Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>75</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s a Nossa Senhora da Salette<br />
em Marcelino Ramos - RS<br />
1
Fundação Salette e Missionários<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette<br />
Curitiba - PR<br />
2010<br />
Projeto Gráfico e diagramação<br />
Pe. Adilson Schio, ms<br />
Revisão<br />
Pe. Atico Fassini, ms<br />
Fotografias<br />
Arquivo Provincial e Arquivo<br />
do Seminário Salette<br />
Impressão:<br />
2010 - Santuário Salette - Marcelino Ramos-RS.<br />
2
PE. ADILSON SCHIO, ms - Provincial<br />
Eis uma obra<br />
que celebra uma história.<br />
Não nasci em Marcelino<br />
Ramos, mas aprendi a admirar<br />
esta terra pois foi ali que<br />
<strong>de</strong>scobri muitas coisas da minha<br />
vida. Quanto a meu pai<br />
Afonso e minha mãe Leonora,<br />
eles vieram ao mundo nesta<br />
parte do planeta e, em duas<br />
comunida<strong>de</strong>s rurais, fizeram<br />
suas vidas até se casarem.<br />
Mesmo não sendo “marcelinense”,<br />
tomei água do Rio<br />
Uruguai e, como se diz, quem<br />
toma <strong>de</strong>ssa água, nunca esquece<br />
esta terra e sempre volta.<br />
Cheguei em Marcelino Ramos<br />
no ano <strong>de</strong> 1968. Na história<br />
do <strong>Brasil</strong> este ano foi marcado<br />
por muitas efervecências<br />
sociais e políticas. Lá na pequena<br />
Marcelino e para aquele pequeno<br />
projeto <strong>de</strong> vida que era<br />
eu, o ano <strong>de</strong> 1968 foi <strong>de</strong> muitos<br />
começos. Tudo era gran<strong>de</strong><br />
e novo para mim: o Moinho<br />
on<strong>de</strong> meu pai trabalhava; a casa<br />
on<strong>de</strong> morávamos; a Igreja<br />
Matriz; o Grupo Escolar on<strong>de</strong><br />
eu estudaria no ano seguinte e<br />
o Seminário. Ah! Este sim era<br />
gran<strong>de</strong> e no alto. Belo referencial<br />
religioso para um menino<br />
<strong>de</strong> família católica.<br />
Marcelino Ramos e a minha<br />
cabeça se transformavam<br />
no último domingo do mês <strong>de</strong><br />
setembro. Muitos carros, muitos<br />
ônibus, o trem apitando<br />
alegremente na chegada das 5<br />
da manhã, as pessoas caminhando<br />
e rezando... Lembro da<br />
Estação do Trem e muita gente<br />
subindo as “Escadarias do<br />
Correio”. É uma bonita recordação<br />
composta <strong>de</strong> pessoas<br />
em busca <strong>de</strong> chegar a um lugar<br />
mais alto.<br />
Agora este Livro comemorativo<br />
aos <strong>75</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s.<br />
Mais do que o tempo<br />
que o livro marca, ele é, na linda<br />
inspiração do texto do Pe.<br />
Atico Fassini, o registro da longa<br />
caminhada <strong>de</strong> um sonho: ao<br />
seguirem na direção do Cruzeiro<br />
do Sul, os Missionários Saletinos<br />
sempre carregaram consigo<br />
o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mostrar ao<br />
povo uma “Bela Senhora” que<br />
lhes tinha algo a dizer. E assim<br />
o fizeram...<br />
Que fiquem registrados,<br />
neste Livro, estes <strong>75</strong> <strong>anos</strong>,<br />
mas que saibamos que já começou<br />
outro tempo <strong>de</strong> muitos<br />
outros <strong>75</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s<br />
em Marcelno Ramos.<br />
3
1940 - 5 a <strong>Romaria</strong>.<br />
Índice<br />
08<br />
I - La Salette, manancial <strong>de</strong><br />
compaixão<br />
10<br />
II - Marcelino Ramos, remanso<br />
<strong>de</strong> reconciliação<br />
15<br />
III - A imersão missionária<br />
saletina<br />
15 - Fundação da Paróquia São<br />
João Batista<br />
19 - Fundação da Escola<br />
Apostólica<br />
32<br />
IV - As festivida<strong>de</strong>s Saletinas<br />
32 - O ciclo paroquial<br />
36 - As <strong>Romaria</strong>s Penitenciais<br />
36 - 1 a Fase: do vale da<br />
dispersão ao monte<br />
da reconciliação<br />
60 - 2 a Fase: O Santuário<br />
do encontro reconciliador<br />
107<br />
Conclusão<br />
4
Apresentação<br />
"SALETTE NA ROTA DO CRUZEIRO DO SUL"<br />
é um texto comemorativo. Feito <strong>de</strong> palavras, <strong>de</strong> fotografias,<br />
mas, sobretudo, da vida daqueles que construíram<br />
