
EM (Kcal/kg) Fonte N Média<br />
DGM for maior do que 481 µm. A<br />
“in vivo” Embrapa, (2015) 14 3339*<br />
redução do DGM do milho para<br />
Tabela Embrapa (1991) - 3293<br />
valor igual ou inferior a 481 µm<br />
Tabela UFV (2011) - 3340<br />
deixa de contribuir para a melhoria<br />
Tabela NRC (2012) - 3395<br />
da EM e este é o valor limi-<br />
Tabela INRAPORC (2014) - 3386<br />
te para a redução do DGM. Na<br />
*(variação de 3118 a 3573 Kcal/kg) em função do DGM e da composição química<br />
equação 1, é possível verificar a<br />
18 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Crédito: Lucas S. Cardoso/Embrapa<br />
Figura 04. Conjunto de peneiras padrão ABNT com as frações de<br />
milho retidas na análise de granulometria (DGM)<br />
importância do DGM como<br />
variável preditora, uma vez<br />
que explica 72,7% de toda<br />
variação observada para os<br />
valores de EM do milho, com<br />
um erro de predição (EP)<br />
de apenas 43,3 kcal/kg. Nas<br />
equações 2, 3 e 4, são associadas<br />
ao DGM, as variáveis<br />
densidade, EE e ambas, respectivamente,<br />
observandose<br />
melhorias gradativas na<br />
exatidão (R 2 ) e precisão (EP)<br />
dos modelos. As equações<br />
elaboradas neste estudo<br />
apresentaram melhor exatidão<br />
(R 2 ) e precisão (EP) em<br />
comparação com as equações<br />
de outros estudos desenvolvidas<br />
especificamente<br />
para milho (Li et al., 2014),<br />
podendo ser utilizadas para<br />
estimar satisfatoriamente a<br />
EM para suínos (Zanotto et<br />
al., 2016).<br />
Na Figura 04 estão apresentados<br />
os valores observados<br />
de Energia Metabolizável<br />
corrigida para nitrogênio (na<br />
base natural = 87,5% de matéria<br />
seca), curva ajustada e<br />
intervalo de predição (95%)<br />
em função do Diâmetro Geométrico<br />
Médio, considerando<br />
a equação 1 da Tabela 03, isto<br />
é, apresenta o ajuste do modelo<br />
apenas contemplando o DGM<br />
do milho moído, cujo R² foi igual<br />
a 0,727 e os erros de predição<br />
iguais a 43,3 kcal/kg, representando<br />
1,29% da energia metabolizável<br />
observada. Nota-se que<br />
a moagem do milho em DGMs<br />
inferiores a 481 µm não aumenta<br />
a energia metabolizável do milho<br />
para suínos.<br />
Tabela 02. Análises descritivas das variáveis físico-químicas para partidas de<br />
milho (14) e diâmetro geométrico médio (DGM) de partículas e energia metabolizável<br />
(EM) para os lotes de milho moído (70)<br />
Variável 1 (%) Partidas/lotes Média Desvio Padrão Mínimo Máximo<br />
Matéria seca 14 86,89 0,47 86,22 87,60<br />
Matéria mineral 14 1,04 0,08 0,95 1,20<br />
Proteína bruta 14 7,54 0,58 6,66 9,03<br />
Extrato etéreo 14 3,79 0,45 2,85 4,62<br />
Fibra bruta 14 1,18 0,38 0,57 1,91<br />
Fibra detergente ácido 14 1,98 0,54 1,24 2,78<br />
Fibra detergente neutro 14 12,42 1,73 8,70 15,09<br />
Densidade* (g/L) 14 729 17 686 757<br />
Energia bruta (kcal/kg) 14 3917 27 3865 3962<br />
DGM* (µm) 70 702 218 420 1235<br />
EM suínos (kcal/kg) 70 3339 106 3118 3482<br />
1<br />
Valores na base de 87,5% MS; *Analisado na matéria natural<br />
Tabela 03. Equações de predição para estimar o valor da EM do milho para<br />
suínos, estimativas dos parâmetros e respectivos coeficientes de determinação<br />
(R²) e erro de predição (EP)<br />
Modelo<br />
0,727<br />
0,764<br />
0,796<br />
0,837<br />
= EM (kcal/kg), d = densidade do grão (g/L), EE = Extrato etéreo (%), DGM = Diâmetro geométrico médio (µm).<br />
Valores na base de 87,5% MS<br />
R²<br />
EP (kcal/kg)<br />
43,3<br />
41,7<br />
38,0<br />
34,0<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
19
Figura 05. Valores observados de Energia Metabolizável corrigida<br />
para nitrogênio (na base natural = 87,5% de matéria seca), curva<br />
ajustada e intervalo de predição (95%) em função do Diâmetro<br />
Geométrico Médio, com amostra seca<br />
do custo de moagem e de fabricação da<br />
ração.<br />
Embora não se observe efeito de DGM<br />
sobre variáveis biológicas para frangos<br />
de corte, tem-se sugerido o uso de milho<br />
com DGM entre 850 e 1.050 µm (Zanotto<br />
et al., 1998) dada a economia com<br />
o processo de moagem. Para suínos, a<br />
redução do DGM do milho melhora a<br />
eficiência de utilização do alimento e,<br />
desta forma, a recomendação de DGM<br />
precisa ter outra abordagem com recomendação<br />
diferente. Rotineiramente<br />
é sugerida a utilização de milho com<br />
DGM entre 450 e 600 µm para suínos.<br />
O ajuste das condições de moagem<br />
para obtenção de um DGM específico<br />
desejado está na dependência de um<br />
monitoramento contínuo do processo<br />
A GRANULOMETRIA E A FÁBRICA<br />
DE RAÇÃO<br />
A granulometria do milho também tem efeito direto sobre<br />
o rendimento da moagem dos moinhos afetando a produtividade<br />
das fábricas de ração. E, em decorrência, tem<br />
efeito sobre o consumo de energia elétrica. Uma granulometria<br />
menor (milho moído com menor DGM) reduz a<br />
produtividade na fábrica e aumenta o consumo de energia.<br />
O aumento do DGM do milho têm como resultado o<br />
aumento do rendimento de moagem e a diminuição do<br />
consumo de energia elétrica, contribuindo para redução<br />
de moagem.<br />
Nos Quadros 01 e 02, para moinho industrial e de médio<br />
porte, respectivamente, estão expressos os coeficientes<br />
técnicos para a moagem do milho e as estimativas de<br />
energia metabolizável (EM) do milho em função da granulometria<br />
(adotando a equação 1, somente com o efeito<br />
do DGM), além do cálculo dos custos de moagem por<br />
1.000 Mcal de EM e o cálculo do custo em reais da energia<br />
metabolizável do milho para cada 1.000 Mcal. Verifica-se<br />
um aumento no preço da Energia Metabolizável do<br />
milho à medida que o DGM aumenta. Em compensação<br />
o custo da moagem para cada 1.000<br />
Quadro 01. Rendimento de moagem do milho e consumo de energia<br />
elétrica mensurados com moinho tipo industrial, modelo centrífugo a<br />
martelos<br />
Mcal (considerando apenas o preço<br />
da energia elétrica) reduz com maior<br />
DGM. Nesta comparação simplificada<br />
verifica-se uma grande vantagem para<br />
DGM das partículas do milho (µm)<br />
Variáveis<br />
adotar um menor DGM em detrimento<br />
515 655 905<br />
a um menor gasto com energia elétrica<br />
Rendimento de moagem (Ton/h) 10,028 21,882 26,671<br />
no DGM maior. Acima de 481 µm o preço<br />
da EM no milho (adotando R$ 0,90/<br />
Consumo de energia (KWh/Ton) 11,01 6,453 4,139<br />
Despesa com a energia elétrica (R$/Ton) 5,433 3,185 2,043<br />
kg de milho) é estimado em Y= 0,0389<br />
Energia Metabolizável (Mcal/Ton) 1 3407 3341 3223<br />
x DGM + 244,11 Reais por 1.000 Mcal<br />
Custo de moagem (R$/1.000Mcal) 1,595 0,953 0,634<br />
(R 2 = 0,9997). Não existe vantagem econômica<br />
em adotar um DGM menor que<br />
Preço Energia Metabolizável (EM)<br />
264,18 269,39 279,22<br />
do milho (R$/1.000Mcal)*<br />
481 µm quando o milho moído vai integrar<br />
Fonte: Coeficientes técnicos para moagem de Zanotto et al. (1999). Valor por KWh em R$ 0,4935.<br />
1<br />
Aplicando a equação de predição N° 1, *Preço do milho R$ 54,00/60 kg<br />
rações para suínos em crescimento<br />
e terminação.<br />
20 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Quadro 02. Rendimento de moagem do milho e consumo de energia<br />
elétrica mensurados com moinho de média capacidade, modelo<br />
centrífugo a martelos<br />
Considerando apenas o gasto com energia<br />
elétrica e os benefícios em termos<br />
de Energia Metabolizável com base nas<br />
equações de predição existe vantagem<br />
DGM das partículas do milho (µm)<br />
Variáveis<br />
econômica em usar granulometria mais<br />
484 666 886 986<br />
fina (menor DGM) quando da moagem<br />
Rendimento de moagem (Ton/h) 0,569 1,269 1,650 2,063<br />
do milho.<br />
Consumo de energia elétrica (KWh/Ton) 10,0 7,5 5,8 4,0<br />
O ajuste da granulometria do milho, mediante<br />
Despesa com a energia elétrica (R$/Ton) 4,935 3,701 2,862 1,974<br />
uso de peneiras adequadas no<br />
Energia Metabolizável (Mcal/Ton) 1 3421 3336 3232 3185<br />
moinho, deve ser observado sempre que<br />
Custo de moagem (R$/1.000Mcal) 1,442 1,109 0,886 0,620<br />
o milho for destinado para compor rações<br />
Preço Energia Metabolizável (EM)<br />
263,05 269,81 278,45 282,56 de suínos em crescimento e terminação.<br />
do milho (R$/1.000Mcal)*<br />
A mesma granulometria não deverá ser<br />
Fonte: Coeficientes técnicos para moagem de Zanotto et al. (2000). Valor por KWh em R$ 0,4935.<br />
1<br />
Aplicando a equação de predição N° 1, *Preço do milho R$ 54,00/60 kg<br />
utilizada para o milho que vai compor as<br />
rações de frangos de corte, pois existe elevação<br />
do custo de moagem sem obter ganhos<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
em Energia Metabolizável para os frangos de corte. SI<br />
Atualmente as equações de predição com abordagem<br />
fundamentada apenas na variação da composição de<br />
nutrientes para estimar o valor energético do milho para<br />
1<br />
Pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves<br />
2<br />
Analista da Embrapa Suínos e Aves<br />
suínos são gerais (inespecíficas para o milho) e de baixa<br />
precisão, não atendendo o requisito necessário para a formulação<br />
de ração de forma precisa, conforme as exigências<br />
nutricionais dos animais.<br />
A Bibliografia Citada neste artigo pode ser obtida no site<br />
da <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> por meio do link:<br />
www.suinoculturaindustrial.com.br/granulometria272<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
21
Entrevista<br />
Ações buscam reposicionar<br />
imagem da carne suína no<br />
mercado interno<br />
Gerente adjunto da Unidade de Agronegócio (Uagro) do Sebrae Nacional, Augusto<br />
Togni, aponta os investimentos do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />
Empresas para o desenvolvimento da suinocultura com foco em ações para aumentar<br />
o consumo per capita de carne in natura.<br />
Da Redação<br />
Enquanto o brasileiro consome 15,1 quilos<br />
de carne suína in natura, o consumo per<br />
capita na China é mais que o dobro, 39<br />
quilos ao ano. Números que precisam ser<br />
levados em consideração, visto que o Brasil é o quarto<br />
maior produtor e exportador mundial desta proteína.<br />
Assim, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas<br />
Empresas (Sebrae) assumiu um compromisso<br />
com a cadeia suinícola em aumentar o consumo interno<br />
para 18 quilos, através de campanhas e investimentos<br />
que possam gerar oportunidades para a cadeira<br />
produtiva.<br />
Augusto Togni, gerente adjunto da Unidade de Agronegócio<br />
(Uagro) do Sebrae Nacional, conta que para<br />
chegar a essa meta, a entidade tem contribuído com<br />
inovações e estruturação da cadeia suinícola para que<br />
o produtor possa expandir sua produção contribuindo<br />
para a inovação e estruturação da cadeia de valor da<br />
suinocultura brasileira, por meio da gestão do conhecimento<br />
e da inter-relação entre os segmentos da atividade<br />
visando à sustentabilidade dos produtores de<br />
suínos brasileiros. “Em 2009, a pesquisa realizada pela<br />
Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS)<br />
constatou que o País, embora considerado o quarto<br />
maior produtor e exportador, possuía um consumo per<br />
capita da carne suína baixo - em comparação com os<br />
demais países, consequência de uma imagem equivocada<br />
das condições de produção e das propriedades<br />
nutricionais”, explica.<br />
Desta forma, o Sebrae promove junto à associação projetos<br />
que vislumbram a transformação da imagem da<br />
suinocultura e seu reposicionamento junto ao consumidor,<br />
bem como a apresentação de informações sobre<br />
suas propriedades nutricionais, melhoria de gestão<br />
das granjas e as adequações de cortes à preferência<br />
dos consumidores e promoções no varejo. Entre as<br />
ações estão trabalhos desenvolvidos com produtores<br />
independentes. “Podemos citar como exemplos as<br />
instrutórias para granjas e treinamentos em bem-estar<br />
animal, que visam melhorar os resultados zootécnicos<br />
e financeiros das granjas, onde os conhecimentos adquiridos<br />
podem ser aplicados em granjas de 100 ou<br />
5.000 matrizes”, explica Togni.<br />
A melhor qualificação do pequeno produtor ganha<br />
cada vez mais importância, visto que o mercado torna-<br />
-se a cada dia mais competitivo e as margens menores.<br />
Assim, Togni enfatiza que, ao aprimorar o resultado<br />
dos pequenos produtores as ações contribuem para reter<br />
esses trabalhadores na atividade e no campo, além<br />
de contribuir com o crescente aumento da produção<br />
e consequente oferta de um produto de qualidade e<br />
preço competitivo.<br />
Para a <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong>, Augusto Togni concedeu<br />
uma entrevista exclusiva sobre as ações do Sebrae<br />
junto ao Agronegócio com ênfase no trabalho realizado<br />
para fomentar o mercado suinícola. Acompanhe.<br />
<strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> - O Sebrae é direcionado às<br />
pequenas e médias empresas, desde quando ele<br />
atua no agronegócio? Quais os focos centrais de sua<br />
atuação?<br />
Augusto Togni - Em 2005, iniciou-se a atuação do<br />
22 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Crédito: Divulgação/Sebrae<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
23
Sebrae no Setor do Agronegócio com as carteiras de<br />
projetos setoriais, segmentadas e multissetoriais. Nosso<br />
foco é o aumento da competitividade de pequenos<br />
negócios rurais em segmentos estratégicos do agronegócio,<br />
relacionados com a produção animal e vegetal,<br />
agroindústrias, encadeamento produtivo e temáticas<br />
como sistemas florestais, agroenergia, produção orgânica,<br />
entre outras, visando o desenvolvimento da gestão,<br />
inovação, serviços tecnológicos e oportunidades<br />
de negócio.<br />
SI - O senhor está à frente de um departamento chamado<br />
Agribusiness United. Poderia explicar a estrutura<br />
e funcionamento desse departamento?<br />
Augusto Togni - A unidade está estruturada em núcleos<br />
de atendimento. Neles, os colaboradores desenvolvem<br />
conteúdos, realizam consultoria e desempenham<br />
as funções de gestor de carteira de projetos, orçamento,<br />
programas e parcerias público privadas. A equipe é<br />
formada por 18 colaboradores e duas estagiárias: engenheiros<br />
agrônomos, médicos veterinários, administradores,<br />
contador, secretária-executiva e economistas.<br />
SI - Qual o perfil de projetos que ele apoia? Como<br />
são selecionados os projetos que recebem o apoio<br />
do Sebrae?<br />
