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Revista Dr Plinio 120

Março de 2008

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Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>120</strong> Março de 2008<br />

Paixão de Cristo,<br />

confortai-nos!


S. Hollmann<br />

As palavras da<br />

saudação angélica<br />

nos revelam<br />

Nossa Senhora<br />

como o Vaso de Eleição,<br />

o receptáculo sagrado no<br />

qual Deus depositara todas<br />

as perfeições e excelências de<br />

que uma simples criatura<br />

era capaz de conter. Imensa<br />

na ordem da virtude e<br />

da santidade, cheia de<br />

graça, bendita entre todas<br />

as mulheres, com quem<br />

o Senhor estabelecera<br />

maravilhosa união: em seu<br />

imaculado seio fez-se carne o<br />

Verbo de Deus.<br />

(Extraído de conferência<br />

em 25/9/1990)<br />

Anunciação – Museu<br />

Unterlinden, Alsácia (França)<br />

2


Sumário<br />

Publicação Mensal Ano XI - Nº <strong>120</strong> Março de 2008<br />

Ano XI - Nº <strong>120</strong> Março de 2008<br />

Paixão de Cristo,<br />

confortai-nos!<br />

Na capa, Crucifixo –<br />

Coleção particular,<br />

São Paulo<br />

Foto: V. Toniolo<br />

As matérias extraídas<br />

de exposições verbais de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

— designadas por “conferências” —<br />

são adaptadas para a linguagem<br />

escrita, sem revisão do autor<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

<strong>Revista</strong> mensal de cultura católica, de<br />

propriedade da Editora Retornarei Ltda.<br />

CNPJ - 02.389.379/0001-07<br />

INSC. - 115.227.674.110<br />

Diretor:<br />

Antonio Augusto Lisbôa Miranda<br />

Conselho Consultivo:<br />

Antonio Rodrigues Ferreira<br />

Carlos Augusto G. Picanço<br />

Jorge Eduardo G. Koury<br />

Editorial<br />

4 De cruzes em luzes até o triunfo final<br />

Da ta s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />

5 Março de 1939<br />

Louvor ao “Rei Pacífico”<br />

Do n a Lucilia<br />

6 Longas orações ao<br />

Divino Mestre<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />

10 “Carregou nossos pecados<br />

e suportou nossas dores”<br />

Redação e Administração:<br />

Rua Santo Egídio, 418<br />

02461-010 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 2236-1027<br />

E-mail: editora_retornarei@yahoo.com.br<br />

Impressão e acabamento:<br />

Pavagraf Editora Gráfica Ltda.<br />

Rua Barão do Serro Largo, 296<br />

03335-000 S. Paulo - SP<br />

Tel: (11) 6606-2409<br />

16 Calendário dos Santos<br />

Ec o fidelíssimo d a Ig r e j a<br />

18 Preciosos ensinamentos da<br />

Ressurreição<br />

“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />

22 Refutando os “slogans” da Revolução<br />

Preços da<br />

assinatura anual<br />

Comum .............. R$ 85,00<br />

Colaborador . . . . . . . . . . R$ <strong>120</strong>,00<br />

Propulsor ............. R$ 240,00<br />

Grande Propulsor ...... R$ 400,00<br />

Exemplar avulso ....... R$ 11,00<br />

Serviço de Atendimento<br />

ao Assinante<br />

Tel./Fax: (11) 2236-1027<br />

O Sa n t o d o m ê s<br />

24 São José, bem-aventurado<br />

entre os homens<br />

Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

30 Feérico supérfluo<br />

Últ i m a p á g i n a<br />

36 Olhar de insondável desvelo<br />

3


Editorial<br />

De cruzes em<br />

luzes até o triunfo final<br />

N<br />

este ano o Calendário Litúrgico, regido pelo solstício da primavera, antecipou-nos o período da Quaresma,<br />

preparatório para os solenes dias da Semana Santa. Ainda ressoavam os hinos jubilosos com que celebramos<br />

o último Natal, e já os paramentos roxos dos sacerdotes nos convidavam à reflexão e ao dispor<br />

nossas almas para acompanhar a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Amoroso filho da Igreja, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> sempre honrava as datas litúrgicas, repassado de sentimentos de alma peculiares<br />

a cada uma delas. Assim, se o podíamos ver externando inocente alegria por ocasião do Nascimento do Filho<br />

de Deus, ou não menos expressiva felicidade pela gloriosa Ressurreição do Senhor, o víamos também particularmente<br />

sério e meditativo durante os dias em que recordamos os atrozes sofrimentos de Jesus. Padecimentos que<br />

lhe inspiravam graves e belas considerações, algumas das quais temos reproduzido nestas páginas.<br />

Tocava-lhe, de modo especial, o contemplar a figura da Co-redentora, Maria Santíssima, sofrendo junto com<br />

seu divino Filho, transpassada de dor, mas igualmente inabalável em sua confiança no triunfo d’Ele sobre a morte<br />

e o pecado. Numa dessas reflexões, comentava <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>:<br />

“Na hora mais trágica que houve e haverá na história da humanidade, temos o exemplo augusto de alguém que<br />

permaneceu fiel, não se entregou, não fraquejou, não traiu, não recuou, e se manteve de pé como uma tocha de<br />

oração e de esperança — Nossa Senhora.<br />

“Pelas narrações do Evangelho sabemos que, num momento, o sol se toldou em pleno dia, a terra estremeceu, abriram-se<br />

as sepulturas de alguns justos que tinham morrido na Antiga Lei e seus cadáveres se levantaram. Provavelmente,<br />

começaram a percorrer a Cidade Santa no meio das trevas, dos estertores do chão que vacilava, sob o silêncio da natureza<br />

animal aterrorizada e o gemido das pessoas que choravam. Era, no dizer de Bossuet, o Padre Eterno fazendo as<br />

pompas fúnebres de seu Divino Filho.<br />

“Enquanto isso, no alto do Calvário, o horror e o abandono se instalavam junto à Cruz do Redentor. Num dilúvio<br />

de dores, Jesus havia exclamado o seu Consummatum est!. Tudo estava consumado. O Cordeiro já imolado,<br />

exangue. Nada mais havia a oferecer do seu sacrifício. Estava morto. Diante dos homens restava apenas — para<br />

me servir novamente da expressão de Bossuet — um Deus quebrado, roto, aniquilado”. Nesta hora o bom ladrão se<br />

preparava para deixar a Terra. O centurião que ferira o lado de Nosso Senhor, golpeava-se no peito. Algumas pessoas<br />

recolhidas a um canto do Gólgota choravam.<br />

“Porém, a alegria não desertara de uma alma! A alma mais inconforme com todo aquele horrível espetáculo de<br />

dor, a alma que a tanta injustiça mais repudiava, que ao mal mais odiava, a alma que mais amava o Salvador morto,<br />

mais esperava, mais certeza possuía: a certeza de todas as certezas! Imbuída de uma fé superior a toda fé que haveria<br />

no mundo até o fim dos tempos. Era a alma celestialmente inconformada de Nossa Senhora: Stabat Mater dolorosa,<br />

juxta crucem lacrimosa.<br />

“Junto à Cruz, dolorosa, stabat! — que em latim não significava apenas ‘estar ali’, mas quer dizer que estava de<br />

pé. Mantinha-se erguida, em toda a força de seu corpo e de sua alma, com os olhos inundados de lágrimas, mas o<br />

coração inundado de luz.<br />

“Naquele instante, Nossa Senhora tinha a certeza de que, após a grande tragédia, depois do abandono geral,<br />

raiaria a aurora da Ressurreição. Surgiria a aurora da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, nimbada de glória<br />

a partir de Pentecostes. E de cruzes em luzes, de luzes em cruzes, o mundo chegaria até o momento bendito que<br />

em Fátima Ela prenunciou: Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!”<br />