essa história, a saga saletina em terras sulinas<br />
do <strong>Brasil</strong>.<br />
Nessa história se tornaram relevantes as ROMA-<br />
RIAS PENITENCIAIS a NOSSA SENHORA DA SALETTE.<br />
História impregnada <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong> conversão e <strong>de</strong> carinho<br />
filial para com a Mãe da Reconciliação. História que há<br />
<strong>75</strong> <strong>anos</strong> se faz sem interrupção.<br />
A presente obra quer sublinhar o valor <strong>de</strong>sse Jubileu.<br />
Paralelamente ao <strong>75</strong>º aniversário das <strong>Romaria</strong>s,<br />
o Município <strong>de</strong> Marcelino Ramos, RS, on<strong>de</strong> elas acontecem,<br />
celebra em 2010, o 1º Centenário <strong>de</strong> morte do<br />
engenheiro carioca MARCELLINO RAMOS DA SILVA que<br />
<strong>de</strong>lineou o traçado da estrada <strong>de</strong> ferro e da ponte ferroviária<br />
sobre o Rio Uruguai, na localida<strong>de</strong>. Em sua homenagem,<br />
a vila recebeu essa <strong>de</strong>nominação.<br />
Duplo é o jubileu. Dupla é a comemoração. Redobrada<br />
é a exultação. Ilimitadas são as felicitações que<br />
os Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette oferecem<br />
ao povo <strong>de</strong> Marcelino Ramos que os acolheu. Calorosamente<br />
recebem o carinho <strong>de</strong>sse mesmo povo a<br />
quem servem pela causa do Evangelho e do amor filial<br />
a Nossa Senhora da Salette.<br />
Ponte Ferroviária sobre o Rio Uruguai - Marcelino Ramos-RS.<br />
5
1928 - Primeira residência dos Missionários Saletinos em Marcelino Ramos-RS.<br />
6
Prefácio<br />
MARCELINO RAMOS é en<strong>de</strong>reço<br />
<strong>de</strong> uma das mais importantes<br />
e antigas <strong>Romaria</strong>s<br />
Marianas no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
Caminhos múltiplos, tortuosos,<br />
escarpados e por vezes inesperados,<br />
ali se concentraram.<br />
Originários <strong>de</strong> longe, muito longe.<br />
De além mar. Caminhos<br />
que tornaram o local um centro<br />
religioso por excelência.<br />
As pequenas águas do regato<br />
Sézia, minúscula torrente<br />
a dois mil metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>,<br />
nas montanhas dos Alpes<br />
da remota LA SALETTE, França,<br />
<strong>de</strong>scem por natureza, impregnadas<br />
<strong>de</strong> pura beleza,<br />
mescladas às águas da misteriosa<br />
fonte, intermitente antes<br />
da Aparição a 19 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1846, incessante após o<br />
"Fato da Salette". Águas humil<strong>de</strong>s,<br />
fertilizadas pelas lágrimas<br />
<strong>de</strong> graça <strong>de</strong>rramadas pela BELA<br />
SENHORA assentada em tosco<br />
trono <strong>de</strong> pedra. Lágrimas <strong>de</strong><br />
Mãe e Rainha-Serva que fluíam<br />
como a torrente das "Águas <strong>de</strong><br />
Vida" que vertem do trono do<br />
Cor<strong>de</strong>iro, o Cristo (Ap 22,2).<br />
Atravessando vales e mares,<br />
paises, continentes, cida<strong>de</strong>s<br />
e florestas, a torrente <strong>de</strong><br />
graças com abundância impregnou<br />
a selvagem solidão dos<br />
morros <strong>de</strong> Marcelino Ramos,<br />
ponto <strong>de</strong> confluência <strong>de</strong> rios <strong>de</strong><br />
muitas águas, místico símbolo<br />
da profusão das águas salvadoras<br />
que banham a vida do<br />
Povo <strong>de</strong> Deus.<br />
Mulheres e homens, crianças<br />
e adultos, santos e pecadores,<br />
à medida que o caminho<br />
se faz, mais vivamente<br />
sentem a misteriosa se<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas<br />
águas que os atraem a<br />
esse recanto <strong>de</strong> silêncio e paz.<br />
São caminheiros dos pontos<br />
car<strong>de</strong>ais da constelação do<br />
Cruzeiro do Sul que brilha nos<br />
céus sulinos do <strong>Brasil</strong>, pálido<br />
reflexo da intensa luz que emana<br />
do Cristo Crucificado Ressuscitado,<br />
resplen<strong>de</strong>nte sobre<br />
o coração <strong>de</strong> Maria, na Aparição.<br />
O presente álbum <strong>de</strong>seja<br />