Augusto Togni - Os projetos propostos à Unidade de<br />
Atendimento Setorial - Agronegócios dão ênfase às<br />
ações com foco em sustentabilidade, mercado governamental,<br />
internacionalização, agroindústrias e produção<br />
artesanal, mecanismos de agregação de valor e<br />
diferenciação de produtos, como Indicações Geográficas<br />
e Marcas Coletivas, levando em consideração<br />
a demanda existente e as necessidades identificadas<br />
previamente. Sempre que constatado que efetivamente<br />
são viáveis e representem uma oportunidade e um diferencial<br />
competitivo para o público atendido.<br />
SI - Qual o interesse do Sebrae especificamente no<br />
agronegócio?<br />
Augusto Togni - O agronegócio vem se mostrando<br />
como uma alternativa promissora para o fortalecimento<br />
do País. A expressiva contribuição nas exportações,<br />
os resultados representados pelo Produto Interno Bruto<br />
(PIB) do setor, a quantidade de empregos gerados<br />
no campo e o fomento ao empreendedorismo rural por<br />
“Sebrae busca contribuir<br />
com iniciativas que possam<br />
ampliar a competitividade<br />
e a sustentabilidade dos<br />
pequenos negócios rurais”<br />
meio das várias políticas governamentais são poderosos<br />
aliados para o desenvolvimento e crescimento da<br />
economia. Apesar de o universo de produtores rurais<br />
no País ser extremamente representativo, atingindo<br />
cerca de 5,2 milhões de propriedade rurais familiares<br />
e não familiares, esse público apresenta uma grande<br />
carência de gestão no pequeno negócio rural, desde<br />
a formalização do negócio e a falta de competências<br />
técnicas qualificadas para o processo produtivo até<br />
a gestão, evidenciando fragilidades em controles gerenciais,<br />
uso de indicadores, estratégias de venda,<br />
24 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
entre outros. Dessa forma, o Sebrae busca contribuir<br />
com iniciativas que possam ampliar a competitividade<br />
e a sustentabilidade dos pequenos negócios rurais e,<br />
também, contribuir com a inclusão social e produtiva<br />
para a construção de um país mais justo, competitivo<br />
e sustentável.<br />
SI - Como o Sebrae atua dentro das cadeias produtivas<br />
de proteína animal, como a da carne suína?<br />
Augusto Togni - Atuamos com os projetos de atendimentos<br />
segmentados, com grupos de produtores rurais<br />
e ou de forma setorial abrangendo vários grupos<br />
produtivos dentro de um mesmo projeto. Nos dois<br />
casos, são projetos que estão em uma bacia regional,<br />
microrregião, macrorregião ou em biomas específicos.<br />
No âmbito da Carteira de Projetos de <strong>Suinocultura</strong>, o<br />
Sebrae atuou em 10 Unidades Federativas em parceria<br />
com a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos<br />
(ABCS). O trabalho foi realizado nos principais elos da<br />
cadeia - produção, industrialização e comercialização,<br />
com o objetivo de aumentar o consumo per capita da<br />
carne suína.<br />
SI - O Sebrae também tem projetos ligados a outras<br />
cadeias produtivas de proteína animal?<br />
Augusto Togni - Sim. Atuamos com as carteiras de<br />
projetos na apicultura, aquicultura e piscicultura, avicultura,<br />
bovinocultura de corte e de leite e ovinocaprinocultura.<br />
Os projetos são executados pelo Sebrae nos<br />
estados, com a coordenação nacional.<br />
SI - O Sebrae iniciou um trabalho junto a ABCS visando<br />
uma reestruturação da cadeia produtiva de suínos<br />
e o aumento do consumo de carne suína. Como<br />
surgiu essa parceria?<br />
Augusto Togni - Em 2009, a pesquisa realizada pela<br />
ABCS constatou que o Brasil, embora considerado o 4º<br />
maior produtor e exportador, possuía um consumo per<br />
capita da carne suína baixo em comparação com os<br />
demais países, consequência de uma imagem equivocada<br />
das condições de produção e das propriedades<br />
nutricionais. Dessa forma, foram iniciadas as ações<br />
que promoveram a transformação da imagem e seu<br />
reposicionamento junto ao consumidor, bem como a<br />
apresentação de informações sobre suas propriedades<br />
nutricionais, melhoria de gestão das granjas e as<br />
adequações de cortes à preferência dos consumidores<br />
e promoções no varejo.<br />
SI - Um dos focos do Sebrae é o empreendedorismo,<br />
o PNDS (Projeto Nacional de Desenvolvimento<br />
da <strong>Suinocultura</strong>) - desenvolvido em parceria com a<br />
ABCS - estaria dentro desse foco empreendedor?<br />
Augusto Togni - Sim. O empreendedorismo está relacionado<br />
as ações de melhoria do processo produtivo,<br />
bem como as tomadas de decisões por parte dos<br />
criadores que adequarão às condições exigidas pelo<br />
mercado consumidor, como as condições sanitárias,<br />
ambientais, de bem-estar animal entre outras.<br />
SI - Qual sua avaliação dos resultados Festival Suíno<br />
no Ponto, realizado agora em setembro com o apoio<br />
do Sebrae?<br />
Augusto Togni - O Festival proporcionou maior visibilidade<br />
das ações desenvolvidas nessa parceria, no<br />
âmbito do Projeto Innovasui. Essa ação, voltada para a<br />
promoção da carne suína, possibilitou que renomados<br />
restaurantes da capital paulista pudessem desenvolver<br />
pratos gourmets à base de proteína suína, levando à<br />
opinião pública a versatilidade e praticidade de sua inserção<br />
no consumo diário.<br />
SI - Quais os impactos dessas ações, ganhos de mercado?<br />
Economicamente, o que isso representa para<br />
o setor? Existe uma estimativa do aumento de consumo<br />
da proteína in natura antes e depois desses<br />
iniciativas?<br />
Augusto Togni - As ações que o Sebrae desenvolve,<br />
em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores<br />
de Suínos (ABCS), contribuem para a inovação e<br />
estruturação da cadeia de valor da suinocultura brasileira,<br />
por meio da gestão do conhecimento e da inter-relação<br />
entre os segmentos da atividade visando à<br />
sustentabilidade dos produtores de suínos brasileiros.<br />
O reflexo dessas ações gera no mercado o aumento da<br />
competitividade, uma vez que estão associadas à oferta<br />
de produtos diferenciados com agregação de valor.<br />
Nossa expectativa é que ao final do projeto o consumo<br />
per capita de carne suína passe de 15 Kg para 18 Kg e<br />
sabemos que a cada quilo incrementado gera-se oportunidades<br />
para toda a cadeia. Os produtores podem<br />
expandir sua produção, comercializa-se mais insumos,<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
25
eprodutores, equipamentos,<br />
aumenta a demanda<br />
por mão de obra<br />
para granjas e para<br />
assistência técnica,<br />
enfim, cria-se um ciclo<br />
virtuoso e sustentável<br />
de expansão da cadeia.<br />
SI - Quais outras iniciativas<br />
tem o Sebrae<br />
com foco no aumento<br />
do consumo da carne<br />
suína?<br />
Augusto Togni - Em<br />
setembro foi realizada a<br />
4ª Semana Nacional da<br />
Carne Suína, parceria<br />
entre o Sebrae, ABCS<br />
e Grupo Pão de Açúcar<br />
(GPA), que visa o aumento<br />
das vendas da<br />
proteína. Entre as ações<br />
dessa iniciativa estão:<br />
treinamentos, oficinas<br />
gastronômicas e capacitação<br />
dos colaboradores<br />
do GPA, para informar e<br />
estimular os consumido-<br />
“Ao aprimorar o resultado<br />
dos pequenos produtores<br />
nossa parceria contribui<br />
para reter esses trabalhadores<br />
na atividade e no<br />
campo”<br />
Augusto Togni - Os trabalhos<br />
desenvolvidos<br />
em nossa parceria com<br />
a ABCS atendem aos<br />
produtores independente<br />
de sua escala e sistema<br />
de produção, já que<br />
levamos informações<br />
inerentes a melhoria dos<br />
processos produtivos e<br />
de gestão do seu negócio.<br />
Podemos citar como<br />
exemplos as instrutorias<br />
para granjas e treinamentos<br />
em bem-estar<br />
animal, que visam melhorar<br />
os resultados zootécnicos<br />
e financeiros<br />
das granjas, onde os conhecimentos<br />
adquiridos<br />
podem ser aplicados em<br />
granjas de 100 ou 5.000<br />
matrizes. Essa melhor<br />
qualificação do pequeno<br />
produtor ganha cada vez<br />
mais importância, visto<br />
que o mercado torna-se<br />
a cada dia mais competitivo<br />
e as margens me-<br />
res a consumir a carne suína. Esta ação permeia um nores. Assim, ao aprimorar o resultado dos pequenos<br />
dos focos de atuação do Sebrae, que é o Encadeamento produtores nossa parceria contribui para reter esses trabalhadores<br />
na atividade e no campo, além de contribuir<br />
Produtivo. Um pequeno produtor fornecendo à grande<br />
empresa produtos que serão processados e disponibilizados<br />
nas gôndolas em formatos práticos para consumo oferta de um produto de qualidade e preço competitivo.<br />
com o crescente aumento da produção e consequente<br />
imediato. A campanha da 4ª SNCS também será direcionada<br />
às mídias externas. Jornais de grande circulação,<br />
rádios, sites e blogs especializados serão pautadas vestimentos do Sebrae para o futuro? É previsto uma<br />
SI - O que o mercado suinícola pode esperar de in-<br />
através do envio de textos, spots e vídeos. A ideia é que agenda de ações a médio e longo prazo?<br />
a Semana agregue o maior número possível de veículos<br />
de comunicação e agentes envolvidos nas ações de final de 2017, ainda temos ações para serem executadas<br />
Augusto Togni - A nossa parceria com ABCS vai até o<br />
marketing da proteína.<br />
e com a previsão de resultados exitosos, principalmente<br />
as ações de promoção da carne suína. Outra oportunidade<br />
é a partir do próximo biênio, atuar com a estratégia<br />
SI - Quais as iniciativas do Sebrae em prol ao pequeno<br />
produtor suinícola para favorecer a produção em nos macrossegmentos de alimentos e bebidas e bioeconomia<br />
e continuar apoiando o crescimento da cadeia<br />
escala menor? Existe um levantamento sobre os impactos<br />
dessas ações para esses trabalhadores? produtiva da suinocultura. SI<br />
26 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
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Tecnologia em Alimentos<br />
A nanotecnologia na cadeia<br />
produtiva de alimentos: aves<br />
e suínos<br />
Minimizar perdas de vitaminas e sais minerais em rações animais fortificadas, proteger uma enzima<br />
para que ela atue somente no momento ideal do processo ou da digestão, embalagem composta<br />
por partículas com capacidade de redução da carga microbiana aumentando a vida de prateleira<br />
de produtos cárneos e muito mais são algumas inovações obtidas através da nanotecnologia<br />
na área de alimentos.<br />
Por_Maria Cristina C. Nucci Mascarenhas 1<br />
Com constante mudança no hábito de consumo<br />
dos alimentos, uma excelente solução para<br />
inovar e aprimorar toda a cadeia produtiva dos<br />
alimentos está na nanotecnologia. Através desta<br />
tecnologia é possível obter substâncias em tamanho reduzido na<br />
escala micro (1 a 1000 µm ou 1 mm), como as partículas microencapsuladas<br />
e na escala nano (10 a 1000 mm ou 1 µm), como<br />
nanotubos e nanosensores para processos (KREUTER, 1996).<br />
NANOTECNOLOGIA<br />
A nanotecnologia tem sido utilizada amplamente nas áreas<br />
de cosméticos, fármacos e na medicina como potencial revolucionário<br />
em diagnósticos, novas drogas e novas formas de<br />
liberação, no desenvolvimento de vacinas e na engenharia<br />
de tecidos. Nos últimos anos vem se tornando cada vez mais<br />
importante na área de alimentação humana e animal, devido<br />
às exigências dos consumidores por maior conveniência, redução<br />
de custo, melhor qualidade nutricional (saudabilidade<br />
e bem-estar) e melhor interação entre alimento e embalagem.<br />
Na cadeia produtiva de aves e suínos, a nanotecnologia tem<br />
inovado nas etapas de criação e reprodução com novas alternativas<br />
para a nutrição animal e cuidados veterinários. O valor<br />
nutritivo, qualidade e vida de prateleira de produtos cárneos<br />
também são aprimorados através da utilização desta tecnologia<br />
(PERES; GAONKAR, 2014; MANUJA;KUMAR;SINGH, 2012).<br />
A MICROENCAPSULAÇÃO<br />
A microencapsulação é uma tecnologia ainda em exploração<br />
na área de alimentos, porém com enorme potencial de aplicação.<br />
Esta técnica consiste em obter partículas de tamanhos<br />
reduzidos na escala micro, compostas por um material encapsulante<br />
(cobertura, parede) e um material ativo chamado de recheio<br />
que pode ser na forma líquida, gasosa ou sólida. É uma<br />
técnica utilizada com estratégia de proteção e modulação com<br />
controle da liberação do ativo (GIBBS et al, 1999; THIES, 1994).<br />
Substâncias sensíveis ou instáveis aos processos de fabricação<br />
28 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
dos alimentos e rações, assim como ao processo de consumo<br />
destes (sistema gastrointestinal) podem ser protegidas<br />
pela microencapsulação. Exemplos são nutrientes bioativos,<br />
vitaminas, sais minerais, micro-organismos probióticos, peptídeos,<br />
aromas, corantes, enzimas, óleos e extratos vegetais,<br />
ácidos graxos essenciais e outros. Com a determinação correta<br />
dos materiais encapsulantes e o processo de obtenção<br />
das micropartículas, o ativo pode ser liberado no local e com<br />
o controle desejado para sua melhor atuação. Um dos usos<br />
desta tecnologia em animais é superar a deficiência de cobre<br />
e vários outros minerais como também vitaminas, utilizando a<br />
forma microencapsulada.<br />
São inúmeros os processos de produção das micropartículas<br />
e devem ser definidos de acordo com os objetivos finais destas,<br />
pois irão interferir na eficiência de proteção e na forma<br />
de liberação do material encapsulado. Eles são classificados<br />
como métodos físicos que consistem em processos de spray<br />
drying, spray cooling, em leito fluidizado, extrusão, centrifugação<br />
em múltiplos orifícios, co-cristalização e liofilização; métodos<br />
químicos através de inclusão molecular e polimerização<br />
interfacial; métodos físico-químicos por coacervação simples<br />
ou complexa e incorporação do material de recheio em lipossomas<br />
(THIES, 1994; GIBBS et al., 1999; JACKSON;LEE,1991;<br />
RÉ, 1998; LEE;YING, 2008).<br />
As micropartículas produzidas pelos diferentes métodos podem<br />
assumir diferentes formas como uma simples membrana<br />
de cobertura, de forma esférica ou irregular ou múltiplas<br />
membranas de mesma ou diferentes composições e/ou numerosos<br />
núcleos em uma mesma estrutura (multinucleada),<br />
conforme Figura 01. A distribuição do recheio classifica as micropartículas<br />
em microesferas ou microcápsulas.<br />
Quando o recheio se distribui no volume de uma matriz, tipo<br />
“reservatório”, podendo ser mononucleada ou multinucleada,<br />
