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Observatório do Analista em Revista - 6 Edição

Revista do colaborativa dos Analistas-Tributários da Receita Federal do Brasil

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e interesses pessoais e corporativos. Até<br />

que ponto concepções e interesses individuais<br />

interfer<strong>em</strong> no funcionamento<br />

das instituições públicas hoje no Brasil?<br />

Nassif - Quan<strong>do</strong> o sujeito entra para<br />

trabalhar na <strong>em</strong>presa, ela t<strong>em</strong> sua cultura,<br />

seus valores. T<strong>em</strong> uma carreira que<br />

ele cumpre assimilan<strong>do</strong> esses valores. Se<br />

a <strong>em</strong>presa é moderna e organizada, o<br />

Departamento de Recursos Humanos vai<br />

acompanhar para saber se o sujeito segue<br />

aqueles valores. O que aconteceu<br />

no setor público com esse grande salto<br />

que deu na última década é que você<br />

não t<strong>em</strong> esses valores prévios defini<strong>do</strong>s.<br />

Há valores at<strong>em</strong>porais <strong>do</strong> serviço público<br />

e conceitos de interesse nacional<br />

que precisam ser muito claros. O interessante<br />

é ver o Esta<strong>do</strong> como provoca<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento. A elite de cada<br />

área afim devia estudar e discutir alternativas<br />

que visass<strong>em</strong> o objetivo final<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. O que quer<strong>em</strong>os <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

brasileiro? Quer<strong>em</strong>os um país que trate<br />

b<strong>em</strong> seus cidadãos, que acabe com miséria<br />

e fome, que traga bons <strong>em</strong>pregos.<br />

Para trazer bons <strong>em</strong>pregos e bancar<br />

tu<strong>do</strong> isso você t<strong>em</strong> que ter uma economia<br />

dinâmica. Para ter uma economia<br />

dinâmica você t<strong>em</strong> que ter um conjunto<br />

de ferramentas tributárias, fiscais, financiamento.<br />

Essa visão <strong>do</strong> conjunto t<strong>em</strong><br />

que estar muito nítida para o servi<strong>do</strong>r<br />

entender qual o papel dele e onde ele<br />

está nessa estrutura.<br />

OA - Como o senhor avalia o papel das<br />

instituições nesse processo de impeachment<br />

que está <strong>em</strong> curso contra a presidente<br />

Dilma?<br />

Nassif - As instituições atuaram de forma<br />

parcial, para derrubar a presidente.<br />

OA - Agir segun<strong>do</strong> seus interesses e crenças,<br />

contrarian<strong>do</strong> o interesse público e<br />

suas obrigações, não devia ser puni<strong>do</strong>?<br />

Parece que isso está meio frouxo.<br />

Nassif – Primeiro você precisa ter claro o<br />

que é interesse público. O funcionário, a<br />

autoridade pública t<strong>em</strong> poder de Esta<strong>do</strong>.<br />

Não pode atuar de forma impune.<br />

É o seguinte, eu vou tomar uma medida<br />

“x” aqui, t<strong>em</strong> 10% de probabilidade <strong>do</strong><br />

cara ser culpa<strong>do</strong> e 90% de ser inocente.<br />

Se eu não tenho risco nenhum, eu vou<br />

pegar to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>! Como está sen<strong>do</strong><br />

feito hoje. Mesmo na Receita, você t<strong>em</strong><br />

essa questão de fiscais que, mesmo <strong>em</strong> planejar. Você tinha uma sede de inovação<br />

muito interessante que <strong>em</strong> certo<br />

situação <strong>em</strong> que o outro la<strong>do</strong> vai ganhar<br />

se for para a Justiça, insist<strong>em</strong> até o momento a Dilma perdeu o pé, e se perdeu<br />

essa energia.<br />

final s<strong>em</strong> avaliar o custo dessa insistência.<br />

Então você t<strong>em</strong> que ter outras formas<br />

de controle.<br />

trada para o universo <strong>do</strong> serviço públi-<br />

OA - Vamos falar sobre a porta de en-<br />

OA – O senhor consegue imaginar isso co. O merca<strong>do</strong> de concurso interfere no<br />

sen<strong>do</strong> feito de forma centralizada, pelo perfil <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res, das carreiras e na<br />

