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Observatório do Analista em Revista - 6 Edição

Revista do colaborativa dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil

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Editorial 2<br />

D. Geralda e o derretimento<br />

<strong>do</strong> que parece seguro<br />

Texto: Mari Lucia Zonta / Fotos: Ricar<strong>do</strong> Pessetti<br />

Contava uma amiga, recent<strong>em</strong>ente,<br />

<strong>do</strong> susto<br />

da mãe, já com mais de<br />

80 anos, ao ouvir que<br />

seu dinheiro não existia,<br />

que sua poupança não<br />

passava de um monte de sinais elétricos<br />

ou magnéticos armazena<strong>do</strong>s na “nuv<strong>em</strong>”.<br />

D. Geralda pediu que não falasse mais<br />

nisso, ficava nitidamente assustada com<br />

a ideia.<br />

Qu<strong>em</strong> não t<strong>em</strong> um pouco da D. Geralda?<br />

Por mais à vontade que fique com<br />

as novas tecnologias? Se me permit<strong>em</strong><br />

um clichê, apesar de péssima prática<br />

de redação (não use <strong>em</strong> provas! Menos<br />

ainda para começar um texto. Espanta<br />

os leitores logo no primeiro parágrafo):<br />

t<strong>em</strong>os me<strong>do</strong> de mudanças. Me<strong>do</strong>. É a<br />

palavra correta. Resistência e outras<br />

tantas são euf<strong>em</strong>ismos. É <strong>do</strong> humano a<br />

insegurança, o frio na barriga diante <strong>do</strong><br />

novo. Questão de preservação.<br />

E o grande dil<strong>em</strong>a se estabelece mesmo<br />

quan<strong>do</strong> a mudança se torna a única<br />

possibilidade de sobrevivência. Caso<br />

<strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático disso é o momento que<br />

vive a Receita Federal e seus servi<strong>do</strong>res.<br />

Não se trata de sobrevivência <strong>do</strong> órgão.<br />

Não se conhece Esta<strong>do</strong> que possa<br />

abrir mão de seu braço arrecada<strong>do</strong>r.<br />

Por mais que definhe e se torne ineficiente<br />

<strong>em</strong> suas funções, há de sobreviver. Já<br />

os seus méto<strong>do</strong>s de arrecadação e <strong>em</strong><br />

consequência os servi<strong>do</strong>res… não t<strong>em</strong><br />

a mesma garantia.<br />

Cobra<strong>do</strong>res de impostos exist<strong>em</strong> desde<br />

antes <strong>do</strong>s próprios Esta<strong>do</strong>s! alguns indigna<strong>do</strong>s<br />

já dev<strong>em</strong> vociferar a esta altura.<br />

Verdade, verdade! Por favor prendam<br />

seus cães e vamos <strong>em</strong> frente. Também é<br />

verdade que pela primeira vez a humanidade<br />

se depara com a cobrança de<br />

impostos sobre bens imateriais, sobre os<br />

sinais magnéticos da “nuv<strong>em</strong>” que assustaram<br />

D. Geralda. Não há mais trigo, sal,<br />

ouro, moeda ou mesmo papel impresso<br />

<strong>do</strong>s quais se possa pegar um quinhão.<br />

E isso muda tu<strong>do</strong>.<br />

S<strong>em</strong> falar na nuv<strong>em</strong> negra onde se “armazena”<br />

o grosso da riqueza mundial,<br />

desaforadamente chamada paraíso<br />

fiscal. Até o nome é uma afronta aos<br />

fiscos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Quantos deles entram<br />

no paraíso para buscar o quinhão <strong>do</strong>s<br />

Esta<strong>do</strong>s?<br />

Mas desçamos das nuvens.<br />

Essa evidente mudança não é novidade<br />

para qualquer servi<strong>do</strong>r de qualquer<br />

fisco <strong>do</strong> país. Alguns talvez não traduzam<br />

ainda, mas perceb<strong>em</strong> como uma “sensação<br />

de derretimento” da instituição fiscal.<br />

“Bananeira que já deu cacho” ouvi<br />

de outro servi<strong>do</strong>r que se prepara para<br />

sair e começar outra carreira.<br />

O modelo atual <strong>do</strong> fisco federal é da<br />

década de 1960. Viveu seu auge no<br />

final <strong>do</strong>s anos de 1990 e 2000. Em todas<br />

as áreas. Foi o grande momento da<br />

tecnologia que transformou a Receita<br />

Federal <strong>em</strong> referência mundial na área.<br />

Além da automação, o grande lega<strong>do</strong><br />

desse perío<strong>do</strong> são as gigantescas bases<br />

de da<strong>do</strong>s de diferentes setores que<br />

a Receita acumula. Patrimônio inestimável,<br />

avaliamos, para a próxima “revolução”<br />

da instituição.<br />

Aqui cabe um parêntese, prato cheio<br />

para aqueles <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s cães lá de<br />

cima. Prendam mais um pouco, por favor.<br />

O Fisco Federal deve muito de sua<br />

evolução técnica <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> recente<br />

a um corpo de Técnicos (<strong>do</strong> Tesouro<br />

Nacional) vin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s primeiros concursos<br />

públicos pós Constituição de 1988.<br />

Especializa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> diversas áreas, inclusive<br />

de informática (houve concurso<br />

específico para a área), encontraram<br />

no cargo uma saída para o des<strong>em</strong>prego<br />

assombroso <strong>do</strong>s anos 1990. Com o<br />

salário baixíssimo ofereci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong><br />