com uma quantidade de recheio envolvida por uma película<br />
de parede, a denominação é de microcápsulas. Quando se<br />
tem uma matriz com partículas de recheio dispersas uniformemente<br />
em sua totalidade, a denominação é de microesferas<br />
(Figura 02). O tipo de micropartícula produzida influi na<br />
quantidade de recheio encapsulado e no comportamento de<br />
liberação do mesmo (GIBBS et al., 1999; THIES, 1994).<br />
Além do objetivo final da micropartícula, a escolha do método<br />
depende de fatores econômicos, das propriedades do recheio<br />
(sensibilidade, solubilidade), tamanho de partícula requerida<br />
para aplicação, propriedades físico-químicas do recheio (sólido,<br />
líquido ou gasoso) e do material de parede (hidrofóbico,<br />
hidrofílico), quantidade de material de recheio requerido, processos<br />
de aplicação e mecanismos de liberação (SHAHIDI;<br />
HAN,1993; FAVARO-TRINDADE; PINHO;ROCHA, 2008).<br />
A nova forma de inovar com o uso das micropartículas está na<br />
mudança de apenas ser uma adição de um produto à formulação<br />
passando a ser a adição de ingredientes totalmente novos<br />
com propriedades únicas, pois as propriedades originais<br />
dos materiais de recheio podem ser alteradas ou acentuadas<br />
após a microencapsulação e as propriedades de liberação finamente<br />
ajustadas.<br />
Os benefícios do uso da tecnologia de microencapsulação<br />
para algumas substâncias são:<br />
1. Ampliar aplicabilidade:<br />
Mascaramento de sabores ou odores desagradáveis;<br />
Conversão de líquidos em sólidos facilitando a manipulação<br />
do material encapsulado e facilitando o manuseio de<br />
substâncias tóxicas;<br />
Redução ou eliminação da irritação gástrica ou efeitos secundários<br />
provocados por algumas substâncias;<br />
Auxílio à dispersão de substâncias insolúveis ao meio (meios<br />
aquosos ou oleosos) promovendo a diluição homogênea do<br />
material encapsulado em uma gama ampla de formulação.<br />
2. Proteção da substância encapsulada:<br />
Conservação do aroma ou do princípio ativo ou da funcionalidade<br />
e qualidade nutricional do ativo;<br />
Redução da reatividade do ativo com o ambiente com proteção<br />
em relação aos agentes atmosféricos (umidade, luz,<br />
calor e/ou oxidação);<br />
Redução da velocidade de evaporação ou de transferência<br />
do ativo para o meio, redução da volatilidade;<br />
Controle microbiano do ativo.<br />
3. Promoção de liberação controlada<br />
Modulação da forma e no local de liberação do ativo;<br />
O “gatilho” de liberação do ativo pode ser o pH, ruptura<br />
mecânica, temperatura, ação enzimática, força osmótica<br />
entre outras.<br />
O PROJETO DE MICROENCAPSULAÇÃO<br />
Com a necessidade de utilização de uma substância sensível<br />
ou reativa em determinada aplicação, as definições iniciais de<br />
um projeto de uma micropartícula devem ser o objetivo requerido<br />
para esta substância em sua aplicação, a aplicação que<br />
será dada à micropartícula, o tamanho desejado e o mecanismo<br />
de liberação ao meio. A partir disto são avaliados as opções<br />
de técnicas de produção e os materiais de parede mais<br />
adequados, tendo conhecimento de quais os rendimentos de<br />
processo e eficiências de encapsulação são normalmente ob-<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
29
Figura 01. Tipos de estruturas de micropartículas<br />
Dentro do mesmo conceito, a técnica<br />
de spray cooling consiste em encapsular<br />
um ativo em um material de parede<br />
sólido, normalmente gorduras, ésteres<br />
de ácidos graxos e ceras. O ativo dissolvido<br />
ou disperso ao material de parede<br />
é atomizado, mas, neste caso, em<br />
uma corrente de ar frio, o que causa a<br />
solidificação do material de parede e a<br />
formação das micropartículas. Tal como<br />
spray drying, esta técnica é rápida e<br />
ocorre num só passo, além de que não<br />
envolve a utilização de água ou solventes<br />
orgânicos (SILVA et al.,2003).<br />
A técnica de coacervação complexa<br />
Fonte: Adaptado de GHARSALLAOUI et al, 2007<br />
consiste na separação de fases líquido/<br />
líquido de dois ou mais solutos de cargas<br />
polieletrolíticas opostas misturadas em meio aquoso.<br />
tidas nos diversos processos (JACKSON;LEE,1991).<br />
Na área de alimentos e de nutrição animal, devido às restrições<br />
da legislação por inúmeros materiais de parede, as podem ser utilizados na microencapsulação de ativos por<br />
Alguns pares de materiais de parede de cargas opostas que<br />
técnicas mais utilizadas são spray drying, spray cooling, leito esta técnica e uso em alimentos são gelatina-goma acácia,<br />
fluidizado, coacervação complexa e gelificação iônica. pectina-gelatina, gelatina-gelatina e carboximetilcelulose<br />
O recobrimento em leito fluidizado é adequado para ativos sódica-gelatina. Ao ocorrer a separação de fases e formar o<br />
sólidos a serem microencapsulados. Consiste na suspensão coacervado, este se deposita em volta do ativo insolúvel e<br />
dos ativos sólidos por uma corrente de ar quente ascendente ocorre a formação das microcápsulas. A característica desta<br />
formando um leito fluidizado de partículas. Através da nebulização<br />
de uma solução do material de parede, como carboirial<br />
de recheio envolto totalmente pelo material de parede<br />
microcápsula é considerada como a forma real, com matedratos<br />
e proteínas, as partículas são revestidas, obtendo um formando uma cápsula fechada, podendo ser mono ou multinucleada.<br />
Esta característica é importante, pois a forma de<br />
revestimento de espessura uniforme. Com esta técnica pode<br />
ser obtida microcápsula de parede simples ou múltipla (SIL- liberação do material encapsulado será imediata e total ao<br />
VA et al.,2003).<br />
rompimento da camada de material de parede. A coacervação<br />
em fase aquosa apenas pode ser usada para encapsular<br />
A atomização por spray dryer é utilizada para secagem<br />
de diversos produtos, como polpa de fruta e leite, além da materiais insolúveis em água e são necessários ajustes de<br />
produção das microesferas multinucleadas. O processo é pH e temperatura durante processo para garantir as condições<br />
ideais para interação dos materiais de parede, assim<br />
flexível e econômico devido a sua escala e alta difusividade<br />
da tecnologia, tornando vantajoso perante outras técnicas. como agentes de reticulação, para melhorar as interações<br />
Consiste na secagem das gotículas, por corrente de ar entre eles. Esta técnica é complexa, em termos operacionais,<br />
quente, de uma emulsão do ativo em solução de material e necessita de controle minucioso dos parâmetros de processo<br />
(SILVA et al.,2003; MASCARENHAS, 2010).<br />
de parede atomizada em câmara aquecida. O ativo é envolvido<br />
pelo material de parede de forma dispersa na matriz<br />
formando microesferas heterogêneas. É ampla a gama utilizada para o uso na piscicultura e na gastronomia molecu-<br />
Uma técnica muito interessante e que tem sido amplamente<br />
de materiais de parede que podem ser utilizados como lar é a gelificação iônica. Esta técnica envolve uma solução<br />
caseinatos, gelatinas, amidos, proteínas de leite, açúcares de polímero com íons de baixa massa molar interagindo com<br />
e outros. Entre os materiais a serem microencapsulados, polieletrólitos de cargas opostas formando um complexo, um<br />
podem ser lipossolúveis como hidrossolúveis (MASCARE- gel encapsulante. Normalmente se utiliza o alginato de sódio<br />
NHAS; GONÇALVES; ALVIM, 2014).<br />
ou pectina de baixo teor de metoxiliação como material de<br />
30 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
parede e íons de cálcio como agente de reticulação, reforçando<br />
a estrutura da parede formada das micropartículas.<br />
Existem dois tipos de gelificação iônica, a interna e a externa.<br />
Na gelificação iônica interna o sal de cálcio é adicionado<br />
à solução de alginato ou pectina contendo o ativo e com<br />
ajustes de pH ocorre a complexação do cálcio com os polímeros<br />
formando gel e encapsulando o ativo. Na gelificação<br />
iônica externa a solução de polímero é emulsionada com<br />
o ativo e pulverizada em solução catiônica de cálcio, sob<br />
agitação constante. O gel é formado no momento em que a<br />
gota encontra com a solução catiônica e a encapsulação do<br />
ativo ocorre. A concentração de polímeros e dos cátions, a<br />
força iônica e o pH influenciam na cinética de formação do<br />
gel, espessura da camada de parede, porosidade e estabilidade<br />
da parede, consequentemente no perfil de liberação<br />
do ativo. Uma desvantagem é que estas micropartículas<br />
são sensíveis a ambientes ácidos, pois perdem a sua estabilidade<br />
mecânica nesses ambientes. Além disso, o gel de<br />
alginato é formado na presença de íons de cálcio, assim, a<br />
sua integridade é deteriorada quando sujeita a íons monovalentes<br />
ou quelantes (fosfatos, lactatos e citratos) (SILVA et<br />
al., 2003; CORREA, 2008; SOUZA, 2012).<br />
AVALIAÇÃO DAS MICROPARTÍCULAS<br />
Antes da aplicação das micropartículas nos alimentos e<br />
rações é necessária sua avaliação e a caracterização é definida<br />
de acordo com as técnicas que foram utilizadas para<br />
produção. A avaliação deve ser em relação à morfologia<br />
das micropartículas, eficiência de encapsulação, perfil de<br />
liberação do material de recheio, propriedades físicas e<br />
estabilidade. A morfologia das micropartículas inclui a estrutura<br />
externa da parede e as propriedades de superfície<br />
como formato, tamanho e distribuição de tamanho de partículas,<br />
porosidade, grau de dureza da superfície.<br />
A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) possibilita<br />
verificar o formato das micropartículas, tamanho das partículas<br />
e as propriedades de superfície como rugosidades,<br />
porosidade, etc. A Microscopia de Força Atômica (MFA) é<br />
uma ferramenta poderosa na verificação da superfície das<br />
micropartículas, pois é possível obter informações tridimensionais<br />
da topografia da superfície externa, verificando<br />
a rugosidades e outras informações mais detalhadas,<br />
porém é uma técnica de difícil realização.<br />
A Análise de Microscopia Confocal (CLSM) pode servir<br />
como exploração da distribuição do ativo no material de<br />
parede, apenas marcando o ativo com uma substância<br />
fluorescente. Ao analisar as imagens, é possível verificar<br />
a homogeneidade da distribuição do ativo no material de<br />
parede e assim poder ter informações importantes para<br />
o estudo da liberação controlada do ativo nas aplicações.<br />
Em alguns casos, a Microscopia Ótica sob Luz Polarizada<br />
(MOLP) é uma opção simples e rápida de avaliação das<br />
micropartículas, principalmente em relação ao tamanho<br />
de partícula e distribuição do ativo na micropartícula, no<br />
caso das obtidas por gelificação iônica e coacervação<br />
complexa.<br />
O perfil de liberação é um importante parâmetro a ser avaliado<br />
para que possa ser considerado nas aplicações em<br />
formulações de produtos ou mesmo direcionar o uso das<br />
micropartículas. Após definir condições a serem testadas<br />
baseadas nas aplicações e no sistema gastrointestinal de<br />
humanos e animais, uma análise de detecção do material<br />
de recheio deve ser definida, normalmente utilizando a<br />
cromatografia ou espectroscopia.<br />
As propriedades físico-químicas das micropartículas devem<br />
ser avaliadas incluindo a densidade, permeabilidade,<br />
mobilidade eletroforética e porosidade que irão interferir<br />
na solubilidade em diversos meios e a estabilidade<br />
mecânica do material de parede para avaliação do mecanismo<br />
de gatilho de liberação do ativo.<br />
Em relação ao processo, é fundamental definir a eficiência<br />
de encapsulação, que define a real quantidade de material<br />
encapsulado, e o rendimento de processo. As análises<br />
são simples, porém deve ser específicas para cada<br />
micropartícula, além de levar em consideração as formas<br />
de aplicação que sofrerão as micropartículas (HUANG;<br />
CHEN, 2006)<br />
As análises de estabilidade devem ser adequadas conforme<br />
as condições de armazenamento e uso das micropartículas.<br />
Condições simulando estas situações devem<br />
ser realizadas e as análises devem seguir a metodologia<br />
utilizada para avaliação da produção das micropartículas.<br />
POTENCIAL DE APLICAÇÃO<br />
DA NANOTECNOLOGIA<br />
Toda a cadeia produtiva de alimentos pode ser interferida<br />
pela nanotecnologia. Na produção agrícola com defensivos<br />
agrícolas encapsulados mais eficientes e seguros; no<br />
desenvolvimento de produtos processados com uso de<br />
nanomateriais, nanosensores e nanoingredientes, nas embalagens,<br />
através do uso de embalagens ativas (contendo<br />
nanocompósitos, nanofibras, nanopartículas), que permi-<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
31
Figura 02. Definição das Micropartículas<br />
Fonte: SILVA et al., 2003<br />
tem a liberação de substâncias no produto, melhorando suas<br />
características (processos de cura e maturação, fermentação<br />
controlada, enzimas, flavorizantes, nutrientes) e no armazenamento<br />
e comercialização, por meio de embalagens contendo<br />
nanosensores, permitindo que o produto avise ao consumidor<br />
caso o produto esteja fora do padrão de qualidade (ALVIM,<br />
2015; MARQUES, 2016).<br />
Na linha de ingredientes para alimentos e nutrição animal<br />
existem inúmeros exemplos no mercado do uso desta tecnologia<br />
como os ingredientes funcionais visando o aumento<br />
de biodisponibilidade dos ativos e desenvolvimento de novas<br />
texturas, cores e aromas. A microencapsulação tem sido utilizada<br />
desde 1930 na fabricação de aromas em pó (SHAHIDI;<br />
HAN,1993; GOUIN, 2004; GIBBS et al.,1999).<br />
Além da aplicação como parte dos produtos na forma de ingrediente,<br />
o uso de nanosensores capazes de detectar substâncias<br />
e componentes potencialmente nocivos à saúde ou<br />
na rastreabilidade de produtos tem sido uma aplicação da<br />
nanotecnologia na segurança no consumo de alimentos. Neste<br />
mesmo propósito, as embalagens dos alimentos também<br />
estão sendo repensadas e desenvolvidas com esta tecnologia<br />
utilizando nanosensores que informam ao consumidor o estado<br />
do produto, denominadas como embalagens inteligentes.<br />
Além disto, a aplicação de nanotecnologia na produção de<br />
embalagens reforçando a barreira e o meio externo também<br />
já é vista no mercado (ALVIM, 2015; MARQUES, 2016).<br />
No mercado já existem inúmeros produtos utilizando esta tecnologia<br />
para uso em animais e alimentos. Com a garantia de<br />
