Jornal União, exemplar online da 06/10 a 12/10/2016.
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02<br />
P Á G I N A<br />
Opinião<br />
JORNAL UNIÃO<br />
DE <strong>06</strong> A <strong>12</strong> DE OUTUBRO DE 2016<br />
O RECADO DAS URNAS<br />
Indignação<br />
A<br />
eleição de João Dória<br />
Junior à Prefeitura de<br />
São Paulo, já no primeiro<br />
turno, merece<br />
séria reflexão do atual sistema político.<br />
Demonstra que o povo <strong>da</strong><br />
maior ci<strong>da</strong>de do país, pela vontade<br />
de mu<strong>da</strong>r, resolveu tomar as<br />
rédeas do poder e deixou de ouvir<br />
aqueles que insistem falar em seu<br />
nome. Bem analisado, o resultado<br />
paulistano é mais do que a<br />
simples e carcomi<strong>da</strong> luta entre<br />
esquer<strong>da</strong> e direita. O eleitor, que<br />
nem sempre entende o que é ser<br />
de um lado ou do outro, e nem se<br />
interessa por isso, preferiu depositar<br />
sua esperança em propostas<br />
para a solução dos problemas que<br />
vive. A proposta de melhor gerir<br />
os recursos públicos para com eles<br />
se prestar mais serviços, especialmente<br />
na Saúde e na Educação,<br />
por certo teve um peso grande na<br />
decisão do voto. Da mesma forma,<br />
que a promessa de que o novo<br />
governo não terá o malfa<strong>da</strong>do loteamento<br />
de cargos em troca de<br />
votos parlamentares ou de apoio<br />
de grupos de pressão.<br />
O desejo de mu<strong>da</strong>nça está carimbado<br />
nos resultados <strong>da</strong>s urnas<br />
de norte a sul e de leste a oeste do<br />
país. O povo, entre outras coisas,<br />
quis dizer que não quer mais governos<br />
aparelhados por militantes<br />
políticos ou apadrinhados de parlamentares.<br />
Dória e todos os prefeitos<br />
eleitos nesse 2 de outubro<br />
– e aqueles que resultarem escolhidos<br />
no segundo turno – terão<br />
de ouvir essa potente voz que vem<br />
do eleitorado. O segundo turno<br />
é uma nova eleição, oportuni<strong>da</strong>de<br />
adicional para fazer ao povo<br />
propostas de trabalho sinceras e<br />
executáveis, que levem em consideração<br />
que o eleitor de hoje lê<br />
jornais e tem canais para receber,<br />
analisar e discutir aquilo que lhe é<br />
dito. Acima de partidos e ideologias,<br />
é preciso propostas, compromissos<br />
sérios. Prefeitos são eleitos<br />
para administrar e vereadores têm<br />
a missão de legislar e fiscalizar as<br />
ações do governo sem dele fazer<br />
parte ou ter interesses que possam<br />
tolher seus deveres de eleição.<br />
Passado o período eleitoral, a<br />
atenção certamente cairá sobre as<br />
ações do governo do presidente<br />
Michel Temer, recém empossado<br />
em caráter definitivo. Ele tem<br />
a grande e espinhosa tarefa de<br />
recolocar o país nos trilhos. Os<br />
novos prefeitos e vereadores devem<br />
se preparar para responder<br />
aos desafios dos novos tempos. E<br />
aquela legião de filhotes <strong>da</strong> coalizão<br />
– cabos eleitorais, parentes,<br />
amigos e assemelhados – devem<br />
se preparar para encarar o mercado<br />
de trabalho <strong>da</strong> mesma forma<br />
que fazem todos os demais brasileiros.<br />
Há de se entender que<br />
a administração pública carece<br />
de eficiência e possui poucos recursos<br />
diante <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />
coloca<strong>da</strong>s à sua frente. O gestor<br />
público precisa encontrar meios e<br />
formas de atender às deman<strong>da</strong>s, e<br />
já está provado que do jeito que<br />
se fez nos últimos tempos não é<br />
o mais indicado. As práticas que<br />
nos levaram à crise têm de ser elimina<strong>da</strong>s<br />
definitivamente.<br />
Tenente Dirceu Cardoso<br />
Gonçalves dirigente <strong>da</strong><br />
ASPOMIL (Associação de<br />
Assist. Social dos Policiais<br />
Militares de São Paulo) -<br />
aspomilpm@terra.com.br<br />
É com tamanha indignação que venho demonstrar a minha insatisfação com os resultados<br />
desta eleição. Quando tivemos aqui (Região do Grande Jardim Bandeirantes) pelo menos<br />
três bons candi<strong>da</strong>tos, exceto alguns aventureiros e outros que já estiveram lá e na<strong>da</strong> fizeram<br />
pelo bairro. E agora esses que são turistas e se elegeram com o voto do eleitor de nosso<br />
bairro. Será que vão atender as nossas reivindicações? Olhar para as nossas necessi<strong>da</strong>des<br />
ou vão simplesmente <strong>da</strong>r atenção aos seus bairros de origem? É decepcionante. Há quantos<br />
anos que não temos um vereador de “ver<strong>da</strong>de” eleito pelo bairro.<br />
Por isso acho que já passou <strong>da</strong> hora de acor<strong>da</strong>rmos e vermos as reali<strong>da</strong>des e as necessi<strong>da</strong>des<br />
do nosso bairro e região e pararmos de eleger aventureiros e o tal do voto de protesto.<br />
Chega, o nosso bairro tem condições de eleger até dois vereadores, e não conseguimos<br />
