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Revista Dr Plinio 116

Novembro de 2007

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Há 90 anos,<br />

a Primeira<br />

Eucaristia


São Martinho de<br />

Porres – Convento<br />

dos Dominicanos,<br />

Lima (Peru)<br />

G. Kralj<br />

N<br />

a Lima dos<br />

santos,<br />

brilhou a<br />

figura de São<br />

Martinho de Porres,<br />

misto de fidalgo e<br />

homem do povo, cujas<br />

virtudes esplendentes<br />

contribuíram para<br />

conferir à civilização<br />

peruana do seu tempo<br />

uma beleza e uma<br />

ordenação católicas<br />

até hoje insuperáveis.<br />

Ordenação e beleza<br />

que anseiam por<br />

reviver e traçar um<br />

futuro ainda mais<br />

glorioso que o passado.<br />

2<br />

(Extraído de conferência<br />

em 9/5/1994)


Sumário<br />

Ano X - Nº <strong>116</strong> Novembro de 2007<br />

Há 90 anos,<br />

a Primeira<br />

Eucaristia<br />

Na capa,<br />

<strong>Plinio</strong> em 1917, com o<br />

traje de sua Primeira<br />

Comunhão<br />

(Ver seção “Datas na<br />

vida de um cruzado”)<br />

Foto: Arquivo revista<br />

As matérias extraídas<br />

de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

— designadas por “conferências” —<br />

são adaptadas para a linguagem<br />

escrita, sem revisão do autor<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Editorial<br />

4 Como jóia no seu escrínio...<br />

Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />

5 19 de novembro de 1917:<br />

A Primeira Comunhão<br />

Do n a Lucilia<br />

6 Em tudo conforme à Igreja<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />

10 A “Carta circular aos Amigos da Cruz” - V<br />

Nossas obrigações para com a Cruz<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Santo Egídio, 418<br />

02461-010 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 6236-1027<br />

E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />

Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

Rua Barão do Serro Largo, 296<br />

03335-000 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 6606-2409<br />

Preços da<br />

assinatura anual<br />

Comum .............. R$ 85,00<br />

Colaborador . . . . . . . . . . R$ 120,00<br />

Propulsor ............. R$ 240,00<br />

Grande Propulsor ...... R$ 400,00<br />

Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 6236-1027<br />

16 Calendário dos Santos<br />

O p e n s a m e n t o f i l o s ó f i c o d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

18 O universo e aordenação da<br />

alma humana<br />

“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />

24 Metamorfoses do<br />

processo revolucionário<br />

O Sa n t o d o m ê s<br />

26 Nossa Senhora,<br />

Mãe da Divina Providência<br />

Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

30 Percepção do sobrenatural<br />

Últ i m a p á g i n a<br />

36 Razão de nossa perseverança<br />

3


Editorial<br />

Como jóia no seu escrínio...<br />

AFesta da Apresentação de Nossa Senhora no Templo, que transcorre no dia 21 deste mês, foi<br />

instituída ao ser consagrada a igreja de Santa Maria a Nova, em Jerusalém, no ano 543. Assim,<br />

a liturgia confirmava como fato histórico o que se lê no texto apócrifo conhecido como<br />

Protoevangelho de Tiago: a Santíssima Virgem foi levada pelos seus pais, São Joaquim e Sant’Ana, ao<br />

Templo de Jerusalém, com tenra idade, para viver uma vida de recolhimento e oração nesse sagrado<br />

lugar.<br />

Para <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, o momento do ingresso da santa Menina no Templo provavelmente foi o mais<br />

belo espetáculo até então contemplado pelos Anjos do Céu. E ao comentar uma passagem de São<br />

Francisco de Sales a esse propósito, acrescentava:<br />

“Não sei se São Joaquim e Sant’Ana tinham plena noção de que Nossa Senhora estava destinada a<br />

ser a Mãe do Verbo Encarnado. Porém, certamente sabiam que sua filha fora escolhida por Deus para<br />

altíssimas coisas com vistas ao advento do Messias. É-nos dado supor, aliás, que essa menina, concebida<br />

sem pecado original e, portanto, sem as limitações inerentes a este, sem deixar as atitudes próprias<br />

de uma criança, possuía em sua alma um dom de contemplação maior que o dos maiores santos<br />

da Igreja.<br />

“Quer dizer, n’Ela se harmonizavam a extrema afabilidade e meiguice da criança com uma grandeza<br />

da qual os homens mais excelentes da Terra não são senão minúscula figura. Esse terá sido o desejo<br />

de Nossa Senhora, em que sendo Ela a Rainha incomparável do universo, aparecesse aos olhos<br />

de todos como uma simples menina. Contraste de beleza insondável, diante do qual permanecemos<br />

emudecidos de admiração!<br />

“Pois foi essa maravilhosa menina que seus pais levaram ao Templo. Segundo São Francisco de Sales,<br />

durante essas peregrinações à Cidade Santa, os judeus iam pelas estradas entoando cânticos, de<br />

modo particular os salmos compostos por David para essa finalidade. Podemos imaginar as lindas cenas<br />

que tais romarias proporcionavam: chegado o mês da visita ao Templo, judeus das mais variadas<br />

regiões se punham a palmilhar os caminhos de Israel, envolvendo-os com seus cantos religiosos.<br />

“Entre eles, certa feita, encontravam-se São Joaquim, Sant’Ana e Nossa Senhora. Imaginemos,<br />

então, se pudermos, o cântico da Menina, elevado com uma voz inefável, repetindo as palavras que<br />

seu régio ancestral escrevera por inspiração do Espírito Santo para aquela circunstância!<br />

“Pensemos em Maria cantando pelas estradas judaicas, e os anjos acompanhando seus passos e<br />

seu cântico, extasiando-se eles, sobretudo, com as harmonias de alma que a pequena Virgem manifestava<br />

a cada instante.<br />

“Ainda segundo São Francisco de Sales, do alto dos terraços da Jerusalém Celeste, os querubins e<br />

os serafins, e toda a corte angélica, debruçavam-se para contemplar Nossa Senhora a caminho de Jerusalém,<br />

e esse espetáculo, ignorado pelos homens, incutia-lhes um gáudio inexprimível.<br />

“De fato, cena mais bela e mais eloqüente do que essa, só poderia ser aquela em que esses mesmos<br />

anjos viriam Nossa Senhora ingressar no Templo, como a rainha que toma posse daquilo que lhe<br />

é próprio; como a jóia que se instala no escrínio onde deve ser guardada...”<br />