recuperar a memória <strong>de</strong>sta<br />
saga missionária iniciada em<br />
Marcelino Ramos em 1928.<br />
Fatos e fotos constituem a matéria<br />
prima <strong>de</strong>ssa obra, impregnada<br />
do sagrado suor missionário<br />
que transpira nas entrelinhas<br />
do texto.<br />
Local da Aparição - França<br />
7
1 - La Salette, manancial <strong>de</strong> compaixão<br />
LA SALETTE, em 1846, era<br />
constituída por um punhado <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias<br />
sem relevância, encolhidas pelo frio e<br />
pobreza, nos meandros das montanhas<br />
dos Alpes, na região <strong>de</strong> GRENOBLE,<br />
na França. O povo pobre, cerca <strong>de</strong><br />
800 habitantes, ignorante e sofrido,<br />
carregava o peso da fome, da mortalida<strong>de</strong><br />
infantil, dos <strong>de</strong>sconcertos meteorológicos,<br />
das pragas agrícolas. Povo<br />
sem presente nem futuro, sem esperança<br />
e sem fé, <strong>de</strong>sgarrado <strong>de</strong> Deus<br />
e da Igreja. A 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1846, foi, no entanto, contemplado<br />
pela infinita compaixão do Senhor.<br />
Duas míseras crianças analfabetas,<br />
Melânia e Maximino, na manhã<br />
<strong>de</strong>sse dia, conduziram um pequeno rebanho<br />
ao alto <strong>de</strong> uma das montanhas<br />
do local, muito acolá, a mil e oitocentos<br />
metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a pastagem<br />
era abundante.<br />
Após frugal refeição ao meiodia,<br />
amedrontadas, <strong>de</strong> súbito viram um<br />
foco <strong>de</strong> intensa luz à beira do regato<br />
Sézia que serpenteia o local. O foco<br />
vagarosamente se abriu. Uma Senhora<br />
sentada sobre uma pedra, chorava<br />
efusivamente. Levantando-se, com voz<br />
materna chamou junto a si as humil<strong>de</strong>s<br />
crianças. Falou-lhes da cruel realida<strong>de</strong><br />
que o povo vivia e <strong>de</strong> sua irreligião.<br />
Compa<strong>de</strong>cida, por meio <strong>de</strong>las convocou-o<br />
a se converter, assinalando-lhe<br />
nova esperança <strong>de</strong> vida pelas vias da<br />
reconciliação. Caminheira, andou <strong>de</strong>pois<br />
alguns passos montanha acima,<br />
seguida pelos vi<strong>de</strong>ntes. Ao <strong>de</strong>spedirse<br />
<strong>de</strong>les, pediu-lhes que transmitissem<br />
tudo a todo seu povo. E <strong>de</strong>sapareceu.<br />
Ignorantes, as crianças a <strong>de</strong>nominaram<br />
simplesmente <strong>de</strong> "BELA SENHORA".<br />
A divulgação ampla e imediata<br />
do fato levou multidões, por trilhas quase<br />
impossíveis, ao alto da montanha<br />
santa, para agra<strong>de</strong>cer e implorar graças<br />
a Maria.<br />
O Bispo <strong>de</strong> Grenoble, Dom<br />
Philisbert <strong>de</strong> Bruillard, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> rigorosa<br />
investigação, reconheceu oficialmente<br />
a autenticida<strong>de</strong> da Aparição cinco<br />
<strong>anos</strong> após, a l9 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1851. A 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1852 or<strong>de</strong>nou<br />
a construção <strong>de</strong> um Santuário no local<br />
santificado pela visita da BELA SE-<br />
NHORA e fundou a Congregação dos<br />
Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette (MS) para servirem os numerosos<br />
peregrinos que acorriam à fonte<br />
<strong>de</strong> graças.<br />
O "Fato da Salette" percorreu o<br />
mundo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. 1<br />
1 - Uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talhada do Fato da Aparição, o texto da Mensagem da Bela Senhora, bem como o<br />
histórico central do que aconteceu após a Aparição, se encontram em distintas obras, particularmente em<br />
"CRÔNICAS DE UMA MISSÃO - 100 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> presença saletina no <strong>Brasil</strong>", <strong>de</strong> Pe. Atico Fassini ms,<br />
obra publicada em 2001, pela Associação Nossa Senhora da Salette, por ocasião do 1º Centenário da<br />
Missão Saletina no <strong>Brasil</strong>.<br />
08
Santuário da Salette - França<br />