(Extraído de conferência em 16/7/1971)<br />

Dec l a r a ç ã o: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

4


Data s n a v i d a d e u m c r u z a d o<br />

Março de 1939<br />

Louvor ao “Rei Pacífico”<br />

Sua Santidade o Papa Pio XII foi coroado em<br />

12 de março de 1939, num contexto mundial<br />

marcado por trágicas circunstâncias. O espectro<br />

da Segunda Grande Guerra assombrava os<br />

horizontes europeus; tropas se movimentavam, e o<br />

exército de Hitler invadira a Tchecoslováquia. Poucos<br />

meses depois, em setembro, seria a vez da Polônia,<br />

desencadeando o universal confronto.<br />

Em meio a essa grave conjuntura, pois, <strong>Dr</strong>.<br />

<strong>Plinio</strong> assim comentava, nas páginas do “Legionário”,<br />

o jubiloso coroamento do Papa Paccelli:<br />

No dia em que se desenrolam em Roma as cerimônias<br />

faustosas da coroação do novo Pontífice,<br />

deve ser grato aos corações católicos meditar<br />

atentamente as circunstâncias dentro das quais essa<br />

solenidade se realiza. (...)<br />

Os novos césares, como o exige a natureza das<br />

doutrinas que pregam, sentem a necessidade de<br />

confirmar sua autoridade com os sinais exteriores<br />

do poder, desenvolvidos através de imponentes cerimônias<br />

cívicas. E, com isso, todo um cerimonial<br />

político renasce em nossos dias, que bem poderia<br />

ser chamado a liturgia faustosa dos novos ídolos<br />

que as massas levantam acima de si mesmas, para<br />

lhes prestar adoração.<br />

Interessante é notar, a esse propósito, o ambiente<br />

que cerca essa nova e estranha liturgia política. Duas<br />

notas a caracterizam: força e domínio. Atente-se para<br />

uma cerimônia nazista. Em algum imenso estádio<br />

da Alemanha, comprime-se uma multidão incontável,<br />

que se torna cada vez mais densa porque os ônibus<br />

e os trens despejam ondas humanas sempre mais<br />

numerosas. Para encher o tempo, inúmeros alto-falantes<br />

transmitem a voz de um locutor. Do que fala<br />

ele? Da luta do partido nazista, de suas vitórias passadas,<br />

dos inimigos que esmagou, esmaga e esmagará.<br />

Quando, ao cabo de uma longa série de injúrias<br />

e de ameaças, o locutor se cala para tomar fôlego,<br />

a multidão entoa cânticos guerreiros. Refletores<br />

deslumbrantes erguem para o céu colunas verticais.<br />

Uma tribuna imensa, composta de blocos graníticos<br />

pesados e brutais, se ergue no centro de tudo isso. De<br />

repente, estrugem gritos e urros de entusiasmo. É o<br />

“führer” que chega. As canções guerreiras redobram.<br />

Os canhões estrugem. A multidão ulula como um<br />

mar enfurecido. O “führer” começa a falar.(...)<br />

Enquanto isso, morre para o mundo e nasce placidamente<br />

para o Céu o Papa Pio XI. Sua morte não<br />

é anunciada pelo troar dos canhões, mas pelo som<br />

paternal e suave dos sinos de São Pedro, que repercutem<br />

de campanário em campanário, até os extremos<br />

da China ou da Groenlândia. Nenhum Departamento<br />

de Propaganda engaiola as multidões para<br />

levá-las à força para Roma. Mas Roma se enche de<br />

uma multidão que faria babar de inveja o Ministério<br />

da Propaganda da Alemanha, e muitas repartições<br />

congêneres de outros países. Não há desfiles marciais<br />

de soldados, nem desenrolar de tropas agressivas.<br />

Apenas a “gendarmerie” pontifícia, que contém e policia<br />

paternalmente a multidão pacífica e enlutada.<br />

Anuncia-se, depois, o novo Papa. Uma multidão<br />

aguarda seu nome. Outras multidões afluem<br />

de todas as ruas e de todos os becos de Roma, para<br />

saber quem foi o eleito. Todo o mundo aplaude.<br />

Mas, ainda aí, não há outro eco senão o das<br />

sonoras e musicais trombetas de prata dos arautos,<br />

as harmonias graves dos sinos da Cidade Eterna,<br />

e os “ vivas” da multidão. Não, o Vaticano não<br />

é a caserna em que o gado humano é arregimentado<br />

para a carnificina, mas a casa suntuosa, porém<br />

acolhedora, do Pai comum, que é o lar espiritual<br />

de todos os povos da Terra, que ali ombreiam uns<br />

com os outros, numa alegria despreocupada e pacífica,<br />

de que só o Vaticano, hoje em dia, é teatro.<br />

Finalmente, anuncia-se a coroação do Papa. Nenhuma<br />

cerimônia, no mundo inteiro, é mais majestosa.<br />

Nenhuma, porém, é ao mesmo tempo mais pacífica,<br />

mais serena, mais familiar. O povo não treme<br />

diante de um ídolo, mas delira de contentamento<br />

diante de um Pai. O povo não se ajoelha diante de um<br />

algoz, mas beija reverente os pés daquele que é uma<br />

branca e suave figura. E na majestade de seu porte, a<br />

Santidade e a Majestade suprema do Criador.<br />

E, no menor Estado do mundo, que é o Vaticano,<br />

uma das maiores multidões que a Itália — mesmo<br />

a fascista — tenha jamais contemplado, celebra,<br />

à sombra do Vigário de Cristo, ao mesmo tempo<br />

a mais pacífica e a mais jubilosa das cerimônias<br />

deste sinistro século de lutas e de guerras. v<br />

(Extraído do “Legionário”,<br />

nº 339, de 12/3/1939)<br />

5


Do n a Lucilia<br />

Longas orações<br />

ao Divino Mestre<br />

Das preces recitadas<br />

na Sexta-Feira Santa,<br />

em sua mocidade, até<br />

as demoradas orações<br />

junto à imagem do<br />

Coração de Jesus,<br />

quando já respeitável<br />

anciã, Dona Lucília<br />

dedicou-se cada vez<br />

mais à vida interior,<br />

cultivando-a com<br />

maior intensidade<br />

nos últimos anos<br />

de sua existência.<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nunca se<br />

