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Há 90 anos,<br />
a Primeira<br />
Eucaristia
São Martinho de<br />
Porres – Convento<br />
dos Dominicanos,<br />
Lima (Peru)<br />
G. Kralj<br />
N<br />
a Lima dos<br />
santos,<br />
brilhou a<br />
figura de São<br />
Martinho de Porres,<br />
misto de fidalgo e<br />
homem do povo, cujas<br />
virtudes esplendentes<br />
contribuíram para<br />
conferir à civilização<br />
peruana do seu tempo<br />
uma beleza e uma<br />
ordenação católicas<br />
até hoje insuperáveis.<br />
Ordenação e beleza<br />
que anseiam por<br />
reviver e traçar um<br />
futuro ainda mais<br />
glorioso que o passado.<br />
2<br />
(Extraído de conferência<br />
em 9/5/1994)
Sumário<br />
Ano X - Nº <strong>116</strong> Novembro de 2007<br />
Há 90 anos,<br />
a Primeira<br />
Eucaristia<br />
Na capa,<br />
<strong>Plinio</strong> em 1917, com o<br />
traje de sua Primeira<br />
Comunhão<br />
(Ver seção “Datas na<br />
vida de um cruzado”)<br />
Foto: Arquivo revista<br />
As matérias extraídas<br />
de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
— designadas por “conferências” —<br />
são adaptadas para a linguagem<br />
escrita, sem revisão do autor<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />
propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />
CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />
INSC. - 115.227.674.110<br />
Diretor:<br />
Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />
Editorial<br />
4 Como jóia no seu escrínio...<br />
Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
5 19 de novembro de 1917:<br />
A Primeira Comunhão<br />
Do n a Lucilia<br />
6 Em tudo conforme à Igreja<br />
Conselho Consultivo:<br />
Antonio Rodrigues Ferreira<br />
Carlos Augusto G. Picanço<br />
Jorge Eduardo G. Koury<br />
Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />
10 A “Carta circular aos Amigos da Cruz” - V<br />
Nossas obrigações para com a Cruz<br />
Redação e Administração:<br />
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Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />
Serviço de Atendimento<br />
ao Assinante<br />
Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />
16 Calendário dos Santos<br />
O p e n s a m e n t o f i l o s ó f i c o d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
18 O universo e aordenação da<br />
alma humana<br />
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
24 Metamorfoses do<br />
processo revolucionário<br />
O Sa n t o d o m ê s<br />
26 Nossa Senhora,<br />
Mãe da Divina Providência<br />
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
30 Percepção do sobrenatural<br />
Últ i m a p á g i n a<br />
36 Razão de nossa perseverança<br />
3
Editorial<br />
Como jóia no seu escrínio...<br />
AFesta da Apresentação de Nossa Senhora no Templo, que transcorre no dia 21 deste mês, foi<br />
instituída ao ser consagrada a igreja de Santa Maria a Nova, em Jerusalém, no ano 543. Assim,<br />
a liturgia confirmava como fato histórico o que se lê no texto apócrifo conhecido como<br />
Protoevangelho de Tiago: a Santíssima Virgem foi levada pelos seus pais, São Joaquim e Sant’Ana, ao<br />
Templo de Jerusalém, com tenra idade, para viver uma vida de recolhimento e oração nesse sagrado<br />
lugar.<br />
Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, o momento do ingresso da santa Menina no Templo provavelmente foi o mais<br />
belo espetáculo até então contemplado pelos Anjos do Céu. E ao comentar uma passagem de São<br />
Francisco de Sales a esse propósito, acrescentava:<br />
“Não sei se São Joaquim e Sant’Ana tinham plena noção de que Nossa Senhora estava destinada a<br />
ser a Mãe do Verbo Encarnado. Porém, certamente sabiam que sua filha fora escolhida por Deus para<br />
altíssimas coisas com vistas ao advento do Messias. É-nos dado supor, aliás, que essa menina, concebida<br />
sem pecado original e, portanto, sem as limitações inerentes a este, sem deixar as atitudes próprias<br />
de uma criança, possuía em sua alma um dom de contemplação maior que o dos maiores santos<br />
da Igreja.<br />
“Quer dizer, n’Ela se harmonizavam a extrema afabilidade e meiguice da criança com uma grandeza<br />
da qual os homens mais excelentes da Terra não são senão minúscula figura. Esse terá sido o desejo<br />
de Nossa Senhora, em que sendo Ela a Rainha incomparável do universo, aparecesse aos olhos<br />
de todos como uma simples menina. Contraste de beleza insondável, diante do qual permanecemos<br />
emudecidos de admiração!<br />
“Pois foi essa maravilhosa menina que seus pais levaram ao Templo. Segundo São Francisco de Sales,<br />
durante essas peregrinações à Cidade Santa, os judeus iam pelas estradas entoando cânticos, de<br />
modo particular os salmos compostos por David para essa finalidade. Podemos imaginar as lindas cenas<br />
que tais romarias proporcionavam: chegado o mês da visita ao Templo, judeus das mais variadas<br />
regiões se punham a palmilhar os caminhos de Israel, envolvendo-os com seus cantos religiosos.<br />
“Entre eles, certa feita, encontravam-se São Joaquim, Sant’Ana e Nossa Senhora. Imaginemos,<br />
então, se pudermos, o cântico da Menina, elevado com uma voz inefável, repetindo as palavras que<br />
seu régio ancestral escrevera por inspiração do Espírito Santo para aquela circunstância!<br />
“Pensemos em Maria cantando pelas estradas judaicas, e os anjos acompanhando seus passos e<br />
seu cântico, extasiando-se eles, sobretudo, com as harmonias de alma que a pequena Virgem manifestava<br />
a cada instante.<br />
“Ainda segundo São Francisco de Sales, do alto dos terraços da Jerusalém Celeste, os querubins e<br />
os serafins, e toda a corte angélica, debruçavam-se para contemplar Nossa Senhora a caminho de Jerusalém,<br />
e esse espetáculo, ignorado pelos homens, incutia-lhes um gáudio inexprimível.<br />
“De fato, cena mais bela e mais eloqüente do que essa, só poderia ser aquela em que esses mesmos<br />
anjos viriam Nossa Senhora ingressar no Templo, como a rainha que toma posse daquilo que lhe<br />
é próprio; como a jóia que se instala no escrínio onde deve ser guardada...”<br />
(Extraído de conferência em 21/11/1965)<br />
Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
4
Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />
19 de novembro de 1917<br />
A Primeira Comunhão<br />
Há 90 anos, na manhã do dia 19 de novembro<br />
de 1917, o jovem <strong>Plinio</strong> recebia<br />
pela primeira vez em sua alma a augusta<br />
visita de Nosso Senhor Jesus Cristo Sacramentado.<br />
Ao longo de sua vida, inúmeras vezes recordaria<br />
ele, com profunda devoção eucarística,<br />
aquela data que lhe era sobremaneira<br />
cara. Evoquemos, novamente,<br />
algumas dessas suas<br />
reminiscências:<br />
Os meninos deveriam ir tão<br />
bem vestidos quanto o permitiam<br />
as posses de seus pais. Aqueles<br />
com mais recursos mandavam<br />
confeccionar uma roupa especial<br />
para a ocasião. E no meu tempo,<br />
o hábito de Primeira Comunhão<br />
masculino era a cópia do<br />
uniforme solene de um dos colégios<br />
mais famosos do mundo —<br />
o Eton, da Inglaterra. Tratava-se,<br />
na verdade, de uma roupa muito<br />
pomposa, paletó e calça de casimira<br />
inglesa e cortes elegantes,<br />
camisa engomada, de colarinho<br />
duro, gravata escura e, no braço<br />
esquerdo, um laço de fita branca, em cujas pontas<br />
brilhavam pingentes dourados. O branco simbolizava<br />
a castidade e a virgindade daquele menino; o<br />
dourado lembrava a sua fé.<br />
Dona Lucilia, exímia organizadora de tudo, entendia<br />
que a comemoração em família não deveria<br />
acontecer na volta da igreja. Julgava ela que, realizada<br />
a festa no mesmo dia, poderia haver o risco de a<br />
criança, levada pela imaginação infantil, amanhecer<br />
pensando mais nos festejos do que na Sagrada Eucaristia.<br />
Então, com o afeto e o cuidado que eram todos<br />
dela, mamãe chamou minha irmã, minha prima<br />
e eu, alguns dias antes da Primeira Comunhão, para<br />
nos colocar a par do programa. Disse-nos:<br />
— Vocês devem entender que a festa não vai ser<br />
no mesmo dia. Nesta data vocês devem se preocupar<br />
somente em fazer a Primeira Comunhão. É<br />