O vigor das águas <strong>de</strong> vida<br />
saletina trouxe ao <strong>Brasil</strong>, a 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1902, o pioneiro, um missionário<br />
francês, Pe. Clemente<br />
Henrique Moussier, ms. Alguns mais vieram<br />
a seguir.<br />
A Congregação, pequeno rebanho<br />
nos primeiros <strong>anos</strong> do século XX,<br />
se <strong>de</strong>teve na região <strong>de</strong> São Paulo e Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. Em 1928 partiu em direção<br />
ao Sul do <strong>Brasil</strong>, para uma terra<br />
que Deus lhe indicaria.<br />
09
2 - Marcelino Ramos, remanso <strong>de</strong> Reconciliação<br />
1934<br />
Vista parcial da cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos-RS.<br />
10<br />
Estratégica porteira <strong>de</strong> entrada<br />
no centro-norte do solo gaúcho, montada<br />
nas barrancas do Rio Uruguai,<br />
MARCELINO RAMOS viu-se povoada<br />
por volta <strong>de</strong> 1880.<br />
Em janeiro <strong>de</strong> 1888, o <strong>de</strong>sbravador<br />
Augusto César <strong>de</strong>sceu pelo Rio<br />
do Peixe, SC, até o Rio Pelotas. A junção<br />
<strong>de</strong> ambos, forma o Rio Uruguai.<br />
Nesse ponto se localiza Marcelino<br />
Ramos. "BARRA" foi sua primeira <strong>de</strong>nominação.<br />
Augusto César explorava<br />
o terreno para a futura ferrovia. Descendo<br />
mais pelo Rio Uruguai, <strong>de</strong>scobriu<br />
poucos quilômetros abaixo, o "Estreito<br />
Augusto César", hoje encoberto<br />
pelas águas da represa <strong>de</strong> Itá.<br />
O panorama é majestoso, <strong>de</strong>corado<br />
por montanhas carregadas <strong>de</strong><br />
mata atlântica que se espelham na serenida<strong>de</strong><br />
das águas do rio, divisa natural<br />
entre os Estados <strong>de</strong> Santa Catarina<br />
e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />
No século XIX a região era<br />
habitada por poucos indígenas da tribo<br />
Coroados e por animais silvestres.<br />
Viu a população aumentar com a chegada<br />
<strong>de</strong> fugitivos da Revolução Fe<strong>de</strong>ralista<br />
<strong>de</strong> 1893. Outros moradores<br />
chegaram, a partir <strong>de</strong> 1907, para<br />
a construção da ferrovia e da ponte<br />
sobre o Rio Uruguai. A obra fora autorizada<br />
por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Dom Pedro<br />
II a 9 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1889. Em outubro<br />
<strong>de</strong> 1911 uma parte do casario<br />
da localida<strong>de</strong> e a ponte provisória foram<br />
arrastadas corrente abaixo, por<br />
enorme enchente.
Dois <strong>anos</strong> após, em 1913, foi<br />
inaugurada a ponte metálica atual.<br />
No alvorecer do século XX, imigrantes<br />
alemães, itali<strong>anos</strong> e poloneses<br />
vieram do centro-sul do Rio Gran<strong>de</strong>,<br />
para a exploração agrícola da região.<br />
A eles se somaram remanescentes da<br />
Guerra do Contestado. Juntos trouxeram<br />
certo crescimento econômico e<br />
social à localida<strong>de</strong> que, em função da<br />
ferrovia, passou a se chamar "ESTA-<br />
ÇÃO ALTO URUGUAI". Os colonos<br />
<strong>de</strong>sbravaram o terreno, produziam alimento<br />
para si e o povoado. Pequenas<br />
indústrias apareceram. Um lento progresso<br />
da região aconteceu. Mo<strong>de</strong>stas<br />
casas <strong>de</strong> comércio surgiram. A localida<strong>de</strong>,<br />
muito isolada, tinha a ferrovia<br />
como única via <strong>de</strong> comunicação.<br />
Somente em 1911, o local foi <strong>de</strong>nominado<br />
"MARCELINO RAMOS",<br />
em homenagem ao engenheiro da ferrovia.<br />
Pouco antes, a 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1910, ele havia falecido no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. A ferrovia teve papel prepon<strong>de</strong>rante<br />
para o comércio e o transporte<br />
<strong>de</strong> passageiros entre as regiões su<strong>de</strong>ste<br />
e sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
A 27 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1918, a localida<strong>de</strong><br />