(Extraído de conferência em 21/11/1965)<br />

Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

4


Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />

19 de novembro de 1917<br />

A Primeira Comunhão<br />

Há 90 anos, na manhã do dia 19 de novembro<br />

de 1917, o jovem <strong>Plinio</strong> recebia<br />

pela primeira vez em sua alma a augusta<br />

visita de Nosso Senhor Jesus Cristo Sacramentado.<br />

Ao longo de sua vida, inúmeras vezes recordaria<br />

ele, com profunda devoção eucarística,<br />

aquela data que lhe era sobremaneira<br />

cara. Evoquemos, novamente,<br />

algumas dessas suas<br />

reminiscências:<br />

Os meninos deveriam ir tão<br />

bem vestidos quanto o permitiam<br />

as posses de seus pais. Aqueles<br />

com mais recursos mandavam<br />

confeccionar uma roupa especial<br />

para a ocasião. E no meu tempo,<br />

o hábito de Primeira Comunhão<br />

masculino era a cópia do<br />

uniforme solene de um dos colégios<br />

mais famosos do mundo —<br />

o Eton, da Inglaterra. Tratava-se,<br />

na verdade, de uma roupa muito<br />

pomposa, paletó e calça de casimira<br />

inglesa e cortes elegantes,<br />

camisa engomada, de colarinho<br />

duro, gravata escura e, no braço<br />

esquerdo, um laço de fita branca, em cujas pontas<br />

brilhavam pingentes dourados. O branco simbolizava<br />

a castidade e a virgindade daquele menino; o<br />

dourado lembrava a sua fé.<br />

Dona Lucilia, exímia organizadora de tudo, entendia<br />

que a comemoração em família não deveria<br />

acontecer na volta da igreja. Julgava ela que, realizada<br />

a festa no mesmo dia, poderia haver o risco de a<br />

criança, levada pela imaginação infantil, amanhecer<br />

pensando mais nos festejos do que na Sagrada Eucaristia.<br />

Então, com o afeto e o cuidado que eram todos<br />

dela, mamãe chamou minha irmã, minha prima<br />

e eu, alguns dias antes da Primeira Comunhão, para<br />

nos colocar a par do programa. Disse-nos:<br />

— Vocês devem entender que a festa não vai ser<br />

no mesmo dia. Nesta data vocês devem se preocupar<br />

somente em fazer a Primeira Comunhão. É<br />

como se fosse um feriado: não vão estudar nem se<br />

Lembrança da Primeira<br />

Comunhão de <strong>Plinio</strong><br />

entregar a atividades muito dispersivas. Quer dizer,<br />

pensem e concentrem a atenção no Santíssimo Sacramento.<br />

No dia seguinte, faremos a comemoração<br />

em grande estilo...<br />

Assim, a preparação feita com muito cuidado<br />

por um sacerdote, somada às explicações de Dona<br />

Lucilia que completavam<br />

aquela, além do programa traçado<br />

por ela, nos fizeram ver<br />

como era sério o passo que íamos<br />

dar. Evidentemente, esse<br />

ambiente criado em torno de<br />

nós era próprio a determinar<br />

todo o grau de recolhimento<br />

que uma criança possa ter. Eu,<br />

particularmente, fiquei muito<br />

compenetrado e fiz então o propósito<br />

de observar esse recolhimento<br />

quanto me fosse possível,<br />

nos meus nove anos.<br />

Após termos sido examinados,<br />

e verificado que sabíamos<br />

o bastante para receber o<br />

Sacramento, fizemos parte de<br />

uma Primeira Comunhão da<br />

paróquia de Santa Cecília, com<br />

muitas outras crianças. Algumas estariam ricamente<br />

trajadas, levando nas mãos lindos rosários,<br />

bem como livrinhos de oração encadernados e forrados<br />

de madrepérola.<br />

Na manhã seguinte, minha irmã, minha prima e<br />

eu nos dirigimos à Igreja de Santa Cecília, levando<br />

nossas velas que, assim como as das outras crianças,<br />

seriam acendidas no momento apropriado. E esta<br />

hora afinal chegou. Formaram-se, separadamente, a<br />

fila das meninas e a dos meninos que, pela primeira<br />

vez, receberiam em suas almas a visita de Nosso Senhor<br />

Sacramentado. Pelo favor de Nossa Senhora,<br />

comunguei com muito recolhimento e procurei fazer<br />

minha ação de graças com intenso fervor e devoção.<br />

Pouco depois, terminada a celebração litúrgica,<br />

crianças e familiares retornaram às suas residências.<br />

Eu, ao lado de minha irmã e minha<br />

prima, voltava radiante de contentamento! v<br />

5


Do n a Lucilia<br />

Em tudo conforme<br />

à Igreja<br />

O convívio com Dona Lucilia oferecia a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> a oportunidade de<br />

se aprofundar no conhecimento da psicologia humana, bem como na<br />

percepção das virtudes cristãs vividas com compenetração, porém com<br />

facilidade, como se fossem uma segunda natureza. Para ele, sua mãe<br />

foi um modelo de amor ao Coração de Jesus, à Igreja e ao Papa.<br />

Como a maioria dos filhos, desde<br />

muito pequeno senti o carinho<br />

e o afeto de mamãe para<br />

comigo, assim como percebia, a la<br />

criança, a elevação de alma com que<br />

ela os dispensava à minha irmã e a<br />

mim. Também ainda menino, através<br />

dos diversos movimentos de encanto<br />

que a pessoa dela despertava<br />

naturalmente no meu coração filial,<br />

aprendi as primeiras noções de<br />

psicologia humana, compreendendo<br />

como as qualidades morais se entrelaçavam<br />

no espírito dela, constituindo<br />

o todo harmonioso e belo de uma<br />

alma virtuosa.<br />

Lição permanente de<br />

lealdade a Deus<br />

Não hesito em dizer, pois, que a<br />

partir dos meus remotos tempos de<br />

menino, e estendendo-se ao longo<br />

da vida de Dona Lucilia esta foi para<br />

mim uma lição permanente de lealdade<br />

em relação a Deus e aos seus<br />

Mandamentos.<br />

Nesse sentido, já tive oportunidade<br />

de salientar o modo como mamãe<br />

considerava o dever de frente, com<br />

seriedade e ânimo resoluto; como<br />

demonstrava uma fortaleza invulgar<br />

diante do sacrifício que se lhe apresentava<br />

no caminho, enfrentandoo<br />

sem nada perder de sua suavidade<br />

e das outras virtudes que a caracterizavam.<br />

Daí ela ter sido, de certo<br />

modo, a matriz das boas disposições<br />

de alma que eu porventura cultivaria<br />

em mim mesmo. Vivendo uma existência<br />

comum de dona-de-casa, mamãe<br />

foi de alguma maneira a minha<br />

“memória”, onde eu encontrava tudo<br />

aquilo a partir do qual talhei minha<br />

personalidade de católico, apostólico,<br />

romano. E eu apreciava esta<br />

jóia inicial, na sua beleza primeva,<br />

incrustada no espírito dela.<br />

De fato, não fosse o reluzimento<br />

contínuo desses fundamentos de vir-<br />

Fotos: Arquivo revista / M. Shinoda<br />

6


Dona Lucilia em<br />

1964; um dos<br />

móveis de seu<br />

aposento, em cujas<br />

gavetas guardava<br />

algumas de suas<br />

“recordações”<br />

“Mamãe foi, de certo modo, a matriz<br />

das boas disposições de alma que eu<br />

porventura cultivaria em mim mesmo...”<br />

7


Do n a Lucilia<br />

tude nela enraigados, eu me teria esquecido<br />

daqueles movimentos primeiros<br />

de admiração das qualidades<br />

dela, que tanto contribuíram para<br />

minha própria formação. E esse rebrilhar<br />

durou até a sua extrema ancianidade.<br />

Suprema firmeza<br />

Um episódio característico. Algum<br />

tempo antes de mamãe morrer,<br />

percebi que ela rasgava papéis e<br />

se desfazia de coisas que tinha guardado<br />

a vida inteira. Ao fazê-lo, notava-se<br />

nela uma certa tristeza e desilusão.<br />

Porém, eu tinha tomado como<br />

regra não desgostá-la em nada,<br />

e o que ela quisesse, ela faria. Mesmo<br />

sabendo tratarem-se de escritos<br />

meus para ela, não fiz oposição às<br />

destruições.<br />

Pouco tempo depois percebi que<br />

ela pressentia a sua morte, e decidira<br />

destruir, ela mesma, o que receava<br />

não seria conservado pelos outros.<br />

Quer dizer, antes das suas exéquias,<br />

mamãe preparou os funerais das recordações<br />

dela...<br />

Permitam-me salientar a firmeza<br />

de alma e a lealdade de vistas que tal<br />

atitude representa. Ela terá dito a si<br />

mesma: “Encontro-me nessa situação,<br />

e a conduta razoável a ser adotada,<br />

de frente, é essa”, e caminhou<br />

para a morte, acompanhada da idéia<br />

de colocar em ordem seus papéis e<br />

seus pertences, a fim de não dar trabalho<br />

aos outros! Tudo isso, quero<br />

crer, está de acordo com o equilíbrio<br />

de virtudes numa alma católica.<br />

Mais ela mesma<br />

quando rezava<br />

Aliás, cumpre dizê-lo, por mais<br />

que eu a analisasse em todas as posições<br />

e atitudes, nunca a achava ser<br />

tão ela mesma do que quando recitava<br />

suas orações. Sobretudo as que<br />

ela fazia junto às imagens do Sagrado<br />

Coração de Jesus, fosse a do oratório<br />

que tinha em seu quarto, fosse<br />

a do salão de nossa residência.<br />

Nessas horas, tocava-me a impressão<br />

de que as qualidades de mamãe<br />

cresciam, e que se estabelecia — não<br />

me refiro a visões, revelações nem a<br />

quaisquer outras manifestações de<br />

caráter extraordinário — uma espécie<br />

de vínculo entre o Sagrado Coração<br />

de Jesus e ela, uma forma de relacionamento<br />

por onde se percebia<br />

que Nosso Senhor comunicava algo<br />

de sua bondade infinita à alma dela.<br />

Como fruto daquela entranhada<br />

devoção de Dona Lucilia a Ele, algo<br />

das inefáveis qualidades do Coração<br />

Sagrado de Jesus era-lhe transmitido,<br />

cumulavam-na, e determinava<br />

uma particular consonância entre<br />

ela e os princípios da fé católica.<br />

Sob as vistas de<br />

um “inquisidor”<br />

afetuoso e inflexível<br />

Nesse sentido, devo acrescentar<br />

outra consideração. Apesar de toda<br />

a minha benquerença para com ela,<br />

à medida que ficava mais velho e pelo<br />

natural desenvolvimento do meu<br />

espírito, compreendia perfeitamente<br />

que mamãe podia significar uma<br />

8


“Percebia-se que o Sagrado Coração de Jesus<br />

comunicava algo de sua infinita bondade<br />

à alma de mamãe”<br />

Oratório do Sagrado Coração de Jesus e a imagem d’Ele no salão<br />

da residência, junto aos quais Dona Lucilia costumava rezar<br />

alta coisa na minha vida, porém não<br />

era a norma que ditava o meu existir.<br />

O que pautava minha existência<br />

era a Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana, como passei a conhecêla<br />