como se fosse um feriado: não vão estudar nem se<br />
Lembrança da Primeira<br />
Comunhão de <strong>Plinio</strong><br />
entregar a atividades muito dispersivas. Quer dizer,<br />
pensem e concentrem a atenção no Santíssimo Sacramento.<br />
No dia seguinte, faremos a comemoração<br />
em grande estilo...<br />
Assim, a preparação feita com muito cuidado<br />
por um sacerdote, somada às explicações de Dona<br />
Lucilia que completavam<br />
aquela, além do programa traçado<br />
por ela, nos fizeram ver<br />
como era sério o passo que íamos<br />
dar. Evidentemente, esse<br />
ambiente criado em torno de<br />
nós era próprio a determinar<br />
todo o grau de recolhimento<br />
que uma criança possa ter. Eu,<br />
particularmente, fiquei muito<br />
compenetrado e fiz então o propósito<br />
de observar esse recolhimento<br />
quanto me fosse possível,<br />
nos meus nove anos.<br />
Após termos sido examinados,<br />
e verificado que sabíamos<br />
o bastante para receber o<br />
Sacramento, fizemos parte de<br />
uma Primeira Comunhão da<br />
paróquia de Santa Cecília, com<br />
muitas outras crianças. Algumas estariam ricamente<br />
trajadas, levando nas mãos lindos rosários,<br />
bem como livrinhos de oração encadernados e forrados<br />
de madrepérola.<br />
Na manhã seguinte, minha irmã, minha prima e<br />
eu nos dirigimos à Igreja de Santa Cecília, levando<br />
nossas velas que, assim como as das outras crianças,<br />
seriam acendidas no momento apropriado. E esta<br />
hora afinal chegou. Formaram-se, separadamente, a<br />
fila das meninas e a dos meninos que, pela primeira<br />
vez, receberiam em suas almas a visita de Nosso Senhor<br />
Sacramentado. Pelo favor de Nossa Senhora,<br />
comunguei com muito recolhimento e procurei fazer<br />
minha ação de graças com intenso fervor e devoção.<br />
Pouco depois, terminada a celebração litúrgica,<br />
crianças e familiares retornaram às suas residências.<br />
Eu, ao lado de minha irmã e minha<br />
prima, voltava radiante de contentamento! v<br />
5
Do n a Lucilia<br />
Em tudo conforme<br />
à Igreja<br />
O convívio com Dona Lucilia oferecia a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> a oportunidade de<br />
se aprofundar no conhecimento da psicologia humana, bem como na<br />
percepção das virtudes cristãs vividas com compenetração, porém com<br />
facilidade, como se fossem uma segunda natureza. Para ele, sua mãe<br />
foi um modelo de amor ao Coração de Jesus, à Igreja e ao Papa.<br />
Como a maioria dos filhos, desde<br />
muito pequeno senti o carinho<br />
e o afeto de mamãe para<br />
comigo, assim como percebia, a la<br />
criança, a elevação de alma com que<br />
ela os dispensava à minha irmã e a<br />
mim. Também ainda menino, através<br />
dos diversos movimentos de encanto<br />
que a pessoa dela despertava<br />
naturalmente no meu coração filial,<br />
aprendi as primeiras noções de<br />
psicologia humana, compreendendo<br />
como as qualidades morais se entrelaçavam<br />
no espírito dela, constituindo<br />
o todo harmonioso e belo de uma<br />
alma virtuosa.<br />
Lição permanente de<br />
lealdade a Deus<br />
Não hesito em dizer, pois, que a<br />
partir dos meus remotos tempos de<br />
menino, e estendendo-se ao longo<br />
da vida de Dona Lucilia esta foi para<br />
mim uma lição permanente de lealdade<br />
em relação a Deus e aos seus<br />
Mandamentos.<br />
Nesse sentido, já tive oportunidade<br />
de salientar o modo como mamãe<br />
considerava o dever de frente, com<br />
seriedade e ânimo resoluto; como<br />
demonstrava uma fortaleza invulgar<br />
diante do sacrifício que se lhe apresentava<br />
no caminho, enfrentandoo<br />
sem nada perder de sua suavidade<br />
e das outras virtudes que a caracterizavam.<br />
Daí ela ter sido, de certo<br />
modo, a matriz das boas disposições<br />
de alma que eu porventura cultivaria<br />
em mim mesmo. Vivendo uma existência<br />
comum de dona-de-casa, mamãe<br />
foi de alguma maneira a minha<br />
“memória”, onde eu encontrava tudo<br />
aquilo a partir do qual talhei minha<br />
personalidade de católico, apostólico,<br />
romano. E eu apreciava esta<br />
jóia inicial, na sua beleza primeva,<br />
incrustada no espírito dela.<br />
De fato, não fosse o reluzimento<br />
contínuo desses fundamentos de vir-<br />
Fotos: Arquivo revista / M. Shinoda<br />
6
Dona Lucilia em<br />
1964; um dos<br />
móveis de seu<br />
aposento, em cujas<br />
gavetas guardava<br />
algumas de suas<br />
“recordações”<br />
“Mamãe foi, de certo modo, a matriz<br />
das boas disposições de alma que eu<br />
porventura cultivaria em mim mesmo...”<br />
7
Do n a Lucilia<br />
tude nela enraigados, eu me teria esquecido<br />
daqueles movimentos primeiros<br />
de admiração das qualidades<br />
dela, que tanto contribuíram para<br />
minha própria formação. E esse rebrilhar<br />
durou até a sua extrema ancianidade.<br />
Suprema firmeza<br />
Um episódio característico. Algum<br />
tempo antes de mamãe morrer,<br />
percebi que ela rasgava papéis e<br />
se desfazia de coisas que tinha guardado<br />
a vida inteira. Ao fazê-lo, notava-se<br />
nela uma certa tristeza e desilusão.<br />
Porém, eu tinha tomado como<br />
regra não desgostá-la em nada,<br />
e o que ela quisesse, ela faria. Mesmo<br />
sabendo tratarem-se de escritos<br />
meus para ela, não fiz oposição às<br />
destruições.<br />
Pouco tempo depois percebi que<br />
ela pressentia a sua morte, e decidira<br />
destruir, ela mesma, o que receava<br />
não seria conservado pelos outros.<br />
Quer dizer, antes das suas exéquias,<br />
mamãe preparou os funerais das recordações<br />
dela...<br />
Permitam-me salientar a firmeza<br />
de alma e a lealdade de vistas que tal<br />
atitude representa. Ela terá dito a si<br />
mesma: “Encontro-me nessa situação,<br />
e a conduta razoável a ser adotada,<br />
de frente, é essa”, e caminhou<br />
para a morte, acompanhada da idéia<br />
de colocar em ordem seus papéis e<br />
seus pertences, a fim de não dar trabalho<br />
aos outros! Tudo isso, quero<br />
crer, está de acordo com o equilíbrio<br />
de virtudes numa alma católica.<br />
Mais ela mesma<br />
quando rezava<br />
Aliás, cumpre dizê-lo, por mais<br />
que eu a analisasse em todas as posições<br />
e atitudes, nunca a achava ser<br />
tão ela mesma do que quando recitava<br />
suas orações. Sobretudo as que<br />
ela fazia junto às imagens do Sagrado<br />
Coração de Jesus, fosse a do oratório<br />
que tinha em seu quarto, fosse<br />
a do salão de nossa residência.<br />
Nessas horas, tocava-me a impressão<br />
de que as qualidades de mamãe<br />
cresciam, e que se estabelecia — não<br />
me refiro a visões, revelações nem a<br />
quaisquer outras manifestações de<br />
caráter extraordinário — uma espécie<br />
de vínculo entre o Sagrado Coração<br />
de Jesus e ela, uma forma de relacionamento<br />
por onde se percebia<br />
que Nosso Senhor comunicava algo<br />
de sua bondade infinita à alma dela.<br />
Como fruto daquela entranhada<br />
devoção de Dona Lucilia a Ele, algo<br />
das inefáveis qualidades do Coração<br />
Sagrado de Jesus era-lhe transmitido,<br />
cumulavam-na, e determinava<br />
uma particular consonância entre<br />
ela e os princípios da fé católica.<br />
Sob as vistas de<br />
um “inquisidor”<br />
afetuoso e inflexível<br />
Nesse sentido, devo acrescentar<br />
outra consideração. Apesar de toda<br />
a minha benquerença para com ela,<br />
à medida que ficava mais velho e pelo<br />
natural desenvolvimento do meu<br />
espírito, compreendia perfeitamente<br />
que mamãe podia significar uma<br />
8
“Percebia-se que o Sagrado Coração de Jesus<br />
comunicava algo de sua infinita bondade<br />
à alma de mamãe”<br />
Oratório do Sagrado Coração de Jesus e a imagem d’Ele no salão<br />
da residência, junto aos quais Dona Lucilia costumava rezar<br />
alta coisa na minha vida, porém não<br />
era a norma que ditava o meu existir.<br />
O que pautava minha existência<br />
era a Santa Igreja Católica Apostólica<br />
Romana, como passei a conhecêla<br />
e a amá-la, à luz dos ensinamentos<br />
dos padres jesuítas em cujo colégio<br />
eu estudava. Estes me fizeram compreender<br />
a importância do papado,<br />
a devoção ao Vigário de Cristo,<br />