foi elevada à categoria <strong>de</strong> vila,<br />
como 3º Distrito <strong>de</strong> Boa Vista <strong>de</strong> Erechim.<br />
A população crescia, somadas vila<br />
e roça, na simplicida<strong>de</strong> da vida patriarcal.<br />
Em 1918 ainda, foi inaugurada a<br />
primeira capela católica, em ma<strong>de</strong>ira. O<br />
Padroeiro escolhido foi São João Batista.<br />
Em 1930, as Irmãs <strong>de</strong> São José<br />
instalaram na vila o Colégio Cristo Rei.<br />
Indígenas primitivos da Região - Foto <strong>de</strong> 07/04/1930<br />
11
Por volta <strong>de</strong> 1931, a população<br />
da região contava cerca <strong>de</strong> seis mil e<br />
quinhentos habitantes. Apesar do reduzido<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, Marcelino Ramos<br />
foi <strong>de</strong>clarada município a 28 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1944.<br />
Em 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1945, a Igreja<br />
Matriz foi <strong>de</strong>struída por um vendaval.<br />
A imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette chorando, uma das três estátuas<br />
que representam a Aparição, confeccionadas<br />
na França e instaladas num<br />
altar próprio na Igreja Matriz pelo Pe.<br />
Simão Baccelli ms, em 1928, não sofreu<br />
dano algum. É carregada em procissão<br />
nas <strong>Romaria</strong>s da Salette. Pouco<br />
tempo após o vendaval, foi iniciada a<br />
construção da atual Igreja Matriz.<br />
Em 1947 o Hospital São João<br />
recebeu uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Irmãs da<br />
Carida<strong>de</strong>, que durante muitos <strong>anos</strong><br />
prestaram serviço aos doentes. O Hospital<br />
mais tar<strong>de</strong> cerrou as portas. Foi<br />
construído então, o atual Hospital Dr.<br />
Silveira. Uma instituição para proteção<br />
e educação <strong>de</strong> menores excluídos, posteriormente<br />
foi confiada ao cuidado das<br />
Irmãs dos Santos Anjos.<br />
Com a política econômica adotada<br />
pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral na década<br />
<strong>de</strong> 50, a evolução do município reverteu.<br />
O transporte rodoviário no conjunto<br />
do país suplantou o transporte ferroviário.<br />
Em Marcelino Ramos, a ferrovia<br />
foi <strong>de</strong>sativada nos <strong>anos</strong> <strong>de</strong> 1980.<br />
Algumas indústrias promissoras partiram<br />
para outras paragens. Hoje, apenas<br />
um trem turístico transporta ocasionalmente<br />
passageiros para os balneários<br />
<strong>de</strong> águas quentes, em Piratuba,<br />
SC, e em Marcelino Ramos, RS.<br />
1931 - Festa da Comunida<strong>de</strong><br />
1932 - Capela original e sacristia<br />
1933 - Capela restaurada, ao fundo vê-se o campanário original
1928 - Visita do<br />
Padre a antigos<br />
moradores.
1951 - 16 a <strong>Romaria</strong><br />
Imagem <strong>de</strong> N. Sra. da Salette conduzida em procissão<br />
pelas ruas <strong>de</strong> Marcelino Ramos. É a mesma imagem<br />
que não sofreu dano no vendaval <strong>de</strong> 1945.<br />
Nos <strong>anos</strong> 1950, a PETROBRÁS<br />
S.A. havia pesquisado a área à procura<br />
<strong>de</strong> petróleo. Encontrou apenas um<br />
gran<strong>de</strong> lençol freático <strong>de</strong> águas quentes<br />
e sulfurosas. Sem interesse, lacrou<br />
o poço. Em 1970, por iniciativa do Prefeito<br />
Municipal, o poço foi reaberto<br />
para a instalação <strong>de</strong> um balneário, o<br />
que trouxe novo impulso ao município.<br />
Em 1985 iniciaram os estudos<br />
para a construção da Usina Hidroelétrica<br />
<strong>de</strong> Itá, SC, no Rio Uruguai, algumas<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> quilômetros abaixo da<br />
cida<strong>de</strong>. A obra foi concluída em 2000.<br />
O imenso lago formado pela represa<br />
exigiu o levantamento da ponte ferroviária<br />
sobre o Rio Uruguai e a construção<br />
<strong>de</strong> novas instalações para o balneário<br />
das águas termais, favorecendo o<br />
potencial turístico da região. A elevação<br />
das águas exigiu também o <strong>de</strong>slocamento<br />
da população ribeirinha para<br />