eleger nenhum. Ate quando vamos ficar nessa? Acor<strong>da</strong>m eleitores do Grande Jardim Bandeirantes<br />
e bairros circunvizinhos.<br />
Ronaldo Gardin<br />
Jardim Bandeirantes - Londrina - Pr - ronaldo.gardin@yahoo.com.br<br />
Heródoto Barbeiro<br />
É escritor e jornalista <strong>da</strong> Record<br />
News e portal R7.com<br />
herodoto@herodoto.com.br<br />
O SAPO QUE<br />
VIROU SAPO<br />
Conta a len<strong>da</strong> que um sapo foi colocado em uma panela. Leva<strong>da</strong><br />
ao fogão, a água começou a esquentar. O sapo não se apercebeu.<br />
A água ferveu e o sapo não conseguiu se salvar de ser cozinhado<br />
na panela. Certamente se a panela já estivesse com a água fervendo<br />
de forma alguma o simpático batráquio teria ousado tomar uma<br />
sauna em tão inóspito ambiente. Isto é uma alegoria que esconde<br />
a diferença entre as mu<strong>da</strong>nças lineares, gra<strong>da</strong>tivas e as exponenciais,<br />
geralmente desruptivas. Imagine o seu atual computador em<br />
2030. Se ele existir até lá e não for atropelado por uma quanti<strong>da</strong>de<br />
de novos gadgets, custaria mais barato que o atual. Sua capaci<strong>da</strong>de<br />
operacional seria de aproxima<strong>da</strong>mente de um bilhão de GB. Se ele<br />
tivesse sido concebido trinta anos antes, sua capaci<strong>da</strong>de inicial seria<br />
de 1GB. Como pode ter aumentado tanto em tão pouco tempo? É<br />
que sua capaci<strong>da</strong>de de memória não cresceu de forma linear, mas<br />
exponencial. Geralmente essas mu<strong>da</strong>nças quantitativas provocam<br />
mu<strong>da</strong>nças qualitativas. E vice versa, uma vez que ocorre uma interativi<strong>da</strong>de<br />
entre elas.<br />
A Revolução Industrial sofreu pelo menos quatro revoluções. Uma<br />
revolução dentro <strong>da</strong> outra. No final do século 18 o uso do vapor e<br />
<strong>da</strong> água como fontes de energia comercial, acelerou o processo <strong>da</strong><br />
mu<strong>da</strong>nça do modo de produção de pré- capitalista para capitalista<br />
com o advento <strong>da</strong> mão de obra assalaria<strong>da</strong> concentra<strong>da</strong> nas ci<strong>da</strong>des<br />
e a proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> do modo de produção industrial. Um século<br />
depois, 1870, o advento <strong>da</strong> energia elétrica proporcionou a produção<br />
em massa, as linhas de montagens industriais e aprofundou a<br />
divisão do trabalho. O mais belo exemplo é o filme Tempos Modernos,<br />
de Charles Chaplin. Ente uma e outra disrupção na produção<br />
de energia houve, obviamente, mu<strong>da</strong>nças lineares como o motor de<br />
combustão interna, diesel e gasolina, e o acirramento <strong>da</strong>s disputas<br />
dos mercados mundiais pelos países industrializados. Disso resultou<br />
no imperialismo que desaguou a primeira catástrofe <strong>da</strong> Grande<br />
Guerra. Na déca<strong>da</strong> de 70 do século 20 é a vez <strong>da</strong> automação <strong>da</strong>s<br />
fábricas, o uso do computador dirigindo grandes máquinas e o desenvolvimento<br />
linear que se sucedeu. Gra<strong>da</strong>tivamente chegaram os<br />
robôs, a digitalização e outros avanços técnicos.<br />
O século 21, com sua nova revolução industrial, trouxe no bojo,<br />
a destruição criativa. É ver<strong>da</strong>de que esse fenômeno é tão antigo<br />
como a chega<strong>da</strong> dos bondes nas ci<strong>da</strong>des e o fim dos carroceiros.<br />
Os cavalos foram aposentados. Ou abatidos. Contudo ele foi turbinado<br />
por uma evolução tecnológica exponencial. O reflexo social é<br />
o desemprego estrutural, em massa. Parte <strong>da</strong> força de trabalho se<br />
vê ameaça<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez que uma noticia sobre avanço tecnológico é<br />
divulga<strong>da</strong>. Até agora não se sabe se os novos empregos, gerados<br />
em outras ativi<strong>da</strong>des, serão ou não suficientes para receber os órfãos<br />
<strong>da</strong> tecnologia. De um lado uma paisagem ca<strong>da</strong> vez mais níti<strong>da</strong>,<br />
profun<strong>da</strong>, instigante. De outro uma paisagem de desconfiança, descontrole<br />
e insegurança. A história tem mostrado que não volta atrás.<br />
Mu<strong>da</strong>nças podem ser represa<strong>da</strong>s até um determinado momento,<br />
quando explodem a barragem, e levam tudo de roldão, como a de<br />
Mariana, em Minas. Nesse novo quadro de conflito percebe-se que<br />
se enfraqueceram os sindicatos de trabalhadores e o Estado. O que<br />
vem depois <strong>da</strong> próxima curva ninguém sabe, mas não deve ser na<strong>da</strong><br />
lúdico.<br />
Impressão<br />
Editora e Gráfica Paraná Press S.A - CNPJ 77.338.424/0001- 95<br />
EDIÇÃO Nº 348<br />
DE <strong>06</strong> A <strong>12</strong> DE OUTUBRO DE 2016<br />
<br />
Guilherme Lima, Gustavo Godoy<br />
Henrique Reis - <strong>Jornal</strong>ista MTB: <strong>10</strong>059/PR