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A ufania<br />
de ser<br />
católico<br />
Nº <strong>115</strong> Outubro de 2007
S. Hollmann<br />
Abraão e Isaac –<br />
Sainte-Chapelle, Paris<br />
Para a alma que confia na Providência, as grandes esperas são o prelúdio dos grandes<br />
dons de Deus, o prenúncio da realização das grandes promessas que lhe fez o<br />
Altíssimo. Disso nos é exemplo o patriarca Abraão: quando já centenário, Deus<br />
lhe prometeu uma descendência incontável, da qual brotaria o Messias. Nasce-lhe um filho,<br />
e o Senhor determina que o sacrifique. Abraão confia. E na hora do seu supremo heroísmo,<br />
depois de tão longa espera, recebe afinal a certeza do juramento divino: “Multiplicarei a tua<br />
posteridade como as estrelas do céu e como as areias na praia do mar” (Gn 22, 17).<br />
(Extraído de conferências em 23/3/70 e 17/5/1972)<br />
2
Sumário<br />
Nº <strong>115</strong> Outubro de 2007<br />
Ano X - Nº <strong>115</strong> Outubro de 2007<br />
A ufania<br />
de ser<br />
católico<br />
Na capa,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no início<br />
da década de 70<br />
Foto: Arquivo revista<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
INSC. - <strong>115</strong>.227.674.110<br />
Diretor:<br />
Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
Editorial<br />
4 A ufania de ser católico<br />
Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
5 Outubro de 1957<br />
Visita ao povo cearense<br />
Do n a Lucilia<br />
6 Amor à perfeição<br />
Conselho Consultivo:<br />
Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Carlos Augusto G. Picanço<br />
Jorge Eduardo G. Koury<br />
Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />
10 A “Carta Circular aos Amigos da Cruz” - IV<br />
Uma ilustre conquista de Nosso Senhor Jesus Cristo<br />
Redação e Administração:<br />
Rua Santo Egídio, 418<br />
02461-010 S. Paulo - SP<br />
Tel: (11) 6236-1027<br />
E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />
Impressão e acabamento:<br />
Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />
Rua Barão do Serro Largo, 296<br />
03335-000 S. Paulo - SP<br />
Tel: (11) 6606-2409<br />
14 Calendário dos Santos<br />
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
18 A Contra-Revolução,<br />
defensora das tradições cristãs<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
20 A oração da manhã<br />
Preços da<br />
assinatura anual<br />
Comum .............. R$ 85,00<br />
Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00<br />
Propulsor ............. R$ 240,00<br />
Grande Propulsor ...... R$ 400,00<br />
Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />
O Sa n t o d o m ê s<br />
24 Santos anjos custódios: Protetores<br />
e advogados do homem<br />
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
30 Luminosas “migalhas”<br />
Últ i m a p á g i n a<br />
36 Prece à Rainha dos Anjos<br />
3
Editorial<br />
A ufania de ser católico<br />
N<br />
este mês em que transcorre o 12º aniversário do falecimento de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, dado em 3 de<br />
outubro de 1995, oportuno será homenageá-lo, uma vez mais, recordando arrebatadoras<br />
palavras suas acerca da profissão de fé católica, por ele abraçada com toda a alma de um<br />
filho extremoso da Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo:<br />
“Se os primeiros mártires não fugiram dos lobos, leões e leopardos, creio não haver razão para<br />
que fujamos dos ímpios que caçoam de nossa condição de católicos. Por que o mártir não corria das<br />
feras? Porque tinha fé, tinha consciência de sua retidão, sabia-se um justo e que Deus o assistia do alto<br />
do Céu. Por isso, de peito erguido, enfrentava o leão prestes a saltar sobre ele.<br />
“Por que todos os filhos corajosos da Igreja não recuaram diante dos adversários dela? Porque<br />
acreditavam na sua ortodoxia; tinham fé!<br />
“Ora, temos ou não a mesma fé? Os anjos do Céu contemplam ou não a nossa luta nesta Terra?<br />
“Não devemos, pois, nos envergonhar de sermos puros e castos, de professarmos a fé católica,<br />
apostólica, romana em sua integridade, de sermos contra-revolucionários na força do termo, pois isto<br />
significaria ter vergonha de Nosso Senhor Jesus Cristo, o modelo por excelência de pureza e de fé.<br />
E não nos esqueçamos, é do próprio Verbo Encarnado esta palavra tremenda: Se alguém se envergonhar<br />
de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier<br />
na sua glória, na glória de seu Pai e dos santos anjos (Lc 9, 26).<br />
“Portanto, estejamos seguros e ufanos do nosso ideal católico. E faço notar: não se trata de demonstrar<br />
um orgulho arrogante, mas a ufania de ser membro da Santa Igreja Católica, de ser assistido<br />
por uma força sobrenatural haurida nos Sacramentos e na devoção a Nossa Senhora, que nos torna<br />
capazes de atos que a simples natureza humana não permitiria praticar. A ufania de quem possui<br />
essa fé inabalável em Nosso Senhor Jesus Cristo, a fé que move as montanhas, que não recua diante<br />
de nenhum obstáculo, que transpõe vales e faz os montes saltarem como cabritos, no dizer da Sagrada<br />
Escritura.<br />
“Estejamos convictos de que a piedade católica não contribui, de modo algum, para enlanguescer<br />
o vigor humano. Antes, o católico autêntico é um exemplo de varonilidade, de alguém que honra<br />
suas responsabilidades e preza sua dignidade pessoal; alicerçado nos princípios ensinados pela religião<br />
católica, ele se ufana de guardar a castidade e compreende que a pureza é uma de suas glórias.<br />
Assim como compreende que o não ter fé é uma cegueira, e aqueles que crêem são os que verdadeiramente<br />
vêem.<br />
“Esse é o católico, desassombrado, intrépido, que não se envergonha de seguir o Divino Mestre,<br />
de se dizer filho e devoto da Santíssima Virgem, para a qual dirige sua entranhada prece:<br />
“Ó Mãe de misericórdia, minha vida, doçura e esperança. Fazei de mim, a alma corajosa que devo<br />
ser, imbuída de uma leonina força católica, apostólica, romana, repleta de ufania cristã! E assim,<br />
ó Virgem, meu louvor a Vós será o tributo do homem que, acima de tudo, crê nas verdades divinas e<br />
por elas luta; será o louvor do heroísmo e da epopéia. Amém.”<br />
(Extraído de conferências em 2/11/1971 e 19/2/1972)<br />
Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
Outubro de 1957<br />
Visita ao povo cearense<br />
Há 50 anos, no início de outubro de 1957,<br />
a convite da Reitoria da Universidade<br />
Federal do Ceará, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> pronunciou<br />
três conferências, diante de auditórios<br />
que acompanhavam suas exposições “com olhares<br />
inteligentes e perspicazes, à espera de algo<br />
mordente e moderno”, conforme ele mesmo recordaria<br />
anos depois. Solicitado a externar suas<br />
impressões do povo que o acolheu com intensa<br />
simpatia, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> assim os atendeu:<br />
Sou grato à Universidade do Ceará, ao Prof.<br />
Martins Filho, Magnífico Reitor, e ao Prof. Andrade<br />
Furtado, Diretor da Faculdade de Direito, pelo<br />
convite que me endereçaram e em razão do qual<br />
me encontro nesta cidade. Devo confessar: em<br />
Fortaleza tenho recebido uma verdadeira multidão<br />
de impressões novas, que para o meu coração<br />
de brasileiro são das mais alentadoras. Conhecendo<br />
cearenses por todos os pontos do território nacional<br />
por onde tenho estado, já tinha muito desejo<br />
de conhecer a matriz do espírito cearense, que é<br />
esta bela terra de Fortaleza e este belo Ceará onde<br />
me encontro. Queria conhecer como que na sua<br />
fonte a nascente deste espírito de empreendimento<br />
e combatividade, de iniciativa e de inteligência lúcida<br />
e arrojada, que, por todos os lados, tenho admirado<br />
no Brasil (...).<br />
O que mais me chamou a atenção foi, de um<br />
lado, o caráter polimórfico do talento cearense e,<br />
de outro lado, a extensão deste talento por todas as<br />
camadas da população.<br />
Lembro‐me de que, visitando a cidade de Paris,<br />
alguns anos atrás, um amigo brasileiro, dos mais<br />
perspicazes com que tenho viajado, me chamava<br />
a atenção para o fato de que, embora em todos os<br />
povos haja pessoas mais ou menos inteligentes, era<br />