entrega de probióticos e enzimas mais estáveis na prateleira,<br />
superando reações e interações com os diferentes ingredientes,<br />
como a Vitamina C, ou com o mascaramento do sabor<br />
de substâncias metálicas como os compostos ferrosos, esta<br />
tecnologia aprimora a entrega e biodisponibilidade de compostos<br />
nutracêuticos que são conhecidos por terem efeitos<br />
terapêuticos e preventivos de doenças.<br />
Avicultura e suinocultura<br />
Na área da saúde animal o uso da nanotecnologia é presente<br />
na produção de nanovacinas, terapias genéticas e medicamentos.<br />
Além disto, existem nanomateriais que foram desenvolvidos<br />
para recuperação de danos em tecidos dos animais<br />
(PERES; GAONKAR, 2014).<br />
Como comentado, o perfil de liberação é uma grande ferramenta<br />
que a microencapsulação oferece para o desenvolvimento<br />
de produtos inovadores. Devido à demanda por<br />
substitutos naturais aos antibióticos tradicionais utilizados na<br />
criação de frango de corte e suínos, inúmeros estudos estão<br />
sendo realizados e produtos lançados no mercado como base<br />
em ácidos orgânicos e óleos essenciais extraídos de plantas.<br />
Estes ingredientes apresentam resultados favoráveis na ação<br />
antibacteriana e na melhoria do desenvolvimento dos animais<br />
pela modulação da microflora intestinal em favor de bactérias<br />
benéficas. Como a atuação mais efetiva deve ser no intestino<br />
de aves e suínos, estudos mostram que a forma microencapsulada<br />
se torna uma vantagem competitiva perante o uso direto<br />
na alimentação dos animais. Os estudos têm mostrado que o<br />
uso destes ingredientes diretamente sofrem absorção imediata<br />
ou metabolização rápida ao entrar no duodeno, reduzindo<br />
sua eficácia, portanto, proteger estes ativos do metabolismo<br />
e da absorção precoce através da microencapsulação pode<br />
ser uma abordagem para aumentar a sua eficácia (GHEISAR;<br />
HOSSEINDOUST;KIM, 2015; ZHANG et al., 2014; GRILLI et<br />
al., 2015).<br />
Alguns trabalhos realizados para a produção destas micropartículas<br />
utilizaram as técnicas diferenciadas, como a gelificação<br />
iônica com o uso de alginato e proteína de soro como material<br />
de parede (ZHANG et al., 2014), a técnica de spray cooling<br />
com o uso de gordura como material de parede (GRILLI et<br />
al., 2015) e técnicas conjuntas de micronização, pulverização e<br />
leito fluidizado (HAN; HWANG;THACKER, 2011).<br />
Na área de nutrição animal, os nanocompostos de MgO-SiO 2<br />
e de Montmorilonita modificado são efetivos agentes removedores<br />
de aflatoxina de cereais para alimentação de animais.<br />
Algumas nanopartículas poliméricas atuam como detectores<br />
de uma variedade de produtos químicos e microbianos contaminantes<br />
em alimentos para animais. Um exemplo é o uso<br />
de nanopartículas poliméricas em animal vivo para reduzir a<br />
contaminação por Campylobacter (PERES; GAONKAR, 2014).<br />
Na criação de suínos, tem sido utilizado o aminoácido lisina<br />
microencapsulado para a complementação de dietas de baixo<br />
teor de proteínas. Durante a fase final de crescimento do<br />
animal antes do abate, a dieta de baixa proteína é interessante<br />
32 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
por reduzir a quantidade de nitrogênio nos excrementos, gerando<br />
menor quantidade de amônia nos estrumes; por reduzir<br />
a água ingerida e consequentemente menor volume de estrume<br />
gerado; por reduzir a energia gasta pelo animal para<br />
metabolização dos aminoácidos em excesso. Porém, esta<br />
dieta reduzida não pode afetar o desempenho de crescimento<br />
dos animais e a qualidade da carcaça, sendo a complementação<br />
uma opção. Como a lisina sintética isolada é sensível<br />
em condições ácidas do estômago e rapidamente absorvida<br />
no trato digestivo, reduzindo sua eficiência metabólica, a microencapsulação<br />
da lisina em material de parede lipídico é<br />
uma proteção e uma forma de liberação controlada. Estudo<br />
com redução de 3% de proteína da dieta de suínos e complementação<br />
de aminoácido lisina sintético microencapsulado<br />
apresentou efeitos metabólicos mais favoráveis que o uso de<br />
dieta tradicional e dieta com redução de proteína com complementação<br />
de lisina não encapsulada. Além disto, a redução<br />
de nitrogênio no excremento possui vantagem em relação ao<br />
meio ambiente. Autores atribuem o maior nível de utilização da<br />
lisina na forma microencapsulada devido a sua taxa mais lenta<br />
de libertação e absorção no organismo do animal<br />
(PRANDINI et al. 2013).<br />
Estudos em frango de corte avaliaram o uso de<br />
microencapsulados de inulina com vitamina E<br />
na alimentação como substitutos de antibióticos<br />
tradicionais e na melhora do desenvolvimento<br />
dos animais. Os resultados foram superiores<br />
com melhoria de produtividade das aves<br />
abatidas (SANG-OH; BYUNG-SUNG, 2011).<br />
O uso da microencapsulação para vitaminas<br />
e minerais é de extrema valia, pois a maioria<br />
destas substâncias são sensíveis e reativas,<br />
além de algumas delas apresentarem efeitos<br />
maléficos ao meio ambiente ao serem liberadas<br />
nos excrementos dos animais. A biodisponibilidade<br />
destes compostos é aumentada pela<br />
proteção e pela liberação controlada somente<br />
no local desejado. O zinco, por exemplo, é de<br />
grande importância no combate a diarreia em<br />
leitões desmamados, porém a adição deste mineral<br />
diretamente na dieta como óxido de zinco<br />
deve ser muito alta para garantir a eficiência,<br />
saindo dos limites permitidos por legislação.<br />
Existe no mercado a opção de zinco microencapsulado<br />
que é adicionado em quantidades<br />
menores ao limite permitido e apresentam resultados<br />
satisfatórios ao combate à diarreia. A microencapsulação<br />
protege o óxido de zinco do ácido do estômago, que o<br />
converte em cloreto de zinco, uma forma inativa. Por esta razão<br />
deve ser adicionado em grande quantidade se estiverem na<br />
forma livre. Por ser adicionado em menor quantidade o zinco<br />
microencapsulado também reduz os efeitos maléficos ao meio<br />
ambiente por reduzir a quantidade deste composto nos excrementos<br />
dos animais (SALOBIR; FRANKIC; REZAR, 2012).<br />
As enzimas são proteínas existentes em qualquer sistema biológico<br />
e de fundamental importância para o funcionamento<br />
dos organismos. As enzimas digestivas são produzidas pelos<br />
organismos ou podem ser administradas externamente. No<br />
sistema de criação de aves, o custo da alimentação é a maior<br />
despesa, responsável por 70% do custo de produção. Assim, a<br />
utilização de enzima é um desafio nesta área e sua otimização<br />
é imprescindível. A melhoria de eficiência das formulações<br />
de rações animais aumentando a biodisponibilidade nutricional<br />
com redução de custo é o desafio. Como as enzimas são<br />
sensíveis à alta umidade e temperaturas elevadas sofrendo<br />
perda de eficiência, a maioria delas não suporta o processo<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
33
convencional de produção de ração para aves, a extrusão,<br />
que requer alta temperatura e vapor, mesmo que em tempo<br />
curto. Para garantir eficácia na alimentação dos animais<br />
a quantidade de enzima deve ser bem superior do necessário,<br />
aumentando o custo de formulação. Sendo assim, a<br />
microencapsulação pode proteger as enzimas no processo<br />
e garantir sua eficiência na utilização em rações para aves.<br />
Produtos do mercado apresentaram taxa de recuperação de<br />
94% de enzimas microencapsuladas em rações submetidas<br />
ao processo de extrusão. Além da proteção ao processo de<br />
fabricação da ração, a liberação da enzima é controlada e<br />
esta é liberada apenas no local onde seja mais eficaz sua<br />
ação. O custo pode ser compensado com não necessidade<br />
de excesso de dosagem das enzimas nas formulações e não<br />
necessidade de embalagens e condições de armazenamento<br />
especiais para as enzimas.<br />
Produtos de origem animal para consumo<br />
Nos alimentos prontos de origem animal, as carnes para<br />
consumo apresentaram menores níveis de contaminação durante<br />
estocagem com adição de agentes bactericidas como<br />
alguns temperos (canela e orégano) e ácidos orgânicos microencapsulados<br />
(HUQ et al., 2015).<br />
Em produtos cárneos prontos, o uso de extrato de própolis<br />
microencapsulado em amido modificado por spray drying<br />
foi testado como uma opção de antioxidante natural e os resultados<br />
foram um aumento da estabilidade oxidativa da gordura<br />
de hambúrguer, sendo uma opção muito interessante e<br />
promissora para novos estudos em diversas aplicações de<br />
produtos cárneos (REIS et al., 2016).<br />
A Embrapa Suínos e Aves (SC) tem realizado pesquisas de<br />
películas para revestimento de ovo que podem aumentar o<br />
tempo de prateleira ou vida útil dos ovos, sem necessidade<br />
de refrigeração, garantindo valor agregado ao produto e<br />
economia de energia pela cadeia de abastecimento e venda.<br />
A pesquisa busca uma película contendo nanopartículas<br />
com potencial para reduzir problemas de contaminação microbiana,<br />
melhorar as propriedades de permeabilidade da<br />
casca e aumentar a resistência mecânica, reduzindo a degradação<br />
interna, aumentando o tempo de armazenamento e<br />
mantendo características e propriedades nutritivas originais<br />
do ovo (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2016).<br />
A microencapsulação tem sido utilizada em várias aplicações<br />
de processamento de alimentos. Inúmeros aromas já<br />
utilizam esta tecnologia, entregando sabores de alto impacto<br />
ou tornando o sabor de produtos mais agradável. A melhoria<br />
das características sensoriais dos produtos com o uso desta<br />
tecnologia também são observadas, já no mercado, em<br />
melhoria de texturas (estruturantes) e aparência (corantes).<br />
Além disto, esta tecnologia também está sendo utilizada na<br />
otimização de processo como na fermentação em panificação<br />
e produtos cárneos e lácteos e na extensão de vida de<br />
prateleira (MASCARENHAS, 2015; RAMACHANDRAIAH;<br />
HAN; CHIN; 2015; DIMITRELLOU et al., 2016, SAGIS, 2015).<br />
FUTURO DA NANOTECNOLOGIA<br />
A inovação na indústria de alimentos necessita da mudança<br />
de foco da observação das propriedades macroscópicas<br />
para aquelas que surgem na escala nano e micro, observando<br />
as interferências modificadas de sua funcionalidade no<br />
alimento e em seu impacto nos organismos vivos. Por este<br />
motivo, além dos inúmeros desafios tecnológicos de produção<br />
destas micropartículas, o estudo da relação entre micro<br />
e macro moléculas em relação às funcionalidades físicas e<br />
nutricionais deve ser aprofundado.<br />
No Brasil o desenvolvimento desta tecnologia na área de<br />
alimentos é embrionário e para alavancar este processo é<br />
necessário maior investimento, desde a formação de profissionais<br />
especializados, como em projetos de pesquisa e na<br />
cadeia de produção, tornando esta tecnologia viável comercialmente.<br />
Hoje, muitos destes produtos já encontrados no<br />
mercado são importados e com altos custos, porém o mercado<br />
ainda está pouco explorado. Com custos menores em<br />
produções locais, o crescimento será garantido. A legislação,<br />
em relação aos aspectos regulatórios, também precisa<br />
acompanhar este processo, pois muitos materiais e produtos<br />
finais ainda são limitados ao uso em uma gama grande de<br />
produtos, dificultando o desenvolvimento desta tecnologia<br />
neste mercado. Como é um conceito novo no mercado, o<br />
uso desta tecnologia em produtos deve demonstrar segurança<br />
aos consumidores e ao meio ambiente, mesmo considerando<br />
suas propriedades diferenciadas pela sua escala de<br />
tamanho, e através da ampla divulgação e conhecimento dos<br />
consumidores, auxiliar na sua aceitação. SI<br />
1<br />
PhD em Tecnologia de Alimentos – Unicamp; consultora<br />
nas áreas de P&D e Nanotecnologia, Noviga Partner. E-mail:<br />
crisnuccimasca@uol.com.br<br />
As Referências Bibliográficas deste artigo podem ser obtidas<br />
no site da <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> por meio do link:<br />
www.suinoculturaindustrial.com.br/nanotecnologia272<br />
34 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
35
Produtor Independente<br />
Controle de qualidade<br />
e fabricação própria<br />
de ração colocam<br />
suinocultor na vanguarda<br />
do mercado paulista<br />
Produzindo 16 dietas suínas diferentes, uma para cada fase da vida do animal, com instalações<br />
funcionais, a Ianni Agropecuária dá exemplo de sobrevivência, economia e diversificação,<br />
fundamentais em tempos difíceis para o setor.<br />
Por_Fernanda Oliva<br />
Garantir a qualidade da alimentação animal é<br />
uma das premissas que muitos produtores<br />
independentes seguem à risca para oferecer<br />
ao consumidor um produto diferenciado<br />
e, com isso, não perder a competitividade. Sob esse aspecto,<br />
encontra-se o alto custo com ração, diante de valores<br />
crescentes dos insumos que o forçam a buscar alternativas<br />
economicamente viáveis como a produção da própria dieta.<br />
Um eficiente controle de qualidade dos alimentos produzidos,<br />
unido a instalações modernas e funcionais, reduzem<br />
custos e, consequentemente, aumentam a rentabilidade.<br />
Seguindo a risca essa proposta, a Ianni Agropecuária tornou-se<br />
referência no Estado de São Paulo adotando práticas<br />
minuciosas no cuidado com o trato dos animais.<br />
36 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Com sede em Itu, a Ianni Agropecuária produz aproximadamente<br />
1.200 toneladas de ração ao mês, para alimentar<br />
um plantel de 2.450 matrizes, abrigadas também na propriedade<br />
de Porto Feliz (SP). Para manter a produção, a<br />
empresa conta com o envolvimento de mais de 100 funcionários,<br />
atuando nos processos relativos à manutenção das<br />
instalações, produção de dietas, transportes de insumos,<br />
dietas e suínos, tratamento e destino adequado dos dejetos,<br />
administração, pecuária intensiva de corte, com a produção<br />
própria de silagem para esta última.<br />
O sistema de produção de ciclo completo exige um mix de<br />
alimentação elaborada para cada fase ou etapa de produção<br />
animal. Todo o processo se inicia com as aquisições<br />
de ingredientes de qualidade, que serão destinados para<br />
produção das dietas. Para tanto a empresa se utiliza do CSP,<br />
Consórcio Suíno Paulista, responsável pela aquisição dos insumos.<br />
Áurea Cristina Ianni Rayel zootecnista, formada pela<br />