a Nossa Senhora, à Sagrada Eucaristia,<br />
etc., bem como chamavam nossa<br />
atenção para as tramas e os ataques<br />
que os adversários da Igreja urdiam<br />
contra ela.<br />
Eu via, portanto, dois valores distintos.<br />
Primeiro, a Igreja, fonte da<br />
verdade; segundo, a Revolução, cuja<br />
ignomínia essencial era seu ódio<br />
mortal à Igreja. Por outro lado, eu<br />
considerava Dona Lucilia. E fiz essa<br />
comparação: “Aqui está minha mãe;<br />
aqui, a Santa Igreja como a conheço<br />
hoje, como me é apresentada pelos<br />
meus professores jesuítas. Em última<br />
análise, quem vale mais: a Igreja<br />
ou mamãe?”<br />
A resposta veio incontinenti ao<br />
meu espírito: “As coisas não se dissociam.<br />
Tudo quanto há de bom em<br />
mamãe, ela recebeu da Igreja. Esta<br />
é o supremo bem, e mamãe só será<br />
realmente boa, se em tudo estiver<br />
de acordo com ela.<br />
“Agora as qualidades de Dona Lucilia<br />
estão sujeitas ao crivo da minha<br />
análise como católico, e devo me perguntar<br />
se tudo nela é conforme à Igreja.<br />
Pois se algo não o for, eu prefiro a<br />
Igreja, fundada por Deus, a ela, uma<br />
criatura humana falível como qualquer<br />
outra. Portanto, cuidado.”<br />
E, por assim dizer, reexamineia,<br />
ponto por ponto. Fazia-lhe perguntas<br />
de cunho doutrinário, para<br />
ver bem como ela pensava. Fui<br />
seu “inquisidor”, afetuoso, respeitoso,<br />
meticuloso, inflexível. Ela passou<br />
no exame com nota 100... v<br />
(Extraído de conferências em<br />
24/4/1982 e 12/8/1988)<br />
9
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
A “Carta circular aos Amigos da Cruz” - V<br />
Nossas<br />
obrigações<br />
para com<br />
a Cruz<br />
Na seqüência de seus<br />
comentários ao opúsculo<br />
escrito por São Luís Maria<br />
Grignion de Montfort,<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ressalta esta grave<br />
advertência do santo: quem<br />
quiser ser um autêntico<br />
Amigo da Cruz, deve fugir do<br />
mundanismo que o conduzirá<br />
por um caminho de perdição,<br />
oposto ao da perfeição e<br />
santidade para o qual foi<br />
chamado.<br />
São Luís Grignion de Montfort assim continua a sua<br />
Carta:<br />
Sois por vossas ações, meus queridos Amigos da<br />
Cruz, aquilo que o vosso grande nome significa? Ou pelo<br />
10
menos tendes vontade e desejo autênticos de assim vos tornardes<br />
com a graça de Deus, à sombra da Cruz do calvário<br />
e de Nossa Senhora da Piedade? Entrastes no verdadeiro<br />
caminho da vida (Pr 6, 23; 10, 17; Jr 21, 8) , que é o caminho<br />
estreito e espinhoso do Calvário? Não estareis, sem<br />
pensar nisso, no caminho largo do mundo, que é a via da<br />
S. Hollmann<br />
perdição? Sabeis que existe um caminho que parece ao homem<br />
reto e seguro, e que conduz à morte (Pr 14, 12)?<br />
Justificadas apreensões de um Santo<br />
Nestas perguntas transparece intensamente o espírito<br />
de São Luís Grignion. Quer dizer, de um lado ele toma<br />
em consideração os Amigos da Cruz como pessoas eleitas<br />
por Deus para um alto chamado. De outro lado, porém,<br />
ergue-se diante delas a malícia do século, e à vista<br />
das condições em que estas pessoas vivem, São Luís manifesta<br />
suas apreensões. Donde formular questões como<br />
esta: “sois verdadeiros Amigos da Cruz?”<br />
Ou seja, fácil é alguém tomar o nome de Amigo da<br />
Cruz, mas igual facilidade há para deixar de sê-lo. Portanto,<br />
trata-se de uma preocupação cujo fundamento é<br />
evidente. Então, insiste: “Pelo menos tendes verdadeiro<br />
desejo e vontade de assim vos tornardes com a graça<br />
de Deus”, etc.?<br />
A formulação empregada por ele é muito apropriada<br />
e fina, porque um verdadeiro Amigo da Cruz é alguém<br />
que, em primeiro lugar, está em ordem com seus deveres<br />
para com a Santa Cruz. Mas também é aquele que possui<br />
ao menos um desejo autêntico de estar em ordem a<br />
esses deveres. Poderá ter suas faltas, suas fraquezas, mas<br />
almeja atingir a plenitude de entrega própria ao seu chamado.<br />
Este será considerado igualmente um verdadeiro<br />
Amigo da Cruz.<br />
Dois graus de amor à Cruz<br />
Percebe-se aqui dois graus de amor à Cruz, assim como<br />
pode haver dois graus de perfeição religiosa no cumprimento<br />
de uma vocação.<br />
Seguir os passos do Divino<br />
Redentor no caminho<br />
estreito e espinhoso do<br />
Calvário, eis o ideal que o<br />
autêntico Amigo da Cruz<br />
deve procurar e se esforçar<br />
por atingi-lo<br />
Nosso Senhor na Via Dolorosa –<br />
Museu do Louvre, Paris<br />
11
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Antes de tudo, tal perfeição é a inteira conformidade<br />
do membro de uma ordem com sua respectiva regra.<br />
Contudo, pode dar-se o caso de que algum religioso, ainda<br />
neófito, não tenha alcançado essa conformidade; ou,<br />
por desventura, terá retrocedido na sua trajetória rumo<br />
àquela perfeição. Mas, se ele demonstrar o desejo de se<br />
tornar um verdadeiro religioso e de adquirir um elevado<br />
grau de observância, ele ainda se achará no seu lugar<br />
próprio dentro da ordem. Quer dizer, há para com ele,<br />
da parte de Deus e dos seus superiores, uma atitude de<br />
misericórdia, de compaixão, e até de compreensão, a par<br />
das graves exigências que a regra lhe impõe.<br />
O mesmo se aplica ao Amigo da Cruz. Há aquele que<br />
se entregou por completo ao amor e ao serviço da Cruz<br />
para com ela se identificar; e há aquele que, por lacunas<br />
espirituais, ainda não alcançou essa plenitude de devoção,<br />
mas a deseja atingir. Então, olhando para estes últimos,<br />
São Luís Grignion escreve: “Não estareis, sem pensar,<br />
no caminho largo do mundo, o caminho da perdição?<br />
Sabeis bem que existe uma via que parece reta e segura,<br />
e na realidade conduz à morte?”<br />
A expressão “sem pensar” é curiosa, e insinua bem<br />
o que poderia ser uma culpa inconsciente do Amigo da<br />
Cruz. Ora, o caminho do mundo é tão agradável, e o homem<br />
de tal maneira se habitua ao que lhe compraz, que<br />
ele por irreflexão acaba cometendo uma falta. Esta, embora<br />
não seja inteiramente consciente — e, portanto,<br />
não reúna as condições próprias ao pecado mortal — é<br />
um passo em falso. E a sucessão de faltas e concessões<br />
inconscientes, acabam desviando a pessoa para longe do<br />
caminho verdadeiro. Daí a nota da prudência pastoral,<br />
da vigilância de São Luís de Montfort em relação a esses<br />
Amigos da Cruz.<br />
Censura aos que cedem<br />
à concupiscência do mundo<br />
Continua ele:<br />
Distinguis bem a voz de Deus e de sua graça, da voz do<br />
mundo e da natureza? Escutais a voz de Deus, nosso Pai,<br />
que depois de ter dado a sua tríplice maldição a todos que<br />
seguem as concupiscências do mundo: Ai, ai, ai dos habitantes<br />
da Terra (Ap 8, 13), grita‐vos amorosamente, estendendo‐vos<br />
os braços: separai‐vos, meu povo (Nb 16, 21).<br />
Separai‐vos, meu povo escolhido, queridos Amigos da Cruz<br />
de meu Filho, separai‐vos dos mundanos, malditos por minha<br />
majestade, excomungados por meu Filho (Jo 17, 9), e<br />
condenados por meu Espírito Santo (Jo 16, 8-11).<br />
Importa compreender bem a razão dessas fortes censuras,<br />
dessa maldição tão pesada sobre o mundanismo.<br />
Lembremo-nos de que, na linguagem da vida espiritual,<br />
o apego e o amor desregrado às coisas do mundo<br />
Embora o mundanismo no<br />
seu tempo ainda demonstrasse<br />
aparências de distinção e<br />
nobreza, São Luís Grignion<br />
não deixa de alertar os Amigos<br />
da Cruz para o grave perigo<br />
que representam as seduções<br />
do século<br />
Cena na França do século XVII –<br />
Museu do Prado, Madrid<br />
é, ao lado do demônio e da carne, uma das concupiscências<br />
que inclinam o homem para o pecado e o afastam de<br />
Deus. Portanto, o mundanismo assim entendido sempre<br />
foi algo ruim, ao qual o católico desejoso de alcançar a<br />
santidade deve combater.<br />
No tempo de São Luís Grignion, o mundanismo ainda<br />
se revestia de uma aparência elevada e nobre, característica<br />
do Ancien Régime prévio à Revolução Francesa,<br />