esqueceria daqueles<br />

momentos em que,<br />

hora avançada da<br />

noite, ele retornava<br />

a casa e encontrava<br />

sua extremosa mãe<br />

de pé, o terço na mão,<br />

“conversando” com<br />

Nosso Senhor...<br />

6


Sem descurar das suas práticas<br />

de piedade diárias, mamãe<br />

sempre cuidou dos afazeres<br />

domésticos com todo o zelo característico<br />

de uma esmerada dona de casa.<br />

Até os seus 75 anos, mais ou menos,<br />

ela procurava estar ao par das<br />

diversas necessidades e providências<br />

que o quotidiano no lar exigiam.<br />

Assim, podia-se vê-la percorrendo<br />

os cômodos, indo e vindo, supervisionando<br />

o trabalho de limpeza feito<br />

pela faxineira, ou o da lavadeira, o<br />

da cozinheira, etc.<br />

Mais tempo dedicado<br />

à oração<br />

Com o passar dos anos, porém,<br />

percebi que ela diminuía o ritmo<br />

nos cuidados da casa — sem que<br />

isso significasse relaxamentos — e<br />

dedicava mais tempo às suas orações.<br />

Antes, ela reservava as horas<br />

noturnas para rezar, e por volta da<br />

meia-noite já estava deitada, com o<br />

terço na mão, entremeando as últimas<br />

ave-marias com o sono. Diversas<br />

vezes a encontrei nessa<br />

atitude, quando eu retornava<br />

a casa depois do<br />

meu dia de trabalho e<br />

apostolado.<br />

E ela mudou esse hábito.<br />

Lembro-me que<br />

por essa época morávamos<br />

no 4º andar de um<br />

prédio da Rua Vieira de<br />

Carvalho, onde também funcionava,<br />

no 6º andar, a sede<br />

principal do nosso movimento.<br />

Em frente ao edifício havia o<br />

bom restaurante Fasano, e acabou<br />

se estabelecendo o costume<br />

de, após nossas reuniões<br />

diárias, tomarmos ali um lanche,<br />

um sorvete, etc. Ocupávamos<br />

sempre alguma mesa próxima à<br />

calçada, da qual me era dado ver<br />

a janela do apartamento de mamãe,<br />

e ela, por sua vez, podia nos<br />

observar lá do alto.<br />

Imagem do Coração<br />

de Jesus diante da<br />

qual Dona Lucilia<br />

costumava rezar;<br />

na página 6, ela<br />

aos 90 anos<br />

Fotos: Arquivo revista / M. Shinoda<br />

7


Do n a Lucilia<br />

Invariavelmente Dª Lucilia se<br />

postava na janela, e acompanhava<br />

nossos movimentos no outro lado da<br />

rua. Como sói acontecer entre brasileiros,<br />

com freqüência as despedidas<br />

se prolongavam em palavrinhas<br />

e comentários na calçada, numa forma<br />

de aproveitar o máximo possível<br />

o convívio. De modo instintivo, vez<br />

ou outra eu corria o olhar pelo prédio<br />

em frente e via que mamãe ainda<br />

estava lá, com seus cabelos inteiramente<br />

brancos iluminados pelas<br />

luzes da rua, a silhueta emoldurada<br />

pelo caixilho da janela. Observando,<br />

analisando, rezando...<br />

Afinal encerrávamos a prosa. Eu<br />

subia para me despedir dela, antes<br />

de ir dormir no 6º andar. Depois de<br />

nos separarmos, acredito que Dª Lucilia<br />

ainda rezava, talvez<br />

já deitada, um rosário ou<br />

mais.<br />

“Conversas” com<br />

Nosso Senhor<br />

Quando o tempo foi<br />

correndo, as orações se intensificaram<br />

madrugada adentro. De maneira<br />

que, já no apartamento da Rua<br />

Alagoas, voltando eu cada vez mais<br />

tarde dos compromissos apostólicos,<br />

achava-a de pé, com o porte ereto<br />

que ela sempre conservou, bem junto<br />

à imagem do Sagrado Coração de<br />

Jesus que havia no salão da casa.<br />

Não a encontrava rezando propriamente<br />

o rosário, embora ela<br />

trouxesse o terço à mão. Tinha-se a<br />

impressão de que ela “conversava”<br />

com a imagem: os lábios dela próximos<br />

ao peito de Nosso Senhor, e os<br />

dedos pousados sobre o sagrado coração.<br />

Em determinado momento,<br />

deslocava-os para os pés da imagem,<br />

imprimindo maior ou menor fervor<br />

nesses movimentos, conforme intenções<br />

mais ou menos prementes que<br />

ela tivesse. Não era difícil de compreender<br />

que as orações de máximo<br />

empenho eram aquelas ditas com os<br />

dedos postos no Coração de Jesus.<br />

Outro detalhe curioso: ela não rezava<br />

de lábios cerrados. Articulava-os,<br />

sem pronunciar som algum, do mesmo<br />

modo que o faria quem falasse<br />

com Nosso Senhor.<br />

Assim que eu chegava, cumprimentava-a,<br />

conversávamos um pouco<br />

e tentava levá-la a dormir. Às vezes<br />

conseguia, porque Dª Lucilia se<br />

deixava conduzir no agrado da prosa<br />

e quando dava acordo de si já estava<br />

no quarto. Noutras ocasiões, entretanto,<br />

ela me dizia:<br />

— Filhão, espere um instante. Vá<br />

adiantando suas coisas, e eu irei daqui<br />

a alguns minutos.<br />

Deixava-a no salão, preparava-me<br />

para deitar, e voltava:<br />

— Mãezinha, agora chegou a hora<br />

de dormir.<br />

E ainda acontecia de, vez ou outra,<br />

quando eu retornava para essa<br />

“segunda chamada”, trocarmos<br />

um dedo de prosa junto à imagem<br />

do Coração de Jesus. Então meu pai<br />

aparecia, vestido de robe de chambre,<br />

abria os braços e dizia: “Senhora,<br />

são quatro horas da manhã!”.<br />

Mamãe lhe dava uma resposta amável,<br />

mas sem se importar muito com<br />

o aviso...<br />

Preces na Sextafeira<br />

Santa<br />

Qual era o teor dessas<br />

longas “conversas” com o<br />

Sagrado Coração de Jesus?<br />

Nunca perguntei a ela, e Dª Lucilia<br />

nunca me deu a entender. Creio<br />

bem que eram orações pelos familiares<br />

dela, assim como a manifestação<br />

de outras cogitações, anelos, preocupações,<br />

tudo devidamente pensado e<br />

maturado. Pois nela todas as coisas<br />

eram muito refletidas e ponderadas.<br />

Essa meticulosidade se notava,<br />

por exemplo, nas preces que ela<br />

recitava às três horas da tarde na<br />

Sexta-Feira Santa. Tornaram-se<br />

mesmo um costume célebre na família,<br />

e todos os parentes que podiam,<br />

reuniam-se junto com mamãe,<br />

em casa dela, para rezar nessa<br />

ocasião.<br />

Ela herdou do pai um pequeno<br />

Crucifixo, provavelmente originário<br />

de uma estação da Via Sacra,<br />

porque trazia inscrito sobre ele o<br />

número XII romano. Quando meu<br />

avô morreu, Dª Lucilia levou esse<br />

crucifixo para sua casa, e já na pri-<br />

8


Nas demoradas<br />

“conversas” com o<br />

Coração de Jesus,<br />

orações pelos familiares<br />

e a expressão de anelos<br />

e outras cogitações,<br />

tudo muito bem<br />

pensado e maturado<br />

J. S. Dias<br />

Dona Lucilia aos 92 anos; na<br />

página 8, Crucifixo aos pés<br />

do qual ela recitava as preces<br />

da Sexta-Feira Santa<br />

meira Sexta-Feira Santa após o falecimento<br />

do pai, os familiares ali<br />

se encontraram para honrarem a<br />

Paixão de Nosso Senhor, diante<br />

daquele Crucifixo.<br />

Chamava a atenção o cuidado com<br />

que mamãe preparava tudo para esse<br />

momento. Sobre uma mesa, ao lado<br />

da simbólica imagem do Crucificado,<br />

ela dispunha um castiçal que lhe<br />

fora presenteado por ocasião do seu<br />

casamento: mandava comprar papel<br />

de seda com o qual preenchia o vácuo<br />

entre a vela e a base do candelabro,<br />

recortava-o de maneira a darlhe<br />

um contorno bonito em forma de<br />

pétala de flor, etc. Preparativos estes<br />

que ela fazia bem antes das três horas<br />

da tarde.<br />

Quando faltavam alguns minutos,<br />

ela se dirigia ao lugar das orações,<br />

seguida por todos os parentes que<br />

a acompanhariam naquele dever de<br />

piedade. Às três horas em ponto Dª<br />

Lucilia puxava as orações, iniciando<br />

pela Ladainha do Sagrado Coração<br />

de Jesus, a Ladainha de Nossa Senhora,<br />

uma prece pelas almas dos familiares<br />

mortos, e na seqüência diversas<br />

outras orações, entremeadas<br />

por algumas que ela recitava em silêncio,<br />

sob o olhar respeitoso dos demais.<br />

Se alguma pessoa, sobretudo mais<br />

velha, dava indícios de cansaço ou incômodo<br />

por estar muito tempo ajoelhada,<br />

mamãe pedia a um mais moço<br />

que apanhasse almofadas e oferecesse<br />

a quem desejasse. Ninguém, contudo,<br />

ousava se retirar antes do término<br />

daquela íntima cerimônia de<br />

Sexta-Feira Santa.<br />

Uma vez encerradas as orações,<br />

os salões da casa já estavam abertos<br />

à espera dos visitantes para alguns<br />

minutos de convívio, rodas de<br />

conversa, etc. Não muito tempo depois<br />

todos se retiravam, e o ambiente<br />

da casa imergia no recolhimento<br />

próprio à data celebrada. A vela permanecia<br />

acesa até se extinguir completamente,<br />

e o Crucifixo continuava<br />

exposto ao longo de todo o dia.<br />

No Sábado Santo, mamãe tomava<br />

o resto do papel de seda que não<br />

fora usado, embrulhava o Crucifixo<br />

e o depositava numa gaveta, onde<br />

ele ficaria guardado até o ano seguinte.<br />

v<br />

(Transcrito de conferência<br />

em 19/6/1982)<br />

9


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />

“Carregou nossos<br />

pecados e suportou<br />

nossas dores”<br />

Os comovedores acentos<br />

de um cântico que recorda<br />

as dores de Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo durante sua<br />