dois novos bairros na periferia da cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos, que recebeu<br />
aos poucos um tratamento urbanístico<br />
mais a<strong>de</strong>quado.<br />
14
Marcelino Ramos por volta dos <strong>anos</strong> 60<br />
3- A imersão missionária saletina<br />
Pe. Crozet, ms<br />
FUNDAÇÃO DA PARÓQUIA SÃO JOÃO BATISTA<br />
Pe. Willy, ms<br />
Pe. Poncet, ms<br />
Dom Ático<br />
Sonhando com seu próprio<br />
crescimento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1911 os Missionários<br />
queriam construir uma casa própria<br />
para a formação <strong>de</strong> seminaristas.<br />
O <strong>de</strong>sejo ressurgiu em 1917. As imposições<br />
da I Gran<strong>de</strong> Guerra impossibilitaram<br />
a realização da idéia e obrigaram<br />
a pequena Comunida<strong>de</strong> Saletina<br />
a permanecer restrita a São Paulo e<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Com a insistência do Superior<br />
Geral, Pe. Celestino Crozet ms, que<br />
visitara o <strong>Brasil</strong> em 1922, os Missionários<br />
se <strong>de</strong>cidiram por fim, em abril<br />
<strong>de</strong> 1927, enviar o Pe. Fidélis Willy ms,<br />
Superior Regional, ao Sul do <strong>Brasil</strong>,<br />
para observação do terreno. Percorreu<br />
diversas regiões, sobretudo em<br />
Santa Catarina e percebeu que a região<br />
sul era terreno fértil em vocações<br />
religiosas e sacerdotais.<br />
De volta a São Paulo, Pe. Fidélis<br />
tomou a iniciativa <strong>de</strong> enviar o Pe. Agostinho<br />
Poncet ms à Estação Uruguai, na<br />
Diocese <strong>de</strong> Lages, SC, para iniciar o<br />
trabalho pastoral e vocacional. Pe.<br />
Agostinho ali chegou a 12 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1927. O povoado contava com uma<br />
estação <strong>de</strong> trem, às margens do Rio<br />
do Peixe, em região próxima ao Rio<br />
Uruguai.<br />
Pe. Agostinho, sem <strong>de</strong>mora, lançouse<br />
à semeadura na seara do Senhor em<br />
terras catarinenses. Viajava, seguidas<br />
vezes, até Marcelino Ramos, RS, na<br />
outra margem do Rio Uruguai, on<strong>de</strong> o<br />
comércio era mais farto. Visitava ali algumas<br />
famílias, criando laços, sem esquecer<br />
o exercício do ministério pastoral<br />
que, nas circunstâncias, podia realizar.<br />
A localida<strong>de</strong> possuía espaçosa, mas<br />
<strong>de</strong>teriorada capela, periodicamente<br />
atendida pelos Fra<strong>de</strong>s Francisc<strong>anos</strong>, <strong>de</strong><br />
BARRO, atual GAURAMA.<br />
15
A PÉ OU A CAVALO<br />
16<br />
A comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos <strong>de</strong>sejava, porém, um padre resi<strong>de</strong>nte.<br />
Havia conversações a respeito<br />
com o Bispo <strong>de</strong> Santa Maria, RS,<br />
Dom Ático Eusébio da Rocha. O Bispo<br />
concordava com a idéia, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
houvesse padre disponível para a nova<br />
missão paroquial. Pe. Poncet se pôs à<br />
disposição. A realida<strong>de</strong> marcelinense<br />
lhe parecia mais promissora para uma<br />
Paróquia com Casa <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong><br />
seminaristas. Dom Atico, em <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 1927, convidou Pe. Agostinho<br />
a ir a Santa Maria, on<strong>de</strong> o assunto da<br />
criação da Paróquia foi resolvido e logo<br />
após, comunicado ao Pároco <strong>de</strong> Barro<br />
para encaminhar o <strong>de</strong>smembramento<br />
da nova Comunida<strong>de</strong> Paroquial.<br />
Pe. Fidélis, Superior Regional,<br />
em janeiro <strong>de</strong> 1928 quis ainda enviar<br />
o Pe. Simão Baccelli ms a Marcelino<br />
Ramos e Santa Maria, para uma análise<br />
conclusiva sobre o assunto. De volta<br />
a São Paulo, Pe. Simão prestou informações<br />
ao Conselho Regional e, a<br />
3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1928, o Conselho<br />
<strong>de</strong>cidiu transferir o Pe. Poncet da Estação<br />
Uruguai para o novo campo <strong>de</strong><br />
missão em Marcelino Ramos.<br />
Não foi sem resistência por parte<br />
dos moradores da Estação Uruguai<br />