Universidade de São Paulo (USP - Pirassununga) e pós-graduada<br />
em MBA em Agronegócios pela USP-ESALQ, responsável<br />
pela Unidade Administrativa (UA) e pela Unidade de<br />
Produção de Ração (UPR), localizadas a 8 km do criatório<br />
de Itu e a 16 km do criatório de Porto Feliz, conta que o ciclo<br />
se inicia já na descarga das matérias-primas, adquiridas<br />
de terceiros. Assim que os grãos chegam, a UPR realiza<br />
algumas análises, a fim de decidir pelo seu recebimento ou<br />
recusa. “Se for milho ou sorgo, coletamos uma análise para<br />
verificar a quantidade de impurezas, de ardidos, carunchados<br />
e a umidade”, descreve.<br />
Áurea explica que esses cuidados iniciais são necessários<br />
para garantir a qualidade da compra e da ração. “Se estiver,<br />
por exemplo, fora da umidade que determinamos, não<br />
recebemos”, conta a zootecnista enquanto separa um punhado<br />
de sorgo para identificar os grãos quebrados e com<br />
impurezas. “Cada item tem um limite máximo a ser aceito.<br />
Fazemos esse processo de separação para ver se está dentro<br />
dos padrões exigidos, que estão em uma planilha. Sendo<br />
tudo aprovado na nossa análise primária, guardamos<br />
uma amostra e enviamos ao laboratório terceirizado para<br />
daí ver a quantidade de proteína, fibra, matéria mineral, enfim,<br />
tudo o que não conseguimos fazer aqui”, diz. Se a matéria-prima<br />
comprada não for grão, precisa estar acompanhada<br />
de um laudo para ser recebida. “Pegamos esse laudo,<br />
comparamos ao nosso padrão de recebimento e, mesmo<br />
que esteja adequado, também mandamos o produto para<br />
fazer um teste laboratorial. Isso normalmente acontece com<br />
farinha de carne, soro de leite, calcário, farelo de soja, entre<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
37
Para a elaboração de cada dieta é separada a quantidade<br />
de matéria-prima que será usada em cada ração, onde o<br />
milho e o farelo de soja são os principais ingredientes, em<br />
termos de quantidade. Didaticamente dividem-se as matérias-primas<br />
ou ingredientes em macronutrientes, aqueles<br />
que participam em maior quantidade, representados<br />
basicamente pelo milho, sorgo e farelo<br />
de soja e micronutrientes; outros participam<br />
em menores quantidades, repre-<br />
Na Unidade Produtora<br />
de Ração os grãos são<br />
sentados pelos aminoácidos, vitaminas,<br />
minuciosamente préminerais,<br />
enzimas, entre outros.<br />
-selecionados para verificar<br />
O processo de produção é dividido em<br />
a quantidade de impurezas,<br />
outros produtos”.<br />
duas etapas, com a finalidade de se obter<br />
de ardidos, carunchados e<br />
A zootecnista ressalta que as coletas<br />
uma maior homogeneidade dos ingredientes<br />
dentro das dietas, melhorando<br />
a umidade. Na foto Áurea<br />
e análises não são diárias, porém<br />
Ianni, responsável pela UPR<br />
se fazem necessárias para manter<br />
assim a qualidade das misturas. Primeiramente,<br />
são produzidas as pré-misturas,<br />
a qualidade alimentar. “As amostras<br />
enviadas aos laboratórios terceirizados são importantes que possuem basicamente os micronutrientes e na sequência<br />
se produzem as misturas, que nada mais são do que a<br />
também porque o nutricionista se baseia nelas para fazer<br />
as dietas. Esses ingredientes têm uma variabilidade importante<br />
a serem analisadas, principalmente produtos lácteos - etapas visa unicamente melhorar e assegurar uma melhor<br />
produção final das dietas. A divisão da produção em duas<br />
se não fizer uma análise, você está pagando muito caro por qualidade de mistura, propiciando que os animais consumam<br />
realmente o que está desenhado no programa nutricio-<br />
um produto que pode estar fraudado”, conta. As compras<br />
em grande quantidade são feitas com auxílio do Consórcio<br />
Suíno Paulista, idealizado pela Associação Paulista dos menos palatáveis.<br />
nal, evitando que selecionem ou segreguem os ingredientes<br />
Criadores de Suínos (APCS).<br />
A Unidade Produtora de Ração está instalada em uma área Economia e especificidade<br />
de aproximadamente 10.000 m², contando com equipamentos<br />
e galpões para armazenagem de matérias-primas. gável a necessidade de desenvolver mecanismos que mi-<br />
Em tempos de instabilidade no mercado suinícola, é ine-<br />
Depois de produzidas as rações, são coletadas amostras nimizem os prejuízos do negócio como um todo, produzir a<br />
das mesmas para analisar se estão atendendo aos padrões própria ração é uma vantagem econômica para o produtor.<br />
previamente estabelecidos.<br />
“As combinações dos ingredientes são feitas tecnicamente<br />
para se produzir dietas a menores custos, que atendam as<br />
Dietas<br />
necessidades específicas de cada grupo de animais. Adquirir<br />
rações prontas inviabilizaria definitivamente a produ-<br />
Os 16 tipos de dietas fareladas têm como objetivo atender<br />
as necessidades nutricionais de cada fase da vida ção de suínos. A suinocultura só é possível se produzirmos<br />
dos suínos, maximizando sua produção e produtividade,<br />
como segue: na fase de produção - Pré-Maternidade; tonio Ianni, proprietário.<br />
as dietas que fornecemos para nossos animais”, relata An-<br />
Pré-Inicial I, Pré-Inicial II, Pré-Inicial III, Inicial, Inicial Transferência;<br />
Crescimento I, Crescimento II, Crescimento III, Instalações modernas<br />
Crescimento IV e Terminação; na fase de preparação de Unindo a eficiência de manter a própria produção, a família<br />
Ianni investiu em instalações funcionais com o objetivo<br />
marrãs - Marrãs I e Marrãs II; na fase de gestação - Gestação;<br />
na fase de amamentação – Lactação; o macho reprodutor<br />
- Reprodutor. Depois de produzidas as rações são setor creche, com cerca de dez anos de funcionamento, os<br />
de garantir bem-estar animal e qualidade na produção. No<br />
transportadas a granel até os silos de armazenamento nos pisos na sua totalidade são ripados plásticos, os comedouros<br />
automáticos e as rações chegam até eles de forma setores de criação propriamente ditos.<br />
au-<br />
38 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
tomatizada. O setor é subdividido em oito salas, cada uma<br />
tem capacidade de alojar 900 leitões, do desmame até os<br />
63 dias de idade. Neste setor as rações também são armazenadas<br />
em silos aéreos, localizados fora dos barracões,<br />
sendo que cada lote de 450 leitões é servido por um silo<br />
independente, possibilitando se trabalhar com maior variedade<br />
de dietas, de acordo com as necessidades<br />
dos grupos de animais.<br />
A Unidade Produtora de<br />
Ianni entende que a exploração suinícola<br />
Leitões possui equipamentos<br />
nos moldes como está posta, é muito dependente<br />
das instalações. “As boas ins-<br />
que garantem o bem-estar<br />
dos animais, como sistema de<br />
talações promovem o bem-estar para os<br />
ventilação e automatização<br />
animais, transformando em rentabilidade<br />
2012, um conjunto de normas criadas<br />
pelo governo do Estado de São<br />
dos alimentos. Na foto<br />
para o suinocultor. É fundamental que o<br />
Angela Ianni, responsável<br />
suinocultor se conscientize de que tudo<br />
Paulo, junto à Associação Paulista<br />
pela UPL<br />
que se faz para tornar a vida dos animais<br />
dos Criadores de Suínos (APCS) e<br />
mais confortável, irá refletir em maior status<br />
sanitário dos mesmos, traduzindo em maior produção “Estamos extremamente preocupados com o futuro da sui-<br />
demais setores da cadeia suinícola.<br />
e produtividade”, entende. “A suinocultura confinada deve nocultura paulista e, logicamente, com o futuro do suinocultor,<br />
vivemos crises constantes e duradouras, que estão de-<br />
ser feita em instalações que confiram bem-estar para os<br />
animais, permitindo fácil acesso à água e à ração, abundantes<br />
e de boa qualidade, controle térmico, no que tange em nenhum momento deixar de aplicar tecnologias, porque<br />
lapidando sensivelmente nosso patrimônio. Não podemos<br />
a temperaturas e às correntes de vento, limpeza impecável se não fizermos vamos ter um produto pior e o mercado vai<br />
das baias, ou seja, os animais quando em bem-estar não nos penalizar por isso. Então, a todo o momento, estamos<br />
gostam de sujeira”, conscientiza.<br />
buscando melhorias técnicas de vanguarda, para atender<br />
A creche é 100% vazada, evitando que o animal se deite sobre<br />
as fezes, urina ou água. Cortinas e forros, além de ou-<br />
Antonio Ianni. SI<br />
o mercado de carnes, voltado ao consumidor final”, finaliza<br />
tros equipamentos, protegem e fornecem calefação, para<br />
evitar corrente de ventos e temperaturas abaixo do indicado<br />
para cada estágio de desenvolvimento. “Criar suínos é Família traz a suinocultura no sangue<br />
muito simples, basta que você se preocupe com o conforto A quarta geração da família Ianni está assumindo os<br />
dos animais, fazendo tudo para que o suíno esteja feliz, em negócios. Áurea Cristina Ianni Rayel e Andrea Cristina<br />
todas as unidades de produção, mesmo na recria e terminação.<br />
Se o suíno não sofrer certamente produzirá muito terinária, já fazem parte da rotina de administração da<br />
Ianni, zootecnistas, e Angela Cristina Ianni, médica ve-<br />
mais e a rentabilidade será muito maior. “Não podemos e suinocultura e dos demais negócios da família, sempre<br />
não devemos ser cruéis com os animais”, entende Ianni. acompanhadas pelo pai, Antonio Ianni. O primeiro a<br />
Apesar de possuir ciclo completo, os setores de produção<br />
seguem o conceito de múltiplos sítios, separados em por volta de 1913, estabelecendo-se em Itu (SP), falecen-<br />
chegar ao Brasil foi o imigrante italiano, Andrea Ianni,<br />
três ambientes, Unidade Produtoras de Leitões, Creche e do em 1934. Seu filho, Silvio Ianni assume os negócios,<br />
Recria/Terminação, distantes entre si, com a finalidade de dando continuidade à criação de suínos. Em 1949 adquire<br />
outra propriedade agrícola, mais distante da cidade,<br />
quebrar eventuais contaminações horizontais entre as fases.<br />
Os dejetos oriundos de todos os criatórios são tratados e transfere os criatórios, local onde hoje se localizam as<br />
em biodigestores e o biofertilizante aplicados no solo para Unidades, Administrativa e de Produção de Ração. Em<br />
a produção de silagem de milho, esta destinada à produção 1982, Antonio Ianni, neto de Andrea Ianni, assumiu integralmente<br />
os negócios, que agora vem sendo gradativa-<br />
de bovinos confinados.<br />
A suinocultura possui o “Selo Suíno Paulista” desde o ano de mente transferidos para as mãos das filhas.<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
39
12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Diferenciais competitivos<br />
para o setor<br />
Organizado pela Agroceres PIC, 12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong> reuniu gestores<br />
de 75% do plantel tecnificado brasileiro no Club Med Rio das Pedras para apresentar excelência<br />
de conteúdo.<br />
Por_Daniel Azevedo, do Rio de Janeiro (RJ)<br />
O12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC, realizado no Club Med Rio das<br />
Pedras, em setembro, promoveu uma imersão<br />
no tema “Investindo em Diferenciais de<br />
Competitividade” a 400 convidados, que representam 75%<br />
das matrizes tecnificadas do plantel brasileiro.<br />
“O Brasil tem a vocação para ser um dos Top 3 produtores<br />
mundiais de carne suína e será líder global em eficiência em<br />
breve. Este evento abordou todos os aspectos que cercam a<br />
atividade para que nosso cliente consiga o máximo desempenho”,<br />
introduziu o diretor Superintendente da Agroceres<br />
PIC, Alexandre Furtado da Rosa.<br />
Assim, as palestras desenharam um quadro abrangente<br />
de soluções e alternativas para a suinocultura nacional ao<br />
tratarem de genética, sanidade, nutrição, política, economia,<br />
grãos, planejamento e tendências dos consumidores,<br />
sempre com especialistas amplamente reconhecidos. Entre<br />
eles, grandes nomes nacionais e internacionais como o cronista<br />
Arnaldo Jabor, o economista Alexandre Schwartsman,<br />
o especialista André Pessôa, o administrador de empresas<br />
Pedro Janot, o expert Charlie Arnot e o veterinário Fernando<br />
Gomez, entre outros.<br />
“O propósito do evento não é discutir um momento específico<br />
do setor, mas sim, fazer um debate mais profundo<br />
sobre os principais itens e tendências que influenciam na<br />
competitividade da suinocultura brasileira”, resumiu Furtado<br />
da Rosa.<br />
Deste modo, os participantes foram inseridos no quadro<br />
sócio-político brasileiro com Jabor, conheceram a análise<br />
econômica de Schwartsman e tiveram acesso à leitura sobre<br />
o mercado de grãos de André Pessôa (ler texto a seguir),<br />
como contextualização para o segmento da suinocultura.<br />
40 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Em seguida, vieram as palestras sobre a “licença social”<br />
a partir de uma comunicação transparente com a sociedade,<br />
do estadunidense Charlie Arnot (veja nas próximas<br />
páginas); e sobre oportunidades de melhorias na fase de<br />
crescimento dos suínos com o chileno Fernando Gomez<br />
(leia a reportagem).<br />
“As crises são mais implacáveis para quem tem menor<br />
grau de tecnificação, não se protege na compra de grãos,<br />
peca no planejamento e não conta com mão de obra qualificada.<br />
Mas, hoje, temos uma suinocultura mais preparada<br />
para o momento do mercado que, inclusive, já dá<br />
melhores sinais para 2017”, concluiu o diretor Superintendente<br />
da Agroceres PIC.<br />
O conteúdo técnico prosseguiu com as estratégias de<br />
crescimento e planejamento do frigorífico mexicano Kekén,<br />
com o gerente de Operações Arón Aranzolo Labra;<br />
e as vantagens do pacote genético da PIC com o geneticista<br />
da empresa nos Estados Unidos, Matt Culbertson.<br />
Por fim, o administrador de empresas, Pedro Janot, primeiro<br />
presidente da Azul Linhas Aéreas e responsável pela<br />
estratégia para a fundação da companhia, apresentou o<br />
case e os princípios que a tornaram um sucesso mercadológico<br />
e, especialmente, de avaliação dos consumidores.<br />
A seguir, confira os textos sobre três palestras apresentadas<br />
no evento:<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
41
“O agro deve contar menos com o governo”, diz André Pessôa<br />
Consultor alerta que estoque de passagem de grãos deve continuar baixo e produtores deveriam<br />
garantir acesso a insumos com antecedência.<br />
Os principais insumos da suinocultura deverão<br />
continuar valorizados no mercado interno até<br />
a próxima safra. Esta foi uma das mensagens<br />
do consultor André Pessôa em sua palestra<br />