mas que preparou largamente a irrupção desta no cenário<br />
europeu. Se tomarmos gravuras que representam<br />
burgueses dos séculos XVI e XVII, veremos que são ainda<br />
pessoas sérias, compassadas, dignas. Não era uma<br />
burguesia mundana, e tinha conservado toda aquela circunspeção<br />
dos antigos tempos. Pelo contrário, considere-se<br />
um burguês das vésperas da Revolução Francesa, e<br />
já não se o distingue mais do nobre, não só porque os trajes<br />
se igualaram, mas também por causa da atitude. Nivelaram-se.<br />
E o mundanismo revolucionário que impregnava<br />
as cortes, irradiou-se para as outras camadas da sociedade,<br />
putrefazendo-a por completo.<br />
Em nossos dias, podemos dizer que o mundanismo se<br />
multiplicou pelo mundanismo, e as suas seduções, atiçadas<br />
por obra do demônio, são ainda mais perniciosas.<br />
Donde as censuras de São Luís Grignion conservarem<br />
toda a sua atualidade, e são perfeitamente aplicáveis aos<br />
que se entregam ao mundo, pois estes romperam com as<br />
amarras que os uniam a Deus Nosso Senhor.<br />
Se desejamos ser autênticos Amigos da Cruz, devemos<br />
limpar nossas almas de qualquer laivo de mundanismo,<br />
de qualquer apego ao que há de frívolo, de laicista<br />
e de fundamentalmente contrário à sabedoria,<br />
nos costumes do mundo.<br />
12
S. Hollmann<br />
Contagiabilidade<br />
da virtude contra o vício<br />
Continua São Luís Grignion:<br />
Tomai cuidado para não vos sentardes em sua cadeira<br />
toda empestada, não sigais os seus conselhos, nem mesmo<br />
pareis em seu caminho (Sl 1, 1).<br />
Essa cadeira toda empestada de que fala São Luís é<br />
uma referência ao Salmo 1, onde o salmista exclama:<br />
“Feliz o homem que (...) não se assenta entre os escarnecedores”,<br />
ou, segundo outras traduções, “que não toma<br />
assento na cátedra de corrupção dos pecadores”. Esta última<br />
expressão me parece ainda mais vigorosa. Quer dizer,<br />
trata-se da cadeira de onde o pecador ensina o peca-<br />
13
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
do e, de certa forma, é a própria sede do pecado, na qual<br />
este se instala e aí faz luzir sua “glória”.<br />
Fugi da grande e infame Babilônia (Is 48, 20; Jr 50,<br />
8), não escuteis outra voz e não sigais outras pegadas senão<br />
as de meu Filho bem-amado, que vos dei por vosso<br />
caminho, vossa verdade, vossa vida (Jo 14, 6), e vosso<br />
modelo (Mt 17, 5).<br />
Vemos aqui uma espécie de demolição ardente, levada<br />
a cabo por São Luís Grignion, contra toda a sedução<br />
exercida pela sociedade frívola do seu tempo. Ele queria<br />
os Amigos da Cruz afastados desse mundanismo.<br />
Por outro lado, é também interessante notar que no<br />
meio dessa sociedade frívola surgiram outros movimentos<br />
de autêntica piedade católica, que reagiram a seu modo<br />
contra a decadência generalizada do ambiente em que<br />
viviam. Creio que tal reação se deve ao princípio da contagiabilidade<br />
da virtude, considerado por nós em exposição<br />
anterior. Ou seja, na ordem sobrenatural há reversibilidades,<br />
reciprocidades, interações pelas quais uma virtude<br />
séria e profunda praticada de um lado repercute no<br />
outro. Assim, havendo na Vandéia ou na Bretanha daquela<br />
época, muitos genuínos Amigos da Cruz, efetivamente<br />
separados do mundo, ainda que não conhecessem<br />
os Amigos da Cruz de Versailles, aqueles reforçavam a<br />
possibilidade de perseverança, de santificação e de vitória<br />
destes últimos no meio dos deleites e das delícias da<br />
corte mundana.<br />
santa, mas era uma boa senhora católica, com o padrão<br />
mínimo de algo do qual a santidade é a expressão mais<br />
elevada. E ao considerar muitos aspectos de sua rica personalidade,<br />
poderemos ver quanta retidão, compostura,<br />
destreza, e quanta dignidade assentada sobre o trono,<br />
em meio a uma corte que, se não era a primeira, era<br />
das mais importantes do mundo, a do Sacro Império Romano<br />
Alemão.<br />
Creio que essa situação só se tornava possível por esse<br />
trabalho de subestrutura da virtude que se contagiava entre<br />
os bons de lugares diferentes. E em seguida notava-se<br />
a recíproca: a Cruz levantada no mais alto degrau da corte,<br />
repercutia sobre todo o país e nas camadas profundas<br />
da população, gerando novos Amigos da Cruz. Esses são<br />
os grandes mecanismos por onde o amor de Deus se afirma,<br />
se multiplica e conquista as almas.<br />
S. Hollmann<br />
O exemplo de Maria Teresa d’Áustria<br />
Recordo-me, a esse propósito, da figura da grande imperatriz<br />
Maria Teresa d’Áustria. Não se tratava de uma<br />
Pelo princípio da<br />
contagiabilidade de<br />
virtudes, a existência de<br />
bons Amigos da Cruz<br />
favorecia a vitória do<br />
bem no meio de uma<br />
sociedade frívola<br />
Imperatriz Maria Teresa de Áustria –<br />
Hofburg, Innsbruck (Áustria)<br />
14
S. Hollmann<br />
As graças e as forças necessárias para seguirmos o Redentor Crucificado nos são alcançadas<br />
por intermédio de Maria Santíssima, que se achava de pé, junto à Cruz<br />
Crucifixão – Vitral da Catedral de Notre Dame de Paris, França<br />
Abraçar a Cruz em união<br />
com o Divino Redentor<br />
Prossegue São Luís Grignion:<br />
Não escutais esse amável Jesus que, carregando sua cruz,<br />
vos conclama: vinde após Mim (Mt 4, 19), o que me segue<br />
não anda nas trevas (Jo 8, 12); tende confiança, Eu venci o<br />
mundo (Jo, 16, 33)?<br />
Conforme o ensinamento de todos os grandes autores,<br />
São Luís Grignion acrescenta que a Cruz só é suportável<br />
quando carregada em união com Nosso Senhor.<br />
A Cruz concebida esquematicamente, apenas de<br />
modo teórico, aterroriza o homem e este foge dela. O<br />
único modo de a Cruz ser atraente, é considerar Aquele<br />
que nela se acha pregado e d’Ele receber as forças<br />
necessárias para aceitá‐la.<br />
É palavra do próprio Jesus: “Quando Eu for elevado,<br />
atrairei a mim todas as criaturas”. Ou seja, o Divino<br />
Crucificado é o verdadeiro encanto da Cruz, o que<br />
realmente atrai as almas para ela. E não apenas atrai,<br />
como lhes concede as graças e o vigor indispensáveis<br />
para carregá-la. Com os olhos fitos n’Ele, pensando<br />
no seu Sagrado Coração e no precioso Sangue que por<br />
nós derramou, na sua agonia e morte, é que adquirimos<br />
forças para segui-Lo.<br />
E não nos esqueçamos de que essas graças e essas forças<br />
nos são concedidas por intermédio de Maria Santíssima,<br />
a Medianeira Universal, que se encontrava aos pés<br />
da Cruz, com seu Coração Imaculado transpassado e coroado<br />
de espinhos. <br />
v<br />
(Extraído de conferência em 17/6/1967)<br />
15
Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />
1. Solenidade de Todos os Santos.<br />
A Igreja comemora neste dia todos<br />
os santos que estão no Céu. Em<br />
837, o Papa Gregório IV estendeu<br />
essa festa a toda a Igreja.<br />
2. Comemoração dos Fiéis Defuntos.<br />
Celebração instituída na<br />
abadia de Cluny, na França, pelo<br />
abade Santo Odilon, em 998. A<br />
Igreja Universal a festeja desde o<br />
século XIII.<br />
9. Dedicação da Basílica Lateranense,<br />
construída pelo Imperador<br />
Constantino em honra de Cristo<br />
Salvador. É a catedral de Roma<br />
e foi consagrada nesse dia, no ano<br />
324, pelo Papa Silvestre I.<br />
Beato George Napper, 1550-1610.<br />
Sacerdote e mártir inglês. Celebrou<br />
missas na clandestinidade e na prisão.<br />
Morreu sob o Rei Jaime I, perseguido<br />
por sua condição sacerdotal.<br />
10. São Leão I (o Magno), Papa<br />
e Doutor da Igreja, + 461.<br />
18. Dedicação das Basílicas de<br />
São Pedro (no Vaticano) e São Paulo<br />
(na Via Ostiense) em Roma. Tanto<br />
a antiga basílica constantiniana<br />
de São Pedro (erigida em 323)<br />
quanto a atual (em 1626) foram dedicadas<br />
neste dia.<br />
19. São Máximo o Confessor, corepíscopo<br />
e mártir em Cesaréia de<br />
Capadócia, séc. IV.<br />
20. São Crispim, Bispo de Écija<br />
(Espanha) e Mártir, séc. IV.<br />
3. São Martinho de Porres, irmão<br />
leigo da Ordem Dominicana,<br />
em Lima (Peru), 1579-1639. Ainda<br />
em vida, granjeou imensa fama de<br />