e a amá-la, à luz dos ensinamentos<br />

dos padres jesuítas em cujo colégio<br />

eu estudava. Estes me fizeram compreender<br />

a importância do papado,<br />

a devoção ao Vigário de Cristo,<br />

a Nossa Senhora, à Sagrada Eucaristia,<br />

etc., bem como chamavam nossa<br />

atenção para as tramas e os ataques<br />

que os adversários da Igreja urdiam<br />

contra ela.<br />

Eu via, portanto, dois valores distintos.<br />

Primeiro, a Igreja, fonte da<br />

verdade; segundo, a Revolução, cuja<br />

ignomínia essencial era seu ódio<br />

mortal à Igreja. Por outro lado, eu<br />

considerava Dona Lucilia. E fiz essa<br />

comparação: “Aqui está minha mãe;<br />

aqui, a Santa Igreja como a conheço<br />

hoje, como me é apresentada pelos<br />

meus professores jesuítas. Em última<br />

análise, quem vale mais: a Igreja<br />

ou mamãe?”<br />

A resposta veio incontinenti ao<br />

meu espírito: “As coisas não se dissociam.<br />

Tudo quanto há de bom em<br />

mamãe, ela recebeu da Igreja. Esta<br />

é o supremo bem, e mamãe só será<br />

realmente boa, se em tudo estiver<br />

de acordo com ela.<br />

“Agora as qualidades de Dona Lucilia<br />

estão sujeitas ao crivo da minha<br />

análise como católico, e devo me perguntar<br />

se tudo nela é conforme à Igreja.<br />

Pois se algo não o for, eu prefiro a<br />

Igreja, fundada por Deus, a ela, uma<br />

criatura humana falível como qualquer<br />

outra. Portanto, cuidado.”<br />

E, por assim dizer, reexamineia,<br />

ponto por ponto. Fazia-lhe perguntas<br />

de cunho doutrinário, para<br />

ver bem como ela pensava. Fui<br />

seu “inquisidor”, afetuoso, respeitoso,<br />

meticuloso, inflexível. Ela passou<br />

no exame com nota 100... v<br />

(Extraído de conferências em<br />

24/4/1982 e 12/8/1988)<br />

9


Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

A “Carta circular aos Amigos da Cruz” - V<br />

Nossas<br />

obrigações<br />

para com<br />

a Cruz<br />

Na seqüência de seus<br />

comentários ao opúsculo<br />

escrito por São Luís Maria<br />

Grignion de Montfort,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> ressalta esta grave<br />

