Revista Dr Plinio 167

Fevereiro de 2012 Fevereiro de 2012

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Editorial Hierarquia e Desigualdade Aharmonia parece ser um dos valores mais procurados neste século XXI. O mundo anda sôfrego à busca da concórdia, do diálogo, da paz e, talvez sem perceber, traz à tona uma realidade assaz esquecida: a desigualdade natural, posta por Deus no Universo. Como ensina São Tomás, “a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador” 1 . E assim, a vida humana se ordena à maneira de uma enorme sinfonia de características, temperamentos e psicologias, aptas a se harmonizarem graças às suas diferenças. Por isto, apesar de vociferada aos quatro ventos, a igualdade continua a ser uma utopia irrealizável. No seio de uma autêntica civilização, é pelo princípio admirável da hierarquia que se estrutura esse amálgama de mentalidades desiguais, constituído pelos povos que a integram. Para melhor compreender esse fenômeno, recorramos a uma interessante figura da natureza. As flores, carregadas de magníficos odores e requintada coloração, dão a esta Terra certo ar de paraíso. Mas essas pequenas preciosidades vegetais carecem de uma qualidade: tão estupenda aparência exterior comportaria sabores extraordinários! Entretanto, Deus não quis privá-las totalmente desse refinado privilégio, porque, em sua infinita sabedoria, dotou um pequenino ser, superior às flores, das capacidades necessárias para aperfeiçoá-las. Verdadeira obra de arte é a atividade desse inseto, limpo e gracioso, o qual, pousando de flor em flor, colhe o que elas têm de mais excelente, o seu néctar, e eleva-o a um patamar inatingível pelas meras capacidades da planta: eis a tarefa da abelha ao produzir o mel. De si, a flor nunca atingiria tal grau de requinte. É mister entregar o que possui de melhor a outra criatura superior, dotada das qualidades necessárias para transformá-la. Esta realidade é uma imagem feliz do que ocorre no relacionamento humano, diferenciando o espírito católico do igualitário. Este último tenta falsificar a harmonia entre os homens, acachapando- -os no mesmo status; o primeiro, pelo contrário, eleva e nobilita os inferiores por meio dos superiores, num clima de caridade: “... se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria” (1 Cor 12,26). Para a salvação das almas, Nosso Senhor instituiu na Santa Igreja a Sagrada Hierarquia, encabeçada pelo Papa, com a missão de santificar, ensinar e governar: Ela colhe o néctar dos méritos, orações e sacrifícios dos fiéis, elevando-os até Deus. E no ápice dessa Hierarquia deu a um homem, ao sucessor de Pedro, o dom de infalibilidade, de modo que ele possa guiar com segurança, nas vias da verdade, seus súditos. Admirável desigualdade que eleva toda a humanidade, dando-lhe a possibilidade de participar desse dom precioso de nunca cair em erro. Basta ser submisso ao Pontífice Romano. 1) Corrêa de Oliveira, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Editora Retornarei, 2002. p. 71. Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja. 4

Datas na vida de um cruzado Fevereiro de 1985: “Ainda que eu caminhe nas sombras da morte, não temerei os males” Ante um grupo de jovens ansiosos por mais uma conferência, em fevereiro de 1985, Dr. Plinio relembra um período de muitas provações, no qual foi agraciado por uma inesquecível consolação. Muitas vezes somos submetidos a provações tremendas. É conhecida a história de São Pedro andando sobre as águas. Em certo momento, ele começou a olhar para a água e teve medo. O instinto de conservação aflorou e o Apóstolo começou a afundar; foi preciso o auxílio especial de Nosso Senhor para ele flutuar e caminhar com o Redentor. Em certas ocasiões, algo semelhante se passa conosco: começamos a fazer uma coisa e, de repente, aquilo parece afundar. A pessoa que se encontra nessa situação deve ajoelhar-se e dizer à Virgem: “Minha Mãe, não tomo a sério o que está se passando. Sei que estou numa situação dificílima, mas Vós permitis isso para provar minha confiança. Eu confio em Vós e vou para a frente.” E, às vezes, é preciso rezar e esperar durante anos, com uma série de fracassos pelo meio. Um Capela onde Dr. Plinio sentiu-se consolado ao encontrar os vitrais representando a Ressurreição de Nosso Senhor. dia, inesperadamente, aquilo tudo se realiza. Esta é a virtude da confiança! Uma das maiores alegrias que uma pessoa possa ter, seguindo o caminho para o qual Nossa Senhora a chamou, ocorre quando ela passa por um período onde tudo parece ir contra a confiança dela e, em certo momento, vê que seu desejo se realizou. Lembro-me do tempo em que eu lecionava numa das Faculdades da Universidade Católica, em São Paulo — era professor de História Medieval, Moderna e Contemporânea. Sempre que eu ia a essa Faculdade, ao sair, me dirigia à capela e rezava diante do Santíssimo Sacramento e de uma imagem de Nossa Senhora. Nas paredes laterais da capela havia uma galeria de vitrais, com cenas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu passava por um período de muitas provações e necessitava ter muita confiança. Certo dia, eu estava rezando nessa capela quando normalmente me levanto e olho para um dos vitrais, que representava, se não me engano, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na parte inferior desse vitral estava escrito o seguinte: “Et si ambulavero in medio umbrae mortis, non timebo mala — Ainda que eu caminhe nas sombras da morte, não temerei os males.” E no outro vitral ao lado havia a frase: “In lumine tuo videbimus lumen — Na tua luz veremos a luz.” Aquilo me encheu a alma; eu compreendi: “É preciso mais confiança! Plinio anima-te! Nossa Senhora te ajudará! Dize a Ela: Minha Mãe, ainda que eu ande nas sombras da morte, não temerei os males, porque Vós me ajudareis. Minha Mãe, na luz de vosso olhar eu verei a Luz!” (Extraído de conferência de 9/2/1985) 5