santidade. Na véspera de sua morte,<br />
o próprio vice-rei do Peru foi visitá-lo,<br />
para lhe oscular a mão.<br />
4. São Carlos Borromeu, Arcebispo<br />
de Milão e Cardeal da Igreja,<br />
1538-1584. Figura destacadíssima<br />
no Concílio de Trento.<br />
5. Santos Teótimo, Filóteo e Timóteo,<br />
Mártires em Cesaréia, sob<br />
Diocleciano, séc. IV.<br />
6. São Donino, Mártir, na Palestina,<br />
+307.<br />
7. São Villibrordo, Bispo. Inglês<br />
de nascimento e apóstolo da Frísia,<br />
foi Arcebispo de Utrecht. Morreu<br />
em Echternach (atual Luxemburgo),<br />
em 739.<br />
8. Santos Semproniano, Cláudio,<br />
Nicóstrato, Castório e Simplício,<br />
Mártires, + 304. Segundo a tradição,<br />
sofreram o martírio na Panônia (atual<br />
Hungria). Foram sepultados na<br />
Basílica romana chamada “dos Santos<br />
Coroados” (Santi incoronati).<br />
11. Nossa Senhora da Divina Providência.<br />
(Ver artigo na página 26.)<br />
São Martinho de Tours,<br />
316-397.<br />
Beato Eugênio Bossilikov, Bispo,<br />
fuzilado na Bulgária pelo regime<br />
comunista, em 1952.<br />
12. São Macário de Mull, Escócia,<br />
séc. VI.<br />
13. Santos Arcádio, Pascásio,<br />
Probo e Eutiquiano, Mártires. Espanhóis<br />
mortos na África pelo rei<br />
ariano Genserico, + 437.<br />
14. São Siardo, abade premonstratense,<br />
+ 1230.<br />
15. Santo Alberto Magno, Doutor<br />
da Igreja, Bispo de Regensburg,<br />
1206-1280. Pela universalidade<br />
de seus conhecimentos, foi chamado<br />
o “stupor mundi”. Mestre de<br />
São Tomás de Aquino e dominicano<br />
como este.<br />
16. Santa Margarida da Escócia,<br />
Rainha, + 1093.<br />
17. Santa Isabel de Hungria,<br />
Landgravina da Turíngia,<br />
1207-1231<br />
21. Apresentação da Virgem Maria<br />
no Templo.<br />
22. Santa Cecília, Virgem e Mártir,,<br />
+. 230.<br />
Bem-aventurados Elias (Julián)<br />
Torrijo Sánchez y Beltrán (Francesco)<br />
Lahoz Moliner, religiosos do<br />
Instituto das Escolas Cristãs (La<br />
Salle), Mártires na perseguição religiosa<br />
na Espanha, em1936.<br />
23. São Clemente I, Papa, Padre<br />
apostólico e Mártir, + 97 ou 101. O<br />
Cânon Romano da Missa o comemora.<br />
24. Beatos André Dun Lac e<br />
<strong>116</strong> companheiros, Mártires no<br />
Vietnã, de 1745 a 1862. Entre<br />
eles, 8 Bispos, 50 sacerdotes, 1<br />
seminarista e 58 leigos. Canonizados<br />
sucessivamente por Leão<br />
XIII, São Pio X, Pio XII e João<br />
Paulo II.<br />
25. São Moisés, Sacerdote e<br />
Mártir, + 251. Assumiu o cuidado<br />
dos fiéis, após a morte do Papa São<br />
Fabiano. Pouco depois, deu a vida<br />
por Cristo.<br />
26. São Silício, Papa, + 399.<br />
27. São Bernardino da Fossa,<br />
Franciscano, + 1503.<br />
16
* No v e m b ro *<br />
G. Kralj<br />
Apresentação da Virgem no Templo – Galeria Nacional de Arte, Washington<br />
28. Santo Estêvão, o Jovem,<br />
Monge e Mártir, em Constantinopla,<br />
+ 764.<br />
29. São Saturnino de Cartago,<br />
Mártir, em Roma, + 250.<br />
30. Santo André Apóstolo, séc.<br />
I. Irmão de São Pedro, que lhe<br />
disse: “Encontramos o Salvador<br />
do Mundo”. Teria sido martirizado<br />
em Patras, na Grécia, no ano<br />
63, sob Nero.<br />
Bem-Aventurado Luís Roque<br />
Gientyngier, Sacerdote e Mártir,<br />
no campo de concentração de<br />
Dachau, perto de Munique, após<br />
a invasão da Polônia na Segunda<br />
Guerra Mundial.<br />
17
O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
O universo<br />
e a<br />
ordenação<br />
da<br />
alma<br />
humana<br />
Ao recordar como<br />
sua alma de menino<br />
foi se abrindo para a<br />
compreensão da ordem<br />
posta por Deus na criação,<br />
tendo o homem como seu<br />
elemento central, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> refuta<br />
a idéia — latente em muitas correntes<br />
de pensamento atual — do “universo<br />
fechado”, no qual o Criador não interviria,<br />
ausentando-se dele, quase como um estranho...<br />
18
Em geral se toma contato nos<br />
cursos secundários com a<br />
idéia de que o universo no<br />
qual existe o planeta Terra em que<br />
vivemos, e os corpos celestes que<br />
gravitam em torno dele, é ordenado<br />
de modo a formar um todo. Essa noção<br />
é verdadeira.<br />
Um erro freqüente:<br />
“o universo é fechado”<br />
Porém, não raro se introduz um<br />
equívoco nessa concepção, ao se afirmar<br />
que esse todo é regido única e<br />
exclusivamente pelas leis da ciência,<br />
e quem as conhecesse, saberia tudo a<br />
respeito do universo. Ou seja, tratarse-ia<br />
de um todo fechado, onde nunca<br />
penetra a influência nem a ação<br />
de seres extrínsecos — portanto, dos<br />
anjos e de Deus Nosso Senhor.<br />
Segundo essa visão, o Altíssimo<br />
teria criado o universo, atirando-o<br />
depois no espaço, estabelecendo para<br />
ele determinadas leis. Deus foi o<br />
motor primeiro que fez com que todo<br />
o universo começasse a se mover,<br />
conforme a ordenação divina. Em<br />
seguida, o Criador se retira do panorama<br />
e não mais intervém. Cabe então<br />
às ciências descreverem as leis<br />
que Ele comunicou à criação.<br />
S. Hollmann<br />
“Uma coisa com a qual ou<br />
sem a qual, o mundo<br />
vai tal e qual”: segundo a<br />
concepção equivocada, se<br />
Deus e os anjos não existissem,<br />
a ordem e a marcha<br />
do universo continuariam<br />
as mesmas...<br />
Criação do mundo – Vitral da<br />
Catedral de Bayonne, França<br />
19
O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
E essas leis são tais que, se Deus<br />
e os anjos não existissem, a marcha<br />
e a ordem do universo continuariam<br />
as mesmas. Assim, sempre conforme<br />
essa concepção errônea, parafraseando<br />
um dito italiano, “Deus é<br />
uma coisa com a qual ou sem a qual,<br />
o mundo vai tal e qual”...<br />
Não creio que algum professor tenha<br />
defendido explicitamente esse<br />
erro, mas ao lecionar suas matérias,<br />
fazem-no como se aceitassem e propugnassem<br />
essa idéia errada. Donde<br />
quase nunca uma pergunta de Ciências<br />
Naturais ou de História, por<br />
exemplo, chegar até Deus. E se surge<br />
uma notícia da interferência divina<br />
por meio de um milagre ou de uma ação<br />
extraordinária, ela é considerada alheia<br />
a qualquer aula, mesmo de Religião,<br />
pois não se é obrigado a crer — como<br />
se se tratasse de um dogma — que tal<br />
fato foi miraculoso.<br />
Aliás, já no meu tempo de aluno,<br />
a “máquina” de ensino não<br />
considerava qualquer referência a<br />
Lourdes, embora se pudesse provar<br />
que os milagres ali operados<br />
eram autênticos.<br />
Outro ponto. Na batalha de<br />
Lepanto deu-se um grande milagre<br />
em favor da armada cristã. Se<br />
um professor muito católico tratasse<br />
desse episódio, diria: “Terminado<br />
o confronto, consta terem<br />
os soldados comentado entre<br />
si que, no fragor dos acontecimentos,<br />
Nossa Senhora lhes<br />
apareceu”. Consta, porque a<br />
História não pode registrar uma<br />
aparição como um fato verídico,<br />
pois é matéria religiosa.<br />
Em suma, o mundo é fechado.<br />
Deus o criou e depois<br />
as leis da ciência o explicam. E<br />
episódios da própria história da<br />
Igreja são por muitos considerados<br />
sob esse ângulo. Por exemplo,<br />
nas vésperas da batalha de<br />
Ponte Mílvia, Constantino viu<br />
no céu uma Cruz envolta pelos<br />
dizeres (que, aliás, durante algum<br />
tempo figuraram no brasão do<br />
Brasil imperial): In hoc signo vinces<br />
— Com este sinal vencerás! Ora, se<br />
narrarem a história de Constantino,<br />
escreverão: “Durante um sonho<br />
ele viu tal coisa”. O fato foi<br />
autêntico ou não? Não explicam<br />
e fica-se no terreno<br />
dos sonhos e<br />
da irrealidade.<br />
20
A Fé, um “rationabile<br />
obsequium”<br />
Cumpre salientar que uma adequada<br />
explanação desse tema é de grande<br />
alcance para a formação católica,<br />
pois relegá-lo a uma espécie de meiosilêncio,<br />
habitua as pessoas a terem<br />
dúvidas a respeito da verdade religiosa,<br />
leva-as a uma diminuição da fé e<br />
das certezas absolutas. Ora, os fatos a<br />
que me referi ocorreram para favorecer<br />