extremamente difícil encontrar pelas ruas ou pelos<br />
logradouros públicos de Paris uma pessoa que tivesse<br />
uma fisionomia positivamente ininteligente.<br />
Ora, a mesma observação, literalmente, se poderia<br />
fazer de Fortaleza. Tenho examinado tipos<br />
populares, tenho olhado especialmente para<br />
as pessoas das camadas onde a instrução é menos<br />
desenvolvida e, em todos, noto uma chama<br />
de olhar, um fogo interior de animação, de vida,<br />
de espírito de crítica, de jovialidade que faz com<br />
que cada cearense tenha uma personalidade inteiramente<br />
individualizada e destacadíssima, e cuide<br />
de seu destino pessoal com uma espécie de originalidade<br />
de métodos e de pensamentos que caracteriza<br />
a verdadeira inteligência.<br />
Se por inteligência não se deve apenas entender<br />
o espírito de raison raisonante, mas toda luz interior<br />
que dá ao homem clareza maior a respeito<br />
da realidade objetiva, devemos dizer que os cearenses<br />
realmente apresentam um índice de inteligência<br />
extraordinário. Mas inteligência que tem a<br />
seu serviço um vigor de ação, um misto de arrojo<br />
e de prudência, de doçura e de [força], de cordura<br />
e de exaltação que fazem da alma cearense um<br />
dos fenômenos mais curiosos para serem analisados<br />
dentro da vida psíquica brasileira.<br />
Como é natural, percebe‐se que todo este florescimento<br />
de espírito se concentra e tende a ganhar<br />
a plenitude de sua intensidade na Universidade<br />
do Ceará. (...) Aberta a todos os sopros do espírito<br />
e recebendo avidamente as influências de todos<br />
os quadrantes, não só do Brasil, mas também<br />
do mundo, [ela] está caminhando cada vez mais<br />
para a realização desta missão importantíssima<br />
da qual tem tão lúcida compreensão e que consiste<br />
em colocar ao alcance deste povo excepcionalmente<br />
inteligente os valores culturais do passado e<br />
do presente, para que ele, por sua vez, os elabore e<br />
os transforme num patrimônio da alma cearense.<br />
O corpo docente da Universidade, com cujos elementos<br />
de destaque tive a fortuna de ter contato pessoal,<br />
o corpo discente, que seguiu a minha conferência<br />
com uma atenção e uma vivacidade que me surpreenderam,<br />
deixaram em mim uma recordação imperecível.<br />
Aproveito a ocasião para registrar, como<br />
brasileiro e como professor universitário, toda a minha<br />
admiração, toda a minha simpatia e todas as<br />
minhas esperanças na Universidade do Ceará. v<br />
(“A Universidade do Ceará na opinião de<br />
autoridades e escritores”, Imprensa<br />
Universitária do Ceará, 3 de outubro de 1957)<br />
5
Do n a Lucilia<br />
Amor à perfeição<br />
Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
uma feliz harmonia<br />
entre o amor ao<br />
elevado e o apreço<br />
pelo comum<br />
revelava a bela<br />
variedade da alma<br />
de sua querida<br />
mãe, Dona Lucilia,<br />
bem como a<br />
capacidade de ela<br />
se adaptar a todas<br />
as circunstâncias,<br />
procurando sempre<br />
considerar os<br />
aspectos simbólicos<br />
e morais das coisas<br />
que a cercavam.<br />
Fotos: Arquivo revista<br />
Ao se analisar o modo pelo<br />
qual as certezas se apresentavam<br />
ao espírito de mamãe,<br />
percebe-se que constituía traço<br />
dominante da alma dela uma seriedade<br />
ao mesmo tempo profunda e<br />
muito suave. Dona Lucilia era uma<br />
pessoa, como se diz, “pão-pão, queijo-queijo”,<br />
isto é, bastante segura<br />
quanto ao que via e julgava, sobretudo<br />
no tocante às matérias mais elevadas.<br />
6
Fazer o melhor, até<br />
nas menores coisas<br />
Já a respeito das matérias pequenas,<br />
vez ou outra ela se mostrava um<br />
pouco hesitante. Por exemplo, como<br />
ornar um bolo, como fazer um bordado<br />
ou como resolver o problema<br />
de um empregado, a decisão não lhe<br />
vinha prontamente. Dava-se isso pelo<br />
fato de mamãe procurar fazer tudo<br />
do modo mais perfeito e, portanto,<br />
operativamente, não encontrava<br />
de imediato o procedimento correspondente<br />
ao que ela julgava ser a<br />
perfeição naquele ponto. Então, pedia<br />
a opinião de terceiros, considerava<br />
outras alternativas, etc., até tomar<br />
sua resolução.<br />
Um cardápio para<br />
o jantar...<br />
Nesse sentido, recordo-me de ter<br />
presenciado, certo dia, a seguinte cena.<br />
Eu trabalhava fora e, antes de<br />
sair, passei pelo corredor de nosso<br />
apartamento e percebi que mamãe e<br />
papai conversavam numa espécie de<br />
living, mais especialmente usado por<br />
eles. A porta estava entreaberta, razão<br />
pela qual me era possível escutar<br />
o que os dois diziam. Detive-me um<br />
pouco, sabendo que os dois não haviam<br />
notado minha presença, e me<br />
deliciei com o diálogo deles.<br />
Dona Lucilia, em pé diante de <strong>Dr</strong>.<br />
João Paulo sentado muito à vontade<br />
numa poltrona, perguntava-lhe:<br />
— João Paulo, você acha que tal<br />
menu estaria bem para o jantar? O<br />
<strong>Plinio</strong> gostaria de comer tal prato?<br />
Ela o inquiria quase com uma sorte<br />
de minúscula aflição para determinar<br />
o cardápio de minha preferência.<br />
Ou seja, tratava-se de acertar naquilo<br />
que eu poderia querer.<br />
Meu pai, sempre amável e de bom<br />
gênio, ouviu a pergunta e respondeu,<br />
sem maior reflexão:<br />
— Acho que está bom, sim.<br />
Mamãe, ainda não convencida, insistiu:<br />
— Mas, e tal coisa, ou tal outra?<br />
Qual delas agradaria mais ao <strong>Plinio</strong>?<br />
A resposta dele:<br />
— Olha: é preciso não complicar<br />
as coisas. Esse negócio de menu... Se<br />
fosse comigo eu diria a ele: “Rapaz<br />
(um modo aliás muito pernambucano<br />
de se dirigir ao filho), o que tem<br />
aqui para comer é isto e isto. Se você<br />
quiser, está à sua disposição; se não,<br />
vá comer num restaurante.”<br />
Ora, dar ensejo a que eu comesse<br />
fora de casa era exatamente o que<br />
mamãe não queria! Ela desejava ter-<br />
Nas grandes, assim<br />
como nas pequenas coisas<br />
da vida diária — um<br />
“menu” para o jantar do<br />
filho, por exemplo — Dona<br />
Lucilia se esmerava, a fim<br />
de tudo fazer do modo<br />
mais perfeito<br />
Na página 6, Dona Lucilia em 1959;<br />
à esquerda, algumas de suas<br />
deliciosas receitas, cuidadosamente<br />
reunidas por ela num caderno<br />
7
8
me ao lado dela, à mesa. Então acabou<br />
optando por um prato qualquer,<br />
típico de nossa culinária brasileira.<br />
Logo depois eu saía para trabalhar,<br />
levando comigo este pensamento:<br />
“Bem se vê que pai é pai, mas mãe<br />
é mãe!”.<br />
Para mim importava pouco o conteúdo<br />
do cardápio, pois eu me regalaria<br />
com qualquer coisa que mamãe<br />
me fizesse. Porém, aquele fato me<br />
fez compreender como, nela, cada<br />
ponto era pensado e refletido até os<br />
últimos pormenores. E era a propósito<br />
destes que Dona Lucilia às vezes<br />
se mostrava hesitante.<br />
Certezas calmas,<br />
inflexibilidade suave<br />
Mas, nas grandes linhas gerais<br />
da vida, nas convicções, nos princípios,<br />
ela não tinha um pingo de dúvida.<br />
Era feita de certezas: certezas<br />
calmas, lúcidas, de quem via logo à<br />
primeira vista e com muita nitidez o<br />
que era verdade e o que era o erro;<br />
o que era o bem e o que era mal; o<br />
que era o feio e o que era bonito. E<br />
aderia inteiramente, do fundo de sua<br />
alma, ao verum, bonum, pulchrum,<br />
com honestidade, limpidez e sinceridade<br />
tais que ela se fazia uma só<br />
com a verdade, com o bem e a beleza,<br />
não querendo senão a eles. Com<br />
o mesmo espírito do pão-pão, queijo-queijo:<br />
a aceitação era aceitação,<br />
a rejeição era rejeição; a convicção<br />
era convicção, a negação era negação.<br />
Sem tergiversações.<br />
Não se pense, porém, que essa<br />
atitude resoluta era tomada por<br />
ela com dureza. Dava-se, antes, numa<br />
espécie de inflexibilidade inabalável,<br />
mas suave. De maneira que,<br />
ao externar uma afirmação, fazia-o<br />
com muita gentileza. Se a apertassem,<br />
ela reafirmava demonstradamente<br />
e, se fosse preciso, terminava<br />
afirmando quase proclamadamente.<br />
Eram intensidades sucessivas de reação,<br />