advertência do santo: quem<br />

quiser ser um autêntico<br />

Amigo da Cruz, deve fugir do<br />

mundanismo que o conduzirá<br />

por um caminho de perdição,<br />

oposto ao da perfeição e<br />

santidade para o qual foi<br />

chamado.<br />

São Luís Grignion de Montfort assim continua a sua<br />

Carta:<br />

Sois por vossas ações, meus queridos Amigos da<br />

Cruz, aquilo que o vosso grande nome significa? Ou pelo<br />

10


menos tendes vontade e desejo autênticos de assim vos tornardes<br />

com a graça de Deus, à sombra da Cruz do calvário<br />

e de Nossa Senhora da Piedade? Entrastes no verdadeiro<br />

caminho da vida (Pr 6, 23; 10, 17; Jr 21, 8) , que é o caminho<br />

estreito e espinhoso do Calvário? Não estareis, sem<br />

pensar nisso, no caminho largo do mundo, que é a via da<br />

S. Hollmann<br />

perdição? Sabeis que existe um caminho que parece ao homem<br />

reto e seguro, e que conduz à morte (Pr 14, 12)?<br />

Justificadas apreensões de um Santo<br />

Nestas perguntas transparece intensamente o espírito<br />

de São Luís Grignion. Quer dizer, de um lado ele toma<br />

em consideração os Amigos da Cruz como pessoas eleitas<br />

por Deus para um alto chamado. De outro lado, porém,<br />

ergue-se diante delas a malícia do século, e à vista<br />

das condições em que estas pessoas vivem, São Luís manifesta<br />

suas apreensões. Donde formular questões como<br />

esta: “sois verdadeiros Amigos da Cruz?”<br />

Ou seja, fácil é alguém tomar o nome de Amigo da<br />

Cruz, mas igual facilidade há para deixar de sê-lo. Portanto,<br />

trata-se de uma preocupação cujo fundamento é<br />

evidente. Então, insiste: “Pelo menos tendes verdadeiro<br />

desejo e vontade de assim vos tornardes com a graça<br />

de Deus”, etc.?<br />

A formulação empregada por ele é muito apropriada<br />

e fina, porque um verdadeiro Amigo da Cruz é alguém<br />

que, em primeiro lugar, está em ordem com seus deveres<br />

para com a Santa Cruz. Mas também é aquele que possui<br />

ao menos um desejo autêntico de estar em ordem a<br />

esses deveres. Poderá ter suas faltas, suas fraquezas, mas<br />

almeja atingir a plenitude de entrega própria ao seu chamado.<br />

Este será considerado igualmente um verdadeiro<br />

Amigo da Cruz.<br />

Dois graus de amor à Cruz<br />

Percebe-se aqui dois graus de amor à Cruz, assim como<br />

pode haver dois graus de perfeição religiosa no cumprimento<br />

de uma vocação.<br />

Seguir os passos do Divino<br />

Redentor no caminho<br />

estreito e espinhoso do<br />

Calvário, eis o ideal que o<br />

autêntico Amigo da Cruz<br />

deve procurar e se esforçar<br />

por atingi-lo<br />

Nosso Senhor na Via Dolorosa –<br />

Museu do Louvre, Paris<br />

11


Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

Antes de tudo, tal perfeição é a inteira conformidade<br />

do membro de uma ordem com sua respectiva regra.<br />

Contudo, pode dar-se o caso de que algum religioso, ainda<br />

neófito, não tenha alcançado essa conformidade; ou,<br />

por desventura, terá retrocedido na sua trajetória rumo<br />

àquela perfeição. Mas, se ele demonstrar o desejo de se<br />

tornar um verdadeiro religioso e de adquirir um elevado<br />

grau de observância, ele ainda se achará no seu lugar<br />

próprio dentro da ordem. Quer dizer, há para com ele,<br />

da parte de Deus e dos seus superiores, uma atitude de<br />

misericórdia, de compaixão, e até de compreensão, a par<br />

das graves exigências que a regra lhe impõe.<br />

O mesmo se aplica ao Amigo da Cruz. Há aquele que<br />

se entregou por completo ao amor e ao serviço da Cruz<br />

para com ela se identificar; e há aquele que, por lacunas<br />

espirituais, ainda não alcançou essa plenitude de devoção,<br />

mas a deseja atingir. Então, olhando para estes últimos,<br />

São Luís Grignion escreve: “Não estareis, sem pensar,<br />

no caminho largo do mundo, o caminho da perdição?<br />

Sabeis bem que existe uma via que parece reta e segura,<br />

e na realidade conduz à morte?”<br />

A expressão “sem pensar” é curiosa, e insinua bem<br />

o que poderia ser uma culpa inconsciente do Amigo da<br />

Cruz. Ora, o caminho do mundo é tão agradável, e o homem<br />

de tal maneira se habitua ao que lhe compraz, que<br />

ele por irreflexão acaba cometendo uma falta. Esta, embora<br />

não seja inteiramente consciente — e, portanto,<br />

não reúna as condições próprias ao pecado mortal — é<br />

um passo em falso. E a sucessão de faltas e concessões<br />

inconscientes, acabam desviando a pessoa para longe do<br />

caminho verdadeiro. Daí a nota da prudência pastoral,<br />

da vigilância de São Luís de Montfort em relação a esses<br />

Amigos da Cruz.<br />

Censura aos que cedem<br />

à concupiscência do mundo<br />

Continua ele:<br />

Distinguis bem a voz de Deus e de sua graça, da voz do<br />

mundo e da natureza? Escutais a voz de Deus, nosso Pai,<br />

que depois de ter dado a sua tríplice maldição a todos que<br />

seguem as concupiscências do mundo: Ai, ai, ai dos habitantes<br />

da Terra (Ap 8, 13), grita‐vos amorosamente, estendendo‐vos<br />

os braços: separai‐vos, meu povo (Nb 16, 21).<br />

Separai‐vos, meu povo escolhido, queridos Amigos da Cruz<br />

de meu Filho, separai‐vos dos mundanos, malditos por minha<br />

majestade, excomungados por meu Filho (Jo 17, 9), e<br />

condenados por meu Espírito Santo (Jo 16, 8-11).<br />

Importa compreender bem a razão dessas fortes censuras,<br />

dessa maldição tão pesada sobre o mundanismo.<br />

Lembremo-nos de que, na linguagem da vida espiritual,<br />

o apego e o amor desregrado às coisas do mundo<br />

Embora o mundanismo no<br />

seu tempo ainda demonstrasse<br />

aparências de distinção e<br />

nobreza, São Luís Grignion<br />

não deixa de alertar os Amigos<br />

da Cruz para o grave perigo<br />

que representam as seduções<br />

do século<br />

Cena na França do século XVII –<br />

Museu do Prado, Madrid<br />

é, ao lado do demônio e da carne, uma das concupiscências<br />

que inclinam o homem para o pecado e o afastam de<br />

Deus. Portanto, o mundanismo assim entendido sempre<br />

foi algo ruim, ao qual o católico desejoso de alcançar a<br />

santidade deve combater.<br />

No tempo de São Luís Grignion, o mundanismo ainda<br />

se revestia de uma aparência elevada e nobre, característica<br />

do Ancien Régime prévio à Revolução Francesa,<br />

mas que preparou largamente a irrupção desta no cenário<br />

europeu. Se tomarmos gravuras que representam<br />

burgueses dos séculos XVI e XVII, veremos que são ainda<br />

pessoas sérias, compassadas, dignas. Não era uma<br />

burguesia mundana, e tinha conservado toda aquela circunspeção<br />

dos antigos tempos. Pelo contrário, considere-se<br />

um burguês das vésperas da Revolução Francesa, e<br />

já não se o distingue mais do nobre, não só porque os trajes<br />

se igualaram, mas também por causa da atitude. Nivelaram-se.<br />

E o mundanismo revolucionário que impregnava<br />

as cortes, irradiou-se para as outras camadas da sociedade,<br />

putrefazendo-a por completo.<br />

Em nossos dias, podemos dizer que o mundanismo se<br />

multiplicou pelo mundanismo, e as suas seduções, atiçadas<br />

por obra do demônio, são ainda mais perniciosas.<br />

Donde as censuras de São Luís Grignion conservarem<br />

toda a sua atualidade, e são perfeitamente aplicáveis aos<br />

que se entregam ao mundo, pois estes romperam com as<br />

amarras que os uniam a Deus Nosso Senhor.<br />

Se desejamos ser autênticos Amigos da Cruz, devemos<br />

limpar nossas almas de qualquer laivo de mundanismo,<br />

de qualquer apego ao que há de frívolo, de laicista<br />

e de fundamentalmente contrário à sabedoria,<br />

nos costumes do mundo.<br />

12


S. Hollmann<br />

Contagiabilidade<br />

da virtude contra o vício<br />

Continua São Luís Grignion:<br />

Tomai cuidado para não vos sentardes em sua cadeira<br />

toda empestada, não sigais os seus conselhos, nem mesmo<br />

pareis em seu caminho (Sl 1, 1).<br />

Essa cadeira toda empestada de que fala São Luís é<br />

uma referência ao Salmo 1, onde o salmista exclama:<br />

“Feliz o homem que (...) não se assenta entre os escarnecedores”,<br />

ou, segundo outras traduções, “que não toma<br />

assento na cátedra de corrupção dos pecadores”. Esta última<br />

expressão me parece ainda mais vigorosa. Quer dizer,<br />

trata-se da cadeira de onde o pecador ensina o peca-<br />

13


Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

do e, de certa forma, é a própria sede do pecado, na qual<br />

este se instala e aí faz luzir sua “glória”.<br />

Fugi da grande e infame Babilônia (Is 48, 20; Jr 50,<br />

8), não escuteis outra voz e não sigais outras pegadas senão<br />

as de meu Filho bem-amado, que vos dei por vosso<br />

caminho, vossa verdade, vossa vida (Jo 14, 6), e vosso<br />

modelo (Mt 17, 5).<br />

Vemos aqui uma espécie de demolição ardente, levada<br />

a cabo por São Luís Grignion, contra toda a sedução<br />

exercida pela sociedade frívola do seu tempo. Ele queria<br />

os Amigos da Cruz afastados desse mundanismo.<br />

Por outro lado, é também interessante notar que no<br />

meio dessa sociedade frívola surgiram outros movimentos<br />

de autêntica piedade católica, que reagiram a seu modo<br />

contra a decadência generalizada do ambiente em que<br />

viviam. Creio que tal reação se deve ao princípio da contagiabilidade<br />

da virtude, considerado por nós em exposição<br />

anterior. Ou seja, na ordem sobrenatural há reversibilidades,<br />

reciprocidades, interações pelas quais uma virtude<br />

séria e profunda praticada de um lado repercute no<br />

outro. Assim, havendo na Vandéia ou na Bretanha daquela<br />

época, muitos genuínos Amigos da Cruz, efetivamente<br />

separados do mundo, ainda que não conhecessem<br />

os Amigos da Cruz de Versailles, aqueles reforçavam a<br />

possibilidade de perseverança, de santificação e de vitória<br />

destes últimos no meio dos deleites e das delícias da<br />

corte mundana.<br />

santa, mas era uma boa senhora católica, com o padrão<br />

mínimo de algo do qual a santidade é a expressão mais<br />

elevada. E ao considerar muitos aspectos de sua rica personalidade,<br />

poderemos ver quanta retidão, compostura,<br />

destreza, e quanta dignidade assentada sobre o trono,<br />

em meio a uma corte que, se não era a primeira, era<br />

das mais importantes do mundo, a do Sacro Império Romano<br />

Alemão.<br />

Creio que essa situação só se tornava possível por esse<br />

trabalho de subestrutura da virtude que se contagiava entre<br />

os bons de lugares diferentes. E em seguida notava-se<br />

a recíproca: a Cruz levantada no mais alto degrau da corte,<br />

repercutia sobre todo o país e nas camadas profundas<br />

da população, gerando novos Amigos da Cruz. Esses são<br />

os grandes mecanismos por onde o amor de Deus se afirma,<br />

se multiplica e conquista as almas.<br />

S. Hollmann<br />

O exemplo de Maria Teresa d’Áustria<br />

Recordo-me, a esse propósito, da figura da grande imperatriz<br />

Maria Teresa d’Áustria. Não se tratava de uma<br />

Pelo princípio da<br />

contagiabilidade de<br />

virtudes, a existência de<br />

bons Amigos da Cruz<br />

favorecia a vitória do<br />

bem no meio de uma<br />

sociedade frívola<br />

Imperatriz Maria Teresa de Áustria –<br />

Hofburg, Innsbruck (Áustria)<br />

14


S. Hollmann<br />

As graças e as forças necessárias para seguirmos o Redentor Crucificado nos são alcançadas<br />