as certezas da Fé. Esta se adquire<br />
A própria História<br />
é quase sempre<br />
ensinada sem se<br />
considerar<br />
a intervenção divina<br />
nos acontecimentos<br />
Batalha de Lepanto – Igreja<br />
de Santa Magdalena, Sevilha<br />
(Espanha); Imperador<br />
Constantino – Kayserberg,<br />
Alsácia (França)<br />
mediante a adesão ao que está revelado<br />
por Deus no Antigo e no Novo<br />
Testamentos e é ensinado pela Igreja.<br />
São Paulo qualifica a Fé de rationabile<br />
obsequium (Rm 12, 1), ou seja, uma<br />
homenagem, um obséquio da razão<br />
que, analisando os motivos, crê.<br />
Pelas demonstrações filosóficas e<br />
pelos milagres, Deus nos oferece um<br />
imenso acervo de razão para se crer, e<br />
Ele quer que a nossa maior certeza na<br />
vida seja a Fé, a ponto de chegarmos<br />
a dizer: “Tudo bem pensado e maturado,<br />
a certeza de que a Igreja Católica é<br />
a verdadeira vem a ser mais plena do<br />
que a própria evidência”. Se eu utilizar<br />
bem as regras do raciocínio, convenço-me<br />
da existência de Deus e de<br />
seus predicados, da eternidade, santidade,<br />
de que a Revelação é autêntica<br />
Fotos: S. Hollmann<br />
21
O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
e, portanto, de que há uma Igreja infalível,<br />
pois Nosso Senhor Jesus Cristo o<br />
revelou. Se isso não é assim, o raciocinar<br />
humano está errado.<br />
Não crêem porque não<br />
querem mudar de vida<br />
Contudo, poder-se-ia objetar: por<br />
que algumas pessoas raciocinam e<br />
não chegam a essas conclusões?<br />
Tal sucede, não em virtude de<br />
uma lógica errada, e sim porque se<br />
acham de má fé e rejeitam a influência<br />
da graça divina que as iluminaria<br />
para chegarem às conclusões acertadas.<br />
No fundo, julgam penoso admitir<br />
que a Igreja Católica é verdadeira,<br />
pois são obrigadas a cumprir uma série<br />
de mandamentos — para elas —<br />
desagradáveis. Portanto, não crêem<br />
porque não querem mudar de vida.<br />
Ora, para se provar a existência de<br />
Deus e a divindade da Igreja Católica,<br />
bastaria considerar o universo.<br />
A ordem humana<br />
necessita de uma<br />
Igreja infalível<br />
A esse propósito, recordo-me de<br />
quando era menino, e ouvia pessoas<br />
comentarem ao contemplar um céu<br />
estrelado: “Que coisa linda! Vejam<br />
como tudo está bem organizado!”,<br />
etc. E na medida que era possível<br />
ao intelecto de uma criança formular<br />
considerações dessa natureza, no<br />
meu espírito infantil vinha o seguinte<br />
pensamento: “Essa ordem no firmamento<br />
é realmente bela; mas, neste<br />
nosso mundo, onde está a organização?<br />
Em geral, cada pessoa se acha<br />
em desacordo com outra. E se, de fato,<br />
salvo nas vias da graça, não se consegue<br />
convencer ninguém a praticar<br />
a virtude, como explicar que tudo no<br />
universo foi feito maravilhosamente,<br />
mas o elemento central dele, que é o<br />
homem, esteja em desordem?”<br />
Imaginemos um quadro pintado<br />
de modo primoroso, que pretende<br />
representar uma linda fisionomia,<br />
a qual entretanto possui o nariz em<br />
forma de batata. Ora, se o centro do<br />
rosto são o nariz e os olhos, aquela<br />
deformidade acaba desqualificando<br />
o artista. Assim, se no elemento central<br />
da criação visível há desordens,<br />
como vou me extasiar com a ordem<br />
existente no firmamento? Eu me arrasto<br />
no caos interno das minhas impressões,<br />
volições, dos meus pensamentos,<br />
e a ordem está posta lá no<br />
alto, nas estrelas?<br />
Seria como se eu mostrasse a uma<br />
pessoa faminta, maltrapilha, um palácio<br />
todo iluminado e lhe dissesse:<br />
“Ali se realiza um magnífico banquete<br />
que você deve admirar”. A resposta<br />
dela viria imediata: “Como assim?!<br />
Estou morrendo de fome, e você<br />
quer que eu admire um banquete<br />
do qual não posso participar?”<br />
G. Kralj<br />
Quer dizer, é um contra-senso.<br />
Portanto, ou o Criador concebeu algo<br />
para pôr em ordem a mente e a alma<br />
do homem, sua obra-prima, centro<br />
de todo o universo, ou Ele deixou<br />
ali uma “batata”, o que seria absurdo<br />
admitir.<br />
A solução nos aparece com a Igreja<br />
infalível, fundada por Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo, que ordena a alma<br />
e o pensamento humanos. Desde São<br />
Pedro até o Papa reinante, há uma linhagem<br />
de pontífices que ensina infalivelmente<br />
a verdade. Não apenas<br />
quando manifestam a vontade de definir,<br />
mas também através do magistério<br />
ordinário quando, pela continuidade<br />
dos ensinamentos papais,<br />
esta mesma continuidade torna um<br />
ensinamento infalível.<br />
Se acreditarem nessa infalibilidade<br />
da Igreja, todas as pessoas ficam com<br />
22
A Igreja e o Papa<br />
infalível foram<br />
instituídos por<br />
Deus para ordenar<br />
a alma e a mente<br />
do homem<br />
Basílica de São Pedro,<br />
Roma; Papa Gregório II,<br />
Monte Cassino, Itália<br />
suas mentes ordenadas a respeito do<br />
essencial. Esta ordem é superior a todas<br />
as outras, e confirma a supremacia<br />
da obra-prima da criação visível.<br />
O universo não é fechado<br />
Quando tomei conhecimento do<br />
dogma da infalibilidade pontifícia, fiquei<br />
entusiasmado e pensei: “Agora<br />
me sinto como um homem que andava<br />
sobre penhascos, com medo de cair<br />
e, de repente, avisam-lhe que há um<br />
corrimão no qual pode se apoiar. Que<br />
alívio! Posso contemplar o panorama<br />
sem receios e respirar tranqüilamente.<br />
Sinto minha própria falibilidade,<br />
mas a existência de uma instituição<br />
natural e sobrenatural, que desde Jesus<br />
Cristo até nossos dias ensina sempre<br />
a mesma Fé, sem nenhum erro,<br />
dá-me segurança, explica-me tudo.”<br />
Se eu não tivesse fé e, analisando<br />
todas as religiões, notasse que apenas<br />
uma dissesse de si mesma ser infalível,<br />
nela eu acreditaria. Pois esta<br />
é a Santa Igreja Católica Apostólica<br />
Romana. Creio que — para me valer<br />
de uma comparação — o contentamento<br />
de Colombo ao descobrir a<br />
América não é nada perto da alegria<br />
que senti quando encontrei a infalibilidade<br />
pontifícia!<br />
Deus, ao instituir uma Igreja verdadeira,<br />
tinha de fazê-la infalível. A<br />
Igreja Católica é como uma coluna<br />
forte que resiste a todas as investidas.<br />
Interrogando-a, ela emite um som de<br />
bronze e nos dá uma resposta sublime.<br />
Então, nos ajoelhamos, encantados<br />
por termos sido convencidos.<br />
Chegamos, pois, à conclusão de<br />
que o universo não é fechado. Há o<br />
mundo visível e o invisível, os quais<br />
necessariamente se relacionam. Veremos,<br />
noutra oportunidade, como<br />
se efetua esse relacionamento e as<br />
belezas que dele se depreendem. v<br />
R. C. Branco<br />
(Continua em próximo artigo)<br />
(Extraído de conferência em<br />
10/8/1979)<br />
23
“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />
Metamorfoses<br />
do processo<br />
revolucionário<br />
Conforme assevera <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a Revolução impõe a si mesma<br />
constantes metamorfoses, mudando de feições tanto nas suas grandes<br />
linhas gerais quanto no interior dos seus principais episódios. Tal é o<br />
método ardiloso que ela emprega para distender e esmorecer as reações<br />
que poderiam deter seu avanço ao longo da História.<br />
Que é o processo revolucionário?<br />
“O processo revolucionário é o desenvolvimento, por<br />
etapas, de certas tendências desregradas do homem ocidental<br />
e cristão, e dos erros delas nascidos”. (p. 38).<br />
A cada etapa, um aspecto próprio<br />
Essas tendências e erros são sempre os mesmos?<br />
“Em cada etapa, essas tendências e erros têm um aspecto<br />
próprio. A Revolução vai, pois, se metamorfoseando<br />
ao longo da História.<br />
Essas metamorfoses que se observam nas grandes linhas<br />
gerais da Revolução, se repetem, em ponto menor,<br />
no interior de cada grande episódio dela” (p. 39).<br />
Poderia citar um exemplo?<br />
“O espírito da Revolução Francesa, em sua primeira fase,<br />
usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiástica.<br />
Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.<br />
“Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção<br />
incruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada<br />
e pacífica supressão da Igreja Católica.<br />
“Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de<br />
sangue no Terror” (p. 39).<br />
Entre reveses e sucessos, até<br />
o paroxismo de hoje<br />
Mas houve retrocessos durante a Revolução Francesa...<br />
“Os excessos praticados pela facção jacobina despertaram<br />
reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas<br />
etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório;<br />
com Napoleão estendeu a mão à Igreja e abriu as<br />
portas à nobreza exilada, e, por fim, aplaudiu a volta dos<br />
Bourbons” (p. 39).<br />
Como continuou o processo revolucionário após a Revolução<br />
Francesa?<br />
“Terminada a Revolução Francesa, não termina com<br />
isto o processo revolucionário. Ei-lo que torna a explodir<br />
com a queda de Carlos X e a ascensão de Luís Felipe,<br />
e assim por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus<br />
sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo<br />
de nossos dias” (p. 39).<br />
24
G. Kralj<br />
Atingir sangrentos excessos e em seguida retroceder a uma plácida existência burguesa;<br />
extinguir a monarquia e depois aplaudir o retorno dos Bourbons — os vaivéns da Revolução<br />
Francesa são exemplos característicos das metamorfoses do processo revolucionário<br />
Carlos X, Rei da França – Museu Metropolitan de Nova York<br />
Tática para adormecer as reações<br />
Por que a Revolução utiliza metamorfoses?<br />
“A Revolução usa (...) suas metamorfoses não só para<br />
avançar, como também para operar os recuos táticos que<br />
tão freqüentemente lhe têm sido necessários” (p. 40).<br />
Como explicar que em certas ocasiões a Revolução parece<br />
não existir?<br />
“Por vezes, movimento sempre vivo, ela tem simulado<br />
estar morta. E é esta uma de suas metamorfoses<br />
mais interessantes. Na aparência, a situação<br />
de um determinado país se apresenta como inteiramente<br />
tranqüila. A reação contra-revolucionária<br />
se distende e adormece. Mas, nas profundidades<br />
da vida religiosa, cultural, social, ou econômica,<br />
a fermentação revolucionária vai sempre ganhando<br />
terreno. E, ao cabo desse aparente interstício,<br />
explode uma convulsão inesperada, freqüentemente<br />
maior que as anteriores” ( p. 40) 1 . v<br />
1) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora<br />
Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />
25
O Sa n t o d o m ê s<br />
Nossa Senhora,<br />
Mãe da<br />
Divina Providência<br />
O amor de Nossa Senhora pelas almas faz com que a<br />
Divina Providência lhes outorgue, através das mãos d’Ela,<br />
abundantes graças nas mais difíceis situações. Maria é<br />
Mãe de Deus e usa dessa condição para favorecer a cada<br />
um de nós. <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> muito prezava essa antiga invocação<br />
mariana, sob o patrocínio da qual colocou um importante<br />
segmento de sua obra.<br />
N<br />
No mês de novembro 1 celebra-se a festa de<br />
Nossa Senhora Mãe da Divina Providência,<br />
uma das belas invocações com que imploramos<br />
a infatigável assistência de Maria Santíssima.<br />
Razão de nossa confiança<br />
Na verdade, em meio ao nosso peregrinar por esta<br />
terra de exílio, a razão de nossa confiança é a tutela<br />
da Providência Divina, exercida por meio de Nossa<br />
Senhora. Deus provê a cada um de nós em nossas necessidades<br />
espirituais e temporais, a fim de realizarmos<br />
aquilo para o que fomos criados, ou seja, cumprirmos<br />
nossa vocação.<br />
Podemos nos perguntar por que Nossa Senhora é chamada<br />
a Mãe da Divina Providência. Ela o é, não por ter<br />
gerado a Providência Divina, e sim porque, segundo os<br />
desígnios do Altíssimo, está destinada a aplicar maternalmente<br />
os decretos d’Ele. Donde o governo de Deus<br />
sobre nós se fazer com uma plenitude de carinho, de comiseração,<br />
de afeto, que esgota de modo completo tudo<br />
quanto o homem possa imaginar.<br />
O fato de termos uma Mãe que dirige nossa vida espiritual,<br />
nosso apostolado, nossas ações diárias é, pois, o<br />
motivo superior pelo qual confiamos.<br />
Lembro-me de uma bela e expressiva imagem de Nossa<br />
Senhora Mãe da Divina Providência, que foi objeto de<br />
minha veneração na igreja dos barnabitas, na Rua do Catete,<br />
na cidade do Rio de Janeiro. Esses religiosos — oficialmente<br />
conhecidos como Clérigos Regulares de São<br />
Paulo — difundiram essa devoção, incentivados por seu<br />
fundador, Santo Antônio Maria Zaccaria.<br />
26
Pe. Filippo Lovison – Cortesia da Casa Mãe dos Padres Barnabitas, Roma<br />
Nossa Senhora da Divina Providência – Casa Mãe dos Padres Barnabitas, Roma<br />
27
O Sa n t o d o m ê s<br />
Aliás, outro santo, São Caetano de Tienne, contemporâneo<br />
de Santo Antônio Maria Zaccaria, terá sido de certo<br />
modo quem levou mais longe a confiança na Providência<br />
Divina. Com efeito, proibiu aos religiosos da ordem<br />
fundada por ele, que pedissem esmola: quando os teatinos<br />
precisavam de alguma coisa, deveriam ficar na rua,<br />
em atitude de oração a Nossa Senhora, certos de que Ela<br />
os atenderia. Quer dizer, colocavam-se inteiramente nas<br />
mãos da Divina Providência.<br />
Sublime misericórdia do amor materno<br />
Gostaria de chamar a atenção para o significado da<br />
palavra “mãe” e o alcance concreto que ela possui na<br />
questão da confiança.<br />
Aquilo que sempre tornou sublime os laços entre a mãe<br />
autêntica e seu filho reside no fato de que ela, por sua natureza<br />
retamente desenvolvida, é levada a ter uma forma<br />
de dedicação à sua prole que nem o pai possui. Este, mesmo<br />
que seja ótimo, conserva em relação ao filho uma espécie<br />
de austeridade, pois representa de modo mais vigoroso<br />
certos princípios como a justiça, a ordem, a força,<br />
etc., mais próprio do elemento punitivo do casal.<br />
Já o característico da mãe é demonstrar uma forma de<br />
carinho tal pelo filho que, mesmo nas ocasiões em que se<br />
impõe a ela admoestar o seu rebento, ela o faz mais suave<br />
e lentamente. Pelo contrário, é mais rápida em perdoar,<br />
em condescender, em esquecer, porque representa quase<br />
que só a misericórdia.<br />
Na mãe, o traço de justiça se acha um tanto diluído,<br />
segundo a ordem natural das coisas, enquanto que o da<br />
indulgência é levado o mais longe possível. Daí haver, aliás,<br />
o perigo de o amor materno ocasionar alguma moleza,<br />
frouxidão, de tal maneira que, se não existisse o contraponto<br />
da figura paterna, a educação dada pela mãe,<br />
em numerosos casos, seria insuficiente.<br />
O genuíno amor materno ama o filho porque é filho,<br />
ainda que este seja ruim; sobrepuja tudo e se vincula por<br />
misericórdia ao fruto de suas entranhas. Razão pela qual,<br />
todos têm em relação ao amor materno certas condescendências<br />
excepcionais, sabendo que ele pode atingir o<br />
mais alto grau de sublimidade.<br />
Inimaginável ternura que<br />
regenera e santifica<br />
Isto que diz respeito às mães terrenas, com maior propriedade<br />
se aplica a Nossa Senhora, exceto o perigo de<br />
demonstrar fraqueza e debilidade, que n’Ela não existem.<br />
Sua ternura para conosco é levada ao inimaginável,<br />
sem nenhuma cumplicidade com nossos defeitos. Compaixão,<br />
sim; complacência, não. Sem embargo do quê,<br />
G. Kralj<br />
Por sua natureza<br />
retamente<br />
desenvolvida, a<br />
mãe genuína tem<br />
para com seu filho<br />
uma dedicação<br />
incomparável,<br />
afeita à<br />
misericórdia e ao<br />
carinho extremos<br />
Marquesas de Peze e<br />
de Rouget com seus<br />
filhos – Galeria Nacional<br />
de Washington<br />
28
O amor materno de Nossa<br />
Senhora possui força<br />
regeneradora capaz de<br />
elevar e santificar uma<br />
alma, mesmo aquela mais<br />
alquebrada por<br />
suas misérias<br />
A consideração dessas verdades me leva a<br />