nas quais a última podia chegar<br />
a ser bem categórica. A tal ponto<br />
que meu pai, algumas vezes surpreso<br />
com a postura categórica de mamãe,<br />
cochichava-me (aludindo à remota<br />
ascendência dela): “Ih! Essa senhora<br />
espanhola...”<br />
Tendência a ver o mais<br />
alto aspecto das coisas<br />
Agora, deve-se acrescentar a essas<br />
disposições de alma uma tendência<br />
de espírito a sempre ver as coisas<br />
pelo seu mais alto aspecto e através<br />
do prisma do maravilhoso. Nesse sentido,<br />
especialmente, Dona Lucilia tinha<br />
o espírito muito elevado. Quando<br />
se conversava com ela sobre determinado<br />
tema, mamãe tendia logo a<br />
situar suas reflexões no mais alto que<br />
Com honestidade e limpidez<br />
de alma, Dona Lucilia<br />
se fazia uma só com a verdade,<br />
com o bem e a beleza,<br />
desejando considerar as coisas pelo seu<br />
mais elevado aspecto<br />
Na página 8, Dona Lucilia<br />
ao completar 80 anos<br />
o feitio intelectual dela, de senhora<br />
não universitária, compreendia.<br />
Eu achava, aliás, um encanto especial<br />
no fato de ela não ser universitária.<br />
Sentir-me-ia mal à vontade<br />
tendo uma mãe carregando uma<br />
série de diplomas debaixo do braço<br />
e que me respondesse com uma citação<br />
de determinado autor que ela<br />
leu. Dona Lucilia não citava. Ela dizia<br />
o que tinha na sua alma, o que<br />
ela havia visto. Era uma senhora e<br />
mãe de família, e lhe bastava inteiramente<br />
ser isso e mais nada. Embora<br />
houvesse lido, sobretudo em moça, o<br />
seu tanto em inglês, um pouco mais<br />
em francês, ela jamais começaria um<br />
pensamento ou uma resposta assim:<br />
“Como disse Shakespeare”... Não.<br />
Como disse a alma, o coração dela, o<br />
seu modo de ser e de comunicar suas<br />
idéias, posta na suavidade da vida de<br />
família da São Paulinho de então.<br />
Cumpre salientar que tal disposição<br />
não era calculada, mas normal,<br />
instintiva; era o impulso — eu<br />
diria, um pouco sentimentalmente<br />
— do coração que a conduzia a isso.<br />
E note-se: ao lado de um espírito<br />
tão elevado, um espírito capaz<br />
de descer aos últimos pormenores<br />
e se entreter com a forma da pétala<br />
de uma flor, com o ruído de um<br />
homem que está vendendo tecidos<br />
na rua, com uma doméstica que teve<br />
um dito jocoso, assim como em<br />
contar recordações dela em Paris,<br />
na Alemanha, no Rio de Janeiro,<br />
lembrando episódios da sociedade<br />
no seu tempo de solteira.<br />
Essa feliz harmonia entre o amor<br />
ao elevado e o apreço pelo comum<br />
revelava a bela variedade da alma de<br />
Dona Lucilia, a sua adaptabilidade a<br />
todas as circunstâncias, e como procurava<br />
ela considerar o aspecto simbólico,<br />
o aspecto moral e um certo<br />
fundo religioso presentes nas coisas<br />
que a cercavam. <br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 12/8/1988)<br />
9
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
A “Carta Circular aos Amigos da Cruz” - IV<br />
Uma ilustre conquista<br />
de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo<br />
Ser um autêntico Amigo da Cruz significa nutrir na alma<br />
um particular amor aos valores sobrenaturais, e ter sempre<br />
em vista esta subida verdade: fomos engendrados durante<br />
a Paixão de Cristo; mil dores e gemidos precederam nosso<br />
nascimento, que se deu através da chaga aberta no flanco do<br />
Redentor. <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> prossegue suas considerações sobre o<br />
opúsculo escrito por São Luís Grignion de Montfort.<br />
C<br />
omo vimos em nossa última exposição, São Luís<br />
Grignion estabelecia certas características fundamentais<br />
do autêntico Amigo da Cruz, entre elas, o<br />
possuir um espírito metafísico, desapegado dos interesses<br />
terrenos e voltado primordialmente para os valores<br />
sobrenaturais.<br />
Cumpre formar as almas no<br />
amor às verdades metafísicas<br />
Ora, para se ter esse feitio de alma é necessário uma<br />
formação católica que cultive, com seriedade, o amor às<br />
verdades metafísicas, que proporcionará ao fiel uma sólida<br />
disposição para abraçar a Cruz e o sofrimento. Infelizmente,<br />
tal formação não é corrente, e essa lacuna traz<br />
como funesta conseqüência, entre outras, o fato de pessoas<br />
se subtraírem às aulas de catecismo e abandonarem<br />
prematuramente a prática da religião. Afirmar, pura e<br />
simplesmente, que elas rejeitaram a ascese e por isso se<br />
expõem ao risco da condenação eterna, é um julgamento<br />
sumário.<br />
Ponderemos. Foi-lhes explicada a doutrina da Igreja<br />
sobre as virtudes católicas em toda a sua importância<br />
e magnitude? Por outro lado, mostraram-lhes até onde<br />
chega a degradação dos vícios? Ou apenas se lhes falou<br />
dos Dez Mandamentos, com referências concisas, sem<br />
explanações complementares?<br />
Quer dizer, há portanto toda uma ascese para se amar<br />
a Cruz, a qual, ao longo dessas exposições, à medida que<br />
o texto o favorece, procuramos apontar.<br />
10
S. Hollmann<br />
“Filhos da dor e da destra”:<br />
com seu preciosíssimo Sangue,<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo<br />
conquistou cada um dos amigos<br />
de sua Cruz<br />
Longinos abre o lado direito de Jesus - Vitral<br />
da Catedral de Bourges, França<br />
São Luís Grignion nos deu, até aqui, dois pressupostos<br />
para se tornar um Amigo da Cruz. O primeiro consiste<br />
na ternura diante dos padecimentos infinitos de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo no Calvário. Segundo, acima lembrado,<br />
o espírito metafísico por onde a pessoa se destaca<br />
da consideração das realidades meramente palpáveis<br />
e dirige seu pensamento para o invisível, para os bens sobrenaturais.<br />
Quem quiser se formar na escola dos Amigos<br />
da Cruz deve, pois, cultivar esses traços de alma.<br />
11
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Indivíduos particularmente chamados<br />
Continuemos a analisar as palavras de São Luís Grignion:<br />
Um Amigo da Cruz é uma ilustre conquista de Jesus<br />
Cristo crucificado no Calvário, em união com sua Santa<br />
Mãe...<br />
Faço notar, uma vez mais, que em toda a Carta, São<br />
Luís escreve “Amigo da Cruz” com A e C maiúsculos,<br />
pois ser membro dessa sociedade por ele fundada é uma<br />
“ilustre conquista de Jesus Cristo”. Ou seja, Nosso Senhor<br />
conquistou cada um particularmente, derramando<br />
seu Sangue para que este e aquele fossem mais chamados<br />
e recolhidos no cenáculo dessa instituição. E — belíssima<br />
característica de São Luís Grignion — a referência<br />
nunca esquecida a Nossa Senhora:<br />
...em união com sua Santa Mãe. É um Benoni ou Benjamin,<br />
filho da dor e da destra...<br />
Refere-se aos dois nomes dados ao último filho de Jacó:<br />
o primeiro por sua mãe, Raquel, o outro por seu pai<br />
(Gn 35, 18). “Filho da dor e da destra”, bonita expressão,<br />
indicativa de traços da própria alma de São Luís Grignion<br />
de Montfort. Com efeito, embora ele não explique,<br />
entre a destra e a dor há certa correlação. Pode-se entrever<br />
que a dor propicia méritos para o indivíduo se tornar<br />
um filho da destra, isto é, um filho que é direito, sério,<br />
honrado, objeto de especial preferência. Não há destra<br />
sem dor, e toda dor santa tem algo de destra.<br />
Filhos da dor, cobertos pelo<br />
Sangue de Cristo<br />
... gerado em seu dolorido Coração, vindo ao mundo por<br />
seu lado direito atravessado e coberto da púrpura de seu<br />
Sangue.<br />
Eis uma comparação em extremo contundente, própria<br />
a surpreender as almas superficiais. Imaginemos um<br />
Gerado pelos indizíveis sofrimentos<br />
do Homem-Deus durante a<br />
Paixão, o Amigo da Cruz nasceu<br />
para a sublimidade e não para a<br />
frivolidade das coisas mundanas<br />
Cenas da Paixão de Nosso Senhor - Retábulo<br />
da Catedral de Colônia, Alemanha<br />
12
13<br />
S. Hollmann
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
marquês do Ancien Régime 1 , trajado com roupas vistosas<br />
e de espírito frívolo, a quem São Luís Grignion afirma que<br />
deveria “ser gerado no dolorido Coração de Jesus, vindo ao<br />