por intermédio de Maria Santíssima, que se achava de pé, junto à Cruz<br />

Crucifixão – Vitral da Catedral de Notre Dame de Paris, França<br />

Abraçar a Cruz em união<br />

com o Divino Redentor<br />

Prossegue São Luís Grignion:<br />

Não escutais esse amável Jesus que, carregando sua cruz,<br />

vos conclama: vinde após Mim (Mt 4, 19), o que me segue<br />

não anda nas trevas (Jo 8, 12); tende confiança, Eu venci o<br />

mundo (Jo, 16, 33)?<br />

Conforme o ensinamento de todos os grandes autores,<br />

São Luís Grignion acrescenta que a Cruz só é suportável<br />

quando carregada em união com Nosso Senhor.<br />

A Cruz concebida esquematicamente, apenas de<br />

modo teórico, aterroriza o homem e este foge dela. O<br />

único modo de a Cruz ser atraente, é considerar Aquele<br />

que nela se acha pregado e d’Ele receber as forças<br />

necessárias para aceitá‐la.<br />

É palavra do próprio Jesus: “Quando Eu for elevado,<br />

atrairei a mim todas as criaturas”. Ou seja, o Divino<br />

Crucificado é o verdadeiro encanto da Cruz, o que<br />

realmente atrai as almas para ela. E não apenas atrai,<br />

como lhes concede as graças e o vigor indispensáveis<br />

para carregá-la. Com os olhos fitos n’Ele, pensando<br />

no seu Sagrado Coração e no precioso Sangue que por<br />

nós derramou, na sua agonia e morte, é que adquirimos<br />

forças para segui-Lo.<br />

E não nos esqueçamos de que essas graças e essas forças<br />

nos são concedidas por intermédio de Maria Santíssima,<br />

a Medianeira Universal, que se encontrava aos pés<br />

da Cruz, com seu Coração Imaculado transpassado e coroado<br />

de espinhos. <br />

v<br />

(Extraído de conferência em 17/6/1967)<br />

15


Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />

1. Solenidade de Todos os Santos.<br />

A Igreja comemora neste dia todos<br />

os santos que estão no Céu. Em<br />

837, o Papa Gregório IV estendeu<br />

essa festa a toda a Igreja.<br />

2. Comemoração dos Fiéis Defuntos.<br />

Celebração instituída na<br />

abadia de Cluny, na França, pelo<br />

abade Santo Odilon, em 998. A<br />

Igreja Universal a festeja desde o<br />

século XIII.<br />

9. Dedicação da Basílica Lateranense,<br />

construída pelo Imperador<br />

Constantino em honra de Cristo<br />

Salvador. É a catedral de Roma<br />

e foi consagrada nesse dia, no ano<br />

324, pelo Papa Silvestre I.<br />

Beato George Napper, 1550-1610.<br />

Sacerdote e mártir inglês. Celebrou<br />

missas na clandestinidade e na prisão.<br />

Morreu sob o Rei Jaime I, perseguido<br />

por sua condição sacerdotal.<br />

10. São Leão I (o Magno), Papa<br />

e Doutor da Igreja, + 461.<br />

18. Dedicação das Basílicas de<br />

São Pedro (no Vaticano) e São Paulo<br />

(na Via Ostiense) em Roma. Tanto<br />

a antiga basílica constantiniana<br />

de São Pedro (erigida em 323)<br />

quanto a atual (em 1626) foram dedicadas<br />

neste dia.<br />

19. São Máximo o Confessor, corepíscopo<br />

e mártir em Cesaréia de<br />

Capadócia, séc. IV.<br />

20. São Crispim, Bispo de Écija<br />

(Espanha) e Mártir, séc. IV.<br />

3. São Martinho de Porres, irmão<br />

leigo da Ordem Dominicana,<br />

em Lima (Peru), 1579-1639. Ainda<br />

em vida, granjeou imensa fama de<br />

santidade. Na véspera de sua morte,<br />

o próprio vice-rei do Peru foi visitá-lo,<br />

para lhe oscular a mão.<br />

4. São Carlos Borromeu, Arcebispo<br />

de Milão e Cardeal da Igreja,<br />

1538-1584. Figura destacadíssima<br />

no Concílio de Trento.<br />

5. Santos Teótimo, Filóteo e Timóteo,<br />

Mártires em Cesaréia, sob<br />

Diocleciano, séc. IV.<br />

6. São Donino, Mártir, na Palestina,<br />

+307.<br />

7. São Villibrordo, Bispo. Inglês<br />

de nascimento e apóstolo da Frísia,<br />

foi Arcebispo de Utrecht. Morreu<br />

em Echternach (atual Luxemburgo),<br />

em 739.<br />

8. Santos Semproniano, Cláudio,<br />

Nicóstrato, Castório e Simplício,<br />

Mártires, + 304. Segundo a tradição,<br />

sofreram o martírio na Panônia (atual<br />

Hungria). Foram sepultados na<br />

Basílica romana chamada “dos Santos<br />

Coroados” (Santi incoronati).<br />

11. Nossa Senhora da Divina Providência.<br />

(Ver artigo na página 26.)<br />

São Martinho de Tours,<br />

316-397.<br />

Beato Eugênio Bossilikov, Bispo,<br />

fuzilado na Bulgária pelo regime<br />

comunista, em 1952.<br />

12. São Macário de Mull, Escócia,<br />

séc. VI.<br />

13. Santos Arcádio, Pascásio,<br />

Probo e Eutiquiano, Mártires. Espanhóis<br />

mortos na África pelo rei<br />

ariano Genserico, + 437.<br />

14. São Siardo, abade premonstratense,<br />

+ 1230.<br />

15. Santo Alberto Magno, Doutor<br />

da Igreja, Bispo de Regensburg,<br />

1206-1280. Pela universalidade<br />

de seus conhecimentos, foi chamado<br />

o “stupor mundi”. Mestre de<br />

São Tomás de Aquino e dominicano<br />

como este.<br />

16. Santa Margarida da Escócia,<br />

Rainha, + 1093.<br />

17. Santa Isabel de Hungria,<br />

Landgravina da Turíngia,<br />

1207-1231<br />

21. Apresentação da Virgem Maria<br />

no Templo.<br />

22. Santa Cecília, Virgem e Mártir,,<br />

+. 230.<br />

Bem-aventurados Elias (Julián)<br />

Torrijo Sánchez y Beltrán (Francesco)<br />

Lahoz Moliner, religiosos do<br />

Instituto das Escolas Cristãs (La<br />

Salle), Mártires na perseguição religiosa<br />

na Espanha, em1936.<br />

23. São Clemente I, Papa, Padre<br />

apostólico e Mártir, + 97 ou 101. O<br />

Cânon Romano da Missa o comemora.<br />

24. Beatos André Dun Lac e<br />

<strong>116</strong> companheiros, Mártires no<br />

Vietnã, de 1745 a 1862. Entre<br />

eles, 8 Bispos, 50 sacerdotes, 1<br />

seminarista e 58 leigos. Canonizados<br />

sucessivamente por Leão<br />

XIII, São Pio X, Pio XII e João<br />

Paulo II.<br />

25. São Moisés, Sacerdote e<br />

Mártir, + 251. Assumiu o cuidado<br />

dos fiéis, após a morte do Papa São<br />

Fabiano. Pouco depois, deu a vida<br />

por Cristo.<br />

26. São Silício, Papa, + 399.<br />

27. São Bernardino da Fossa,<br />

Franciscano, + 1503.<br />

16


* No v e m b ro *<br />

G. Kralj<br />

Apresentação da Virgem no Templo – Galeria Nacional de Arte, Washington<br />

28. Santo Estêvão, o Jovem,<br />

Monge e Mártir, em Constantinopla,<br />

+ 764.<br />

29. São Saturnino de Cartago,<br />

Mártir, em Roma, + 250.<br />

30. Santo André Apóstolo, séc.<br />

I. Irmão de São Pedro, que lhe<br />

disse: “Encontramos o Salvador<br />

do Mundo”. Teria sido martirizado<br />

em Patras, na Grécia, no ano<br />

63, sob Nero.<br />

Bem-Aventurado Luís Roque<br />

Gientyngier, Sacerdote e Mártir,<br />

no campo de concentração de<br />

Dachau, perto de Munique, após<br />

a invasão da Polônia na Segunda<br />

Guerra Mundial.<br />

17


O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

O universo<br />

e a<br />

ordenação<br />

da<br />

alma<br />

humana<br />

Ao recordar como<br />

sua alma de menino<br />

foi se abrindo para a<br />

compreensão da ordem<br />

posta por Deus na criação,<br />

tendo o homem como seu<br />

elemento central, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> refuta<br />