realizada no 12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC.<br />
“Com o câmbio mais favorável à exportação, os grãos brasileiros<br />
são os mais competitivos do mundo. Assim, o produtor de<br />
grãos não precisa fazer estoque pois sempre terá mercado e<br />
os estoques de passagem serão baixos novamente, sustentando<br />
preços”, analisa.<br />
Pessôa explica que a quebra da safrinha, agora chamada safra<br />
de verão, favoreceu o aumento dos preços dos insumos, no<br />
entanto não foi o principal fator. A razão para isso, segundo<br />
ele, é que o milho e a soja brasileira seguirão competitivos em<br />
preço e qualidade no mercado internacional.<br />
Nem mesmo a excelente produção nos Estados Unidos deve<br />
afetar fortemente os preços no mercado interno nos próximos<br />
meses, pois as cotações do mercado internacional, devido ao<br />
câmbio, permanecem acima do brasileiro.<br />
“Se o suinocultor quiser ter acesso a estoques, deverá comprar<br />
entre outubro e dezembro”, adianta. Por outro lado, o<br />
especialista também não aconselha os produtores de grãos a<br />
reter o produto esperando melhores preços, pois a oferta pode<br />
aumentar também no Brasil em 2017.<br />
Suínos X Insumos<br />
A relação de troca entre os principais insumos para a suinocultura<br />
melhorou a partir de julho, apesar de ainda não garantirem<br />
uma margem adequada à atividade até meados de<br />
setembro.<br />
Segundo o consultor André Pessôa, o quilo do suíno valorizou<br />
em relação ao milho, a ração e o farelo de soja e tinham tendência<br />
de melhorar ou ao menos manter-se até o final do ano.<br />
Por exemplo, a relação com o farelo de soja melhorou de 0,44<br />
em julho para 0,34 em agosto (ou quase 1 para 3), a da ração<br />
de 0,35 para 0,24 (1 para 4); e a do milho, de 0,3 para 0,21<br />
(praticamente 1 para 5). Os valores consideraram as cotações<br />
do suíno em Chapecó (SC), a do milho em Campinas (SP) e a<br />
da soja em Sorriso (MT).<br />
Ainda assim, no caso da ração e do milho, tais relações ainda<br />
estão entre as piores desde 2013 e bem longe das mais vantajosas<br />
aos suinocultores, que foram registradas por volta de<br />
outubro de 2014.<br />
Previsões<br />
A perspectiva para a safra 2016-2017 dos Estados Unidos<br />
é muito positiva tanto para milho, que pode chegar a 383<br />
milhões de toneladas, como para soja, que deve girar ao<br />
redor de 114 milhões de toneladas.<br />
Já no Brasil, a produção de milho deve chegar a 92 milhões<br />
de toneladas e cerca de 102 milhões de toneladas de soja<br />
na safra 2016-2017. Tais projeções já consideram a redução<br />
da chance de haver um fenômeno La Niña, bem como uma<br />
ampliação da área para cultivo de milho.<br />
“É a melhor relação de troca dos últimos anos (sacas de<br />
soja ou milho X custos) para os produtores de grãos. Este é<br />
um forte estímulo para manutenção da área ou ampliação,<br />
especialmente para o milho”, disse.<br />
No entanto, em curto prazo, a sensação<br />
de escassez milho no mercado interno<br />
deve permanecer, pelo menos até janeiro.<br />
Isso porque o estoque de passagem<br />
deve ficar próximo a cinco milhões de<br />
toneladas.<br />
Iniciativa privada<br />
Com as dificuldades orçamentárias<br />
do governo,<br />
o consultor sugere<br />
ainda que o setor do<br />
agronegócio procure as<br />
próprias soluções para<br />
garantir a estabilidade,<br />
tanto para a agricultura<br />
como para a pecuária.<br />
“O governo terá ainda<br />
menos capacidade<br />
de gerar soluções, por<br />
exemplo, para o estoque<br />
de passagem. Por isso,<br />
o agronegócio depende<br />
ainda mais dos próprios<br />
esforços”, alerta.<br />
42 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
“Transparência é chave para ter a confiança do consumidor”,<br />
diz especialista<br />
Consultor Charlie Arnot defende que setor deve garantir sua “licença social” e evitar dificuldades<br />
e prejuízos.<br />
Oestadunidense Charlie Arnot frisou que a transparência<br />
na comunicação com a sociedade é<br />
indispensável para garantir a “licença social”<br />
para a suinocultura, em sua palestra no 12º Seminário<br />
Internacional de <strong>Suinocultura</strong> Agroceres PIC.<br />
O CEO do Center for Food Integrity explicou que, apesar de<br />
uma fantástica indústria alimentícia, os consumidores acreditam<br />
cada vez menos nas empresas do setor, em instituições<br />
governamentais ou mesmo em argumentos científicos.<br />
“Este foi um processo de décadas que fez o público ficar cético<br />
das instituições, das autoridades. Nos últimos 45 anos, os<br />
alimentos ficaram mais seguros, baratos e acessíveis. Mas o<br />
público vê o agronegócio como uma mesma instituição, que<br />
só visa o lucro, polui, desmata e maltrata animais”, sintetizou.<br />
Já que os alimentos são um item muito importante para todas<br />
as pessoas, recuperar a confiança dos consumidores é crucial<br />
para evitar uma série de dificuldades e prejuízos, inclusive<br />
para garantir a continuidade das indústrias.<br />
“Este quadro exige a licença social, ou seja, a aceitação por<br />
parte da sociedade de que determinada atividade ou empresa<br />
cumpre valores, princípios e é transparente a ponto de ser<br />
respeitada”, detalhou.<br />
Temas sensíveis<br />
No caso da suinocultura, Arnot destacou temas polêmicos<br />
como o uso de gaiolas individuais, o manejo animal, o bem-<br />
-estar e o uso de antibióticos, entre outros.<br />
“A comunicação do setor deve ser transparente a ponto de<br />
admitir erros, mostrar o que está errado e agir para compartilhar<br />
valores com a sociedade. Neste caso, a comunicação<br />
tradicional não funciona”, destacou.<br />
No passado, prossegue, a autoridade era reconhecida pelo<br />
cargo de um interlocutor e, atualmente, se dá pelo relacionamento.<br />
Do mesmo modo, o consumidor tem muito mais<br />
diversidade de informação e nem todo tipo de tecnologia é<br />
valorizada, entre outros aspectos.<br />
A construção de uma relação de confiança passa por compartilhar<br />
valores, ser honesto e, principalmente, transparente.<br />
“Valores sociais compartilhados são de três a cinco vezes<br />
mais importantes para gerar confiança do que competência<br />
ou estudos científicos”, argumentou.<br />
Para o CEO, o agronegócio e seus especialistas têm os dados<br />
e podem construir este tipo de relação, mas poder é diferente<br />
de fazer. “Além disso, dever também é diferente de poder. O<br />
conhecimento mostra que deveríamos fazer esta mudança na<br />
relação com a sociedade”, frisou.<br />
Ele relata o exemplo das Ongs, que já entram nos debates<br />
com superioridade moral e mais aceitação pública, uma vez<br />
que as empresas sempre são vistas preocupadas apenas<br />
com o lucro. “Precisamos admitir claramente que devemos<br />
produzir de maneira sustentável, responsável e segura, e agir<br />
com muita transparência”, alertou.<br />
Como ser transparente?<br />
Os sete passos para ser transparente na relação com a sociedade<br />
são, segundo o especialista, a motivação, a abertura, a<br />
participação, a relevância das informações, a clareza das mensagens,<br />
a credibilidade e a precisão do discurso.<br />
“Nossa pesquisa do Center for Food Integrity mostrou que a<br />
transparência não é mais opcional. A opinião de um grupo de<br />
mães, por exemplo, pode ter mais peso do que de um especialista.<br />
Infelizmente, fatos científicos não são<br />
mais suficientes”, comparou.<br />
Mas há oportunidades para estabelecer<br />
esta relação de confiança por<br />
meio da comunicação. “Por exemplo,<br />
atualmente há grande interesse sobre<br />
o que o alimento contém ou como é feito.<br />
Assim, é importante demonstrar<br />
como são as práticas de produção<br />
e responder as questões de<br />
forma rápida”, acrescentou.<br />
Por fim, o especialista<br />
defendeu que comunicar<br />
valores torna as<br />
informações técnicas<br />
menos relevantes. “Isso<br />
requer uma mudança de pensamento<br />
e comunicação. As pessoas<br />
não se importam o quanto<br />
você sabe até que saibam o<br />
quanto você se importa”, finalizou.<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
43
Especialista destaca fatores-chave para melhor<br />
expressão da genética<br />
Fernando Gomez alerta para necessidade de planejamento de instalações flexíveis.<br />
Omédico veterinário Fernando Gomez,<br />
especialista da PIC em fase de crescimento<br />
de suínos, destacou cinco<br />
fatores-chave para o desempenho<br />
pós-desmame, em sua palestra realizada no segundo<br />
dia do 12º Seminário Internacional de <strong>Suinocultura</strong><br />
Agroceres PIC.<br />
Segundo o técnico chileno da PIC, os cuidados iniciais,<br />
o acesso à ração, ventilação, a disponibilidade<br />
de água e o espaço vital são fatores que combinados e<br />
sem investimentos custosos resultam na maior expressão<br />
do potencial genético dos suínos.<br />
“Naturalmente, existem outros fatores<br />
fundamentais como sanidade,<br />
nutrição e outros, mas destaco<br />
apenas o impacto destes cinco<br />
tópicos para mostrar como influenciam<br />
nos resultados e devem ser<br />
considerados inclusive no planejamento<br />
das instalações”,<br />
argumentou.<br />
Deste modo, ele demonstrou<br />
que o planejamento<br />
sobre estes cinco<br />
fatores traz oportunidades<br />
de GPD (Ganho de Peso<br />
Diário), redução de mortalidade,<br />
variação do peso no<br />
abate, qualidade da carne,<br />
bem-estar animal, segurança<br />
e ambiente.<br />
Gomez ressaltou, inclusive, a<br />
importância de os gestores investirem<br />
em instalações flexíveis.<br />
Assim, continuou, os galpões continuarão<br />
permitindo o desempenho<br />
ótimo dos animais mesmo com<br />
mais peso pela evolução genética<br />
ou demanda por suínos mais pesados que ocupariam<br />
mais espaço.<br />
Segundo o especialista, um estudo realizado pela<br />
PIC em granjas americanas apontou que elevar o<br />
peso de um suíno em 5 kg (127 kg X 122 kg) gerou<br />
3% mais densidade e 1,7% mais calor, além de haver<br />
exigido 1,3% mais espaço no comedouro, 6,6% mais<br />
disponibilidade de ração e 7,1% mais espaço para<br />
transporte.<br />
“A flexibilidade de comedouros e bebedouros, por<br />
exemplo, pode aumentar a eficiência de uma granja<br />
praticamente sem gerar mais custos e com muito<br />
mais rentabilidade. Temos casos de simples falta de<br />
planejamento que limitam o rendimento da criação<br />
em milhares de dólares por ano”, apontou.<br />
Ele comentou também que, em geral, as granjas<br />
da América Latina precisam melhorar os cuidados<br />
iniciais com leitões e aproveitar mais as vantagens<br />
geradas pela ventilação natural permitida pelas condições<br />
climáticas favoráveis em muitas regiões produtoras<br />
do continente.<br />
Genética<br />
O médico veterinário também apresentou resultados<br />
de outro estudo sobre desempenho realizado com o<br />
reprodutor AGPIC 359, lançado pela Agroceres PIC<br />
no Brasil durante o evento, e dois tipos de fêmeas.<br />
A matriz Camborough da PIC teve resultados melhores<br />
na maioria dos quesitos e, especialmente, na<br />
margem de lucro sobre o investimento em rações e<br />
instalações.<br />
“Considerando fatores como peso inicial, peso final,<br />
GPD, conversão alimentar, mortalidade, suínos de<br />
máximo valor e outros, chegamos ao resultado que<br />
a combinação do AGPIC 359 e a matriz Camborough<br />
produziu, em média, US$ 5 a mais por animal.<br />
Por isso, é preciso analisar a cadeia suína de forma<br />
completa”, comparou.<br />
44 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Revolução no Campo<br />
Aplicativos: tecnologia<br />
na palma da mão<br />
Com a disseminação dos dispositivos móveis, a informação chega porteira adentro, auxiliando<br />
o produtor na tomada de decisão e rentabilidade do negócio.<br />
Por_Fernanda Oliva<br />
Aexpressão “ter o mundo na palma da mão”,<br />
em dias atuais, faz realmente sentido. Vivemos<br />
a era da tecnologia, assistindo o agronegócio<br />
se atualizar na mesma velocidade<br />
que novas ferramentas surgem para facilitar a comunicação.<br />
Dispositivos móveis como smartphones e tablets<br />
são computadores de bolso que já se tornaram parte do<br />
cotidiano da população e caminham para ser uma extensão<br />
da cadeia produtiva por oferecer uma gama imensurável<br />
de dados precisos sobre informações que, até então,<br />
eram restritas. A funcionalidade dessas ferramentas auxilia<br />
na coleta e análise de dados da propriedade através de<br />
46 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Aplicativos (APPs) e softwares comprovando que o uso da<br />
tecnologia não é mais opção, mas sim uma condição para<br />
o desenvolvimento da produtividade.<br />
Mesmo que quiséssemos deixá-los passar despercebidos,<br />
os aplicativos estão cada vez mais usuais. De acordo com<br />
números do Kantar Ibope Media, divulgados na revista Exame,<br />
84% dos brasileiros usam ao menos um aplicativo em<br />
seus smartphones. De acordo com o Yahoo, que conduziu<br />
uma pesquisa sobre o uso de aplicativos ao lado da plataforma<br />
de análise Flurry Analytics, o Brasil está na 10ª colocação<br />
entre países que mais utilizam os sistemas operacionais,<br />
como iOS e Android. Esses softwares adaptados ao<br />
dispositivo móvel oferecem dados de fácil manuseio com<br />
uma interface adaptada para o dispositivo, com tráfego de<br />
dados necessários para navegação menor, além do acesso<br />
off-line, onde armazenam informações que possibilitam navegação<br />
mesmo sem acesso a internet.<br />
No agronegócio, com o aumento das possibilidades de<br />
acesso a informação, o que antes dependia de consultores,<br />
integradores ou empresas prestadoras de serviços ficou<br />
disponível ao produtor que passa a executar mecanismos<br />
envolvendo bases de dados e inteligência artificial.<br />
Luís Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Tecnologia<br />
Agrícola aponta que essa otimização da informação<br />
é essencial em todas as cadeias de produção animal de<br />
forma direta ou indireta. “Temos trabalhado bastante na<br />
área de simulação de interfaces, onde olhamos para um<br />
sistema produtivo e tentamos fazer a projeção do desempenho<br />
numa determinada situação, incluindo variáveis de<br />
decisão que estão sob a tutela do produtor”, explica.<br />
Através desses simuladores, o produtor pode conferir resultados<br />
capazes de dar a ele uma previsão tanto do desempenho<br />
da produtividade, mortalidade da produção,<br />
quanto dados com estimativas de retorno econômico. “A<br />
simulação de sistema tem se estendido bastante no uso<br />
de aplicativos. Logicamente, por outro lado, temos também<br />