Editorial<br />

Hierarquia e Desigualdade<br />

Aharmonia parece ser um dos valores mais procurados neste século XXI. O mundo anda sôfrego<br />

à busca da concórdia, do diálogo, da paz e, talvez sem perceber, traz à tona uma realidade<br />

assaz esquecida: a desigualdade natural, posta por Deus no Universo. Como ensina<br />

São Tomás, “a diversidade das criaturas e seu escalonamento hierárquico são um bem em si, pois<br />

assim melhor resplandecem na criação as perfeições do Criador” 1 . E assim, a vida humana se ordena<br />

à maneira de uma enorme sinfonia de características, temperamentos e psicologias, aptas a se harmonizarem<br />

graças às suas diferenças. Por isto, apesar de vociferada aos quatro ventos, a igualdade<br />

continua a ser uma utopia irrealizável. No seio de uma autêntica civilização, é pelo princípio admirável<br />

da hierarquia que se estrutura esse amálgama de mentalidades desiguais, constituído pelos povos<br />

que a integram.<br />

Para melhor compreender esse fenômeno, recorramos a uma interessante figura da natureza. As<br />

flores, carregadas de magníficos odores e requintada coloração, dão a esta Terra certo ar de paraíso.<br />

Mas essas pequenas preciosidades vegetais carecem de uma qualidade: tão estupenda aparência exterior<br />

comportaria sabores extraordinários! Entretanto, Deus não quis privá-las totalmente desse refinado<br />

privilégio, porque, em sua infinita sabedoria, dotou um pequenino ser, superior às flores, das<br />

capacidades necessárias para aperfeiçoá-las.<br />

Verdadeira obra de arte é a atividade desse inseto, limpo e gracioso, o qual, pousando de flor em<br />

flor, colhe o que elas têm de mais excelente, o seu néctar, e eleva-o a um patamar inatingível pelas<br />

meras capacidades da planta: eis a tarefa da abelha ao produzir o mel. De si, a flor nunca atingiria tal<br />

grau de requinte. É mister entregar o que possui de melhor a outra criatura superior, dotada das qualidades<br />

necessárias para transformá-la.<br />

Esta realidade é uma imagem feliz do que ocorre no relacionamento humano, diferenciando o espírito<br />

católico do igualitário. Este último tenta falsificar a harmonia entre os homens, acachapando-<br />

-os no mesmo status; o primeiro, pelo contrário, eleva e nobilita os inferiores por meio dos superiores,<br />

num clima de caridade: “... se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria”<br />

(1 Cor 12,26).<br />

Para a salvação das almas, Nosso Senhor instituiu na Santa Igreja a Sagrada Hierarquia, encabeçada<br />

pelo Papa, com a missão de santificar, ensinar e governar: Ela colhe o néctar dos méritos, orações<br />

e sacrifícios dos fiéis, elevando-os até Deus. E no ápice dessa Hierarquia deu a um homem, ao sucessor<br />

de Pedro, o dom de infalibilidade, de modo que ele possa guiar com segurança, nas vias da verdade,<br />

seus súditos. Admirável desigualdade que eleva toda a humanidade, dando-lhe a possibilidade<br />

de participar desse dom precioso de nunca cair em erro. Basta ser submisso ao Pontífice Romano.<br />

1) Corrêa de Oliveira, <strong>Plinio</strong>. Revolução e Contra-Revolução. São Paulo: Editora Retornarei, 2002. p. 71.<br />

Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />

de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />

na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />

outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />

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