que a transferência aconteceu. Alguns<br />
amigos <strong>de</strong> Pe. Poncet, moradores <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos, colaboraram para<br />
que ela fosse feita discretamente. O Sr.<br />
Achylles Pagnoncelli, resi<strong>de</strong>nte em<br />
Marcelino Ramos, exerceu um papel<br />
importante nesse episódio.<br />
A torrente das águas <strong>de</strong> vida, que<br />
<strong>de</strong>sce <strong>de</strong> LA SALETTE, finalmente encontrava<br />
um remanso tranquilo para banhar<br />
o plantio da semente evangélica<br />
da conversão que Maria trouxe para<br />
todo o seu povo. Os Missionários Saletinos<br />
podiam agora erigir uma Tenda<br />
da Reconciliação nos rincões do Sul do<br />
<strong>Brasil</strong> e nela formar novos Missionários<br />
Saletinos.<br />
A 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1928, Pe.<br />
Poncet <strong>de</strong>sembarcou no novo en<strong>de</strong>reço<br />
e hospedou-se no Hotel Familiar até<br />
28 <strong>de</strong> maio, enquanto os trabalhos <strong>de</strong><br />
reforma da Casa Paroquial e da Igreja<br />
Matriz eram finalizados. Ali seria instalada<br />
a Escola Apostólica em sua primeira<br />
fase.<br />
Poucas semanas após, a 12 <strong>de</strong><br />
março, a Paróquia <strong>de</strong> São João Batista<br />
foi oficialmente fundada. A 18 <strong>de</strong><br />
março <strong>de</strong> 1928, na missa dominical,<br />
em Barro, foi proclamado o <strong>de</strong>creto<br />
episcopal nomeando Pe. Poncet como<br />
primeiro Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Zelosamente o Padre começou<br />
a percorrer, a pé ou a cavalo, com o<br />
risco da própria vida, as comunida<strong>de</strong>s<br />
rurais da nova Paróquia, realizando um<br />
penoso, mas, valioso trabalho pastoral<br />
sempre voltado para a promoção<br />
vocacional. Teve o mérito <strong>de</strong> recrutar<br />
os primeiros candidatos para a Escola<br />
Apostólica. Percorria ao mesmo tempo,<br />
os arredores da vila, no intuito <strong>de</strong><br />
encontrar uma área apropriada para a<br />
Escola Apostólica, o centro <strong>de</strong> formação<br />
sacerdotal e religiosa, tão <strong>de</strong>sejado<br />
e <strong>de</strong>finitivo.<br />
O Pe. Simão Baccelli ms, viajou<br />
novamente <strong>de</strong> São Paulo a Marcelino<br />
Ramos a 27 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1928 e a 5 <strong>de</strong><br />
agosto substituiu o Pe. Poncet ms na<br />
direção da Paróquia São João Batista.<br />
Antes, a 24 <strong>de</strong> junho, o Pe. Poncet<br />
presidiu a celebração paroquial do<br />
Padroeiro. A 31 <strong>de</strong> julho, retornou para<br />
São Paulo e assumiu a Paróquia <strong>de</strong><br />
Santana, na capital.
Pe. Bacelli, ms<br />
Carta circular do Pe. Sorrel, ms datada <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1928,<br />
comunicando a <strong>de</strong>cisão do Conselho Geral <strong>de</strong> nomear o Pe. Simão<br />
Bacelli, ms como superior da Comunida<strong>de</strong> Religiosa<br />
e Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos-RS.<br />
17
Igreja Matriz São João Batista - 1999 - 64 a <strong>Romaria</strong><br />
Dom Atico, Bispo <strong>de</strong> Santa Maria, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1928, visitou Marcelino Ramos e <strong>de</strong>ixou escrita a seguinte<br />
mensagem:<br />
"Em visita pastoral nesta freguesia,<br />
dispensamos as nossas bênçãos<br />
mais escolhidas aos Revmos. Padres<br />
que a dirigem e à Escola Apostólica<br />
por cujo maior <strong>de</strong>senvolvimento<br />
fazemos votos a Deus. Que a Virgem<br />
Santíssima da Salette recompense<br />
os sacrifícios <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>dica-<br />
dos filhos, dando à sua benemérita<br />
Congregação abundantes e santas<br />
vocações. Marcelino Ramos, 17 <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1928"<br />
(in LIVRO TOMBO I, da Paróquia).<br />
Dom Atico passou novamente<br />
por Marcelino Ramos a 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1929, a caminho <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong><br />
