Revista Dr Plinio 167

Fevereiro de 2012 Fevereiro de 2012

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O pensamento filosófico de Dr. Plinio Fotos: A. Costantini; G. Kralj; M. Shinoda; The Yorck Project / John Clarke Ridpath; Library of Congress. O mais belo mar! - I Introduzindo-nos em considerações metafísicas sobre as mais variadas embarcações, Dr. Plinio nos convida a singrar os misteriosos, por vezes conturbados, mas sempre magníficos mares da História. Há pouco, eu estava folheando um álbum, com panoramas da ilha de Porto Rico, e vi a fotografia de um transatlântico contemporâneo ancorado no porto. Transatlântico já não é bem uma coisa contemporânea. É um contemporâneo de ontem, porque hoje quase não há mais transatlânticos. Mas o álbum deveria datar de uns dez anos atrás, quando os últimos transatlânticos brilhavam com seus últimos fogos e suas últimas luzes, sobre esses mares que vão ficando vazios de navios que transportam gente. São mares comerciais, rotas apenas de transporte de mercadorias. A fotografia mostrava a cidade de Porto Rico, iluminada durante a noite com as luzes das casas refletindo-se sobre o Mar das Antilhas; e o transatlântico fortemente, quase feericamente iluminado com as luzes do tombadilho, do convés e das várias escotilhas que dão para os camarotes, todas muito acesas, formando quase um palácio de luz, junto ao porto um pouco escuro e refletindo-se também nas águas; pelo artifício da fotografia, era apresentada uma imagem verdadeiramente feérica do transatlântico. O transatlântico: palácio de magnificência Cogitando nisso, pensa-se no mar, na beleza de uma viagem transatlântica. Olhando aquele transatlântico de fora para dentro tem-se a impressão de um verdadeiro Interior de transatlânticos do fim do século XIX - Library of Congress (Prints and Photographs Division Washington, D.C. 20540 USA). 18

Transatlântico navegando pelo Gran Canale - Veneza (Itália). palácio flutuante. Se uma pessoa, fazendo o trajeto oposto ao do raio de luz, entrasse num camarote através de uma janelazinha, encontraria um ambiente de conforto, de distinção, de afago, de bem-estar, de agrado que lhe daria vontade de não sair do camarote, tão esplendoroso ele seria. Poderíamos imaginar várias formas de camarotes: espaçosos, confortáveis, altos, ou pequenos, estreitos; superluxuosos, com cama de plumas, brocados, damascos, acolchoados, tapetes. O passageiro está com o ventilador ligado e a mão posta sobre uma mesa, pensando no tempo que corre, no navio que singra, nas ondas que passam, nas estrelas que se sucedem e no transatlântico que segue a sua rota; e ouvindo o mar que, com os seus mistérios, seus perigos, do lado de fora, como que, bate inutilmente na porta do camarote enquanto que o passageiro, dentro, sente-se tão bem, meio isolado do mundo. Dentro do mundo feérico do transatlântico há a feeria da imaginação que ajuda a pensar a respeito daquilo tudo. Então se tem a impressão de que cada cabine do transatlântico é um ninho de bem-estar e de luxo dentro de um palácio de magnificência, de largueza, distensão e movimento. Suponhamos que uma pessoa caminhe pelos corredores estreitos do navio, transitando diante das portas hermeticamente fechadas para quem passa. Atrás de cada uma daquelas longas portas, todas anônimas, há um passageiro que, numa viagem de alegria ou de dor, separação ou união, esperança ou decepção, ganância ou vontade de prazer, vai rumando para um destino que não tem nada que ver com o dos seus vizinhos. Ela tem a impressão de que atravessa uma longa constelação de mistérios fechados, que se cerraram; por fim, chega aos grandes salões, tomando dois andares do transatlântico: um salão chinês de laca vermelha, um salão francês de sedas cor de água meio verde, e assim por diante, até o clássico bar alemão, com os seus pães pretos, suas linguiças, suas cervejas, seus chocolates e seus antegozos da Europa que vem chegando. Tudo isto constitui um palácio em cujo interior gostamos de pensar e de imaginar que andamos, muito mais do que nesses poleiros ou nessas gaiolas de gente, chamadas avião, nos quais se viaja a toda pressa. Nos aviões, a beleza do ar externo não tem nenhuma consonância com o homem, o qual só toma conhecimento do que se passa no ar, mais ou menos, como um produto enlatado conhece o que se passa na vida fora dele. É enlatado que o homem percorre essa coisa tão diáfana, o ar, o qual, depois de passar por tubulações viciadas e nada possuindo da sua pureza originária, só entra no avião por uns esguichos dirigíveis que assobiam em cima do passageiro. Caravela: sensação do risco e do heroísmo Podemos imaginar quantos navios percorreram os mares. E a feeria das embarcações, com as suas várias formas, começa a passar por nossos olhos. 19

O pensamento filosófico de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />

Fotos: A. Costantini; G. Kralj; M. Shinoda; The Yorck<br />

Project / John Clarke Ridpath; Library of Congress.<br />

O mais belo mar! - I<br />

Introduzindo-nos em considerações metafísicas sobre as mais variadas<br />

embarcações, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> nos convida a singrar os misteriosos,<br />

por vezes conturbados, mas sempre magníficos mares da História.<br />

Há pouco, eu estava folheando um álbum, com<br />

panoramas da ilha de Porto Rico, e vi a fotografia<br />

de um transatlântico contemporâneo<br />

ancorado no porto. Transatlântico já não é bem uma coisa<br />

contemporânea. É um contemporâneo de ontem, porque<br />

hoje quase não há mais transatlânticos.<br />

Mas o álbum deveria datar de uns dez anos atrás, quando<br />

os últimos transatlânticos brilhavam com seus últimos<br />

fogos e suas últimas luzes, sobre esses mares que vão ficando<br />

vazios de navios que transportam gente. São mares<br />

comerciais, rotas apenas de transporte de mercadorias.<br />

A fotografia mostrava a cidade de Porto Rico, iluminada<br />

durante a noite com as luzes das casas refletindo-se sobre<br />

o Mar das Antilhas; e o transatlântico fortemente, quase<br />

feericamente iluminado com as luzes do tombadilho,<br />

do convés e das várias escotilhas que dão para os camarotes,<br />

todas muito acesas, formando quase um palácio de luz,<br />

junto ao porto um pouco escuro e refletindo-se também<br />

nas águas; pelo artifício da fotografia, era apresentada uma<br />

imagem verdadeiramente feérica do transatlântico.<br />

O transatlântico: palácio de magnificência<br />

Cogitando nisso, pensa-se no mar, na beleza de uma<br />

viagem transatlântica. Olhando aquele transatlântico de<br />

fora para dentro tem-se a impressão de um verdadeiro<br />

Interior de transatlânticos do fim do século XIX - Library of Congress (Prints<br />

and Photographs Division Washington, D.C. 20540 USA).<br />

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