mundo por seu lado direito atravessado e coberto da púrpura<br />
de seu Sangue”... A superficialidade do nobre receberia um<br />
duro golpe!<br />
Pois outro não é o paralelo estabelecido pelo santo. Ele<br />
compara o nascimento do filho da destra, ou seja, do Amigo<br />
da Cruz, à gestação e ao parto dolorosos de uma criança; no<br />
caso, vindo à luz em meio ao sofrimento, através do Coração<br />
de Cristo aberto por uma lança. Aí nasceram os especialmente<br />
chamados, que vêm à Terra cobertos pelo Sangue do<br />
Redentor. São filhos da dor, da agonia e da morte, e não do<br />
prazer. Nasceram para as sublimidades dessas perspectivas e<br />
não para a frivolidade. Seu feitio de espírito é o oposto ao do<br />
homem mundano, que deseja viver apenas para a fruição das<br />
transitórias alegrias terrenas.<br />
Esteio da mentalidade de<br />
um autêntico católico<br />
Importa termos sempre em vista essa subida verdade:<br />
fomos engendrados durante a Paixão de Cristo. Mil dores<br />
e gemidos precederam nosso nascimento. Este se deu tragicamente,<br />
através da chaga do lado de Nosso Senhor, provocada<br />
pela lança de Longinos. Portanto, onde a última gota<br />
de água, o último sangue, a derradeira oblação, a extrema<br />
generosidade se fizeram notar. Compreende-se, assim,<br />
a diferença entre essa visualização e o mundanismo.<br />
Recordo-me de que nas antigas cerimônias de Semana<br />
Santa, durante a Via Sacra se cantava: “Pelas lágrimas de<br />
Maria, tende de nós compaixão; por vossa última agonia,<br />
tende de nós compaixão; Jesus, perdão, perdão”. Nesse<br />
hino as pessoas se compraziam em considerar a luminosa<br />
e sublime tristeza de Nosso Senhor, e ao ouvi-las cantando,<br />
eu pensava comigo mesmo: “Embora muitos não<br />
estejam compenetrados, o fato de entoarem esse cântico<br />
lhes dá uma tal ou qual participação no valor daquilo<br />
A mentalidade do católico<br />
autêntico supõe o amor compassivo<br />
à Sagrada Face de Cristo,<br />
ensanguentada, machucada,<br />
desfigurada...<br />
Crucifixo da Catedral da Sé - São Paulo, Brasil<br />
14
T. Ring<br />
que a letra da música exprime”. Ou seja, participavam do<br />
amor à Cruz de Cristo.<br />
Reafirmo, portanto: nada em matéria de pensamento<br />
de vida interior vale qualquer coisa se não proceder desse<br />
sofrimento, do ato sacrifical de Nosso Senhor no alto da<br />
Cruz e de nossa gestação dolorosa aí realizada. Isto constitui<br />
o esteio da mentalidade de um autêntico católico. Todos<br />
os santos foram assim. E todos somos chamados a nos<br />
enternecer com a Paixão de Nosso Senhor, com sua Sagrada<br />
Face ensangüentada, desfigurada, machucada.<br />
Mortos para o mundo, a<br />
carne e o pecado<br />
Continua São Luís Grignion:<br />
Dada a sua extração sangrenta, ele [Amigo da Cruz] só<br />
respira cruz, sangue e morte ao mundo, à carne e ao pecado,<br />
para estar totalmente oculto aqui na Terra com Jesus<br />
Cristo em Deus.<br />
Trata-se, pois, da atitude em face dos adversários da<br />
Cruz, isto é, o mundo, a carne e o pecado. Além disso, refere-se<br />
o Santo à passagem da epístola de São Paulo aos<br />
colossenses: “estais mortos, com efeito, e vossa vida é toda<br />
oculta em Deus com Jesus Cristo” (Cl 3, 3). É uma metáfora<br />
com a qual ele indica que devemos morrer para as<br />
coisas materiais e carnais, utilizando-nos destas apenas na<br />
medida em que favorecem nossa união com Deus, e não<br />
para os meros deleites que podem nos proporcionar.<br />
Enfim, um perfeito Amigo da Cruz é um verdadeiro porta-Cristo,<br />
ou antes, um Jesus Cristo, de maneira que possa,<br />
em verdade, dizer: “vivo, mas não eu, é Jesus Cristo que vive<br />
em mim” (Ga 2, 20).<br />
Magnífica afirmação de São Luís Grignion, mostrando-nos<br />
o Amigo da Cruz como um porta-Cristo, ao mesmo<br />
tempo que nos faz essa soberba promessa de apostolado:<br />
aonde vai o Amigo da Cruz, este leva Nosso Senhor<br />
consigo. Portanto, sua evangelização se reveste de uma<br />
suprema eficácia.<br />
Vê-se, assim, uma vez mais, a grande necessidade de<br />
formar as pessoas para compreenderem o atrativo da<br />
Cruz, amá-la e, desse modo, deixarem Nosso Senhor Jesus<br />
Cristo viver nelas. E isto supõe uma profunda gravidade<br />
de alma, contrária a tudo quanto podem pensar os<br />
espíritos superficiais. <br />
v<br />
(Continua em próximo artigo)<br />
(Extraído de conferência em 3/6/1967)<br />
1) Período da história da França iniciado em princípios do século<br />
XVII e extinto em 1789, com a Revolução Francesa.<br />
15
Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />
1. Santa Teresa do Menino Jesus,<br />
Virgem e Doutora da Igreja,<br />
1873-1897. Entrou aos 15 anos<br />
no mosteiro das carmelitas de Lisieux,<br />
na França, onde morreu aos<br />
24 anos. Foi a “doutora do conhecimento<br />
do amor de Deus”, abrindo a<br />
nova estrada da “pequena via” para<br />
a santificação das almas. Pio XI a<br />
nomeou co-padroeira das Missões,<br />
junto com São Francisco Xavier.<br />
2. Memória dos Santos Anjos<br />
Custódios (Anjos da Guarda). Protetores<br />
celestes, enviados por Deus<br />
para nos guardar e favorecer. A<br />
partir do pontificado de Paulo V<br />
(1608) tornou-se festa da Igreja<br />
universal. Ver artigo na página 24.<br />
3. São Cipriano, Bispo de Toulon,<br />
e discípulo de São Cesário de<br />
Arles, + 516.<br />
Bem-aventurados André Soveral<br />
e outros 29 Mártires de Uruaçu<br />
e Cunhaú (Rio Grande do Norte,<br />
Brasil), + 1645.<br />
4. São Francisco de Assis, Fundador,<br />
1181-1226. No presente ano<br />
comemora-se o 8º centenário da<br />
conversão de São Francisco, motivo<br />
pelo qual o Papa se dirigirá ao santuário<br />
de Assis, na Úmbria, de onde<br />
o Poverello irradiou o brilho de suas<br />
virtudes e a expansão de sua ordem<br />
para todo o mundo.<br />
5. São Joviano e companheiros,<br />
Mártires de Tréveris (Alemanha),<br />
em 304, sob Diocleciano.<br />
6. São Bruno de Colônia, Sacerdote<br />
e Fundador dos Cartuxos,<br />
1035-1101. Nascido em Colônia,<br />
Alemanha, morreu na Calábria (Itália),<br />
num mosteiro de sua ordem.<br />
Bem-Aventurado Bartolomeu<br />
Longo, 1841-1926. Advogado, fundou<br />
o santuário mariano de Nossa<br />
Senhora do Rosário em Pompéia,<br />
perto de Nápoles.<br />
7. 27º Domingo do Tempo Comum.<br />
Nossa Senhora do Rosário. Festa<br />
instituída em ação de graças pela<br />
vitória da armada cristã em Lepanto.<br />
Exalta a prática mariana por excelência<br />
— o Rosário — , que tem<br />
sua origem em São Domingos de<br />
Gusmão, e enriquecida pelo Papa<br />
João Paulo II com os Mistérios Luminosos<br />
da vida de Jesus.<br />
8. São Hugo, Religioso, + 1230<br />
em Gênova. Prior da Ordem de São<br />
João de Jerusalém (chamada Ordem<br />
de Malta).<br />
9. Santo Abraão, Patriarca do<br />
Antigo Testamento.<br />
Bem-aventurados Mártires de<br />
Turón, (Espanha). Santo Inocêncio<br />
da Imaculada, (Manuel) Canora<br />
Arnau, sacerdote passionista e<br />
oito companheiros dos Irmãos das<br />
Escolas Cristãs (de La Salle). Fuzilados<br />
por ódio à Fé, em 1934, naquela<br />
cidade asturiana.<br />
11. São Bruno, 925-965. Irmão<br />
do Imperador Otão I, foi arquichanceler<br />
do Reino. O martiriológio<br />
romano lembrava que, ao se<br />
tornar Bispo de Colônia, “com o<br />
episcopado assumiu também o poder<br />
temporal. Exerceu o primeiro<br />
com a solicitude do pastor, e o segundo,<br />
com a magnanimidade do<br />
príncipe”.<br />
Bem-Aventurado João XXIII,<br />
Papa, 1881-1963.<br />
12. Nossa Senhora Aparecida,<br />
Padroeira do Brasil.<br />
Nossa Senhora do Pilar (Saragoça,<br />
Espanha).<br />
Os Mártires da perseguição dos<br />
vândalos. 4966 mártires e confessores<br />
da fé — bispos, sacerdotes,<br />
diáconos da Igreja e uma grande<br />
massa de fiéis — confinados por ordem<br />
do rei ariano Hunerico, torturados<br />
e martirizados. Entre eles, os<br />
Bispos Cipriano e Félix, séc. V.<br />
13. São Teófilo, Bispo de Antioquia,<br />
+ 186. Sexto sucessor de São Pedro<br />
nesta diocese. Em suas pregações e<br />
escritos combateu o herege Marcion.<br />
14. 28º Domingo do Tempo Comum.<br />
São Calisto I, Papa e Mártir,<br />
+ 222 ou 223, em Roma. Sendo diácono,<br />