a idéia — latente em muitas correntes<br />

de pensamento atual — do “universo<br />

fechado”, no qual o Criador não interviria,<br />

ausentando-se dele, quase como um estranho...<br />

18


Em geral se toma contato nos<br />

cursos secundários com a<br />

idéia de que o universo no<br />

qual existe o planeta Terra em que<br />

vivemos, e os corpos celestes que<br />

gravitam em torno dele, é ordenado<br />

de modo a formar um todo. Essa noção<br />

é verdadeira.<br />

Um erro freqüente:<br />

“o universo é fechado”<br />

Porém, não raro se introduz um<br />

equívoco nessa concepção, ao se afirmar<br />

que esse todo é regido única e<br />

exclusivamente pelas leis da ciência,<br />

e quem as conhecesse, saberia tudo a<br />

respeito do universo. Ou seja, tratarse-ia<br />

de um todo fechado, onde nunca<br />

penetra a influência nem a ação<br />

de seres extrínsecos — portanto, dos<br />

anjos e de Deus Nosso Senhor.<br />

Segundo essa visão, o Altíssimo<br />

teria criado o universo, atirando-o<br />

depois no espaço, estabelecendo para<br />

ele determinadas leis. Deus foi o<br />

motor primeiro que fez com que todo<br />

o universo começasse a se mover,<br />

conforme a ordenação divina. Em<br />

seguida, o Criador se retira do panorama<br />

e não mais intervém. Cabe então<br />

às ciências descreverem as leis<br />

que Ele comunicou à criação.<br />

S. Hollmann<br />

“Uma coisa com a qual ou<br />

sem a qual, o mundo<br />

vai tal e qual”: segundo a<br />

concepção equivocada, se<br />

Deus e os anjos não existissem,<br />

a ordem e a marcha<br />

do universo continuariam<br />

as mesmas...<br />

Criação do mundo – Vitral da<br />

Catedral de Bayonne, França<br />

19


O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

E essas leis são tais que, se Deus<br />

e os anjos não existissem, a marcha<br />

e a ordem do universo continuariam<br />

as mesmas. Assim, sempre conforme<br />

essa concepção errônea, parafraseando<br />

um dito italiano, “Deus é<br />

uma coisa com a qual ou sem a qual,<br />

o mundo vai tal e qual”...<br />

Não creio que algum professor tenha<br />

defendido explicitamente esse<br />

erro, mas ao lecionar suas matérias,<br />

fazem-no como se aceitassem e propugnassem<br />

essa idéia errada. Donde<br />

quase nunca uma pergunta de Ciências<br />

Naturais ou de História, por<br />

exemplo, chegar até Deus. E se surge<br />

uma notícia da interferência divina<br />

por meio de um milagre ou de uma ação<br />

extraordinária, ela é considerada alheia<br />

a qualquer aula, mesmo de Religião,<br />

pois não se é obrigado a crer — como<br />

se se tratasse de um dogma — que tal<br />

fato foi miraculoso.<br />

Aliás, já no meu tempo de aluno,<br />

a “máquina” de ensino não<br />

considerava qualquer referência a<br />

Lourdes, embora se pudesse provar<br />

que os milagres ali operados<br />

eram autênticos.<br />

Outro ponto. Na batalha de<br />

Lepanto deu-se um grande milagre<br />

em favor da armada cristã. Se<br />

um professor muito católico tratasse<br />

desse episódio, diria: “Terminado<br />

o confronto, consta terem<br />

os soldados comentado entre<br />

si que, no fragor dos acontecimentos,<br />

Nossa Senhora lhes<br />

apareceu”. Consta, porque a<br />

História não pode registrar uma<br />

aparição como um fato verídico,<br />

pois é matéria religiosa.<br />

Em suma, o mundo é fechado.<br />

Deus o criou e depois<br />

as leis da ciência o explicam. E<br />

episódios da própria história da<br />

Igreja são por muitos considerados<br />

sob esse ângulo. Por exemplo,<br />

nas vésperas da batalha de<br />

Ponte Mílvia, Constantino viu<br />

no céu uma Cruz envolta pelos<br />

dizeres (que, aliás, durante algum<br />

tempo figuraram no brasão do<br />

Brasil imperial): In hoc signo vinces<br />

— Com este sinal vencerás! Ora, se<br />

narrarem a história de Constantino,<br />

escreverão: “Durante um sonho<br />

ele viu tal coisa”. O fato foi<br />

autêntico ou não? Não explicam<br />

e fica-se no terreno<br />

dos sonhos e<br />

da irrealidade.<br />

20


A Fé, um “rationabile<br />

obsequium”<br />

Cumpre salientar que uma adequada<br />

explanação desse tema é de grande<br />

alcance para a formação católica,<br />

pois relegá-lo a uma espécie de meiosilêncio,<br />

habitua as pessoas a terem<br />

dúvidas a respeito da verdade religiosa,<br />

leva-as a uma diminuição da fé e<br />

das certezas absolutas. Ora, os fatos a<br />

que me referi ocorreram para favorecer<br />

as certezas da Fé. Esta se adquire<br />

A própria História<br />

é quase sempre<br />

ensinada sem se<br />

considerar<br />

a intervenção divina<br />

nos acontecimentos<br />

Batalha de Lepanto – Igreja<br />

de Santa Magdalena, Sevilha<br />

(Espanha); Imperador<br />

Constantino – Kayserberg,<br />

Alsácia (França)<br />

mediante a adesão ao que está revelado<br />

por Deus no Antigo e no Novo<br />

Testamentos e é ensinado pela Igreja.<br />

São Paulo qualifica a Fé de rationabile<br />

obsequium (Rm 12, 1), ou seja, uma<br />

homenagem, um obséquio da razão<br />

que, analisando os motivos, crê.<br />

Pelas demonstrações filosóficas e<br />

pelos milagres, Deus nos oferece um<br />

imenso acervo de razão para se crer, e<br />

Ele quer que a nossa maior certeza na<br />

vida seja a Fé, a ponto de chegarmos<br />

a dizer: “Tudo bem pensado e maturado,<br />

a certeza de que a Igreja Católica é<br />

a verdadeira vem a ser mais plena do<br />

que a própria evidência”. Se eu utilizar<br />

bem as regras do raciocínio, convenço-me<br />

da existência de Deus e de<br />

seus predicados, da eternidade, santidade,<br />

de que a Revelação é autêntica<br />

Fotos: S. Hollmann<br />

21


O p e n s a m e n t o filosófico d e <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

e, portanto, de que há uma Igreja infalível,<br />

pois Nosso Senhor Jesus Cristo o<br />

revelou. Se isso não é assim, o raciocinar<br />

humano está errado.<br />

Não crêem porque não<br />

querem mudar de vida<br />

Contudo, poder-se-ia objetar: por<br />

que algumas pessoas raciocinam e<br />

não chegam a essas conclusões?<br />

Tal sucede, não em virtude de<br />

uma lógica errada, e sim porque se<br />

acham de má fé e rejeitam a influência<br />

da graça divina que as iluminaria<br />

para chegarem às conclusões acertadas.<br />

No fundo, julgam penoso admitir<br />

que a Igreja Católica é verdadeira,<br />

pois são obrigadas a cumprir uma série<br />

de mandamentos — para elas —<br />

desagradáveis. Portanto, não crêem<br />

porque não querem mudar de vida.<br />

Ora, para se provar a existência de<br />

Deus e a divindade da Igreja Católica,<br />

bastaria considerar o universo.<br />

A ordem humana<br />

necessita de uma<br />

Igreja infalível<br />

A esse propósito, recordo-me de<br />

quando era menino, e ouvia pessoas<br />

comentarem ao contemplar um céu<br />

estrelado: “Que coisa linda! Vejam<br />

como tudo está bem organizado!”,<br />

etc. E na medida que era possível<br />

ao intelecto de uma criança formular<br />

considerações dessa natureza, no<br />

meu espírito infantil vinha o seguinte<br />

pensamento: “Essa ordem no firmamento<br />

é realmente bela; mas, neste<br />

nosso mundo, onde está a organização?<br />

Em geral, cada pessoa se acha<br />

em desacordo com outra. E se, de fato,<br />

salvo nas vias da graça, não se consegue<br />

convencer ninguém a praticar<br />

a virtude, como explicar que tudo no<br />

universo foi feito maravilhosamente,<br />

mas o elemento central dele, que é o<br />

homem, esteja em desordem?”<br />

Imaginemos um quadro pintado<br />

de modo primoroso, que pretende<br />

representar uma linda fisionomia,<br />

a qual entretanto possui o nariz em<br />

forma de batata. Ora, se o centro do<br />

rosto são o nariz e os olhos, aquela<br />

deformidade acaba desqualificando<br />

o artista. Assim, se no elemento central<br />

da criação visível há desordens,<br />

como vou me extasiar com a ordem<br />

existente no firmamento? Eu me arrasto<br />

no caos interno das minhas impressões,<br />

volições, dos meus pensamentos,<br />

e a ordem está posta lá no<br />

alto, nas estrelas?<br />

Seria como se eu mostrasse a uma<br />

pessoa faminta, maltrapilha, um palácio<br />

todo iluminado e lhe dissesse:<br />

“Ali se realiza um magnífico banquete<br />

que você deve admirar”. A resposta<br />

dela viria imediata: “Como assim?!<br />

Estou morrendo de fome, e você<br />

quer que eu admire um banquete<br />

do qual não posso participar?”<br />

G. Kralj<br />

Quer dizer, é um contra-senso.<br />

Portanto, ou o Criador concebeu algo<br />

para pôr em ordem a mente e a alma<br />

do homem, sua obra-prima, centro<br />

de todo o universo, ou Ele deixou<br />

ali uma “batata”, o que seria absurdo<br />

admitir.<br />

A solução nos aparece com a Igreja<br />

infalível, fundada por Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo, que ordena a alma<br />

e o pensamento humanos. Desde São<br />

Pedro até o Papa reinante, há uma linhagem<br />

de pontífices que ensina infalivelmente<br />

a verdade. Não apenas<br />

quando manifestam a vontade de definir,<br />

mas também através do magistério<br />

ordinário quando, pela continuidade<br />

dos ensinamentos papais,<br />

esta mesma continuidade torna um<br />

ensinamento infalível.<br />

Se acreditarem nessa infalibilidade<br />

da Igreja, todas as pessoas ficam com<br />

22


A Igreja e o Papa<br />

infalível foram<br />

instituídos por<br />

Deus para ordenar<br />

a alma e a mente<br />

do homem<br />

Basílica de São Pedro,<br />

Roma; Papa Gregório II,<br />

Monte Cassino, Itália<br />

suas mentes ordenadas a respeito do<br />

essencial. Esta ordem é superior a todas<br />

as outras, e confirma a supremacia<br />

da obra-prima da criação visível.<br />

O universo não é fechado<br />

Quando tomei conhecimento do<br />

dogma da infalibilidade pontifícia, fiquei<br />

entusiasmado e pensei: “Agora<br />

me sinto como um homem que andava<br />

sobre penhascos, com medo de cair<br />

e, de repente, avisam-lhe que há um<br />

corrimão no qual pode se apoiar. Que<br />

alívio! Posso contemplar o panorama<br />

sem receios e respirar tranqüilamente.<br />

Sinto minha própria falibilidade,<br />

mas a existência de uma instituição<br />

natural e sobrenatural, que desde Jesus<br />

Cristo até nossos dias ensina sempre<br />

a mesma Fé, sem nenhum erro,<br />

dá-me segurança, explica-me tudo.”<br />

Se eu não tivesse fé e, analisando<br />

todas as religiões, notasse que apenas<br />

uma dissesse de si mesma ser infalível,<br />

nela eu acreditaria. Pois esta<br />

é a Santa Igreja Católica Apostólica<br />

Romana. Creio que — para me valer<br />

de uma comparação — o contentamento<br />

de Colombo ao descobrir a<br />

América não é nada perto da alegria<br />

que senti quando encontrei a infalibilidade<br />

pontifícia!<br />

Deus, ao instituir uma Igreja verdadeira,<br />

tinha de fazê-la infalível. A<br />

Igreja Católica é como uma coluna<br />

forte que resiste a todas as investidas.<br />

Interrogando-a, ela emite um som de<br />

bronze e nos dá uma resposta sublime.<br />

Então, nos ajoelhamos, encantados<br />

por termos sido convencidos.<br />

Chegamos, pois, à conclusão de<br />

que o universo não é fechado. Há o<br />

mundo visível e o invisível, os quais<br />

necessariamente se relacionam. Veremos,<br />

noutra oportunidade, como<br />

se efetua esse relacionamento e as<br />

belezas que dele se depreendem. v<br />

R. C. Branco<br />

(Continua em próximo artigo)<br />

(Extraído de conferência em<br />

10/8/1979)<br />

23


“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />

Metamorfoses<br />

do processo<br />

revolucionário<br />

Conforme assevera <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, a Revolução impõe a si mesma<br />