Paixão, oferece a <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

a oportunidade de meditar<br />

na infinita misericórdia do<br />

Divino Redentor ao<br />

abraçar a cruz e se entregar<br />

à morte para redimir os<br />

homens e lhes abrir<br />

as portas do Céu.<br />

Entre os belos e tocantes cânticos que a piedade<br />

católica engendrou para honrar a Paixão e Morte<br />

de Nosso Senhor Jesus Cristo está o Ecce vidimus,<br />

que evoca os atrozes desfiguramentos que as injúrias<br />

físicas provocaram na pessoa do Divino Redentor.<br />

“Eis que O vimos sem formosura”<br />

O texto dessa música, retirado do Profeta Isaías (53,<br />

4-5), nos sugere a idéia desses padecimentos, e assim diz:<br />

10


Eis que O vimos disforme e sem formosura. Ele está irreconhecível.<br />

Carregou nossos pecados e sofreu por nós. Está<br />

ferido por causa de nossas iniqüidades. Somos curados<br />

em virtude de suas chagas. Na verdade, Ele carregou<br />

nossas fraquezas e suportou nossas dores.<br />

Trecho em extremo significativo, pois<br />

é uma apóstrofe ao ilogismo e à contradição<br />

do que se abateu sobre<br />

Nosso Senhor.<br />

De fato, não<br />

podemos sequer<br />

imaginar<br />

a extraordinária<br />

formosura<br />

do Filho de<br />

Deus, toda<br />

a beleza do seu corpo e de sua face sagrada. Sem dúvida,<br />

o conjunto dos princípios da estética do universo estavam<br />

condensados no semblante de Jesus. E quem fala da<br />

face, deve pensar no olhar. O olhar divino d’Ele, espelho<br />

da alma, certamente ainda mais esplendorosa que o corpo.<br />

Só esse olhar seria suficiente para encantar os anjos<br />

por toda a eternidade.<br />

Além disso, devemos pensar em Nosso Senhor caminhando,<br />

com movimentos repassados de graciosidade,<br />

nobreza no andar, distinção no porte, sobriedade de maneiras,<br />

e sua infinita bondade se irradiando a todo momento<br />

de modo incomparável.<br />

Que dizer então da voz do Divino Mestre dirigindose<br />

ao povo que O seguia? Quem pode conceber a variação<br />

dos timbres, a capacidade de expressão e de santa sedução<br />

que Ele imprimia em suas frases? Terá sido o som<br />

mais cativante que foi dado ao homem ouvir, desde o começo<br />

até o fim do mundo.<br />

Ora, diz o cântico, este que reunia em si toda a beleza<br />

do universo foi visto passar carregando a cruz, palmilhando<br />

a via dos tormentos, disforme e sem formosura.<br />

Todo aquele esplendor fenecera; seus traços maravilhosos<br />

perderam a forma. Tudo desaparecera por força dos<br />

maus tratos, dos flagelos, dos açoites que Lhe arrancaram<br />

pedaços da carne e espalharam seu sangue por todos<br />

os lados. Na aparência externa de Nosso Senhor,<br />

tudo deixara de ser atraente. Ele não era senão uma<br />

imensa chaga sanguinolenta que passava, levando a<br />

cruz às costas.<br />

O mais formoso dos homens com uma aparência de<br />

feiúra: que insondável paradoxo!<br />

Fotos: F. Boulay \ G. Kralj<br />

Aquele que reunia em si<br />

toda a beleza do universo foi<br />

visto passar carregando a<br />

cruz, palmilhando a via dos<br />

tormentos, coberto de chagas,<br />

sua formosura deformada<br />

pelos maus tratos<br />

Jesus cai sob a cruz – Via<br />

Sacra da Igreja de Montmartre,<br />

Montréal (Canadá)<br />

11


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />

Irreconhecível porque<br />

carregou nossos pecados<br />

À vista desse fato inaudito, a letra acrescenta, com<br />

acentos de profunda ternura: Ele está irreconhecível. Carregou<br />

nossos pecados e sofreu por nós.<br />

Ou seja, nada mais lembra a figura do suave Jesus, Filho<br />

de Maria. Ele todo é sangue, ferida, irreconhecível<br />

porque pagou pelos nossos pecados.<br />

Não carregava os pecados d’Ele,<br />

nem sofria por suas faltas. Verbo<br />

gar ao alto do Calvário e ali, crucificado, pronunciar o<br />

consummatum est.<br />

Cumpre a cada um de nós, redimidos por este holocausto,<br />

lembrar-se de que foi o pecado a causa de todo<br />

esse horror padecido por Jesus. Foram minhas fraquezas<br />

e minha maldade que Ele carregou vinte séculos<br />

antes de eu nascer. Naqueles dolorosos momentos<br />

de sua Paixão, Nosso Senhor pensou em mim, conheceu<br />

minha iniqüidade, os lados miseráveis<br />

de meu caráter, e quis sofrer para me<br />

resgatar, pagar o preço de minhas<br />

Encarnado, Jesus era a própria virtude,<br />

não tinha pecados a expiar. Essa<br />

grande vítima, acabrunhada sob o peso de<br />

tantos castigos, era a inocência infinita. E Ele padeceu<br />

nessa proporção desmesurada por causa da enormidade<br />

dos nossos pecados. Pecamos tanto e de tal maneira, que<br />

o Filho de Deus aceitou de oferecer ao Pai Eterno essa<br />

incalculável reparação: transformar-se nessa chaga trágica<br />

e pavorosa, acumulando outros sofrimentos até checulpas<br />

e abrir para mim as portas<br />

do Céu.<br />

Essa verdade deve me tanger de gratidão.<br />

Deve, sobretudo, varar-me de lado a lado de compunção<br />

e de tristeza o pensar que Quem carregou os meus pecados<br />

era a pureza, a santidade, o sacrossanto por excelência,<br />

o Filho de Deus e de Maria Santíssima.<br />

Não há, na capacidade humana, compunção nem intensidade<br />

de adoração, de reconhecimento e de repa-<br />

12


O Divino Redentor pensou<br />

em cada um de nós, conheceu<br />

nossas misérias e quis sofrer<br />

para nos resgatar<br />

Via Sacra – Igreja de Montmartre,<br />

Montréal (Canadá)<br />

ração suficientes para agradecer o<br />

infinito benefício que recebemos do<br />

nosso Salvador.<br />

O remédio das misérias humanas<br />

Com efeito, prossegue o cântico: somos curados em virtude<br />

de suas chagas. Ou seja, todo esse sacrifício não foi<br />

em vão. Em cada chaga, em cada gota de sangue vertida<br />

por Nosso Senhor, estava a cura de nossos males e de<br />

nossas misérias morais. Contemplemos o corpo desfigurado<br />

e machucado do Divino Mestre: esta ferida, aquela<br />

outra, curaram minha alma. Se nesta existe algo de bom,<br />

é por causa daqueles ferimentos sagrados que vejo passar<br />

diante de mim.<br />

Na verdade, Ele carregou nossas fraquezas e suportou<br />

nossas dores.<br />

Quer dizer, o peso daquela cruz é o fardo<br />

das minhas fraquezas. Jesus as carregou.<br />

As dores que eu, por justiça,<br />

deveria sofrer, Ele, o inocente, padeceu-as<br />

por mim.<br />

Mais uma vez, deve resultar dessa consideração um<br />

sentimento de gratidão indizível a Nosso Senhor, de reconhecimento<br />

a Nossa Senhora porque Ela consentiu<br />

no holocausto de seu Divino Filho por nós. Além disso,<br />

uma atitude de completa confiança em relação a Eles:<br />

pois quem foi resgatado por preço tão imenso, por pouco<br />

13


<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> c o m e n ta ...<br />

que confie no valor desse preço, por menos que peça seja<br />

aquele sangue derramado sobre nós para nos regenerar,<br />

este pode esperar sua salvação. Pode ter a certeza de que,<br />

mais dia menos dia, uma moção da graça, um movimento<br />

interior o reconduzirá ao caminho da virtude e do Céu.<br />

Súplicas em nome das<br />

santas chagas de Jesus<br />

Há, nesse sentido, duas lindas súplicas que exprimem as<br />

verdades acima consideradas. Uma: “Perdão e misericórdia<br />

meu Jesus, pelos méritos de vossas santas chagas”.<br />

Quer dizer, “não mereço perdão nem misericórdia, mas<br />

vossas chagas, Redentor Divino, têm mérito infinito e foram<br />

oferecidas ao Altíssimo em meu favor. Constituem meu tesouro<br />

infinitamente grande. Peço-vos, pelos méritos de vossas<br />

santas chagas, perdão e misericórdia para mim”.<br />

É uma súplica que dificilmente não tocará a bondade<br />

infinita de Nosso Senhor, pois invoca as próprias chagas<br />

com as quais Ele curou nossas almas, alcançou-nos graças<br />

para corrigirmos nossos defeitos e crescer no amor<br />

que devemos ter a Ele.<br />

Outra jaculatória muito substanciosa<br />

e bela, despertada pela<br />

consideração das chagas<br />

de Nosso Senhor, é<br />

esta: “Padre Eterno, eu vos ofereço as santas chagas de<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo para curar a minha alma”.<br />

Ou seja, eu, diante do Padre Eterno, posso ter defeitos<br />

e pecados, mas apresento a Ele as santas feridas de Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo a fim de obter de sua infinita misericórdia<br />

o remédio para as minhas doenças de alma.<br />

Pedir por meio de Nossa Senhora,<br />

“dona” das chagas de seu Filho<br />

A essas considerações devemos acrescentar um ponto<br />

muito importante: não convém e nem será próprio do<br />

devoto de Maria Santíssima, meditar nos lances da Paixão<br />

de Nosso Senhor Jesus Cristo, abstraindo da figura<br />

co-redentora de sua Mãe.<br />

E ao invocarmos as chagas do Salvador como a cura de<br />

nossos pecados, é preciso lembrar que tal impetração passa<br />

pelos rogos da Medianeira de todas as graças. Dispensadora,<br />

por vontade divina, de todos os dons celestiais, os<br />

méritos dessas chagas como que foram todos entregues a<br />

Ela, para deles dispor em benefício dos homens. Em certo<br />

sentido, Ela é, pois, a dona dessas chagas. Aliás, as imagens<br />

de Nossa Senhora da Piedade — inclusive a famosa<br />

Pietà de Michelangelo —, que representam Jesus<br />

morto no colo de Maria, exprimem muito bem<br />

a idéia desse augusto senhorio: a Mãe é a<br />

T. Ring<br />

14


Senhora das chagas de seu Filho,<br />

Maria Santíssima é a misericordiosa<br />

intercessora que nos propicia o tesouro<br />

dos méritos infinitos da<br />

Paixão de Jesus<br />

Nossa Senhora da Piedade – Sé de Braga, Portugal<br />

dona daquele cadáver e, portanto, de todos os méritos infinitos<br />

que aquele Homem inanimado em seus braços conquistou<br />

para nós. Tudo nos vem através d’Ela, e por mais<br />

extraordinário que seja o valor dessas chagas, sem a intercessão<br />

de Maria nada obteremos.<br />

Peçamos, então, o patrocínio de Nossa Senhora<br />

das Dores, a invocação propícia para essas súplicas.<br />

É a figura da Santíssima Virgem que traz<br />

seu próprio coração chagado e ferido pela consideração<br />

dos padecimentos do Filho. Nunca<br />

a alma de uma mãe carregou chaga semelhante<br />

à que feriu o coração de Maria, tomado<br />

por imensurável tristeza durante a Paixão<br />

de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Esse Imaculado Coração transpassado<br />