cuidou das catacumbas na<br />
Via Ápia, as quais levam hoje seu<br />
nome. Foi enterrado no local onde<br />
hoje se encontra a Igreja Santa Maria<br />
in Trastevere.<br />
15. Santa Teresa de Jesus, Carmelita,<br />
Fundadora e Doutora da<br />
Igreja, 1515-1582.<br />
16. Santa Margarida Maria Alacoque,<br />
Religiosa, 1647-1690. Recebeu,<br />
em Paray-le-Monial, as revelações<br />
do Sagrado Coração de Jesus.<br />
17. Santo Inácio de Antioquia.<br />
Bispo desta cidade, Padre apostólico,<br />
discípulo do Apóstolo São João,<br />
mártir em Roma, sob o imperador<br />
Trajano, por volta do ano 107.<br />
18. São Lucas, Evangelista, séc. I.<br />
19. São Paulo da Cruz, 1694-1775.<br />
Sacerdote e fundador dos Clérigos<br />
Regulares da Cruz e Paixão de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo (Passionistas).<br />
20. São Cornélio, Centurião,<br />
séc. I. Foi batizado por São Pedro<br />
(At. 10, 1).<br />
16
* Ou t u b r o *<br />
D. Domingues<br />
Maria (claretianos). Nasceu em Sallent,<br />
Catalunha, em 1807. Foi confessor<br />
da rainha Isabel II da Espanha.<br />
Morreu exilado na França, em 1870.<br />
25. Santos Crispim e Crispiniano,<br />
Mártires. Romanos de nascença,<br />
morreram em 287, em Soissons,<br />
na França.<br />
26. Santo Amando, Bispo de Estrasburgo,<br />
França, séc. IV. Provavelmente<br />
o primeiro Bispo desta cidade<br />
francesa.<br />
27. Santo Evaristo, Papa e Mártir,<br />
+ 117. Quarto sucessor de São<br />
Pedro, nascido na Grécia de pais judeus,<br />
e morto sob o Imperador Trajano.<br />
28. 30º Domingo do Tempo Comum.<br />
Santos Simão e São Judas Tadeu,<br />
Apóstolos. O primeiro, chamado<br />
o Cananeu ou o Zelota. O segundo,<br />
chamado Tadeu, ou “filho<br />
de Tiago”, deixou-nos uma Epístola.<br />
Morreram mártires em Babilônia<br />
(atual Iraque), e estão sepultados<br />
na Basílica de São Pedro.<br />
Nossa Senhora do Rosário - Igreja dos Dominicanos, Roma<br />
21. 29º Domingo do Tempo Comum.<br />
São Viator, + 481. Leitor, discípulo<br />
e ministro do Bispo São Justo,<br />
em Lyon, na França.<br />
22. Santas Nunilone e Alodia,<br />
Virgens e Mártires, em Huesca,<br />
Espanha. Nascidas de pai pagão,<br />
mas instruídas pela mãe na doutrina<br />
cristã, havendo recusado abandonar<br />
a fé em Cristo, após uma longa<br />
detenção, foram decapitadas por<br />
ordem do rei Abd Ar-Rahman II.<br />
23. São João de Capistrano, Sacerdote<br />
da Ordem dos Mínimos.<br />
Empenhou-se no revigoramento da<br />
fé e dos costumes católicos em quase<br />
toda a Europa, percorrendo-a e<br />
afervorando-a com suas exortações<br />
e preces. Defendeu com denodo a<br />
liberdade dos cristãos. Morreu próximo<br />
a Ujlak, junto ao Rio Danúbio,<br />
na Hungria.<br />
24. Santo Antônio Maria Claret,<br />
Bispo e Fundador da Congregação<br />
dos Filhos do Imaculado Coração de<br />
29. São Zenóbio, Sacerdote e<br />
Mártir, + 304. Natural de Sidônia<br />
(Fenícia, atual Líbano), foi martirizado<br />
durante a perseguição de Diocleciano,<br />
em Antioquia.<br />
30. São Marciano, Bispo de Siracusa,<br />
na Sicília, séc. II.<br />
31. Santo Afonso Rodríguez,<br />
1532-1617. Irmão leigo jesuíta. Ao<br />
ficar viúvo, entrou na Companhia<br />
de Jesus, realizando com santidade<br />
sua tarefa de porteiro do Colégio<br />
desta ordem em Palma de Maiorca<br />
(Espanha). Místico insigne, deixou<br />
escritas suas Memórias.<br />
17
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
A Contra-Revolução,<br />
defensora das<br />
tradições cristãs<br />
Nos tópicos transcritos<br />
a seguir, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos<br />
apresenta a Contra-<br />
Revolução como um esforço<br />
cujo objetivo, entre outros,<br />
é o de salvaguardar as<br />
tradições, os costumes,<br />
os modos de ver, sentir<br />
e pensar cristãos que<br />
recebemos de nossos<br />
maiores, e que ainda não<br />
foram inteiramente abolidos<br />
pela Revolução.<br />
S. Hollmann<br />
Por que tem havido incompreensões a respeito da Contra-Revolução?<br />
“A tendência de tantos de nossos contemporâneos, filhos<br />
da Revolução, de amar sem restrições o presente,<br />
adorar o futuro e votar incondicionalmente o passado ao<br />
desprezo e ao ódio, suscita a respeito da Contra-Revolução<br />
um conjunto de incompreensões que importa fazer<br />
cessar. Sobretudo, afigura-se a muitas pessoas que o caráter<br />
tradicionalista e conservador desta última faz dela<br />
uma adversária nata do progresso humano” (p. 99-100).<br />
18
Restos de civilização cristã em<br />
meio a costumes revolucionários<br />
Defensor dos valores cristãos, o<br />
contra-revolucionário deve atuar<br />
como Nosso Senhor, que não veio<br />
apagar a mecha ainda fumegante,<br />
nem romper o arbusto partido<br />
Tradicional cerimônia de incensamento<br />
com o grande “botafumeiro”, na Catedral de<br />
Santiago de Compostela, Espanha<br />
Por que a Contra-Revolução é tradicionalista?<br />
“A Contra-Revolução (...) é um esforço que se desenvolve<br />
em função de uma Revolução. Esta se volta constantemente<br />
contra todo um legado de instituições, de<br />
doutrinas, de costumes, de modos de ver, sentir e pensar<br />
cristãos que recebemos de nossos maiores, e que ainda<br />
não estão completamente abolidos. A Contra-Revolução<br />
é, pois, a defensora das tradições cristãs” (p. 100).<br />
O que as correntes “moderadas” da Revolução têm feito<br />
com a civilização cristã?<br />
“A Revolução ataca a civilização cristã mais ou menos como<br />
certa árvore da floresta brasileira, a figueira brava (urostigma<br />
olearia), que, crescendo no tronco de outra, a envolve<br />
completamente e a mata. Em suas correntes “moderadas”<br />
e de velocidade lenta, acercou-se a Revolução da civilização<br />
cristã para envolvê-la de todo e matá-la. Estamos num período<br />
em que esse estranho fenômeno de destruição ainda não<br />
se completou, isto é, numa situação híbrida em que aquilo a<br />
que quase chamaríamos restos mortais da civilização cristã,<br />
somado ao perfume e à ação remota de muitas tradições, só<br />
recentemente abolidas, mas que ainda têm alguma coisa de<br />
vivo na memória dos homens, coexiste com muitas instituições<br />
e costumes revolucionários” (pp. 100-101).<br />
A mecha que ainda fumega<br />
Em que sentido o contra-revolucionário, defendendo as<br />
boas tradições, atua como Nosso Senhor Jesus Cristo?<br />
“Em face dessa luta entre uma esplêndida tradição cristã<br />
em que ainda palpita a vida, e uma ação revolucionária inspirada<br />
pela mania de novidades a que se referia Leão XIII,<br />
nas palavras iniciais da Encíclica Rerum Novarum, é natural<br />
que o verdadeiro contra-revolucionário seja o defensor nato<br />
do tesouro das boas tradições, porque elas são os valores<br />
do passado cristão ainda existentes e que se trata exatamente<br />
de salvar. Nesse sentido, o contra-revolucionário atua<br />
como Nosso Senhor, que não veio apagar a mecha que ainda<br />
fumega, nem romper o arbusto partido [Mt. 12, 20]. Deve<br />
ele, portanto, procurar salvar amorosamente todas essas<br />
tradições cristãs. Uma ação contra-revolucionária é, essencialmente,<br />
uma ação tradicionalista” (p. 101).<br />
Falso tradicionalismo<br />
Quais as características do falso tradicionalismo?<br />
“O espírito tradicionalista da Contra-Revolução nada<br />
tem de comum com um falso e estreito tradicionalismo<br />
que conserva certos ritos, estilos ou costumes por mero<br />
amor às formas antigas e sem qualquer apreço pela doutrina<br />
que os gerou. Isto seria arqueologismo, não sadio<br />
e vivo tradicionalismo” (p. 102) 1 . <br />
v<br />
1 ) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora<br />
Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />
19
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
J. A. Aguiar<br />
A oração da manhã<br />
Por vezes, pondera <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, sentimos aspirações legítimas,<br />
frutos da graça que opera de modo diferente nos corações.<br />
Assim, pela manhã nos vem o desejo de dizer alguma coisa<br />
especial a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. Devemos, pois,<br />
seguir essa aspiração e variar nossa primeira prece do dia.<br />
20
Uma importante questão que<br />