constantes metamorfoses, mudando de feições tanto nas suas grandes<br />

linhas gerais quanto no interior dos seus principais episódios. Tal é o<br />

método ardiloso que ela emprega para distender e esmorecer as reações<br />

que poderiam deter seu avanço ao longo da História.<br />

Que é o processo revolucionário?<br />

“O processo revolucionário é o desenvolvimento, por<br />

etapas, de certas tendências desregradas do homem ocidental<br />

e cristão, e dos erros delas nascidos”. (p. 38).<br />

A cada etapa, um aspecto próprio<br />

Essas tendências e erros são sempre os mesmos?<br />

“Em cada etapa, essas tendências e erros têm um aspecto<br />

próprio. A Revolução vai, pois, se metamorfoseando<br />

ao longo da História.<br />

Essas metamorfoses que se observam nas grandes linhas<br />

gerais da Revolução, se repetem, em ponto menor,<br />

no interior de cada grande episódio dela” (p. 39).<br />

Poderia citar um exemplo?<br />

“O espírito da Revolução Francesa, em sua primeira fase,<br />

usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiástica.<br />

Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.<br />

“Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção<br />

incruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada<br />

e pacífica supressão da Igreja Católica.<br />

“Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de<br />

sangue no Terror” (p. 39).<br />

Entre reveses e sucessos, até<br />

o paroxismo de hoje<br />

Mas houve retrocessos durante a Revolução Francesa...<br />

“Os excessos praticados pela facção jacobina despertaram<br />

reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas<br />

etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório;<br />

com Napoleão estendeu a mão à Igreja e abriu as<br />

portas à nobreza exilada, e, por fim, aplaudiu a volta dos<br />

Bourbons” (p. 39).<br />

Como continuou o processo revolucionário após a Revolução<br />

Francesa?<br />

“Terminada a Revolução Francesa, não termina com<br />

isto o processo revolucionário. Ei-lo que torna a explodir<br />

com a queda de Carlos X e a ascensão de Luís Felipe,<br />

e assim por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus<br />

sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo<br />

de nossos dias” (p. 39).<br />

24


G. Kralj<br />

Atingir sangrentos excessos e em seguida retroceder a uma plácida existência burguesa;<br />

extinguir a monarquia e depois aplaudir o retorno dos Bourbons — os vaivéns da Revolução<br />

Francesa são exemplos característicos das metamorfoses do processo revolucionário<br />

Carlos X, Rei da França – Museu Metropolitan de Nova York<br />

Tática para adormecer as reações<br />

Por que a Revolução utiliza metamorfoses?<br />

“A Revolução usa (...) suas metamorfoses não só para<br />

avançar, como também para operar os recuos táticos que<br />

tão freqüentemente lhe têm sido necessários” (p. 40).<br />

Como explicar que em certas ocasiões a Revolução parece<br />

não existir?<br />

“Por vezes, movimento sempre vivo, ela tem simulado<br />

estar morta. E é esta uma de suas metamorfoses<br />

mais interessantes. Na aparência, a situação<br />

de um determinado país se apresenta como inteiramente<br />

tranqüila. A reação contra-revolucionária<br />

se distende e adormece. Mas, nas profundidades<br />

da vida religiosa, cultural, social, ou econômica,<br />

a fermentação revolucionária vai sempre ganhando<br />

terreno. E, ao cabo desse aparente interstício,<br />

explode uma convulsão inesperada, freqüentemente<br />

maior que as anteriores” ( p. 40) 1 . v<br />

1) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora<br />

Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />

25


O Sa n t o d o m ê s<br />

Nossa Senhora,<br />

Mãe da<br />

Divina Providência<br />

O amor de Nossa Senhora pelas almas faz com que a<br />

Divina Providência lhes outorgue, através das mãos d’Ela,<br />

abundantes graças nas mais difíceis situações. Maria é<br />

Mãe de Deus e usa dessa condição para favorecer a cada<br />

um de nós. <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> muito prezava essa antiga invocação<br />