pela espada da dor é a porta por onde<br />

atingimos as chagas de Jesus. Rezemos<br />

a Nossa Senhora, do fundo de nossa<br />

alma, confiantes e humildes, na certeza<br />

de que Ela alcançará em nosso favor<br />

a aplicação dos méritos<br />

infinitos dos sofrimentos<br />

redentores de seu Divino<br />

Filho.<br />

v<br />

(Extraído de conferência<br />

em 22/3/1967)<br />

15


Ca l e n d á r i o d o s Sa n t o s<br />

1. São Suitberto de Kaiserswerth,<br />

647-713. Bispo, evangelizador<br />

da Frísia, Flandres e Luxemburgo.<br />

2. Santa Inês da Boêmia, Abadessa,<br />

+ 1282. Filha do Rei Ottokar<br />

I.. Depois de recusar casarse<br />

com o filho do Imperador Frederico<br />

Barbaroxa, fundou o convento<br />

das “Irmãs pobres” ou Damianitas,<br />

junto com Santa Clara<br />

de Assis.<br />

10. São Simplício, Papa de 468 a<br />

483. No tempo em que os bárbaros<br />

devastavam a cidade de Roma, confortou<br />

os aflitos, encorajou a unidade<br />

da Igreja e protegeu a Fé.<br />

11. Santo Oengus, Monge do<br />

Mosteiro de Tallaght (Irlanda),<br />

+ 824. Compôs um martirológio<br />

próprio daquele país.<br />

12. Santo Inocêncio I, Papa de<br />

401 a 417. Condenou Pelágio no<br />

Concílio de Milevi e apoiou firmemente<br />

São João Crisóstomo.<br />

tivo do Menino Jesus. (Antecipada<br />

para esta data em virtude da Semana<br />

Santa. Ver artigo na página 24.)<br />

16. Domingo de Ramos. Cumprindo<br />

a profecia de Zacarias,<br />

Nosso Senhor entra em Jerusalém,<br />

montando um jumentinho.<br />

Os habitantes o receberam com<br />

o cântico de “Hosana ao Filho de<br />

David”, saudando-O com ramos<br />

de palma.<br />

3. Santa Catarina <strong>Dr</strong>exel, Fundadora.<br />

4. São Basino de Tréveris, Bispo.<br />

5. São João José da Cruz (Carlo<br />

Gaetano Calosirto), Franciscano,<br />

1654-1734.<br />

São Lúcio, Papa, entre junho de<br />

253 e março de 254. Sucessor de<br />

São Cornélio, logo após ser eleito<br />

foi aprisionado e enviado para o<br />

exílio.<br />

6. Santo Olegário, Bispo de Tarragona,<br />

Espanha.<br />

7. Santos Simeão Berneux, Bispo,<br />

Justo Ranfer de Bretenières,<br />

Luís Beaulieu e Pedro Enrico Dorie,<br />

Presbíteros, missionários mártires.<br />

Decapitados por ódio à Fé,<br />

em Sai-Nam-Tho, Coréia do Sul,<br />

no dia 7 de março de 1866.<br />

8. Santo Unfrido, Bispo de Thérouanne,<br />

na França, + 871.<br />

9. São Domingos Sávio,<br />

1842-1857. Aluno exemplar de Dom<br />

Bosco, atingiu a santidade ainda jovem,<br />

vindo a morrer aos 15 anos.<br />

13. São Leandro de Sevilha,<br />

Bispo, + 600. Pregou contra o<br />

arianismo e converteu muitos à<br />

Fé católica.<br />

S. Hollmann<br />

São Leandro de Sevilha<br />

14. Santa Paulina, religiosa em<br />

Fulda (Alemanha), + 1117.<br />

15. Solenidade de São José, Esposo<br />

de Maria Santíssima e Pai ado-<br />

17. São João Sarkander, Mártir.<br />

Sacerdote jesuíta da Silésia, foi<br />

encarcerado em Olomuc, na Morávia,<br />

torturado até a morte por ódio<br />

à Fé. Canonizado em 1995.<br />

18. Santo Eduardo, Mártir, Rei<br />

da Inglaterra, + 979.<br />

19. Quarta-feira Santa.<br />

Beato Andrea Gallerani, + 1251.<br />

Nascido em Siena, Itália, dedicouse<br />

aos pobres e doentes. Fundou o<br />

Hospital da Misericórdia.<br />

20. Quinta-Feira Santa. Instituição<br />

da Santa Eucaristia, na Última<br />

Ceia.<br />

21. Sexta-Feira Santa. Paixão e<br />

Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

São Lupicino, Abade, + 480.<br />

Junto com seu irmão São Romano,<br />

impulsionou a vida monástica<br />

na região montanhosa do Jura,<br />

França.<br />

22. Sábado Santo. Solene Vigília<br />

Pascal. Nosso Senhor jaz no Sepulcro.<br />

Beato Clemente Augusto von<br />

Galen, Bispo, + 1946. Chamado o<br />

“Leão de Münster” (cidade onde<br />

era Bispo). Manifestou tenaz oposição<br />

ao regime nazista.<br />

16


* Ma r ç o *<br />

S. Hollmann<br />

Última Ceia e a instituição da Sagrada Eucaristia – Museu Unterlinden, Alsácia (França)<br />

23. Domingo de Páscoa da Ressurreição.<br />

Hoc est dies quam fecit<br />

Dominus, exultemus et laetemur<br />

in ea, canta neste dia a Igreja, lembrando<br />

um Salmo. Nosso Senhor<br />

ressuscita segundo a carne e abre<br />

para os homens as portas do Céu.<br />

24. Santos Timolao, Dionísio,<br />

Pauside, Alexandre, Rômulo e Alexandre,<br />

Mártires em Cesaréia da<br />

Palestina, + 303.<br />

25. Santa Lúcia Filippini, Virgem,<br />

+ 1732. Italiana, fundadora do<br />

Instituto de Mestras Pias, chamadas<br />

Filipinas, dedicadas ao ensino.<br />

26. Santos Montano e Máxima,<br />

esposos, Mártires na Panônia (atual<br />

Húngria), + 304.<br />

27. São Ruperto Bispo, + 718. Irlandês<br />

de nascimento, foi durante<br />

certo tempo Bispo itinerante, percorrendo<br />

regiões de missão na Baviera<br />

e na Áustria, especialmente<br />

em Salzburg, cidade austríaca que se<br />

tornou a sede do seu episcopado.<br />

28. Santo Estevão Harding, Abade,<br />

+ 1134. Um dos fundadores, em<br />

1098, dos cistercienses, junto com<br />

São Roberto de Molesmes e Santo<br />

Alberico.<br />

29. São Guilherme Tempier, Bispo<br />

de Poitiers, na França, + 1197.<br />

30. Segundo Domingo de Páscoa,<br />

também chamado de Domingo<br />

da Divina Misericordia. Festa<br />

instituída pelo Papa João Paulo<br />

II, atendendo às revelações de<br />

Nosso Senhor a Santa Faustina<br />

Kowalska.<br />

31. Solenidade da Anunciação do<br />

Senhor. O arcanjo Gabriel anunciou<br />

a Maria sua excelsa missão de<br />

se tornar a Mãe de Deus. (Celebração<br />

transferida para esta data, por<br />

cair o dia 25 na oitava da Páscoa.)<br />

17


Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

Preciosos ensinamentos<br />

da Ressurreição<br />

Da gloriosa Ressurreição de Cristo, pondera<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, não só refulgem consoladoras<br />