alguém chamado a uma vocação<br />
especial deve se pôr é<br />
esta: como fazer a oração da manhã<br />
mais conforme à missão para a qual<br />
lhe escolheu a Providência?<br />
Compreende-se a pergunta, posto<br />
que um religioso — beneditino,<br />
franciscano, jesuíta, etc. — precisa<br />
iniciar seu dia elevando a Deus<br />
uma prece segundo a espiritualidade<br />
própria da ordem à qual pertence.<br />
O mesmo princípio se aplica<br />
às outras vocações. Por exemplo,<br />
um apóstolo que, por determinadas<br />
circunstâncias, exporá sua vida<br />
pela causa da Igreja e de Nossa<br />
Senhora, não pode fazer a oração<br />
da manhã de um tabelião católico,<br />
pois este passa o dia todo lendo<br />
e escrevendo...<br />
As variações de uma<br />
boa oração da manhã<br />
Porém, ao invés de apresentar<br />
uma fórmula de oração matutina,<br />
parece-me de maior interesse indicar<br />
os fundamentos que devem norteá-la.<br />
Primeiramente, julgo preferível<br />
que ela seja mutável, porque a perpétua<br />
repetição de um mesmo texto<br />
acaba ocasionando aridez e cansaço<br />
para um incontável número<br />
de almas. A fim de obviar esse inconveniente,<br />
há uma série de critérios<br />
que podem ser adotados, também<br />
variáveis de acordo com as<br />
pessoas.<br />
Às vezes sentimos aspirações legítimas,<br />
frutos da graça que opera de<br />
modo diferente nos corações. Assim,<br />
pela manhã nos vem o desejo de dizer<br />
alguma coisa especial a Nosso<br />
Senhor e a Nossa Senhora: devemos<br />
seguir essa aspiração e, procurando<br />
evitar a padronização, variar nossa<br />
prece.<br />
Contudo, se durante anos uma<br />
fórmula corresponde inteiramente<br />
Segundo a vocação e a<br />
espiritualidade próprias a cada um,<br />
devemos elevar a Deus nossa prece<br />
da manhã, com atos de agradecimento,<br />
louvor e impetração<br />
das graças necessárias para<br />
o novo dia<br />
Na página 20, Mosteiro da Batalha - Portugal<br />
aos nossos anseios, não convém alterá-la.<br />
Por outro lado, quando começamos<br />
a ter dificuldades em prestar<br />
atenção num texto que há tempos<br />
utilizamos, não raro essa desatenção<br />
é motivo suficiente para modificá-lo.<br />
Cumpre acrescentar, entretanto,<br />
que essa mudança não se faz de modo<br />
simples: possui matizes, diversidades<br />
segundo cada indivíduo, como<br />
tudo que é próprio à vida espiritual.<br />
Atos de culto e de<br />
oferecimento<br />
Tendo em vista esses pressupostos,<br />
passo a apresentar alguns critérios<br />
que podem servir para a oração<br />
da manhã.<br />
Em primeiro lugar, é plausível<br />
que façamos a Deus um ato de culto<br />
que se desdobra em três partes: adoração,<br />
ação de graças e petição.<br />
Na adoração, a pessoa poderia<br />
dizer: “Considerando que Vós sois<br />
meu fim último, minha alegria, sois<br />
quem sois, logo que me levanto quero<br />
vos manifestar minha adoração,<br />
minha admiração total, meu amor e<br />
meu temor inteiros.”<br />
E na ação de graças: “Eu vos<br />
dou graças por me terdes concedido<br />
uma noite tranqüila.”<br />
Por fim, na petição deve-se rogar<br />
as graças espirituais e os favores<br />
temporais de que necessitaremos<br />
durante o dia.<br />
Vemos, assim, como essa oração<br />
da manhã não possui fórmula fixa,<br />
mas precisa ser articulada todos os<br />
dias.<br />
Além disso, convém que nela haja<br />
um ato de oferecimento. O Altíssimo<br />
nos deu a vida e tem direito sobre<br />
o que é nosso. Donde lhe oferecermos<br />
tudo quanto faremos naquele<br />
dia, segundo determinadas intenções.<br />
Particularidades<br />
da oração de quem<br />
se consagrou a<br />
Nossa Senhora<br />
Vale acrescentar que, para quem<br />
se consagrou como escravo de amor<br />
a Nossa Senhora segundo o método<br />
de São Luís Grignion de Montfort,<br />
o mais perfeito é oferecer o dia à<br />
Santíssima Virgem, para que Ela<br />
disponha de nós como Lhe aprouver<br />
ao longo daquela jornada.<br />
Sobretudo devemos ter em vista<br />
nossa vocação específica: cada<br />
um de nós foi suscitado para servir<br />
à Igreja e colaborar na vitória da<br />
Contra-Revolução.<br />
21
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />
Em outros termos, por meio das<br />
ações que praticaremos durante o<br />
dia, por nossos desejos e orações,<br />
contribuiremos para apressar o momento<br />
em que o demônio seja derrotado<br />
e se instaure no mundo o<br />
Reino de Jesus por Maria.<br />
Sendo assim, devemos pedir a<br />
Nossa Senhora graças próprias ao<br />
nosso chamado, tais como: um espírito<br />
voltado para os imponderáveis e<br />
os inverossímeis 1 ; o desapego das coisas<br />
opostas ou alheias à nossa missão;<br />
o pensar, querer e agir em função de<br />
nosso apostolado; e os dons inerentes<br />
ao fato de sermos católicos militantes,<br />
aos quais é necessária uma particular<br />
virtude da fortaleza.<br />
Portanto, implorar a Maria Santíssima<br />
que nos alcance forças para<br />
lutarmos contra o que há de ruim<br />
em nós e em torno de nós, para<br />
amarmos o bem e rejeitarmos toda<br />
forma de mal.<br />
Amor à vocação,<br />
castidade e obediência<br />
Mais. É necessário também rogarmos<br />
a Nossa Senhora a graça de<br />
amarmos nosso movimento e, neste,<br />
aqueles que devem ser nossos modelos.<br />
Que Ela nos obtenha o dom de<br />
uma castidade ilibada e de uma obediência<br />
perfeita aos superiores dispostos<br />
por Deus em nosso caminho;<br />
e nos assista em cada ação por nós<br />
praticada, a fim de multiplicar sua<br />
eficácia e provocar a efetiva queda<br />
da Revolução, bem como para<br />
que contribuam na formação de almas<br />
conformes ao Coração Imaculado<br />
d’Ela.<br />
Compreende-se que alguns ou<br />
muitos não terão tempo para formular<br />
tantas intenções numa oração<br />
da manhã que não se deve prolongar.<br />
Não precisamos rezar diariamente<br />
tudo isso acima considerado.<br />
Basta termos anotados esses<br />
pontos e dizermos, com simplicidade<br />
e confiança, a Nossa Senhora:<br />
“Minha Mãe, peço-vos tudo o<br />
que aqui está escrito, especialmente<br />
tal coisa”, ou: “consagro-vos<br />
meu dia particularmente em tal intenção”,<br />
etc.<br />
Oferecer os reveses<br />
e as cruzes<br />
Certos dias, ao nos levantarmos<br />
de manhã, já nos deparamos com<br />
algo desagradável à nossa espera.<br />
Devemos então dizer: “Está bem.<br />
Sit in nomine Domini benedictum<br />
(seja bendito em nome do Senhor)!<br />
Trata-se de uma pequena cruz que<br />
oferecerei de boa vontade a Nossa<br />
Senhora.”<br />
Como se sabe, conforme o ensinamento<br />
da pequena via de Santa<br />
Teresinha, o bom aproveitamento<br />
das diminutas coisas desagradáveis<br />
redunda num fator extraordinário<br />
para o progresso na vida espiritual.<br />
Portanto, não percamos nenhuma<br />
oportunidade de oferecê-las à Santíssima<br />
Virgem, que delas colherá<br />
os melhores frutos.<br />
22
F. Lecaros<br />
Em nossa oração<br />
da manhã, não nos esqueçamos<br />
de pedir especialmente por<br />
aqueles que, ao nosso lado, sobem a<br />
mesma montanha da vocação,<br />
enfrentando conosco iguais riscos e<br />
dificuldades para atingir<br />
o alto do monte<br />
Religiosos cartuxos passeiam nos domínios<br />
da Grande Cartuxa - França<br />
Pelo auxílio mútuo<br />
dos que galgam a<br />
montanha da vocação<br />
Nesse rol de intenções não poderia<br />
faltar uma que me parece sobremodo<br />
importante. Com efeito, nosso<br />
movimento pode ser comparado a<br />
um grupo de pessoas que, sob raios<br />
caídos do céu, escala uma montanha<br />
escorregadia, e nessa ascensão a cada<br />
momento surgem riscos e dificuldades<br />
diversos. Cumpre, então, pensarmos<br />
nessa espécie de drama que<br />
é a luta individual e interior de cada<br />
um de nós, esforçando-se para alcançar<br />
o alto do monte, ao mesmo<br />
tempo que procura auxiliar o irmão<br />
de vocação para juntos subirem até<br />
o topo. Considerando não apenas os<br />
riscos, mas também todas as glórias<br />
e belezas que tal ascensão traz consigo,<br />
peçamos a Nossa Senhora que<br />
nos ajude a empreendê-la.<br />
E outro ponto importante: quantos<br />
dos que hoje me ouvem, ainda<br />