Ministério <strong>do</strong> Planejamento, por ex<strong>em</strong>plo?<br />

Nassif - Interfere no seguinte senti<strong>do</strong>:<br />

qualidade <strong>do</strong> serviço público?<br />

Nassif - Pode ser, mas os ministérios estão<br />

sujeitos ao ministro de plantão. No De mo<strong>do</strong> geral, com poucas exceções,<br />

ele faz uma pré-seleção econômica.<br />

final <strong>do</strong> governo Lula, quan<strong>do</strong> estava o cara que entra para fazer concursos<br />

começan<strong>do</strong> a se preparar o governo é um cara que estuda três anos direto,<br />

Dilma eu tive numa palestra, num debate<br />

no Ministério <strong>do</strong> Planejamento, que segun<strong>do</strong> ponto é que o sujeito que é<br />

a família com condição de bancar. O<br />

tinha uma vontade muito interessante de concursa<strong>do</strong> ele já entra numa posição<br />

que é muito alta, não absorve a cultura<br />

<strong>do</strong> próprio setor e n<strong>em</strong> t<strong>em</strong> conhecimento<br />

acumula<strong>do</strong> sobre os des<strong>do</strong>bramentos<br />

da sua ação para o país ou para o<br />

setor. Fica uma coisa mecanicista e daí<br />

ele perde a noção <strong>do</strong> serviço público.<br />

Ele não é um servi<strong>do</strong>r público mais: ele é<br />

uma elite que vira autoridade.<br />

OA - Isso se deve ao subdesenvolvimento?<br />

Nassif - É, ué. Ao subdesenvolvimento e<br />

ao fato de o serviço público, nos últimos<br />

anos, não ter discuti<strong>do</strong> sua missão.<br />

Qualquer <strong>em</strong>presa t<strong>em</strong> lá a missão da<br />

<strong>em</strong>presa, os valores. O cara entra e t<strong>em</strong><br />

aquela conversa, a convivência com<br />

outros setores para assimilar os valores<br />

da <strong>em</strong>presa. No Esta<strong>do</strong> brasileiro você<br />

não t<strong>em</strong> isso. É a profissionalização da<br />

meritocracia.<br />

OA - O concurso público, <strong>em</strong> 1988, tinha<br />

a missão de acabar com o apadrinhamento<br />

político e qualificar tecnicamente<br />

o serviço público. Hoje, quase 30 anos<br />

depois, a forma de seleção é a mesma,<br />

mas será que ainda serve? Não precisaria<br />

de um aprimoramento?<br />

Nassif - É um modelo que mede o nível<br />

de conhecimento <strong>do</strong> candidato <strong>em</strong> relação<br />

a um conjunto de matérias. Você<br />

t<strong>em</strong> um conjunto de valores que não são<br />

medi<strong>do</strong>s por este tipo de concurso. A<br />

visão <strong>em</strong>preende<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> sujeito, a maneira<br />

como entende o serviço público,<br />

os valores. Você t<strong>em</strong> esse conjunto de<br />

fatores aí.<br />

OA – O senhor vê alternativas melhores<br />

para o modelo de concurso atual?<br />

Nassif - Não. Mas a ENAP durante algum<br />

t<strong>em</strong>po tinha esse papel de criar modelos<br />

de gestão, valores. Não sei agora como<br />

está. Essas escolas de governo seriam<br />

um caminho. O Itamaraty durante algum<br />

t<strong>em</strong>po exigia lá um conjunto de livros de<br />

leitura lá que era muito mais amplo, dan<strong>do</strong><br />

uma visão geopolítica, um conjunto<br />

de fatores para o cara ter, se identificar<br />

as vocações que interessavam à diplomacia.<br />

Acho que de alguma maneira os<br />

concursos, os cursos da ENAP, ou esse<br />

perío<strong>do</strong> probatório tinha que ser mais rigoroso<br />

e foca<strong>do</strong> nos valores da corporação.<br />

E obviamente, antes de ensinar<br />

os valores precisa definir os valores.<br />

OA - Hoje qu<strong>em</strong> passa no concurso pode<br />

“Qual o princípio da tributação sobre herança? É o<br />

seguinte: to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> t<strong>em</strong> que começar a disputar<br />

ten<strong>do</strong> uma base igual. Se o cara é filho de um<br />

multimilionário, já t<strong>em</strong> melhor educação, boa rede de<br />

relacionamentos. Então, ele t<strong>em</strong> tu<strong>do</strong> que foi<br />