alegrias, como também dela se depreendem<br />

importantes lições para o homem fiel, à luz<br />

das quais deve este pautar sua trajetória<br />

rumo à eterna bem-aventurança.<br />

Durante os três dias em que<br />

Nosso Senhor esteve morto,<br />

aos olhos dos que O<br />

conheceram, com exceção de Maria<br />

Santíssima, tudo parecia irremediavelmente<br />

perdido. “Morreu!”, pensavam<br />

eles. “Correram a pedra sobre<br />

a entrada do sepulcro, e a escuridão<br />

envolveu o corpo d’Ele. Acabou, não<br />

resta mais nada!”<br />

Indizível alegria das<br />

almas dos justos<br />

Ora, restava tudo. A história da<br />

salvação dos homens apenas começara.<br />

Assim que a alma santíssima de<br />

Nosso Senhor se separou do corpo<br />

sagrado, apareceu às almas dos justos<br />

que aguardavam — algumas há<br />

milênios — a Redenção e a abertura<br />

das portas do Céu.<br />

Imaginemos, se pudermos, a emoção<br />

da alma de São José em contato<br />

com a de seu Filho, ou a felicidade<br />

indizível da alma de Adão e a de<br />

Eva, constatando que, afinal, o pecado<br />

por eles cometido, o pecado que<br />

provocara a decadência do gênero<br />

humano, estava perdoado e sua culpa<br />

redimida! E do mesmo modo, o<br />

júbilo ímpar da alma de tantos outros<br />

justos, patriarcas e profetas do<br />

Antigo Testamento ali reunidos,<br />

que aclamaram o aparecimento de<br />

Quem os libertava daquela longa espera.<br />

Esse encontro foi, sem dúvida,<br />

um espetáculo extraordinário.<br />

Na pior das horas,<br />

refúgio junto a Maria<br />

Contudo, para os apóstolos e discípulos<br />

que haviam fugido durante a<br />

Paixão, essa realidade espiritual e gloriosa<br />

era inteiramente desconhecida.<br />

Pelo contrário, achavam-se abatidos,<br />

prostrados, horrorizados, sem vislum-<br />

18


ar saída alguma para a dramática<br />

situação em que estavam. Cada qual<br />

se escondeu como pôde, esperando<br />

que a efervescência dos acontecimentos<br />

se extinguisse e a normalidade da<br />

vida de todos os dias fizesse com que<br />

deles se esquecessem.<br />

Outros eram, porém, os desígnios<br />

da Providência. Podemos conjeturar<br />

que houve um trabalho misterioso<br />

da graça no sentido de sugerir ao<br />

espírito de cada um deles o desejo<br />

de procurar Nossa Senhora e de se<br />

abrigar sob seu manto materno. Junto<br />

a Ela — sempre nos é dado supor<br />

— encontraram-se, chorosos e contritos,<br />

ainda incertos quanto ao futuro.<br />

Apenas a Mãe de Deus confiava<br />

e rezava, segura do triunfo de seu<br />

Divino Filho sobre a morte.<br />

De alguma maneira, também própria<br />

ao sobrenatural, a fidelidade de<br />

Maria Santíssima começou a contagiar<br />

a tibieza dos apóstolos, e a despertar<br />

na alma de cada um deles sensações,<br />

esperanças, percepções da<br />

maravilhosa graça que lhes estava<br />

Ressurreição – Jesus aparece a<br />

Nossa Senhora e às santas mulheres<br />

Coro da Catedral de Notre<br />

Dame de Paris, França<br />

S. Hollmann<br />

19


Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

reservada. No interior daqueles homens,<br />

em meio à tormenta da provação,<br />

foram se alicerçando uma convicção<br />

nova e um novo ânimo.<br />

Quer dizer, na pior das horas, porque<br />

se refugiaram aos pés de Nossa<br />

Senhora, receberam graças inestimáveis<br />

que os prepararam para tudo<br />

o que logo lhes aconteceria. Unidos<br />

em torno da Virgem Fiel, estavam<br />

em condições de acreditar na<br />

Ressurreição e de se predisporem à<br />

grandiosa missão para a qual haviam<br />

sido chamados.<br />

Confirmaram-se as mais<br />

audaciosas esperanças<br />

Na manhã do terceiro dia, ressurge<br />

glorioso o Redentor Divino e —<br />

como sugere a crença de piedosos<br />

autores, embora os Evangelhos não<br />

o narrem — aparece em primeiro lugar<br />

a Nossa Senhora, inundando-A<br />

de consolação e felicidade. Todo Ele<br />

era um só esplendor, espargindo luminosidade<br />

celeste a seu redor como<br />

o brilho de mil sóis!<br />

Aparece depois a Maria Madalena<br />

e a outros discípulos. A Ressurreição<br />

era já um fato incontestável. Os apóstolos<br />

crêem e exultam. Tudo quanto<br />

era caminho sem saída, tornou-se<br />

viável e todas as esperanças, as mais<br />

audaciosas, confirmaram-se no triunfo<br />

de Cristo Ressurrecto. Vitória que<br />

representava, ao mesmo tempo, a<br />

afirmação de toda a vida d’Ele e um<br />

imenso perdão para seus discípulos. A<br />

partir daí estes passaram por uma autêntica<br />

conversão. Mais alguns dias, e<br />

receberiam a infusão do Espírito Santo,<br />

tornando-se cada qual uma coluna<br />

de amor e fidelidade sobre a qual<br />

se ergueria o edifício da Santa Igreja<br />

Católica Apostólica Romana.<br />

O homem fiel não se<br />

deixa abater pelos reveses<br />

Da ressurreição de Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo e dos aspectos a ela vinculados<br />

— sejam os precedentes, sejam<br />

os que se lhe seguiram — depreendem-se<br />

para nós alguns ensinamentos.<br />

O homem modelado segundo o espírito<br />

do Divino Mestre, o homem<br />

que corresponde às graças obtidas<br />

pelos rogos de Maria, o homem fiel<br />

que obedece inteiramente a vontade<br />

de Deus e tem sua alma talhada pela<br />

doutrina da Igreja, esse homem possui<br />

uma têmpera tal que não há desastre,<br />

ruína ou tristeza, não há perseguição<br />

nem miséria que o abatam e o<br />

desviem de sua trajetória apostólica.<br />

Pelo contrário, quanto maiores<br />

os reveses, maior sua coragem;<br />

quanto mais inesperadas e inopinadas<br />

as derrotas, maior a sua vontade<br />

de reagir; quanto mais terríveis<br />

os golpes que ele recebe, maior a<br />

sua determinação de continuar a lutar.<br />

E se acontecer de ele cair prostrado<br />

durante a lide, Deus, que vela<br />

por ele e por sua descendência espiritual,<br />

fará com que de seus exemplos<br />

e de sua lição nasçam discípulos<br />

que continuem sua obra.<br />

E assim por diante, de glória em<br />

glória, de passo em passo, mas de<br />

dor em dor, de sofrimento em sofrimento,<br />

é possível levantar obras de<br />

uma grandeza e de uma beleza inimagináveis.<br />

Mas, essas obras nascidas<br />

da dor, da fidelidade, da constância<br />

e da entrega completa de si mesmo<br />

para que Deus execute sua vontade<br />

sobre os homens, nascem também<br />

da devoção e da união a Nossa<br />

Senhora, a qual nos alcança graças<br />

indizivelmente fortes, profundas<br />

e tonificantes.<br />

Júbilo que nos prepara<br />

para novas provações<br />

Outra lição que nos é dada pelo<br />

triunfo de Nosso Senhor sobre a<br />

morte vem das jubilosas celebrações<br />

que no-lo recordam.<br />

As pompas da esplêndida e brilhante<br />

liturgia da Vigília Pascal e do<br />

Domingo da Ressurreição nos falam<br />

de todas as alegrias legítimas e<br />

até gloriosas que o homem fiel pode<br />

desfrutar em sua vida.<br />

Entretanto, a missão e os trabalhos<br />

dos apóstolos convertidos nos<br />

ensinam não haver alegria que desvie<br />

o homem fiel do caminho da dor;<br />

não há felicidade que o amoleça, que<br />

o subtraia da austeridade com a qual<br />

trilha o caminho do Céu. Pelo contrário,<br />

como essa alegria é fruto do<br />

20


S. Hollmann<br />

Espírito Santo, o homem sai desse<br />

dia de festa e de glória mais disposto<br />

a suportar todas as humilhações,<br />

todas as dores e todos os sacrifícios<br />

necessários para a grande batalha da<br />

salvação que ele terá diante de si.<br />

Por essas razões, ao celebrarmos a<br />

Páscoa da Ressurreição, devemos<br />

pedir a Jesus Ressurrecto, por intermédio<br />

de Nossa Senhora, a força de<br />

espírito pela qual não haja nenhuma<br />

provação que nos leve ao desespero,<br />

Peçamos a Jesus<br />

Ressurrecto, por meio<br />

de Maria, a graça de<br />

não nos desesperarmos<br />

com a provação,<br />

nem amolecermos<br />

com a glória<br />

Ressurreição – Nosso Senhor aparece<br />

aos Apóstolos; coro da Catedral de<br />

Notre Dame de Paris, França<br />

nem glória que nos leve à moleza.<br />

Assim, através desse caminho de sofrimentos<br />

sem desânimos, e de triunfos<br />

sem relaxamentos chegaremos<br />

afinal à imperecível glória do Céu,<br />

pela graça de Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo, nosso Redentor, e pelos rogos<br />

de Maria Santíssima, nossa Mãe,<br />

a cujas preces tanto devemos. v<br />

(Extraído de conferências<br />

em 8 e 14/4/1990)<br />

21


“R-CR” e m p e r g u n ta s e r e s p o s ta s<br />

Refutando<br />

os “slogans” da<br />

Revolução<br />

No seu árduo esforço de explicitar e combater os erros<br />

da Revolução, a Contra-Revolução — afirma <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> —<br />