ontem perambulavam pelo mundo,<br />
expostos a quantos riscos, incertezas,<br />
dificuldades! Foram resgatados<br />
do caminho extraviado pelo qual<br />
andavam e conduzidos às sendas da<br />
vocação. Lembremo-nos disso, e rezemos<br />
de modo particular pelas almas<br />
chamadas a pertencer ao nosso<br />
movimento, para que elas não se<br />
desviem e percorram seu itinerário<br />
até nós. Eis uma intenção das mais<br />
meritórias e aconselháveis, a ser incluída<br />
na oração da manhã.<br />
Reiterar as intenções<br />
ao longo do dia<br />
Concluo, ponderando que todas<br />
essas intenções podem ser colocadas<br />
ao longo do dia em nossas práticas<br />
de piedade: na ação de graças após a<br />
Comunhão, na recitação do Rosário,<br />
nas visitas ao Santíssimo, etc. Claro<br />
está, postas de manhã, têm elas o<br />
mérito de projetar uma luz sobre o<br />
dia inteiro, além da beleza especial<br />
e intrínseca própria a essa primeira<br />
homenagem da alma que “acorda” e<br />
se volta para Deus.<br />
Beleza esta, aliás, muito conforme<br />
à natureza das coisas. O primeiro<br />
brilho da aurora, o primeiro vôo de<br />
um pássaro, enfim, todos os primeiros<br />
acontecimentos se revestem de<br />
uma forma de graça natural e de glória<br />
peculiar, que é uma imagem desse<br />
primeiro e matutino movimento<br />
da alma se dirigindo ao seu Criador.<br />
v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 10/8/1965)<br />
1) <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> empregava tais palavras para<br />
designar especialmente as ações<br />
sobrenaturais que não têm peso físico<br />
(imponderáveis); e os fatos cuja realização<br />
não se explicam através da mera<br />
razão, mas sobretudo pela fé (inverossímeis).<br />
23
O Sa n t o d o m ê s<br />
Fotos: S. Hollmann<br />
Santos<br />
anjos<br />
custódios<br />
Protetores<br />
e advogados<br />
do homem<br />
O anjo custódio nos foi dado não<br />
apenas para as horas de perigo<br />
e provação, como também para<br />
rezar e interceder por nós a todo<br />
instante. Ele é nosso mediador<br />
e advogado junto ao trono do<br />
Altíssimo e roga continuamente<br />
em favor do seu protegido.<br />
Portanto, aconselha-nos <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>,<br />
é de todo congruente implorarmos<br />
sempre esse patrocínio do nosso<br />
anjo da guarda.<br />
N<br />
o dia 2 de outubro celebra-se a festa dos santos<br />
anjos da guarda, a respeito dos quais poderíamos<br />
tecer alguns comentários.<br />
24
Para nos socorrer nos<br />
perigos e lutas da vida<br />
Enquanto o otimismo moderno, devido à mentalidade<br />
obsessiva do happy end (“final feliz”), é muito propenso<br />
a achar que em nada existe luta, dificuldades e perigos,<br />
a Igreja, pelo contrário, nos ensina que esta vida é um<br />
combate semeado de riscos materiais e espirituais. Por isso,<br />
a Providência Divina dispôs um anjo para velar sobre<br />
cada um de nós. E o fez com tanta munificência que há<br />
também um anjo para cada cidade e nação, além daquele<br />
que tutela a própria Santa Igreja Católica, o Arcanjo São<br />
Miguel. Não será descabido pensar que, provavelmente,<br />
para grupos, famílias de almas, sociedades, etc., existem<br />
igualmente anjos da guarda, de tal forma que todos os<br />
seres são amparados por um espírito angélico.<br />
Destas considerações decorre uma primeira lição, de<br />
caráter sobrenatural, que nos leva a compreender como<br />
é errada a posição condenada por Dom Chautard 1 , daqueles<br />
que dizem: “Sou muito capaz, inteligente, jeitoso,<br />
esperto; por causa disso, desde que não me sobrevenham<br />
obstáculos muito grandes, não preciso nem na minha vida<br />
espiritual, nem na material, do auxílio de Deus. Dou<br />
conta por mim mesmo daquilo que preciso fazer.”<br />
Ora, se o Altíssimo delegou um ente celeste para<br />
acompanhar e proteger cada um de nós, é porque a todo<br />
momento e para tudo o que fazemos, necessitamos do<br />
auxílio d’Ele.<br />
Distorções de uma falsa piedade<br />
Por outro lado, em conseqüência das concepções de<br />
uma piedade errônea, em muitas pinturas que representam<br />
o anjo da guarda em ação, há sempre uma criancinha,<br />
insinuando vagamente que tal amparo se destina<br />
apenas às crianças. Portanto, apenas estas últimas acreditam<br />
em anjo, e um espírito “emancipado”, mais “evoluído”,<br />
nele não crê nem precisa de ajuda.<br />
Lembro-me de ter visto uma estampa onde aparecia um<br />
bonito riacho, tendo à margem graciosas plantinhas, e uma<br />
criança rechonchuda, tez rosada, com ar de quem recentemente<br />
saíra da cama e fora lavada, frisada e enfeitada. Ela<br />
passa sobre uma ponte onde existe uma tábua quebrada na<br />
qual poria o pé, mas o anjo da guarda, atrás dela, a protege.<br />
A todo momento necessitamos do auxílio<br />
do nosso anjo da guarda, destinado por<br />
Deus para nos amparar e favorecer<br />
Na página 24 e à direita: Anjos da fachada da<br />
Catedral de Notre-Dame de Paris, França<br />
25
O Sa n t o d o m ê s<br />
Tem-se a impressão de que aquilo é o mundo das imaginações<br />
da criancinha, e indica o estado de espírito com<br />
que ela atravessa a ponte. Com muito favor, poder-se-ia<br />
pensar que o anjo da guarda faz o mesmo com adultos.<br />
Então, para evitar desastre de automóvel, doenças, pequenos<br />
acidentes, etc., é bom recorrer ao anjo da guarda.<br />
Em suma, este serve para as necessidades materiais;<br />
quanto às espirituais, não se fala da proteção angélica.<br />
Razão pela qual muitos pedem a cura de alguma enfermidade,<br />
outros, que favoreça uma reconciliação e coisas<br />
do gênero. Poucos têm noção de que os anjos da guarda<br />
nos foram dados sobretudo para aquilo que existe de<br />
mais importante: velar por nossa alma, lutar e agir conosco<br />
para vencermos nossas dificuldades espirituais.<br />
Nunca estamos sós<br />
E contudo, quanto conforto nos daria nas horas das<br />
tribulações, tentações, em que nos sentimos sozinhos,<br />
termos a certeza de que um anjo da guarda está junto de<br />
nós! Embora não o sintamos nem o percebamos, ele não<br />
nos abandona um minuto sequer, e se acha à espera de<br />
nossas orações para agir por nós. Muitas vezes ele atua<br />
sem que o peçamos, mas fa-lo-á ainda mais se implorarmos<br />
sua assistência.<br />
Enquanto tecemos essas considerações, o recinto<br />
em que nos encontramos está repleto de anjos da<br />
guarda que velam por nós, além do anjo destinado a<br />
amparar o conjunto do nosso movimento, a ser verdade<br />
o que acima cogitamos a respeito das famílias de almas,<br />
sociedades, etc.<br />
Compreendemos, assim, quanta alegria desfrutaríamos<br />
se tivéssemos essa idéia sempre presente em nosso<br />
espírito! Ao fazermos apostolado, ao passarmos por problemas<br />
interiores, por aborrecimentos e contrariedades<br />
de toda ordem, nos sentimos sós. Tal solidão é uma ilu-<br />
Devido a uma errônea noção do<br />
papel do anjo da guarda, poucos<br />
consideram que ele nos foi dado,<br />
sobretudo, para velar por nossa<br />
alma e nos socorrer em nossas<br />
dificuldades espirituais<br />
O anjo da guarda - Igreja de São Pedro<br />
Apóstolo, Montréal (Canadá)<br />
26
F. Boulay / G. Kralj<br />
são: junto a cada um está o seu anjo da guarda. Não obstante<br />
imaginarmos que entre nós e ele há uma distância<br />
como entre o céu e a terra, ele de fato está perto, rezando,<br />
vigiando, protegendo o homem cuja guarda lhe foi<br />
confiada por Deus.<br />
Nosso intercessor particular<br />
A compenetração dessa verdade proporciona alento<br />
à vida espiritual, pois sentimos a mão de Deus nos<br />
acompanhando a cada passo. E ilustra as afirmações de<br />
Nosso Senhor no Evangelho: não cai um fio de cabelo<br />
de nossa cabeça nem uma folha de árvore, não morre<br />
um passarinho sem a permissão do Criador. Quer dizer,<br />
a conexão entre a missão do anjo da guarda e a doutrina<br />
católica sobre a Divina Providência é admirável, própria<br />
a estimular em nós a virtude da confiança, pois nesta<br />
crescemos ao termos sempre presente que o anjo custódio<br />
nos foi dado não apenas para as horas de perigo<br />
e provação, como também para rezar e interceder por<br />
nós a todo instante.<br />