insistir num ponto que nunca me canso de salientar:<br />
confiemos, confiemos e confiemos a<br />
todo instante em Nossa Senhora, lembrando-nos<br />
sempre de sua extrema meiguice para<br />
conosco, de sua compaixão para com as<br />
misérias de cada um de nós. Tenhamos presente<br />
que, na Salve Rainha, Nossa Senhora<br />
é chamada “Mãe de misericórdia”, e que o<br />
Lembrai-vos acentua a bondade d’Ela para<br />
com o pecador arrependido.<br />
Não receio parecer repetitivo ao renovar<br />
essas recomendações, pois uma vida<br />
espiritual que não as contemple acaba<br />
se extraviando. Sem nos compenetrarmos<br />
da misericórdia de Maria Santíssima,<br />
nada de bom faremos. Cultivando-a, nossa alma<br />
se cumula de confiança, de alegria e de ânimo. Tendo<br />
a Mãe da Divina Providência como nossa própria<br />
Mãe, nada nos deve abater. Ela tudo resolverá se,<br />
confiantes, implorarmos seu maternal socorro. v<br />
1) Em muitas paróquias do Brasil essa festa é celebrada no dia<br />
11 de novembro; em outros países, no dia 19 do mesmo mês.<br />
Nossa Senhora Sede da<br />
Sabedoria, São Paulo<br />
segundo São Luís Grignion de Montfort, Maria Santíssima<br />
ama a cada um de nós mais do que todas as mães<br />
existentes no mundo amariam, juntas, um filho único. Isso<br />
diz respeito tanto a nós quanto a qualquer ímpio.<br />
Nossa Senhora é Mãe da graça, e o amor d’Ela a um<br />
indivíduo ruim não consiste em fechar os olhos para sua<br />
maldade, mas em obter-lhe de Deus favores seletíssimos<br />
para que ele possa se arrepender e se emendar. Quer<br />
dizer, o amor materno de Maria tem força regeneradora<br />
para elevar e santificar uma alma; Ela é a Medianeira<br />
das graças necessárias para a justificação<br />
daquele a quem Ela ama. Por causa disso, sua misericórdia<br />
nunca é susceptível de uma condescendência<br />
errada, embora sua contemporização vá mais<br />
longe do que a de qualquer mãe terrena.<br />
T. Ring<br />
Confiar em Maria, sem<br />
desanimar jamais<br />
29
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Percepção<br />
do sobrenatural<br />
Fotos: G. Kralj<br />
30
Assim como as pessoas manifestam<br />
diferentes graus de<br />
facilidade para praticar determinada<br />
virtude, assim certas almas<br />
demonstram particular desembaraço<br />
para se abstraírem da consideração<br />
do meramente visível e se<br />
elevarem na contemplação das belezas<br />
espirituais.<br />
Agora, penso haver outro gênero<br />
de indivíduos que possuem certa facilidade,<br />
não tanto para a pura abstração,<br />
mas para uma percepção, a<br />
partir de um fato concreto, de algo<br />
que este fato envolve e que sugere a<br />
idéia de uma outra vida, de outra ordem<br />
de coisas onde tudo se passa de<br />
maneira diversa e satisfaz as mais altas<br />
aspirações da alma humana.<br />
Nesse sentido, sempre me chamaram<br />
a atenção as telas de um pintor<br />
francês que, após percorrer alguns<br />
ateliers de mestres europeus, mudouse<br />
para Roma e ali permaneceu até<br />
o fim dos seus dias. Como nascera<br />
na Lorena, chamavam-no de Cláudio,<br />
o Loreno. Claude Lorrain 1 , em<br />
francês. Alguns críticos o têm pelo<br />
primeiro artista a se especializar<br />
em retratar a luz nas suas obras. De<br />
maneira tal que, a fim de realçar o<br />
elemento luminoso, ele também se<br />
aprimorou em pintar paisagens marítimas,<br />
nas quais as águas do oceano<br />
desempenham seu papel ímpar como<br />
espelho para o sol. Este, de acordo<br />
com o desejo do pintor, nasce ou<br />
se põe muito distante no horizonte,<br />
deitando fulgores sobre uma série de<br />
aspectos panorâmicos. Por exemplo,<br />
um litoral com fortalezas, com árvores,<br />
com palácios, ou um porto com<br />
navios em posições diversas, além<br />
Saída dos pincéis de Lorrain,<br />
uma luz difusa que confere<br />
aspecto paradisíaco às suas<br />
paisagens terrenas<br />
Paisagem campestre, por Claude<br />
Lorrain – Galeria Nacional<br />
de Ottawa (Canadá)<br />
31
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
de personagens que se movimentam<br />
nas praias.<br />
E Claude Lorrain soube pintar<br />
a luz do sol banhando todos esses<br />
componentes da paisagem imaginada<br />
por ele, sobretudo fazendo<br />
essa luz se difundir através de uma<br />
certa névoa que às vezes cobre a<br />
atmosfera à beira-mar. Tão tênue<br />
que parece uma poeirazinha vagando<br />
por toda parte e em parte alguma,<br />
retendo a luz; um pó dourado,<br />
com graus diferentes de intensidade,<br />
que paira sobre a água e todo<br />
o panorama.<br />
32
Entretanto, o melhor de Lorrain está<br />
no fato de ele pintar tudo de uma<br />
terra concebida como se fosse um paraíso<br />
terrestre. Quer dizer, a luz saída de<br />
sua palheta confere um aspecto paradisíaco<br />
ao mundo, à vida terrena e, nessa<br />
perspectiva, desperta no homem um<br />
certo desejo de uma ordem de coisas<br />
que esteja acima desta palpável e temporal<br />
que encontramos todos os dias.<br />
Na verdade, assim como Fra Angélico<br />
soube dar uma impressão de<br />
sobrenatural nas faces de suas personagens,<br />
assim Claude Lorrain transmitiu<br />
algo de celestial nas suas obras.<br />
Paisagem marítima,<br />
por Claude Lorrain –<br />
Museu Metropolitan<br />
de Nova York<br />
33
Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />
Compreendia ele o aspecto paradisíaco<br />
que uma coisa pode ter,<br />
e possuía essa forma de percepção<br />
do sobrenatural, do extra-terreno,<br />
por onde seus quadros acabam<br />
remetendo nosso espírito para<br />
o Céu.<br />
Há nas pinturas de Lorrain um<br />
imponderável que leva o homem a<br />
dizer: “Sim, existe em algum lugar<br />
uma realidade que transcende a essa<br />
vida terrena, que não se confunde<br />
com ela e sem a qual nada deste<br />
mundo se explica. Não se trata de algo<br />
que meu tato possa pegar, mas de<br />
que minha alma é sedenta. Sem essa<br />
ordem superior — insinuada de modo<br />
tão atraente nas pinturas de um<br />
gênio que soube percebê-la — o universo<br />
seria uma coisa truncada, errada,<br />
e eu seria um louco.<br />
“Ora, não sou louco. Logo, essa<br />
ordem superior existe.” v<br />
(Extraído de conferência<br />
em 10/2/1970)<br />
1) De seu verdadeiro nome Claude Gellée,<br />
nasceu na cidade de Chamagne,<br />
na Lorena, França. Ficou órfão aos<br />
12 anos e, devido a esse fato, mudouse<br />
para Friburgo, onde imediatamente<br />
entrou em contato com grandes artistas.<br />
Durante sua formação, viajou para<br />
a Itália, fixando-se em Roma, onde<br />
trabalhou com consagrados mestres.<br />
No seu regresso à França, consolidouse<br />
como o grande paisagista do barroco<br />
francês. Faleceu em Roma, no dia<br />
23 de novembro de 1682.<br />
34
Adoração dos Magos<br />
(detalhe), por Fra Angélico<br />
e F. Lippi – Galeria<br />
Nacional de Arte de<br />
Washington; na página 34,<br />
A Virgem e o Menino,<br />
por Fra Angélico – Museu<br />
Metropolitan de Nova York<br />
Claude Lorrain soube transmitir algo de celestial em suas<br />
obras, assim como Fra Angélico logrou conferir uma<br />
impressão de sobrenatural nas faces de suas personagens<br />
35
Razão de nossa perseverança<br />
G. Kralj<br />
Se é verdade que devemos<br />
sempre invocar<br />
o maternal auxílio<br />
da Santíssima Virgem,<br />
com maior razão cumpre fazê-lo<br />
em vistas à nossa perseverança<br />
final. Conforme a<br />
súplica que repetimos amiúde<br />
na Ave-Maria, peçamos<br />
a Ela interceda por nós, pobres<br />
pecadores, na hora de<br />
nossa morte, e nos conceda<br />
a graça de sermos fiéis<br />
no último momento de nossa<br />
existência. Ninguém sabe<br />
como são as batalhas interiores,<br />
as tentações derradeiras<br />
que afligem uma alma<br />
prestes a se separar do<br />
corpo. Nesta ocasião, nada<br />
pode nos valer mais do que<br />
o socorro da Mãe de misericórdia,<br />
a razão de nossa perseverança<br />
em meio aos graves<br />
perigos espirituais que<br />
corremos. E ela o é, sobretudo,<br />
no último.<br />
(Extraído de conferência<br />
em 16/2/1971)<br />
36<br />
Virgem com o Menino – Museu<br />
Metropolitan de Nova York