aplicativos de controle, de bases de dados que tem<br />
aspectos de armazenamento de dados históricos da produção,<br />
projeção e previsão e, nesse caso, um movimento<br />
que hoje se inicia é de compatibilizar essas ferramentas.<br />
Isso quer dizer que, a partir do monitoramento do seu sistema,<br />
se consegue fazer previsões e evidenciar um tempo<br />
hábil em relação ao planejado. Então, têm várias linhas<br />
de desenvolvimento desses sistemas para um futuro próximo”,<br />
revela o pesquisador.<br />
Barioni, que integra o Laboratório de Matemática Computacional,<br />
percebe a tecnologia caminhando, em passos<br />
largos, na direção do campo. “Por ser o agronegócio um<br />
setor que sobrevive a crise vemos um investimento de<br />
várias empresas, em área de informática, comunicação.<br />
Empresas de tecnologia estão investimento pesado e<br />
apostando que realmente essas novas tecnologias devem<br />
revolucionar a produção no campo”, diz. “A agricultura<br />
é um terreno muito fértil (para a adoção de tecnologia),<br />
porque existe muita incerteza relacionada aos aspectos<br />
de produção e a redução dessas incertezas passa pela<br />
informação. E essa informação está cada vez mais disponível,<br />
tanto em base de dados na internet, quanto na<br />
possibilidade de usar sensores e softwares que fazem o<br />
processamento desses dados gerando informação para<br />
tomada de decisão”, ressalta.<br />
A tecnologia na mão do produtor<br />
“Não necessariamente toda a tecnologia vai ficar na mão<br />
do produtor, mas dentro da cadeia, dentro do envolvimento<br />
do processo produtivo, seja por meio de consultores,<br />
empresas de insumos, compradores, esse tipo de sistema<br />
acaba permeando toda a cadeia e dessa forma influenciando<br />
as decisões do produtor”, entende o pesquisador<br />
mesmo avaliando que vai aumentar bastante, na próxima<br />
década, a adoção de aplicativos. “A gente percebe que<br />
a tecnologia da informação e os meios para que ela seja<br />
adotada estão evoluindo rápido, basta ver os smartphones<br />
que deixaram de ser um meio de fazer telefonema para<br />
ser o que é hoje. Isso deverá dar ao profissional oportunidade<br />
para que essas tecnologias sejam adotadas”, diz<br />
Barioni.<br />
O acesso à internet nas zonas rurais do Brasil ainda é um<br />
desafio para boa parte da população dessas regiões. Nesse<br />
caso, sistemas que operam off-line também se tornam<br />
uma alternativa para o usuário. “Tivemos contato com várias<br />
empesas com iniciativas relacionadas a tecnologias<br />
de informação e percebemos que tem um avanço rápido.<br />
Em determinadas condições, dá para assumir que vai haver<br />
acesso a rede, ou pelo celular, ou dispositivos móveis,<br />
ou escritório, que não está necessariamente no campo.<br />
Dessa forma existem varias possibilidades de solução,<br />
uma delas é que algum ciclo de dados possa ser adquirido<br />
off-line. Ou seja, tem a aplicação que é cliente/servidor<br />
onde, depois da carga de dados no sistema, o usuário poderá<br />
enviar esse conteúdo quando estiver com acesso a<br />
rede”, relata Barioni. “Mas, a gente percebe que no meio<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
47
ural os celulares já têm rede. Então, acho que dentro de<br />
um tempo razoável teremos uma cobertura bem elevada.<br />
Não dá para afirmar que isso é uma limitação tão grande.<br />
A visão que temos no momento é que a comunicação vai<br />
estar cada vez mais disponível também”, projeta.<br />
Chefe de Transferência e Tecnologia da Embrapa Suínos<br />
e Aves, o pesquisador Marcelo Miele, ressalta que é inegável<br />
ainda haver um expressivo contingente sem acesso.<br />
“Hoje muitos aplicativos operam off-line, mas isso traz limitações<br />
no uso do seu potencial. Outra questão importante,<br />
é a tendência de termos equipamentos e máquinas<br />
operando on-line, enviando e recebendo dados e instruções<br />
do fabricante ou revendedor. É a chamada internet<br />
das coisas”, conta. “Desta forma, é fundamental que o<br />
produtor do futuro esteja conectado. Creio que no futuro<br />
esta infraestrutura será tão importante quanto as estradas<br />
e o telefone”, diz.<br />
Assim como qualquer outra tecnologia, o produtor deve<br />
avaliar, antes de tudo, se trará solução para um problema,<br />
preferencialmente de forma fácil e descomplicada, além<br />
de avaliar a relação custo-benefício. O aspecto operacional<br />
é bastante importante porque qualquer aplicativo desse<br />
tipo precisa considerar o custo de monitoramento e o<br />
valor da informação. “Quando se utiliza qualquer um desses<br />
sistemas existe um custo relacionado a prover as informações<br />
do sistema para auxiliar o produtor. Sendo que, o<br />
valor da informação que o sistema possui precisa exceder<br />
esse custo de monitoramento e imputação de dados para<br />
o sistema”, enfatiza Barioni, evidenciando que esse é um<br />
aspecto essencial visto que muitas pessoas começam a<br />
usar esses sistemas, mas não sabem muito bem o que<br />
fazer com a informação. “É importante o produtor estar<br />
atento ao que o sistema é capaz de prover de informação,<br />
qual o valor dessa informação para ele e qual o custo associado<br />
a geração dos dados de entrada que esse sistema<br />
exige. Esse é o primeiro balanço de custo benefício que<br />
muita gente acaba não fazendo”, revela.<br />
Segundo o pesquisador, é preciso também pensar em<br />
como isso entra na rotina operacional. “Muitas vezes a<br />
pessoa despreza o tempo relacionado a produzir esses<br />
dados para o monitoramento do sistema e, chega determinado<br />
momento, percebe que esse custo associado ao<br />
tempo é muito alto e então acaba por deixar de utilizar o<br />
sistema. Desta forma, é importante o produtor estar atento<br />
para avaliar como ele vai colocar isso em sua rotina antes<br />
de fazer um uso mais extensivo”, sugere. “Claro que, num<br />
primeiro momento, o produtor precisa fazer os testes com<br />
o software, fazer uma avaliação prévia antes de colocar<br />
dentro da rotina. Porém, é importante ter em mente não<br />
só os aspectos do que é curiosidade sobre o sistema, mas<br />
ver como essas informações que esses aplicativos fornecem<br />
irão auxiliar na tomada de decisões”, explica.<br />
Valor agregado<br />
O uso de ferramentas tecnológicas agrega valor ao produto<br />
final e, se aplicado da forma correta, pode se converter<br />
num diferencial vantajoso ao produto. “Os mercados,<br />
dentro da cadeia das carnes, são muito exigentes e existe<br />
uma guerra de informação. A demanda por rastreamento,<br />
controle, por informação em geral sobre o processo<br />
produtivo pressiona os produtores a terem uma adoção<br />
maior de sistemas automatizados”, entende Barioni. “Em<br />
outros países há uma questão da informatização e automação<br />
grande, mas precisamos considerar que isso está<br />
relacionado ao custo elevado da mão de obra. Creio que,<br />
embora o nosso custo de tecnologia seja maior e a mão<br />
de obra mais baixa, logicamente, que a adoção de sistemas<br />
acaba sendo mais tardia, mas, por outro lado, temos<br />
sistemas produtivos muitas vezes com escala maior que<br />
entram hoje numa concorrência de mercado da qual se<br />
espera ter acesso a informação sobre o produtor, forma de<br />
produção, etc. Nesse sentido, há um movimento positivo<br />
para que o produtor faça uso desses sistemas”, evidencia,<br />
sugerindo cuidados na aplicação desses sistemas a fim<br />
de aproveitar a demanda externa gerando oportunidade<br />
Arquivo pessoal<br />
Mauro Gamboa é enfático ao afirmar que os<br />
dispositivos substituíram de maneira implacável<br />
o papel e a caneta<br />
48 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
Crédito: Divulgação Embrapa<br />
Marcelo Miele destaca que o produtor deve<br />
avaliar, antes de tudo, se a ferramenta trará<br />
solução para um problema, de forma fácil e<br />
descomplicada<br />
para melhorar a essência do próprio sistema produtivo e<br />
lucratividade.<br />
Para Miele, da Embrapa Suínos e Aves, os aplicativos devem<br />
ser vistos como mais uma opção do amplo leque de<br />
tecnologias disponíveis no campo. “Os países ou regiões<br />
que se encontram na vanguarda no uso de aplicativos são<br />
os mesmos que se encontram na vanguarda da difusão<br />
de novas tecnologias nas mais diversas áreas. Como a<br />
agropecuária brasileira é muito diversificada, podemos<br />
afirmar que algumas regiões ou segmentos de produtores<br />
no Brasil também fazem parte desta vanguarda”, entende.<br />
“Um exemplo emblemático na suinocultura brasileira<br />
é a ampla difusão de softwares de gestão da produção<br />
de suínos, com empresas inovadoras gerando soluções<br />
que estão hoje sendo exportadas para outros países”,<br />
exemplifica. A Embrapa lançou recentemente o aplicativo<br />
Custo Fácil, destinado ao público das integrações em suínos<br />
e aves. Seu objetivo é disponibilizar uma ferramenta<br />
simplificada para o cálculo do custo de produção e outros<br />
indicadores econômicos. “Em breve lançaremos a<br />
segunda versão com novos indicadores de fluxo de caixa,<br />
permitindo a melhor gestão da granja e a disseminação<br />
da cultura da gestão de custos. Isso é fundamental para<br />
o acompanhamento do desempenho econômico, muitas<br />
vezes relegado a um segundo plano frente ao acompanhamento<br />
do desempenho zootécnico. Nos dois casos, a<br />
informação é fundamental e permite que o gestor tenha<br />
ciência do seu desempenho e entenda quais itens de custo<br />
estão contribuindo ou prejudicando a competitividade e<br />
a renda agrícola”, revela.<br />
O Custo Fácil é indicado para integrados com contratos<br />
de parceria e de comodato para os sistemas de produção<br />
de suínos em creche e terminação, produção de leitões<br />
e frango de corte. O aplicativo foi desenvolvido pela área<br />
de socioeconômica e pelo Núcleo de Tecnologia da Informação<br />
da Embrapa. Além deste aplicativo, que pode<br />
contribuir na melhoria da gestão, a Embrapa disponibiliza<br />
outros aplicativos voltados a avicultura como o Granucalc,<br />
software utilizado na análise de granulometria e o ITGU,<br />
aplicativo para cálculo do índice de conforto térmico para<br />
aves (em fase de desenvolvimento). “Também é importante<br />
citar o desenvolvimento de aplicativos e softwares<br />
que não são direcionados para o produtor, mas para instituições<br />
públicas ou privadas que prestam serviços sistêmicos,<br />
que irão beneficiar toda uma região ou cadeia<br />
produtiva”, salienta Miele.<br />
A Embrapa também conta com o aplicativo DiagSui, que<br />
traz orientações para veterinários de granjas e de empresas<br />
sobre o diagnóstico laboratorial das principais<br />
doenças dos suínos, bem como o SGAS, software para a<br />
gestão ambiental da suinocultura. “Este último é voltado<br />
tanto para o produtor quanto para os órgãos oficiais de<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
49
Luís Gustavo Barioni ressalta que agricultura é<br />
um terreno fértil para a adoção de tecnologia,<br />
porque existe muita incerteza relacionada aos<br />
aspectos de produção<br />
meio ambiente para agilizar e qualificar o licenciamento<br />
ambiental. Cito o caso do Sistema de Informações de<br />
Manejo de Fauna (SIMAF), software desenvolvido pela<br />
Embrapa Suínos e Aves e licenciado para o Ibama, que<br />
auxiliará o País na estruturação e implementação de um<br />
programa de vigilância epidemiológica<br />
e manejo populacional de<br />
javalis na área livre de Peste Suína<br />
Clássica”, revela Miele.<br />
Aplicativos que<br />
transformam<br />
a gestão<br />
Recentemente, a Agriness lançou<br />
para o mercado da suinocultura o<br />
OINK, um aplicativo educativo de<br />
perguntas e respostas que tem por<br />
objetivo levar conhecimentos básicos<br />
e práticos sobre suinocultura a<br />
toda a cadeia produtiva. A ferramenta<br />
contempla, nesta primeira versão,<br />
as trilhas de Manejo e Sanidade,<br />
onde o jogador testa suas habilidades<br />
sobre temas específicos, presentes<br />
no dia a dia da granja. Na<br />
trilha de Manejo, por exemplo, é possível aprender mais<br />
sobre reposição, reprodução, maternidade, creche e terminação.<br />
Já em Sanidade, as áreas de conhecimento do<br />
jogo envolvem doenças entéricas, respiratórias, reprodutivas,<br />
locomotoras e neurológicas. Nos próximos meses,<br />
novas trilhas serão desenvolvidas e vão abranger temas<br />
Crédito: Nadir Rodrigues/Embrapa<br />
como nutrição, genética, bem-estar e gestão. Para Everton<br />
Gubert, sócio-fundador da empresa, o aplicativo é uma<br />
inovação na forma de levar conhecimento para toda a cadeia<br />
da suinocultura a fim de instigar, atrair e engajar as<br />
pessoas. “Nosso objetivo é levar para a suinocultura, de<br />
forma inédita, um novo jeito de aprender e de colocar em<br />
prática todas as atividades que envolvem a produção de<br />
suínos”. O OINK está disponível para download gratuito<br />
nas lojas da Apple Store e Play Store.<br />
Para Mauro Gamboa, da Agrosys Tecnologia, os dispositivos<br />
substituíram de maneira implacável, o papel e a caneta<br />
nos locais mais remotos e improváveis. “Porque tem<br />
memória e pensamento, recordam os números anteriores<br />
e comparam instantaneamente com as informações digitadas<br />
e, não só isso, conversam e instruem o homem que<br />
o segura nas mãos sobre o que fazer diante da realidade<br />
registrada e analisada em nano-segundos”, aponta. Para o<br />
acompanhamento e planejamento da produção de suínos<br />
a empresa oferece a ferramenta Agrosys Pig que engloba<br />
toda a cadeia produtiva, desde o rigoroso acompanhamento<br />
de dados de granjas de multiplicadoras<br />
até o custo efetivo na<br />
industrialização do produto acabado<br />
no abatedouro. O aplicativo gerencia<br />
todos os dados zootécnicos e<br />
de custeio dos plantéis de multiplicadoras,<br />
quarto sítio, UPL, creche e<br />
granjas de terminação. Esses dados<br />
podem ser controlados tanto pelo<br />
sistema web como por dispositivos<br />
móveis com acompanhamento técnico<br />
de especialistas na área para<br />
aderência previa e levantamento de<br />
qual o melhor modelo a ser configurado<br />
para o produtor. “A ficha técnica<br />
do galpão migrou para o tablet,<br />
com a conversão alimentar, mortalidade,<br />
ganho de peso, consumo de<br />
ração, tabela de manejo, standard<br />
do lote, standard da linhagem e até<br />
a auditoria da qualidade com provas documentais (fotos<br />
das não conformidades), foi parar dentro destes pequenos<br />
personal computers. Por tudo isso, não resista, estas<br />
ondas já alcançaram você de alguma ou de várias maneiras,<br />