O anjo da guarda é nosso mediador e advogado junto<br />
ao trono do Altíssimo e roga continuamente por nós.<br />
Portanto, é de todo congruente pedirmos a ele que nos<br />
obtenha graças e afaste de nós os perigos.<br />
Estímulo e conforto para nossas almas<br />
Os antigos, aliás, possuíam profunda noção da presença<br />
e da intercessão dos anjos custódios, e por isso<br />
construíam igrejas em seu louvor, e alguns lugares<br />
onde eles apareciam se tornavam objeto de peregrinação.<br />
Por exemplo, a Abadia do Monte Saint-Michel,<br />
na Normandia. São Miguel Arcanjo é o padroeiro da<br />
nação francesa, e também o de Roma, depois que se<br />
fez presente no alto do outrora mausoléu do Imperador<br />
Adriano, e onde hoje se vê o castelo chamado<br />
Sant’Angelo. Em outras ocasiões, viam-se anjos secundando<br />
os católicos em seus confrontos contra hereges<br />
e adversários da ortodoxia cristã.<br />
Haveria mil coisas a se considerar a respeito do papel<br />
dos anjos, baseando-se na Bíblia e na história da Cristandade.<br />
Infelizmente, tudo isso é pouco ou nada recordado.<br />
Razão pela qual é extremamente belo rememorarmos<br />
essas verdades e tê-las sempre em vista para o estímulo<br />
e conforto de nossas almas.<br />
Modelo de santidade para o protegido<br />
Restar-me-ia apresentar uma última reflexão, a qual<br />
submeto ao juízo da Igreja por se tratar de uma opinião<br />
pessoal, que me parece conveniente e razoável.<br />
27
O Sa n t o d o m ê s<br />
Deus tudo faz com conta, peso e medida, de modo ordenado,<br />
e não é provável que a designação de um anjo da<br />
guarda para atender uma pessoa se produza de maneira<br />
automática. De fato, não é possível imaginar uma espécie<br />
de ponto de táxi de anjos no Céu, à espera de que<br />
nasça um homem e, a um aceno de Deus, o anjo A ou o<br />
X se dirige à Terra e começa a proteger aquele novo ser<br />
humano... Essa forma de agir em Deus não nos soa como<br />
própria de sua infinita sabedoria.<br />
Mais inclinado sou a pensar que Deus delega a cada<br />
pessoa um anjo da guarda cuja santidade tem relação<br />
com a luz primordial 2 daquela alma. De maneira que o<br />
anjo é um celeste modelo das virtudes que ela deve praticar<br />
ao longo da vida terrena. Se pudéssemos ver nosso<br />
anjo da guarda, contemplaríamos provavelmente a personificação<br />
de nossa luz primordial, ou seja, algo que seria<br />
de certo modo parecido conosco, mas num grau de<br />
beleza ontológica e sobrenatural inconcebível.<br />
O “alter ego” de<br />
cada homem<br />
Compreendemos, então, a<br />
simpatia, a afinidade e o desejo<br />
de servir que teríamos para com<br />
ele e, reciprocamente, o vínculo<br />
especial do anjo da guarda conosco.<br />
Quer dizer, o anjo custódio<br />
é o celeste alter ego, o outro “eu<br />
mesmo” de cada protegido. Esta<br />
é uma razão particular para que,<br />
antropomorficamente falando,<br />
tenhamos ainda mais facilidade<br />
de compreender como o anjo da<br />
guarda nos ampara. Imaginemos<br />
que encontrássemos alguém necessitado<br />
de ajuda, sumamente<br />
28
Fotos: S. Hollmann / G. Kralj<br />
O outro “eu<br />
mesmo” de<br />
cada protegido,<br />
o anjo da guarda<br />
foi sempre objeto da<br />
veneração popular<br />
parecido conosco: não é verdade que nos apressaríamos<br />
em socorrê-lo, impelidos por essa semelhança?<br />
Ora, é o que sucede entre o anjo da guarda e cada um<br />
de nós. <br />
v<br />
(Extraído de conferência em 2/10/1964)<br />
Na página 27, Mont Saint-<br />
Michel, França; anjo da<br />
fachada da Catedral<br />
de Amiens, França;<br />
acima, o Castelo de<br />
Sant’Angelo, Roma<br />
1) Autor da obra “A alma de todo apostolado”, muito recomendada<br />
por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>.<br />
2) Segundo o pensamento de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, posto que todo homem<br />
é criado para louvar a Deus, concede Ele a cada pessoa<br />
uma luz primordial, isto é, uma aspiração para contemplar as<br />
verdades, virtudes e perfeições divinas de um modo próprio<br />
e único, pelo qual dará sua glória particular ao Criador.<br />
29
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Luminosas “migalhas”<br />
Fotos: G. Kralj<br />
30
Embaladas por águas tranqüilas<br />
e misteriosas, as gôndolas<br />
parecem dormitar à espera<br />
de passageiros. Formas características,<br />
pontas elegantes, detalhes<br />
pitorescos. Gôndolas vazias, amarradas<br />
a estacas de formas incertas, numerosas,<br />
como se fossem uma floresta<br />
de linhas e de silhuetas refletidas,<br />
plantadas no mar raso.<br />
Neblinas indefinidas, brumas matutinas,<br />
vespertinas, que a tudo en-<br />
Detalhe de gôndola<br />
nas águas de<br />
Veneza, Itália<br />
31
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
volvem: barcos, torres, homens. Lindos<br />
revérberos sob cuja luz se revelam<br />
lances de muros, arcarias góticas,<br />
jogo de cúpulas.<br />
Nuvens de um avermelhado que<br />
se mistura com o plúmbeo profundo<br />
do céu, desenhando no firmamento<br />
uma espécie de mapa da cidade que<br />
se estende na terra. Nas pontas das<br />
torres, das cúpulas, cruzes e ornatos<br />
tão leves e tão poéticos que, ao soprar o<br />
vento, dir-se-ia começarão a se agitar e<br />
a tocar música nos ares de Veneza!<br />
Prédios que se empilham uns sobre<br />
os outros, dando a idéia de construções<br />
feéricas e, mais uma vez, roçados<br />
pela névoa ligeira. Comprazem-se<br />
nas auroras lindas, mas são<br />
igualmente sensíveis aos encantos do<br />
ocaso e da noite.<br />
As águas venezianas refletem como<br />
que ao infinito as velas, as quilhas<br />
e os adornos das embarcações<br />
que sobre elas repousam. E então<br />
parecem, já não água, mas vidro,<br />
cristal, espelho imobilizado. Águas<br />
A cúpula da Catedral<br />
de São Marcos e<br />
gôndolas, em Veneza<br />
32
33
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Casas velhas e escalavradas, antigos palácios habitados<br />
por gente pobre, que soube conservar o atrativo<br />
do seu passado; detalhes, “migalhas” nas quais se<br />
contempla o esplendor inteiro de Veneza...<br />
Acima, velha habitação em Veneza; na página 34, vista noturna da Praça de São Marcos<br />
sempre portadoras de novidades,<br />
da famosa laguna de Veneza.<br />
Casas velhas e escalavradas. Pequenos<br />
(e outrora) palácios, onde<br />
se nota habitar uma gente empobrecida,<br />
sim, mas que sabe conservar o<br />
atrativo do seu passado.<br />
Na verdade, tudo isso possui<br />
uma beleza e uma poesia que me<br />
levariam a contemplá-lo por um<br />
longo tempo, dizendo: “Mais formosura<br />
do que isso existe, e muita,<br />
na própria Veneza. Porém, dáse<br />
aqui como quando saboreamos<br />
um pão delicioso e algumas<br />
migalhas dele caem sobre a toalha<br />
da mesa, e temos um gosto peculiar<br />
em comer a migalha, como<br />
quem degusta, num só pedacinho,<br />
o pão inteiro. Pois bem: essas<br />
são migalhas do incomparável<br />
esplendor de Veneza...” v<br />
(Extraído de conferências em<br />
31/3/1974; 31/8/1976 e 17/4/1985)<br />
34
35
Prece à Rainha dos Anjos<br />
S. Hollmann<br />
Virgem e o Menino –<br />
Museu do Prado,<br />
Madrid (Espanha)<br />
ÓMaria, Mãe minha e Rainha dos Anjos, ordenai ao santo anjo de minha guarda que<br />
atue continuamente no íntimo de minha alma. Fazei com que, mesmo em meio às solicitações<br />
mundanas que arrastam para cogitações e interesses que não são os vossos, tenha<br />
eu sempre em mente os vossos interesses e as vossas cogitações. Por esta forma, deixarei de<br />
sofrer as influências da Revolução e passarei a influenciar, com a vossa presença, o mundo que<br />
se encontra ao meu redor.<br />
Serei, assim, uma espécie de porta-estandarte vosso a proclamar vosso Reino e a antecipá-lo<br />
na Terra. Serei eu próprio como um anjo vitorioso a abrir o caminho para o momento bendito,<br />
profetizado por Vós em Fátima: “Por fim, meu Imaculado Coração triunfará!”. Para isto, daime<br />
firmeza de propósito, fidelidade inquebrantável, e um entusiasmo que nenhum menosprezo,<br />
nenhuma perseguição, nenhum risco possam abater. Amém.<br />
(Oração composta por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em 15/11/1976)