acumula<strong>do</strong> pelo pai como ponto de partida. Isso nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s t<strong>em</strong> to<strong>do</strong> o cerco para o cara abrir<br />

mão da super herança. Aqui se criou uma ideologia<br />

maluca: um milhão na mão de um bilionário vai ser<br />

mais produtivo (porque ele sabe como multiplicar o<br />

dinheiro) <strong>do</strong> que na mão <strong>do</strong> pobre. .”<br />

chegar já no topo da carreira <strong>em</strong> termos fique fora <strong>do</strong> país. Isso beneficia diretamente<br />

os rentistas.<br />

de função. Isso não prejudica o serviço?<br />

Nassif – Claro! Você chega numa <strong>em</strong>presa,<br />

t<strong>em</strong> os valores da <strong>em</strong>presa e um Nassif - Essa questão <strong>do</strong> imposto sobre<br />

OA – Qual o ponto fraco da tributação?<br />

processo gradativo <strong>em</strong> que a pessoa herança é o ponto fraco, definitivamente.<br />

Qual o princípio da tributação so-<br />

vai acumulan<strong>do</strong> esses valores. S<strong>em</strong> esse<br />

preparativo você não acumula valores, bre herança? É o seguinte: to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

e s<strong>em</strong> valores você não t<strong>em</strong> uma corporação.<br />

A corporação acaba se dan<strong>do</strong> base igual. Se o cara é filho de um multi-<br />

t<strong>em</strong> que começar a disputar ten<strong>do</strong> uma<br />

<strong>em</strong> torno de princípios individuais, da melhoria<br />

salarial, da capacitação. E como rede de relacionamentos. Então, ele t<strong>em</strong><br />

milionário, já t<strong>em</strong> melhor educação, boa<br />

entra com um salário inicial muito melhor tu<strong>do</strong> que foi acumula<strong>do</strong> pelo pai como<br />

<strong>do</strong> que o <strong>do</strong> setor priva<strong>do</strong>, passa uma ponto de partida. Isso nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

t<strong>em</strong> to<strong>do</strong> o cerco para o cara abrir<br />

ideia de que tu<strong>do</strong> que acontece é por<br />

mérito dele, não por um defeito da seleção.<br />

Se ele já chega e da noite pro dia uma ideologia maluca: um milhão na<br />

mão da super herança. Aqui se criou<br />

já está b<strong>em</strong> sucedi<strong>do</strong>... Não existe qu<strong>em</strong> mão de um bilionário vai ser mais produtivo<br />

(porque ele sabe como multiplicar o<br />

da noite para o dia mude o status assim<br />

e consiga ter uma visão madura. Alguns dinheiro) <strong>do</strong> que na mão <strong>do</strong> pobre.. Mas<br />

consegu<strong>em</strong>, mas muito pouco. Você não o grande probl<strong>em</strong>a fiscal e tributário<br />

consegue incutir na rapaziada o verdadeiro<br />

mérito s<strong>em</strong> escalar etapas. Então a se entregou o orçamento para o Banco<br />

que nós t<strong>em</strong>os aqui é a maneira como<br />

meritocracia consiste num exame só, não Central. O exercício da dívida pública<br />

é numa escalada que você faz no dia é um crime. Você pegar 8% <strong>do</strong> PIB para<br />

a dia.<br />

juros é crime. Isso não existe. Não t<strong>em</strong> fundamentação<br />

científica.<br />

OA - Como o senhor avalia o modelo de<br />

tributação existente no Brasil hoje? OA – Qual a dificuldade de se enfrentar<br />

Nassif - Totalmente regressivo. Um modelo<br />

que vai exclusivamente <strong>em</strong> cima Nassif - Se criou o rentista, que vive dis-<br />

esse probl<strong>em</strong>a?<br />

<strong>do</strong> consumo, penaliza... as brechas que so. Outro dia saiu o balanço da Globo.<br />

você t<strong>em</strong> aí para os altos executivos Teve um bilhão de resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> uma<br />

é uma coisa maluca, e a falta de filtros parte da Globo, seiscentos milhões foi<br />

para a transferência de recursos faz com ganho financeiro. Então você criou toda<br />

que a parte que deveria ser tributada uma cadeia produtiva <strong>em</strong> cima disso. O<br />

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