o melhor é aderir e desfrutar delas explorando seus<br />
inúmeros benefícios”, finaliza Gamboa. SI<br />
50 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
51
Nutrição<br />
Enzimas exógenas e<br />
peletização aumentam<br />
a digestibilidade da dieta<br />
em suínos na fase pré-inicial<br />
O objetivo foi verificar o efeito da peletização e da inclusão de uma mistura de enzimas, na<br />
dieta de suínos na fase pré-inicial de produção. Foram utilizados 24 suínos machos, castrados,<br />
com idade média de 35 dias.<br />
Por_Leopoldo Malcorra de Almeida 1 , Thiago Augusto da Cruz 2 , Rosine Alves de Araujo 3 , Emanuele Cristiny Goes 4 , Alex Maiorka 5<br />
Um dos fatores que influenciaram o aumento<br />
da produção de carne suína foi o desenvolvimento<br />
de tecnologias. Nesse sentido,<br />
os avanços na nutrição animal aparecem<br />
como um dos fatores decisivos no desenvolvimento da<br />
cadeia produtiva. A utilização de enzimas exógenas e<br />
processamento em dietas pré-iniciais vem trazendo bons<br />
resultados no que diz respeito a melhor digestibilidade.<br />
Porém, a digestibilidade é dependente de uma série de<br />
fatores entre eles o desenvolvimento do trato gastrointestinal,<br />
a qualidade e tipos de matérias-primas. O desmame<br />
precoce aos 21 dias de idade dos leitões acontece<br />
antes do desenvolvimento fisiológico completo dos animais.<br />
Aos 35 dias de vida, sua capacidade de digestão<br />
não está completa, portanto, nessa fase, os animais ainda<br />
não aproveitam de forma efetiva dietas a base de grãos<br />
e cereais. Além da capacidade física limitada do estômago<br />
e do intestino delgado, os leitões recém-desmamados<br />
têm insuficiente secreção de enzimas digestivas,<br />
comprometendo a digestão e a absorção adequada de<br />
nutrientes (Molly, 2001). As matérias-primas utilizadas na<br />
nutrição dos animais domésticos, como o farelo de soja<br />
52 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
e milho, podem apresentar fatores antiqualitativos, como<br />
o fitato, os polissacarídeos não amiláceos e inibidores<br />
de tripsina, que podem diminuir o aproveitamento dos<br />
nutrientes pelos animais. Diante deste cenário, a fim de<br />
minimizar esses efeitos, a inclusão de enzimas exógenas<br />
e processamento das dietas como a peletização, se justificam.<br />
As enzimas exógenas hidrolisam frações especificas<br />
dos nutrientes, onde as enzimas endógenas não são<br />
capazes de agir, além de aumentar a digestibilidade de<br />
frações da dieta como amido e proteínas, pois são complementares.<br />
Já a peletização modifica as características<br />
físicas dos nutrientes que compõe a dieta, facilitando a<br />
digestão. Dessa maneira, objetivou-se verificar o efeito<br />
da peletização e da inclusão de uma mistura de enzimas,<br />
na dieta de suínos na fase pré-inicial de produção.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Local: o estudo foi realizado nas instalações da Sala de<br />
Metabolismo do Setor de Ciências Agrárias da Universidade<br />
Federal do Paraná (UFPR), localizada no município<br />
de Curitiba (PR). Animais e Instalações: vinte e quatro<br />
leitões mestiços Landrace x Large White, com média de<br />
35 dias de idade, machos, castrados e vacinados, foram<br />
alojados individualmente em gaiolas de metabolismo. As<br />
gaiolas eram equipadas com bebedouro tipo chupeta e<br />
comedouro, não havendo restrições de consumo, sendo<br />
instaladas em sala de alvenaria com ventilação e temperatura<br />
controladas, mantendo-se sempre em 28ºC. Dietas<br />
Experimentais: foram utilizados quatro tratamentos<br />
com seis repetições em arranjo fatorial 2x2 (físico da<br />
dieta), sendo: dieta farelada, dieta farelada com adição<br />
da mistura enzimática, dieta peletizada e dieta peletizada<br />
com adição da mistura enzimática. As dietas atenderam<br />
as necessidades nutricionais para a fase pré-inicial,<br />
conforme recomendações das Tabelas Brasileiras<br />
para Aves e Suínos (2011). O processo de peletização<br />
utilizou pressão de 1 kg/cm 3 de vapor com temperatura<br />
constante de 70ºC. A mistura de enzima continha Xilanase<br />
(20.000 U/gm), Amilase (120.000 U/gm), Celulase<br />
(800.000 U/gm), -glucanase (7.500 U/gm), Mananase<br />
(250 U/gm), Protease (1.400 U/gm) e Fitase (1.000 U/<br />
gm). As enzimas foram adicionadas de maneira on top,<br />
ou seja, não foi considerada a matriz nutricional. Manejo:<br />
os animais passaram por uma adaptação de sete<br />
dias. Os tratamentos foram fornecidos à vontade por<br />
cinco dias, sendo coletado as sobras todas as manhãs<br />
e pesadas para calcular o consumo, além disso, era realizada<br />
a coleta total de fezes e acondicionadas em sacos<br />
plásticos individuais e congelados. Variáveis Analisadas:<br />
ao término dos cinco dias, as amostras foram<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
53
Tabela 01. Médias dos coeficientes de digestibilidade aparente e energia digestível, referentes<br />
as amostras totais de fezes<br />
Peletizada Farelada p-valor<br />
CDA/ED<br />
Com Sem Com Sem Erro<br />
Enzima Enzima Enzima Enzima Médio<br />
P E PxE<br />
MS 86,16a 83,74b 85,15b 83,92b 0,6191 0,3526 0,1886 0,0005<br />
PB 85,58a 79,94c 82,90b 80,50c 0,7421 0,0568 0,0058 0,0001<br />
EE 84,45a 75,66b 66,33c 61,42d 1,1151 0,0001 0,0235 0,0001<br />
FB 63,52a 63,66a 49,54b 62,43a 4,078 0,0334 0,0645 0,7000<br />
ED 4122,3a 4023,4b 3962,9b 3892,6c 20,789 0,0001 0,0342 0,0001<br />
CDA = Coeficiente de Digestibilidade Aparente; P = Peletização / E = Enzima / PxE = Interação Peletização x Enzima / ED = Energia Digestível<br />
descongeladas, homogeneizadas e secas em estufa de<br />
ventilação forçada a 55ºC por 72 horas. As amostras de<br />
fezes e rações foram moídas a 1 mm e foram realizadas<br />
análises para determinar os teores de matéria seca<br />
(MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e energia<br />
digestível (ED) descritos pela AOAC (1995). Com base<br />
nos dados de consumo de ração, produção de excretas<br />
e das análises foi calculado o coeficiente de digestibilidade<br />
e a energia digestível. Análise<br />
Estatística: os dados foram<br />
submetidos ao teste Shapiro-<br />
-Wilk para testar a normalidade.<br />
Uma vez comprovada<br />
a normalidade<br />
dos dados, foi<br />
feita análise<br />
de<br />
Variância<br />
a 5% de significância,<br />
verificada a<br />
interação, foi realizado<br />
teste T a 5% de<br />
significância, utilizando<br />
o pacote estatístico Statistix ® . O estudo foi aprovado<br />
pelo Comitê de Ética no Uso de Animais do Setor de<br />
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná<br />
(CEUA-SCA/UFPR), n. 038/2015.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Os resultados demostraram que houve interação entre<br />
a peletização e a mistura de enzimas para coeficiente<br />
de digestibilidade (CD) da MS, CDPB, CDEE<br />
e ED (P
fração. Quanto ao CDPB, a peletização e as enzimas<br />
causaram efeito sinérgico. O aumento do CDPB<br />
(P
Informativo ABCS<br />
Informativo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) - Ano XVII - Nº 134 - 05’2016<br />
Parte integrante da revista <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong><br />
Saudabilidade da carne suína<br />
é tema de série de visitas com<br />
foco em nutricionistas<br />
Trabalho desenvolvido por meio do FNDS e Sebrae também resultou em materiais<br />
que educam multiplicadores da saúde sobre a carne suína.<br />
Buscando educar profissionais de saúde e<br />
disseminar a importância da carne suína na<br />
dieta dos pacientes, a Associação Brasileira<br />
dos Criadores de Suínos (ABCS) contratou<br />
a empresa de consultoria em saúde e nutrição Oraculum,<br />
por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da <strong>Suinocultura</strong><br />
(FNDS) e do Sebrae Nacional, para realizar uma<br />
série de visitas a consultórios de nutricionistas formadores<br />
de opinião e desenvolver materiais informativos sobre a<br />
composição da carne suína e seus benefícios em uma alimentação<br />
equilibrada.<br />
As primeiras visitas foram iniciadas no dia 20 de setem-<br />
bro e deverá acontecer em 300 consultórios até novembro.<br />
Conforme avaliação da Oraculum, os profissionais<br />
foram receptivos, gostaram dos materiais apresentados e<br />
pretendem utilizá-los para ter mais embasamento e desmistificar<br />
com o paciente as questões nutritivas da carne<br />
suína. “Percebemos que a maioria dos nutricionistas sabe<br />
que a carne suína é segura e, inclusive, recomendam o<br />
consumo. No entanto, para muitos foi novidade a questão<br />
do ferro, vitaminas do complexo B e da gordura monoinsaturada”,<br />
afirma a nutricionista responsável pelas visitas<br />
Gabriela Cipolla.<br />
Além disso, a equipe de nutricionistas da Oraculum aplica<br />
56 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016
um questionário com perguntas diversas sobre o conhecimento<br />
desses profissionais acerca da carne suína e<br />
sobre os materiais que lhes foram apresentados durante<br />
as visitas. O intuito dessa pesquisa é identificar novas<br />
oportunidades para carne suína, que vão proporcionar<br />
uma melhor compreensão sobre os mitos e preconceitos<br />
da proteína nesse meio e servir de orientação para novas<br />
e futuras ações.<br />
Para a nutricionista Cristiane Kovacs, coordenadora do<br />
ambulatório de nutrição do Instituto Dante Pazzanese de<br />
Cardiologia, a lâmina é um produto muito interessante,<br />
sobretudo, porque trata-se da divulgação de conteúdo<br />
relevante sem vínculo com marcas. “É uma iniciativa<br />
muito boa e nós precisávamos de um material como esse<br />
para trabalhar junto aos nossos pacientes. Eu consumo<br />
carne suína e não tenho nenhuma restrição para indicá-<br />
-la, pois sei que se soubermos escolher bem o corte, é<br />
uma proteína que pode ser indicada até para pacientes<br />
com distúrbios metabólicos e cardiovasculares”.<br />
Lívia Machado, coordenadora de Marketing da ABCS,<br />
destaca o potencial das ações por trazer um atendimento<br />
personalizado para cada profissional. “Além dos<br />
novos materiais terem sido desenvolvidos para ser usado<br />
no dia a dia do consultório, planejamos as visitas<br />
para aproximar ainda mais o profissional de nutrição<br />
do nosso trabalho e conhecer seu ponto de vista sobre<br />
a carne suína. São momentos valiosos que conseguimos<br />
sanar dúvidas, quebrar mitos e incentivá-los a indicar<br />
a carne suína como uma opção saudável para os<br />
pacientes”, finalizou.<br />
MATERIAIS INÉDITOS COM FOCO<br />
EM SAÚDE<br />
Com foco em inovação, a ABCS desenvolveu, via FNDS,<br />
dois produtos para auxiliar no trabalho de profissionais<br />
de saúde na prática clínica que estão sendo distribuídos<br />
durante as visitas nos consultórios. Pensada para ser<br />
uma ferramenta complementar para nutricionistas tirarem<br />
dúvidas de pacientes em relação à carne suína, a<br />
lâmina de consultório traz a composição nutricional da<br />
proteína, além de tipos de cortes mais saudáveis e suas<br />
comparações em relação a outros tipos de carne, como<br />
a bovina e de frango.<br />
Também foi produzido um novo livro de receitas, intitulado<br />
“Receitas leves com carne suína”, especificamente<br />
voltado para uma alimentação saudável e balanceada,<br />
sendo um importante complemento das prescrições<br />
de dietas. Assim, o nutricionista pode usá-lo para passar<br />
receitas práticas e saudáveis aos pacientes. São dez<br />
opções de receitas de fácil preparo, e que podem ser<br />
facilmente utilizadas no dia a dia.<br />
Os materiais estão disponíveis no site www.maiscarnesuina.<br />
com.br na aba Saúde e podem ser reproduzidos pelos contribuintes<br />
do FNDS. SI<br />
nº 05 | 2016 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> ›<br />
57
Cinco Perguntas<br />
para Marcos Antonio Zordan<br />
A Topigs já possuía um dos melhores<br />
Large White do mundo e, depois da fusão<br />
com a Norsvin, que era conhecida por<br />
ter o melhor Landrace do mundo, vai<br />
fornecer para a Aurora genes destes<br />
que são os melhores animais puros do<br />
mercado<br />
O diretor de Agropecuária da Cooperativa Central Aurora Alimentos,<br />
Marcos Antonio Zordan, fala sobre a nova parceria com a empresa<br />
Topigs Norsvin, a segunda maior empresa de melhoramento genético<br />
suíno do mundo. A parceria resultará no melhoramento genético de fêmeas<br />
suínas, a GA 2020, o que resultará em uma fêmea ainda melhor,<br />
acompanhando a evolução e desafios da suinocultura.<br />
SI - O acordo com a Topigs Norsvin prevê o Melhoramento<br />
Genético de Fêmeas Suínas, a GA 2020.<br />
Quais as vantagens competitivas que representa<br />
esse investimento?<br />
Marcos Antonio Zordan - Nosso objetivo é darmos<br />
continuidade ao melhoramento genético da GA,<br />
sempre evoluindo e sendo a GA competitiva com as<br />
outras fêmeas do mercado, além de ter ótimos indicadores<br />
zootécnicos e ser uma fêmea adaptada ao<br />
nosso sistema de produção; com isso, apresentando<br />
o melhor custo-benefício para o sistema.<br />
SI - Quais características dessa genética?<br />
Marcos Antonio Zordan - As características são longevidade<br />
e prolificidade da fêmea, habilidade materna<br />
com ótima produção de leite e peso de desmame,<br />
carne magra e rápido crescimento e ótima conversão<br />
alimentar.<br />
SI - O que esse acordo representa em economia e<br />
investimento para a cooperativa?<br />
Marcos Antonio Zordan - Representa um investimento<br />
acessível para cooperativas e produtores e<br />
bons resultados em produção, com isso sendo o melhor<br />
custo-benefício para os cooperados.<br />
SI - Por que a escolha da Topigs Norsvin?<br />
Marcos Antonio Zordan - A Topigs Norsvin é hoje<br />
uma das maiores empresas no melhoramento genético<br />
de suínos no mundo, e faz parte do sistema cooperativista.<br />
A Topigs já possuía um dos melhores Large<br />
White do mundo e, depois da fusão com a Norsvin,<br />
que era conhecida por ter o melhor Landrace do mundo,<br />
vai fornecer para a Aurora genes destes que são<br />
os melhores animais puros do mercado e juntamente<br />
com o suporte no programa de melhoramento genético<br />
da GA tornou-se a melhor opção para continuidade<br />
neste programa<br />
SI - Qual genética era utilizada, antes desse acordo,<br />
pela Aurora?<br />
Marcos Antonio Zordan - Anteriormente utilizávamos<br />
os mesmos animais puros Landrace e Large<br />
White para a composição da GA, no entanto tínhamos<br />
parceria com outra empresa de melhoramento<br />
genético. SI<br />
58 ‹ <strong>Suinocultura</strong> <strong>Industrial</strong> › nº 05 | 2016