desenvolve um trabalho sadiamente negativista e polêmico.<br />

Nessa tarefa lhe é de extrema valia o tesouro do magistério<br />

eclesiástico, do qual ela tira “coisas novas e velhas” (Mt 13, 52)<br />

para fazer frente aos seus adversários.<br />

Como refutar a objeção: “O próprio nome ‘Contra-Revolução’<br />

exprime algo de negativo e, portanto, de estéril”?<br />

[Trata-se de] “simples jogo de palavras. Pois o espírito<br />

humano, partindo do fato de que a negação da negação importa<br />

numa afirmação, exprime de modo negativo muitos<br />

de seus conceitos mais positivos: in-falibilidade, in-dependência,<br />

in-nocência, etc. Lutar por qualquer desses três objetivos<br />

seria negativismo só por causa da formulação negativa<br />

em que eles se apresentam? O Concílio Vaticano [I],<br />

quando definiu a infalibilidade papal, fez obra negativista?<br />

A Imaculada Conceição é prerrogativa negativista da Mãe de<br />

Deus?” (p. 116)<br />

Necessária atitude de polêmica<br />

A Contra-Revolução tem, em sua essência, algo de sadiamente<br />

negativista?<br />

“Se se entende por negativista, de acordo com a linguagem<br />

corrente, algo que insiste em negar, em atacar, e em ter<br />

os olhos continuamente voltados para o adversário, deve-se<br />

dizer que a Contra-Revolução, sem ser apenas negação, tem<br />

em sua essência alguma coisa de fundamental e sadiamente<br />

negativista. Constitui ela, como dissemos, um movimento<br />

dirigido contra outro movimento, e não se compreende que,<br />

numa luta, um adversário não tenha os olhos postos sobre o<br />

outro e não esteja com ele numa atitude de polêmica, de ataque<br />

e contra-ataque” (pp. 116-117).<br />

Além de afirmarem que a Contra-Revolução é anacrônica<br />

e negativista, qual o terceiro “slogan” divulgado pelos<br />

revolucionários?<br />

“O terceiro ‘slogan’ consiste em censurar as obras intelectuais<br />

dos contra-revolucionários, por seu caráter negativista<br />

e polêmico, que as levaria a insistir demais na refutação de<br />

erro, em lugar de fazer a explanação límpida e despreocupada<br />

da verdade. Elas seriam, assim, contraproducentes, pois<br />

irritariam e afastariam o adversário. Exceção feita de possíveis<br />

demasias, esse cunho aparentemente negativista tem<br />

uma profunda razão de ser” (p. 117).<br />

Pensar e agir em função<br />

dos erros da Revolução<br />

Basta refutar as doutrinas revolucionárias?<br />

“Segundo o que foi dito neste trabalho 1 , a doutrina da Revolução<br />

esteve contida nas negações de Lutero e dos primeiros<br />

revolucionários, mas apenas muito lentamente se foi ex-<br />

22


Amparado no Magistério da<br />

Igreja, o contra-revolucionário<br />

se opõe à Revolução com um<br />

trabalho intelectual profundo,<br />

eficiente e inteiramente objetivo<br />

plicitando no decorrer dos séculos. De maneira que os autores<br />

contra-revolucionários sentiram, desde o início, e legitimamente,<br />

dentro de todas as formulações revolucionárias,<br />

algo que excedia à própria formulação. Há muito mais<br />

a mentalidade da Revolução a considerar em cada etapa do<br />

processo revolucionário, do que simplesmente a ideologia<br />

enunciada nessa etapa (pp. 117-118).<br />

Para se realizar trabalho eficaz contra a Revolução, o<br />

que é preciso?<br />

“Para fazer trabalho profundo, eficiente, e inteiramente<br />

objetivo, é, pois, necessário acompanhar passo a passo o desenrolar<br />

da marcha da Revolução, num penoso esforço de<br />

explicitação das coisas implícitas no processo revolucionário.<br />

Só assim é possível atacar a Revolução como de fato deve<br />

ela ser atacada. Tudo isto tem obrigado os contra-revolucionários<br />

a ter constantemente os olhos postos na Revolução,<br />

pensando, e afirmando as suas teses, em função dos erros<br />

dela” (p. 118).<br />

O tesouro de argumentos<br />

da Contra-Revolução<br />

Para o contra-revolucionário, qual a importância do Magistério<br />

da Igreja?<br />

“Neste duro trabalho intelectual, as doutrinas de verdade<br />

e de ordem existentes no depósito sagrado do Magistério<br />

da Igreja são, para o contra-revolucionário, o tesouro do qual<br />

ele vai tirando coisas novas e velhas (Mt 13, 52) para refutar<br />

a Revolução, à medida que vai vendo mais fundo nos tenebrosos<br />

abismos desta.<br />

“Assim, pois, em vários de seus mais importante aspectos<br />

é sadiamente negativista e polêmico o trabalho contrarevolucionário.<br />

É, aliás, por razões não muito diversas que<br />

o Magistério Eclesiástico vai definindo as verdades, o mais<br />

das vezes, em função das diversas heresias que vão surgindo<br />

ao longo da História. E formulando-as como condenação do<br />

erro que lhes é oposto. Assim agindo, a Igreja nunca receou<br />

fazer mal às almas” (p. 118) 2 .<br />

Documento do Papa Beato Pio IX – Museu<br />

de São João de Latrão, Roma<br />

1<br />

) Cf. “<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>” nº 117, dezembro de 2007.<br />

2<br />

) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora<br />

Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.<br />

D. Domingues<br />

23


O Sa n t o d o m ê s<br />

São José,<br />

bem-aventurado<br />

entre os homens<br />

Patriarca e Padroeiro da Igreja, São José era objeto de veneração e<br />

admiração profundas da parte de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, quer por suas insignes<br />

virtudes, quer por ter sido escolhido para Esposo da Mãe de Deus e<br />

pai nutrício de Jesus. Admiração e veneração que <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> procurava<br />

despertar também em seus discípulos, tecendo-lhes comentários como<br />

os transcritos a seguir, onde sobressaem os luminosos<br />

predicados da alma de São José.<br />

Ao celebrarmos as excelsas virtudes de São José,<br />

talvez conviesse salientarmos, primeiramente,<br />

um aspecto da vida do glorioso patriarca pouco<br />

ressaltado nos comentários que sobre ele temos lido.<br />

A glória de ter sido recusado<br />

Refiro-me ao fato de ele, ao procurar um abrigo para<br />

Nossa Senhora prestes a dar à luz o seu divino Filho, ver<br />

que lhes recusavam lugar nas hospedarias de Belém. São<br />

José, Príncipe da Casa de David, nobre da família real ao<br />

mesmo tempo deposta e no seu apogeu, pois dela ia nascer<br />

o esperado das nações, bate às portas e é rechaçado.<br />

Despedem a quem representava algo que a mediocridade<br />

de alguns homens sempre rejeitou, ou seja, a distinção,<br />

a majestade, enfim porque simbolizava a grandeza<br />

e a sublimidade do próprio Verbo Encarnado que Maria<br />

Santíssima trazia consigo.<br />

Foi esta a primeira glória de São José, sua especial<br />

bem-aventurança de ter sido recusado no momento mais<br />

augusto da História. Nesse sentido, prenunciava em sua<br />

pessoa a renúncia tão mais acerba que Nosso Senhor Jesus<br />

Cristo sofreria mais tarde, culminando na crucifixão<br />

e morte no Calvário.<br />

24


São José – Confraria do<br />

Silêncio, Sevilha (Espanha)<br />

S. Hollmann<br />

25


O Sa n t o d o m ê s<br />

Sucessivas glórias e bem-aventuranças<br />

Logo depois, teve São José a glória de conduzir Nossa<br />

Senhora aos arredores de Belém, e de com Ela se refugiar<br />

num lugar ermo, numa gruta que servia de habitação<br />

aos animais. Ali A acomodou e ali esteve, por amor<br />

à virtude, sozinho e abandonado dos outros homens. Ali<br />

também foi-lhe dada a suprema dita de presenciar o nascimento<br />

do Salvador.<br />

A partir de então podemos dizer que as glórias se acumulam<br />

sobre São José, mas — oh! paradoxo! — quase<br />

todas negativas. Por exemplo, a de ser um homem apagado,<br />

do qual não se fala, ou a ele se referem com menosprezo.<br />

“Este (diziam os que motejavam de Nosso Senhor)<br />

não é filho daquele carpinteiro? Um filho de mero<br />

carpinteiro não pode ser Deus”. O que significa tomar<br />

São José como um fator de descrédito para o próprio<br />

Messias.<br />

Os evangelistas são lacônicos ao mencionarem a figura<br />

do pai do Menino Jesus. Sobre ele pouco se sabe.<br />

Transparece nesse quase anonimato a glória daquele que<br />

padeceu, previamente, as humilhações e todo o peso da<br />

renúncia que devia cair sobre Nosso Senhor.<br />

Bem-aventurado São José, que sofreu por amor à justiça,<br />

assim como bem-aventurado porque nele se cumpriam<br />

todas as bem-aventuranças que o Divino Mestre<br />

enumerou no sermão da montanha. Varão bem-aventurado<br />

entre os homens, abaixo do próprio Jesus e de Maria<br />

Santíssima, limpo de coração como nenhum outro,<br />

porque esposo virginal da Virgem por excelência.<br />

Único homem à altura de Maria<br />

Esposo de Nossa Senhora! Todos os louvores e exaltações,<br />

todas as enaltecedoras palavras sobre São José não<br />

podem dizer tanto quanto a simples afirmação de que ele<br />

foi o esposo de Maria e o pai adotivo do Menino Jesus.<br />

Compreende-se que a Divina Providência, ao eleger<br />

a mãe do Verbo Encarnado, adornou-a de qualidades e<br />

atributos insondáveis inerentes a tão excelsa prerrogativa.<br />

Donde excederem a toda capacidade de intelecção<br />

humana o conceber os limites desses atributos e qualidades<br />

existentes na pessoa de Maria Santíssima. Ela é, inconteste,<br />

a mais perfeita dentre as simples criaturas. Se<br />

tomarmos a soma das excelências de todos os anjos e de<br />

todos os homens que já existiram, existem e existirão na<br />

face da Terra, não teríamos sequer pálida idéia da perfeição<br />

da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Ora, então pergunta-se: se Deus foi tão magnificente<br />