na época - mas melhor <strong>do</strong> que o des<strong>em</strong>prego<br />

da iniciativa privada - abraçaram<br />

a “causa” de levar a Receita Federal<br />

para o século 21 (projeto SRF 21).<br />

Tiveram autonomia, estímulo e formação.<br />

E um projeto coordena<strong>do</strong>. O resulta<strong>do</strong><br />

dispensa apresentação.<br />

Posteriormente os Técnicos <strong>do</strong> Tesouro<br />

tiveram o nome <strong>do</strong> cargo altera<strong>do</strong> para<br />

<strong>Analista</strong> Tributário.<br />

Volt<strong>em</strong>os aos clichês… Como é natural,<br />

o sist<strong>em</strong>a to<strong>do</strong> vive a entropia que se<br />

segue ao auge. O derretimento. E no<br />

ambiente desola<strong>do</strong>, pessoas. Pessoas<br />

que t<strong>em</strong> me<strong>do</strong>s, que tentam se agarrar<br />

a algo firme. À Lei, diz<strong>em</strong> alguns, à Constituição.<br />

Atribuições, bradam outros. “Autoridade”<br />

é a última tábua ao mar. Poder<br />

de polícia é o que circula à boca<br />

pequena como grande panaceia. Só<br />

os que detiver<strong>em</strong> o poder de polícia<br />

sobreviverão! Vejam a AGU! (que garantiu<br />

as mesmas prerrogativas de m<strong>em</strong>bro<br />

de Esta<strong>do</strong> Maior <strong>em</strong> lei recent<strong>em</strong>ente),<br />

Não t<strong>em</strong>os as respostas, mas<br />

encarar as questões, a despeito <strong>do</strong><br />

me<strong>do</strong> que a perspectiva <strong>do</strong><br />

desconheci<strong>do</strong> nos causa, é s<strong>em</strong>pre o<br />

primeiro passo necessário. A isso nos<br />

propomos. O preço de não fazer e<br />

tentar agarrar-se a um ponto seguro,<br />

pode ser a extinção de cargos presos<br />

a suas funções obsoletas.<br />

Até porque não há lugar<br />

seguro quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> à volta derrete.<br />

o MPF!, capaz de colocar de joelhos<br />

qualquer “autoridade” <strong>do</strong> país. O Judiciário!,<br />

com sua morosidade s<strong>em</strong> controle<br />

e r<strong>em</strong>unerações de juízes incompatíveis<br />

com os níveis salariais <strong>do</strong> país.<br />

Outros el<strong>em</strong>entos colaboram para que<br />

o cal<strong>do</strong> ameace perigosamente entornar.<br />

O perfil <strong>do</strong>s novos servi<strong>do</strong>res, o<br />

papel da indústria de concursos, a inexistência<br />

de escolas de formação <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> ativas, o modelo de concurso<br />

público ultrapassa<strong>do</strong>, a distorção na<br />

ideia de carreira para servi<strong>do</strong>res. Cada<br />

um desses merece um tratamento detalha<strong>do</strong>.<br />

Voltar<strong>em</strong>os a eles. Um a um. Por<br />

hora, apenas citamos.<br />

Resulta<strong>do</strong>, também espera<strong>do</strong>: conflitos<br />

internos intermináveis. To<strong>do</strong>s contra to<strong>do</strong>s<br />

para garantir sobrevida. De brigas<br />

pessoais entre servi<strong>do</strong>res a verdadeiros<br />

motins da média administração da Receita<br />

contra a alta administração, tu<strong>do</strong><br />

é possível.<br />

Esse é o quadro. A saída não é difícil de<br />

ser prevista: a nova realidade exige um<br />

novo modelo de ação fiscal, um novo<br />

projeto. E aí começa o segun<strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a.<br />

Como falar <strong>em</strong> novo modelo para o fisco<br />

se não t<strong>em</strong>os sequer um projeto de<br />

Esta<strong>do</strong>? Pior, carec<strong>em</strong>os antes de um<br />

projeto de país. Por onde começar? Os<br />

servi<strong>do</strong>res desse mesmo Esta<strong>do</strong> seriam<br />

os primeiros candidatos à construção<br />

<strong>do</strong> novo projeto. T<strong>em</strong>os condições? A<br />

nova geração, convencida de que ser<br />

servi<strong>do</strong>r público significa passar <strong>em</strong> um<br />

concurso difícil, ainda pode ser formada<br />

a t<strong>em</strong>po para a <strong>em</strong>preitada?<br />

Não t<strong>em</strong>os as respostas, mas encarar<br />

as questões, a despeito <strong>do</strong> me<strong>do</strong> que<br />

a perspectiva <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> nos<br />

causa, é s<strong>em</strong>pre o primeiro passo necessário.<br />

A isso nos propomos. O preço<br />

de não fazer e tentar agarrar-se a um<br />

ponto seguro, pode ser a extinção de<br />

cargos presos a suas funções obsoletas.<br />

Até porque não há lugar seguro quan<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> à volta derrete.<br />

P.S. Convidamos to<strong>do</strong>s a conhecer um<br />

pouco mais <strong>do</strong> papel de servi<strong>do</strong>res na<br />

construção <strong>do</strong> país, <strong>em</strong> diferentes áreas.<br />

É uma história grandiosa. Embraer, ITA,<br />

Banco <strong>do</strong> Brasil, Receita Federal, Petrobrás…<br />

Inspira<strong>do</strong>r.<br />

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