Observatório do Analista em Revista - 6 Edição
Revista do colaborativa dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil
Revista do colaborativa dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil
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Ex<strong>em</strong>plos<br />
Administração<br />
tributária no mun<strong>do</strong><br />
Texto: Ana Cláudia Nogueira / Fotos: Ricar<strong>do</strong> Pessetti<br />
A<br />
modernização da administração<br />
tributária passa<br />
necessariamente por uma<br />
mudança de cultura. A<br />
falta de compromisso com<br />
o serviço e o contribuinte<br />
precisa dar lugar a uma relação sadia e<br />
desburocratizada entre órgão/servi<strong>do</strong>r/<br />
contribuinte. A eficácia precisa ser mais<br />
valorizada que a burocracia. O controle<br />
externo <strong>do</strong>s atos deve ser cria<strong>do</strong> e<br />
atuar com rigor, prevenin<strong>do</strong> e punin<strong>do</strong><br />
irregularidades, erros e abusos.<br />
Para Roque Luiz Wandenkolk, <strong>Analista</strong><br />
Tributário e assessor <strong>do</strong> gabinete da<br />
DRF <strong>do</strong> Rio de Janeiro, a Receita Federal<br />
<strong>do</strong> Brasil está no caminho certo<br />
para implantar as medidas necessárias<br />
de modernização. A autonomia que<br />
será conquistada com a aprovação da<br />
PEC 186 é um <strong>do</strong>s fatores que apontam<br />
para um futuro melhor para a RFB.<br />
Durante o S<strong>em</strong>inário Esta<strong>do</strong>, Serviço Público<br />
e Administração Tributária no Brasil,<br />
A Receita<br />
Federal está no<br />
caminho certo<br />
para implantar as<br />
medidas<br />
necessárias de<br />
modernização<br />
Roque apresentou características de<br />
administrações de vários países. Uma<br />
interessante amostra não apenas de organização,<br />
mas também da cultura de<br />
povos, e de como ela interfere na qualidade<br />
<strong>do</strong> serviço público.<br />
Entidades internacionais como a ONU<br />
recomendam valores para se ter administrações<br />
tributárias eficientes: respeitar<br />
o contribuinte; ser simples e não<br />
complexa; conquistar a confiança <strong>do</strong><br />
contribuinte evitan<strong>do</strong> a rejeição social<br />
(os muitos casos de corrupção levam<br />
o contribuinte a não pagar impostos).<br />
A administração pode ser subordinada<br />
ou ter como característica a independência<br />
<strong>em</strong> relação à estrutura <strong>do</strong> poder<br />
executivo. Deve ter servi<strong>do</strong>res altamente<br />
qualifica<strong>do</strong>s, equipes multifuncionais, e<br />
uma cultura de desprezo à corrupção.<br />
O Programa Minerva, realiza<strong>do</strong> pelo<br />
Institute of Brazilian Business and Public<br />
Manag<strong>em</strong>ent Issues, na George Washington<br />
University, seleciona servi<strong>do</strong>res<br />
públicos para estu<strong>do</strong>s que visam a elevação<br />
<strong>do</strong>s padrões de eficiência <strong>do</strong><br />
setor público brasileiro. Ele indica que<br />
a administração tributária deve facilitar<br />
o contribuinte a se comunicar e recolher<br />
tributos. O recolhimento espontâneo é a<br />
solução, não a punição. Educação e<br />
conscientização são o caminho para a<br />
administração tributária moderna.<br />
Modelos<br />
O modelo americano é um ex<strong>em</strong>plo. A<br />
autoridade é o órgão, não o servi<strong>do</strong>r.<br />
As equipes multifuncionais de fiscalização<br />
são integradas por analistas, auditores<br />
e advoga<strong>do</strong>s. Os analistas são<br />
considera<strong>do</strong>s cargos estratégicos. A<br />
fiscalização <strong>do</strong>s serviços é rígida, realizada<br />
por um órgão externo à administração<br />
tributária. Pregam transparência<br />
e responsabilidade: o servi<strong>do</strong>r responde<br />
diretamente por qualquer ato de infração<br />
que ele derrubar, ou se d<strong>em</strong>orar excessivamente<br />
para concluir um processo<br />
administrativo qualquer. Toda denúncia<br />
<strong>do</strong> contribuinte é agilmente apurada.<br />
Os EUA fizeram uma análise <strong>do</strong>s direitos<br />
tributários para encontrar todas as dificuldades<br />
que o contribuinte poderia ter.<br />
O objetivo foi simplificar tu<strong>do</strong>, deixar absolutamente<br />
acessível. Também produziram<br />
a carta de direitos <strong>do</strong> contribuinte,<br />
muito importante para a relação entre<br />
esta<strong>do</strong>/cidadão, ainda tão autoritária<br />
nos dias atuais.<br />
Administrações tributárias na África optaram<br />
por ser uma espécie de autarquia<br />
cobra<strong>do</strong>ra de recursos, e não deu certo:<br />
foram extintas por ineficiência. A corrupção<br />
interna <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a deteriorou o<br />
serviço. “No Brasil não se afasta disso,<br />
t<strong>em</strong>os uma cultura muito permissiva. Se<br />
algum colega comete erro, a gente vira<br />
o rosto para não trazer aborrecimento<br />
para a gente. O colega pratica delito<br />
funcional por omissão nossa. Precisamos<br />
passar a cobrar mais compromisso com<br />
o que é público. É um dever nosso. Precisamos<br />
denunciar os erros”, avalia Roque.<br />
Um outro modelo apresenta<strong>do</strong> foi o da<br />
Coréia <strong>do</strong> Sul, que aumentou a arrecadação<br />
amplian<strong>do</strong> a base de contribuintes.<br />
“A população está tão b<strong>em</strong> educada<br />
na questão fiscal, que só usa cartão<br />
de débito para realizar compras, mesmo<br />
que pequenas. Se aparecer alguém<br />
para comprar algo <strong>em</strong> dinheiro, é reprova<strong>do</strong><br />
pela sociedade. T<strong>em</strong> que pagar<br />
com cartão, porque assim há um efetivo<br />
controle fiscal, to<strong>do</strong> dinheiro deve circular<br />
pela rede bancária”.<br />
“Se algum colega comete<br />
erro, a gente vira o rosto<br />
para não trazer<br />
aborrecimento. O colega<br />
pratica delito funcional por<br />
omissão nossa.<br />
Precisamos passar a<br />
cobrar mais compromisso<br />
com o que é público. É um<br />
dever nosso. Precisamos<br />
denunciar os erros.”<br />
A conclusão de Roque é de que t<strong>em</strong><br />
muita coisa boa acontecen<strong>do</strong> no exterior<br />
que pod<strong>em</strong>os utilizar na administração<br />
tributária brasileira. “T<strong>em</strong>os muito<br />
a corrigir no país. A relação auditor e<br />
analista, que são da mesma carreira,<br />
precisa ser institucionalmente resolvida.<br />
Afastar o analista da fiscalização é um<br />
erro, que apenas atende a interesses<br />
corporativistas <strong>do</strong>s auditores. Pertenc<strong>em</strong>os<br />
a uma mesma carreira”. E conclama:<br />
“Nós vamos dizer não para a ineficiência<br />
e a burocracia. Denunci<strong>em</strong> a corrupção,<br />
o descompromisso com a coisa pública.<br />
Precisamos, de uma vez por todas, vestir<br />
a camisa <strong>do</strong> serviço público e fazer o<br />
melhor para a Receita e para o contribuinte”.<br />
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