no predestinar e modelar a mulher que daria ao mundo o<br />

Salvador, e em cumulá-la das mais preciosas graças, seria<br />

Ele menos pródigo no escolher o homem que deveria ser<br />

o esposo dessa Virgem e dessa Mãe?<br />

26


L. Werner<br />

Todos os louvores e exaltações<br />

a São José não podem dizer<br />

tanto quanto a simples<br />

afirmação de que foi o esposo<br />

de Nossa Senhora e o pai<br />

adotivo do Menino Jesus<br />

Sagrada Família - Vitral da Sainte Chapelle, Paris<br />

Evidentemente não. Um homem tinha de ser considerado<br />

proporcionado a essa esposa: por seu amor a Deus,<br />

pela sua justiça, pureza, sabedoria e todas as demais qualidades.<br />

Esse homem, escolhido por tal adequação à pessoa<br />

de Nossa Senhora, foi São José.<br />

Proporcionado ao Filho<br />

Em segundo lugar, o pai deve ser proporcionado ao<br />

filho. E só nesse aspecto a grandeza de São José se nos<br />

apresenta indizível. Cumpria que o homem escolhido para<br />

tal missão a desempenhasse com incomparável dignidade,<br />

e assumisse a posição de verdadeiro pai do Redentor,<br />

mostrando-se à altura d’Ele. São José foi este homem.<br />

Estava na proporção de Jesus Cristo, assim como<br />

estava na proporção de Nossa Senhora.<br />

Para formarmos alguma idéia do que representa essa<br />

maravilhosa condição de pai e protetor do Verbo Encarnado,<br />

pensemos, por exemplo, nas imagens de Santo<br />

Antônio que se veneram em certos altares: o santo traz<br />

em seu braço o Menino Jesus, e para este dirige um olhar<br />

embevecido, repassado de uma felicidade imensa porque,<br />

em razão de um milagre, teve o Filho de Deus em seus<br />

braços durante alguns instantes. E nós, do nosso lado, fitamos<br />

a imagem igualmente embevecidos, exclamando<br />

em nosso interior: “Feliz Santo Antônio, ao qual foi dada<br />

essa honra inefável de carregar o Menino-Deus”.<br />

Ora, quantas vezes São José terá conduzido o Divino<br />

Infante em seus braços? Dias, meses, anos ele O viu<br />

crescer, rezar, praticar todos os atos de sua vida comum.<br />

Ouvi-O, e teve, ele mesmo, os lábios suficientemente puros<br />

e a humildade suficientemente grande para fazer essa<br />

coisa formidável: responder a Deus, dar ao Menino os<br />

conselhos que Este lhe pedia, sabendo que era a criatura<br />

aconselhando o Criador...<br />

27


O Sa n t o d o m ê s<br />

Vemos, então, essa glória única de São José, a de ser<br />

o homem capaz de governar a Sagrada Família, de cuidar<br />

das necessidades terrenas de Nossa Senhora e de Jesus<br />

Cristo, inteiramente adequado e proporcionado à altura<br />

dessa dignidade.<br />

Modelo de devoção mariana<br />

Devemos acrescentar a tais excelências essa outra: São<br />

José é o modelo do devoto mariano. Com efeito, ninguém<br />

representa melhor a devoção a Nossa Senhora do que o<br />

homem escolhido para ser seu esposo, aquele que — podemos<br />

imaginar — A contemplava continuamente, admirando-A<br />

nos seus gestos e nas suas palavras, haurindo dessa<br />

contemplação ricas lições de sabedoria, recebendo a<br />

propósito dela graças extraordinárias, e a todo momento<br />

conformando sua alma à d’Ela.<br />

Por isso mesmo, além de perfeito devoto de Nossa Senhora,<br />

São José é também o modelo do espírito contemplativo,<br />

do espírito afeito ao cultivo da vida interior, para o<br />

qual elevar-se às altas cogitações e considerar todas as coisas<br />

em função de Deus constitui a genuína felicidade de sua<br />

existência. Glorioso São José, modelo de sabedoria, de força,<br />

de pureza.<br />

Fotos: G. Kralj / S. Hollmann<br />

28


Modelo de fisionomia<br />

sapiencial porque consorte<br />

da Sede da Sabedoria,<br />

do Espelho da Justiça,<br />

Maria Santíssima;<br />

modelo de fortaleza, porque<br />

pai do Leão de Judá,<br />

Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

São José e o Cristo da Sainte Chapelle (Paris)<br />

A verdadeira face de São José<br />

Concluo esses comentários com uma ponderação colateral,<br />

porém a meu ver oportuna.<br />

Não raro nos deparamos com gravuras e imagens que<br />

representam São José com um perfil moral muito aquém<br />

de todas essas excelsas qualidades e virtudes que acima<br />

salientamos. Donde me parecer não devermos aceitá-las<br />

como legítimas manifestações da verdadeira personalidade<br />

do pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

Creio que, para se ter alguma idéia do semblante espiritual<br />

de São José, seria preciso deduzir, à maneira de suposição,<br />

o caráter de um homem que esteve à altura de<br />

ser o pai d’Aquele cuja Sagrada Face está estampada no<br />

Santo Sudário de Turim. Quer dizer, o homem que foi o<br />

educador, o guia, o protetor do senhor daquele rosto impresso<br />

no sudário; um homem que foi da mesma linhagem,<br />

parente e esposo da Mãe d’Ele.<br />

Conceber algo menor que isso é não ter idéia da extraordinária<br />

figura de São José, modelo de fisionomia sapiencial<br />

porque consorte da Sede da Sabedoria, do Espelho<br />

da Justiça, Maria Santíssima. Modelo de fortaleza,<br />

porque pai do Leão de Judá, Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />

A este verdadeiro São José devemos elevar nossas preces,<br />

rogando-lhe interceda por nós junto à Virgem Santíssima<br />

e a seu Divino Filho, e nos alcance a graça de o<br />

imitarmos nas suas magníficas virtudes. v<br />

(Extraído de conferências em<br />

19/3/1966 e 18/3/1967)<br />

29


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

Feérico supérfluo<br />

30


Ao se discorrer sobre a ordem<br />

de coisas ideal para<br />

a existência de um povo<br />

e de uma civilização, acredito dever-se-ia<br />

fazer uma distinção entre<br />

duas espécies de benemerência<br />

dos que contribuem para essa<br />

boa ordenação: a dos que asseguram<br />

e tornam abundante o indispensável,<br />

e a dos que asseguram e<br />

requintam o supérfluo. Serão, talvez,<br />

duas formas de dar glória a<br />

Deus, cada qual no seu âmbito —<br />

o “necessarista” e o “superfluista”<br />

ou “requintista”.<br />

Para se calçar esse pensamento<br />

é preciso tomar como base a tese<br />

Para se sobressair,<br />

o supérfluo se<br />

requinta, tornase<br />

mais enfeitado<br />

ou se reveste de<br />

simplicidade mais<br />

impressionante<br />

Miniatura de ovo e bibelô Fabergé –<br />

Fortaleza São Pedro e São Paulo,<br />

São Petersburgo, Rússia<br />

de que o supérfluo na verdade é indispensável,<br />

ou seja, tem de se fazer<br />

presente no quotidiano do homem,<br />

e este deve notá-lo pelo menos nos<br />

seus semelhantes, pois do contrário<br />

a vida terrena lhe parecerá por demais<br />

estreita, asfixiante.<br />

Como, porém, via de regra o supérfluo<br />

é preterido em favor do necessário,<br />

procura se tornar exímio<br />

em qualidade, a fim de se valorizar<br />

e, vez ou outra, levar a palma. Ele<br />

se requinta, torna-se mais enfeitado,<br />

mais ornado, ou se reveste de simplicidade<br />

mais impressionante, enfim,<br />

engendra mil maneiras de o requinte<br />

se mostrar tal.<br />

Fotos: G. Kralj<br />

31


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

A cada elaboração,<br />

uma nova maravilha,<br />

mais aprimorada,<br />

feérica, reluzindo<br />

nos seus<br />

metais preciosos<br />

Bibelô (coroa imperial russa) e<br />

miniaturas de ovos Fabergé –<br />

Fortaleza São Pedro e São Paulo,<br />

São Petersburgo, Rússia<br />

Esse conceito me parece superiormente<br />

ilustrado pelo exemplo do Fabergé,<br />

célebre joalheiro da corte imperial<br />

russa no final do século XIX<br />

e início do XX. Era o ourives do supérfluo,<br />

e o encanto deslumbrante<br />

de suas peças consistia no esmero da<br />

superfluidade.<br />

De sangue francês, levou consigo<br />

para o mundo russo o charme característico<br />

de suas origens e com ele<br />

fecundou seu talento de gênio para<br />

confeccionar jóias que são verdadeiros<br />

bibelôs de sonhos. Os mais conhecidos<br />

são os famosos Ovos de<br />

Páscoa que o Czar encomendava para<br />

presentear a Czarina e outros familiares.<br />

Com a repetição do gesto<br />

em anos sucessivos, a “moda” de<br />

oferecer os ovos Fabergé se espalhou<br />

pela Europa da Belle Époque<br />

(portanto, até 1914, quando eclodiu<br />

a Primeira Grande Guerra), constituindo<br />

um requinte da civilização<br />

daquele tempo.<br />

A capacidade inventiva do artífice<br />

era inesgotável, e a cada elaboração<br />

surgia uma nova maravilha, uma<br />

jóia mais aprimorada, algumas feéricas,<br />

reluzindo nas suas cores sedutoras,<br />

nos seus materiais preciosos, diferentes,<br />

lavorados com extrema ca-<br />

32


33


Lu z e s d a Civilização Cr i s t ã<br />

tegoria. Ovos que se abrem e deixam<br />

ver no seu interior outro bibelô<br />

ainda mais rico e belo; ovos que<br />

são relógios, este com um pequeno<br />

galo que assinala as horas, aquele<br />

com um único ponteiro em forma<br />

de esguia serpente; outros esmaltados,<br />

com pinturas que retratam paisagens<br />

da Rússia imperial; e ainda os<br />

que trazem fotografias dos membros<br />

da família do Czar, e os que simplesmente<br />

se revestem de ouro.<br />

Todos de pequenas proporções,<br />

como devem ser para comportar<br />

a dose de raffiné e de rico que possuem.<br />

Maiores, perderiam em beleza<br />

e distinção.<br />

E todos procuram e logram despertar<br />

o maravilhamento. O maravilhamento<br />

do supérfluo. v<br />

(Extraído de conferência<br />

em 23/3/1990)<br />

34


Miniaturas de ovos<br />

Fabergé – Fortaleza São<br />

Pedro e São Paulo,<br />

São Petersburgo, Rússia<br />

35


Olhar de insondável desvelo<br />

Nossa Senhora<br />

de Fátima –<br />

São Paulo<br />

T. Ring<br />

Se, em meio às nossas<br />

aflições, acaso nos assalte<br />

a dúvida de que<br />

Maria Santíssima nos socorrerá,<br />

lembremos com que imensidade<br />

de ternura Ela olhava para o<br />

seu Filho perseguido durante a Paixão,<br />

e pensemos: “Com que maternal<br />

e insondável desvelo não estará também<br />

fitando a mim, nessa hora de provação?”<br />

Não duvidemos. Nossa Senhora nos<br />

alcançará graças, e incutirá na alma de cada<br />

um a força necessária para transformarmos<br />

o momento de angústia em fator de crescimento<br />

espiritual, em período de preparação para realizarmos,<br />

em nome d’Ele, grandes feitos.<br />

(Extraído de conferência em 22/3/1967)

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