mariana, sob o patrocínio da qual colocou um importante<br />

segmento de sua obra.<br />

N<br />

No mês de novembro 1 celebra-se a festa de<br />

Nossa Senhora Mãe da Divina Providência,<br />

uma das belas invocações com que imploramos<br />

a infatigável assistência de Maria Santíssima.<br />

Razão de nossa confiança<br />

Na verdade, em meio ao nosso peregrinar por esta<br />

terra de exílio, a razão de nossa confiança é a tutela<br />

da Providência Divina, exercida por meio de Nossa<br />

Senhora. Deus provê a cada um de nós em nossas necessidades<br />

espirituais e temporais, a fim de realizarmos<br />

aquilo para o que fomos criados, ou seja, cumprirmos<br />

nossa vocação.<br />

Podemos nos perguntar por que Nossa Senhora é chamada<br />

a Mãe da Divina Providência. Ela o é, não por ter<br />

gerado a Providência Divina, e sim porque, segundo os<br />

desígnios do Altíssimo, está destinada a aplicar maternalmente<br />

os decretos d’Ele. Donde o governo de Deus<br />

sobre nós se fazer com uma plenitude de carinho, de comiseração,<br />

de afeto, que esgota de modo completo tudo<br />

quanto o homem possa imaginar.<br />

O fato de termos uma Mãe que dirige nossa vida espiritual,<br />

nosso apostolado, nossas ações diárias é, pois, o<br />

motivo superior pelo qual confiamos.<br />

Lembro-me de uma bela e expressiva imagem de Nossa<br />

Senhora Mãe da Divina Providência, que foi objeto de<br />

minha veneração na igreja dos barnabitas, na Rua do Catete,<br />

na cidade do Rio de Janeiro. Esses religiosos — oficialmente<br />

conhecidos como Clérigos Regulares de São<br />

Paulo — difundiram essa devoção, incentivados por seu<br />

fundador, Santo Antônio Maria Zaccaria.<br />

26


Pe. Filippo Lovison – Cortesia da Casa Mãe dos Padres Barnabitas, Roma<br />

Nossa Senhora da Divina Providência – Casa Mãe dos Padres Barnabitas, Roma<br />

27


O Sa n t o d o m ê s<br />

Aliás, outro santo, São Caetano de Tienne, contemporâneo<br />

de Santo Antônio Maria Zaccaria, terá sido de certo<br />

modo quem levou mais longe a confiança na Providência<br />

Divina. Com efeito, proibiu aos religiosos da ordem<br />

fundada por ele, que pedissem esmola: quando os teatinos<br />

precisavam de alguma coisa, deveriam ficar na rua,<br />

em atitude de oração a Nossa Senhora, certos de que Ela<br />

os atenderia. Quer dizer, colocavam-se inteiramente nas<br />

mãos da Divina Providência.<br />

Sublime misericórdia do amor materno<br />

Gostaria de chamar a atenção para o significado da<br />

palavra “mãe” e o alcance concreto que ela possui na<br />

questão da confiança.<br />

Aquilo que sempre tornou sublime os laços entre a mãe<br />

autêntica e seu filho reside no fato de que ela, por sua natureza<br />

retamente desenvolvida, é levada a ter uma forma<br />

de dedicação à sua prole que nem o pai possui. Este, mesmo<br />

que seja ótimo, conserva em relação ao filho uma espécie<br />

de austeridade, pois representa de modo mais vigoroso<br />

certos princípios como a justiça, a ordem, a força,<br />

etc., mais próprio do elemento punitivo do casal.<br />

Já o característico da mãe é demonstrar uma forma de<br />

carinho tal pelo filho que, mesmo nas ocasiões em que se<br />

impõe a ela admoestar o seu rebento, ela o faz mais suave<br />

e lentamente. Pelo contrário, é mais rápida em perdoar,<br />

em condescender, em esquecer, porque representa quase<br />

que só a misericórdia.<br />

Na mãe, o traço de justiça se acha um tanto diluído,<br />

segundo a ordem natural das coisas, enquanto que o da<br />

indulgência é levado o mais longe possível. Daí haver, aliás,<br />

o perigo de o amor materno ocasionar alguma moleza,<br />

frouxidão, de tal maneira que, se não existisse o contraponto<br />

da figura paterna, a educação dada pela mãe,<br />

em numerosos casos, seria insuficiente.<br />

O genuíno amor materno ama o filho porque é filho,<br />

ainda que este seja ruim; sobrepuja tudo e se vincula por<br />

misericórdia ao fruto de suas entranhas. Razão pela qual,<br />

todos têm em relação ao amor materno certas condescendências<br />

excepcionais, sabendo que ele pode atingir o<br />

mais alto grau de sublimidade.<br />

Inimaginável ternura que<br />

regenera e santifica<br />

Isto que diz respeito às mães terrenas, com maior propriedade<br />

se aplica a Nossa Senhora, exceto o perigo de<br />

demonstrar fraqueza e debilidade, que n’Ela não existem.<br />

Sua ternura para conosco é levada ao inimaginável,<br />

sem nenhuma cumplicidade com nossos defeitos. Compaixão,<br />

sim; complacência, não. Sem embargo do quê,<br />

G. Kralj<br />

Por sua natureza<br />

retamente<br />

desenvolvida, a<br />

mãe genuína tem<br />

para com seu filho<br />

uma dedicação<br />

incomparável,<br />

afeita à<br />

misericórdia e ao<br />

carinho extremos<br />

Marquesas de Peze e<br />

de Rouget com seus<br />

filhos – Galeria Nacional<br />

de Washington<br />

28


O amor materno de Nossa<br />

Senhora possui força<br />

regeneradora capaz de<br />

elevar e santificar uma<br />

alma, mesmo aquela mais<br />

alquebrada por<br />

suas misérias<br />

A consideração dessas verdades me leva a<br />

insistir num ponto que nunca me canso de salientar:<br />

confiemos, confiemos e confiemos a<br />

todo instante em Nossa Senhora, lembrando-nos<br />

sempre de sua extrema meiguice para<br />

conosco, de sua compaixão para com as<br />

misérias de cada um de nós. Tenhamos presente<br />

que, na Salve Rainha, Nossa Senhora<br />

é chamada “Mãe de misericórdia”, e que o<br />

Lembrai-vos acentua a bondade d’Ela para<br />

com o pecador arrependido.<br />

Não receio parecer repetitivo ao renovar<br />

essas recomendações, pois uma vida<br />

espiritual que não as contemple acaba<br />

se extraviando. Sem nos compenetrarmos<br />

da misericórdia de Maria Santíssima,<br />

nada de bom faremos. Cultivando-a, nossa alma<br />

se cumula de confiança, de alegria e de ânimo. Tendo<br />

a Mãe da Divina Providência como nossa própria<br />

Mãe, nada nos deve abater. Ela tudo resolverá se,<br />

confiantes, implorarmos seu maternal socorro. v<br />

1) Em muitas paróquias do Brasil essa festa é celebrada no dia<br />

11 de novembro; em outros países, no dia 19 do mesmo mês.<br />

Nossa Senhora Sede da<br />

Sabedoria, São Paulo<br />

segundo São Luís Grignion de Montfort, Maria Santíssima<br />

ama a cada um de nós mais do que todas as mães<br />

existentes no mundo amariam, juntas, um filho único. Isso<br />

diz respeito tanto a nós quanto a qualquer ímpio.<br />

Nossa Senhora é Mãe da graça, e o amor d’Ela a um<br />

indivíduo ruim não consiste em fechar os olhos para sua<br />

maldade, mas em obter-lhe de Deus favores seletíssimos<br />

para que ele possa se arrepender e se emendar. Quer<br />

dizer, o amor materno de Maria tem força regeneradora<br />

para elevar e santificar uma alma; Ela é a Medianeira<br />

das graças necessárias para a justificação<br />

daquele a quem Ela ama. Por causa disso, sua misericórdia<br />

nunca é susceptível de uma condescendência<br />

errada, embora sua contemporização vá mais<br />

longe do que a de qualquer mãe terrena.<br />

T. Ring<br />

Confiar em Maria, sem<br />

desanimar jamais<br />

29


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

Percepção<br />

do sobrenatural<br />

Fotos: G. Kralj<br />

30


Assim como as pessoas manifestam<br />

diferentes graus de<br />

facilidade para praticar determinada<br />

virtude, assim certas almas<br />

demonstram particular desembaraço<br />

para se abstraírem da consideração<br />

do meramente visível e se<br />

elevarem na contemplação das belezas<br />

espirituais.<br />

Agora, penso haver outro gênero<br />

de indivíduos que possuem certa facilidade,<br />

não tanto para a pura abstração,<br />

mas para uma percepção, a<br />

partir de um fato concreto, de algo<br />

que este fato envolve e que sugere a<br />

idéia de uma outra vida, de outra ordem<br />

de coisas onde tudo se passa de<br />

maneira diversa e satisfaz as mais altas<br />

aspirações da alma humana.<br />

Nesse sentido, sempre me chamaram<br />

a atenção as telas de um pintor<br />

francês que, após percorrer alguns<br />

ateliers de mestres europeus, mudouse<br />

para Roma e ali permaneceu até<br />

o fim dos seus dias. Como nascera<br />

na Lorena, chamavam-no de Cláudio,<br />

o Loreno. Claude Lorrain 1 , em<br />

francês. Alguns críticos o têm pelo<br />

primeiro artista a se especializar<br />

em retratar a luz nas suas obras. De<br />

maneira tal que, a fim de realçar o<br />

elemento luminoso, ele também se<br />

aprimorou em pintar paisagens marítimas,<br />

nas quais as águas do oceano<br />

desempenham seu papel ímpar como<br />

espelho para o sol. Este, de acordo<br />

com o desejo do pintor, nasce ou<br />

se põe muito distante no horizonte,<br />

deitando fulgores sobre uma série de<br />

aspectos panorâmicos. Por exemplo,<br />

um litoral com fortalezas, com árvores,<br />

com palácios, ou um porto com<br />

navios em posições diversas, além<br />

Saída dos pincéis de Lorrain,<br />

uma luz difusa que confere<br />

aspecto paradisíaco às suas<br />

paisagens terrenas<br />

Paisagem campestre, por Claude<br />

Lorrain – Galeria Nacional<br />

de Ottawa (Canadá)<br />

31


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

de personagens que se movimentam<br />

nas praias.<br />

E Claude Lorrain soube pintar<br />

a luz do sol banhando todos esses<br />

componentes da paisagem imaginada<br />

por ele, sobretudo fazendo<br />

essa luz se difundir através de uma<br />

certa névoa que às vezes cobre a<br />

atmosfera à beira-mar. Tão tênue<br />

que parece uma poeirazinha vagando<br />

por toda parte e em parte alguma,<br />

retendo a luz; um pó dourado,<br />

com graus diferentes de intensidade,<br />

que paira sobre a água e todo<br />

o panorama.<br />

32


Entretanto, o melhor de Lorrain está<br />

no fato de ele pintar tudo de uma<br />

terra concebida como se fosse um paraíso<br />

terrestre. Quer dizer, a luz saída de<br />

sua palheta confere um aspecto paradisíaco<br />

ao mundo, à vida terrena e, nessa<br />

perspectiva, desperta no homem um<br />

certo desejo de uma ordem de coisas<br />

que esteja acima desta palpável e temporal<br />

que encontramos todos os dias.<br />

Na verdade, assim como Fra Angélico<br />

soube dar uma impressão de<br />

sobrenatural nas faces de suas personagens,<br />

assim Claude Lorrain transmitiu<br />

algo de celestial nas suas obras.<br />

Paisagem marítima,<br />

por Claude Lorrain –<br />

Museu Metropolitan<br />

de Nova York<br />

33


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

Compreendia ele o aspecto paradisíaco<br />

que uma coisa pode ter,<br />

e possuía essa forma de percepção<br />

do sobrenatural, do extra-terreno,<br />

por onde seus quadros acabam<br />

remetendo nosso espírito para<br />

o Céu.<br />

Há nas pinturas de Lorrain um<br />

imponderável que leva o homem a<br />

dizer: “Sim, existe em algum lugar<br />

uma realidade que transcende a essa<br />

vida terrena, que não se confunde<br />

com ela e sem a qual nada deste<br />

mundo se explica. Não se trata de algo<br />

que meu tato possa pegar, mas de<br />

que minha alma é sedenta. Sem essa<br />

ordem superior — insinuada de modo<br />

tão atraente nas pinturas de um<br />

gênio que soube percebê-la — o universo<br />

seria uma coisa truncada, errada,<br />

e eu seria um louco.<br />

“Ora, não sou louco. Logo, essa<br />

ordem superior existe.” v<br />

(Extraído de conferência<br />

em 10/2/1970)<br />

1) De seu verdadeiro nome Claude Gellée,<br />

nasceu na cidade de Chamagne,<br />

na Lorena, França. Ficou órfão aos<br />

12 anos e, devido a esse fato, mudouse<br />

para Friburgo, onde imediatamente<br />

entrou em contato com grandes artistas.<br />

Durante sua formação, viajou para<br />

a Itália, fixando-se em Roma, onde<br />

trabalhou com consagrados mestres.<br />

No seu regresso à França, consolidouse<br />

como o grande paisagista do barroco<br />

francês. Faleceu em Roma, no dia<br />

23 de novembro de 1682.<br />

34


Adoração dos Magos<br />

(detalhe), por Fra Angélico<br />

e F. Lippi – Galeria<br />

Nacional de Arte de<br />

Washington; na página 34,<br />

A Virgem e o Menino,<br />

por Fra Angélico – Museu<br />

Metropolitan de Nova York<br />

Claude Lorrain soube transmitir algo de celestial em suas<br />

obras, assim como Fra Angélico logrou conferir uma<br />

impressão de sobrenatural nas faces de suas personagens<br />

35


Razão de nossa perseverança<br />

G. Kralj<br />

Se é verdade que devemos<br />

sempre invocar<br />

o maternal auxílio<br />

da Santíssima Virgem,<br />

com maior razão cumpre fazê-lo<br />

em vistas à nossa perseverança<br />

final. Conforme a<br />

súplica que repetimos amiúde<br />

na Ave-Maria, peçamos<br />

a Ela interceda por nós, pobres<br />

pecadores, na hora de<br />

nossa morte, e nos conceda<br />

a graça de sermos fiéis<br />

no último momento de nossa<br />

existência. Ninguém sabe<br />

como são as batalhas interiores,<br />

as tentações derradeiras<br />

que afligem uma alma<br />

prestes a se separar do<br />

corpo. Nesta ocasião, nada<br />

pode nos valer mais do que<br />

o socorro da Mãe de misericórdia,<br />

a razão de nossa perseverança<br />

em meio aos graves<br />

perigos espirituais que<br />

corremos. E ela o é, sobretudo,<br />

no último.<br />

(Extraído de conferência<br />

em 16/2/1971)<br />

36<br />

Virgem com o Menino – Museu<br />

Metropolitan de Nova York

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