assumiria a Diocese <strong>de</strong> Cafelândia. Na<br />
passagem, celebrou missa na Igreja<br />
Matriz e em lágrimas se <strong>de</strong>spediu da<br />
população ao embarcar no trem.<br />
A intensa ativida<strong>de</strong> pastoral <strong>de</strong><br />
Pe. Simão e <strong>de</strong> seus confra<strong>de</strong>s <strong>de</strong>spertou<br />
os paroqui<strong>anos</strong> <strong>de</strong> sua letárgica<br />
indiferença religiosa. Em 1932, ele<br />
voltou a trabalhar em São Paulo. O<br />
Pe. Fidélis Willy ms o substituiu como<br />
novo Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
A 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1933 a<br />
Região Saletina do <strong>Brasil</strong> foi elevada<br />
a Província, sob o título <strong>de</strong> Imaculada<br />
Conceição dos Missionários <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Salette. Pe. Simão foi<br />
nomeado primeiro Superior Provincial<br />
da Congregação no <strong>Brasil</strong>.<br />
18
Julho <strong>de</strong> 1928 - Pe. Agostinho Poncet, ms (<strong>de</strong> chapéu),<br />
Pe. A. M. Sorrel, ms e Pe. André Duguet, ms<br />
com os primeiros seis seminaristas: (da esquerda<br />
para a direita) - Angelo Ziliotto, João<br />
Casagran<strong>de</strong>, Quirino Marafon, José Bogoni, João<br />
Ziliotto e José Vicente.<br />
FUNDAÇÃO DA ESCOLA APOSTÓLICA<br />
No final <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1928, Pe.<br />
Agostinho Poncet, como Pároco <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos, recebeu a visita <strong>de</strong><br />
Pe. Fidélis Willy ms, Superior Regional.<br />
Com ele veio o Pe. A. M. Sorrel<br />
ms, Visitador enviado pelo Superior<br />
Geral. Tinha aportado ao <strong>Brasil</strong> poucos<br />
dias antes, a 20 <strong>de</strong> maio. Vieram<br />
acompanhados pelo Pe. André Duguet<br />
ms, chegado ao <strong>Brasil</strong> em 1926, para<br />
ser o Diretor da futura Escola Apostólica.<br />
Pe. Fidélis e Pe. Sorrel percorreram<br />
diferentes áreas da localida<strong>de</strong><br />
com o objetivo <strong>de</strong> ver a mais a<strong>de</strong>quada<br />
para a instalação da Escola.<br />
19
Depois <strong>de</strong> alguns dias seguiram<br />
para Santa Maria para um encontro<br />
com o Bispo, Dom Atico. De volta a<br />
Marcelino Ramos, prosseguiram na<br />
busca <strong>de</strong> um terreno favorável a seus<br />
objetivos. Finalmente fixaram o olhar<br />
numa chácara localizada no alto <strong>de</strong> um<br />
dos morros que circundam a vila. Pertencia<br />
ao Farmacêutico Mendonça. O<br />
terreno só foi adquirido a 2 <strong>de</strong> junho<br />
<strong>de</strong> 1930.<br />
Pe. Fidélis, a 26 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
1928, voltou para São Paulo. O Pe.<br />
Sorrel permaneceu em Marcelino Ramos<br />
para participar da solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
abertura da Escola Apostólica. Na<br />
Festa da Visitação, a 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1928, Pe. Duguet e Pe. Poncet com<br />
um sorriso <strong>de</strong> imensa bonda<strong>de</strong> acolheram<br />
os seis primeiros alunos na Casa<br />
Paroquial adaptada para ser o berço<br />
da formação dos saletinos brasileiros.<br />
Na simplicida<strong>de</strong> da pobreza concretizava-se<br />
o sonho dos pioneiros.<br />
Rabisco da planta <strong>de</strong> localização da Escola Apostólica em relação<br />
à Igreja Matriz - 1928<br />
20<br />
Ao lado: Casa em ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>stinada à<br />
moradia dos Padres e dos Seminaristas.<br />
Alí funcionou, por alguns <strong>anos</strong>, a Escola<br />
Apostólica dos Missionários Saletinos no<br />
<strong>Brasil</strong>. À esquerda se vê o campanário<br />
original da Igreja Matriz.<br />
Foto <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1930.
UM SANTO<br />
RELIGIOSO<br />
Pe. Allard, ms<br />
A 31 <strong>de</strong> julho, em companhia <strong>de</strong><br />
Pe. Agostinho, o Pe. Sorrel retornou<br />
para São Paulo e, a seguir, para a Europa.<br />
A 19 <strong>de</strong> outubro, o norte-americano<br />
Pe. Francisco Allard ms, Doutor<br />
em Filosofia, formado em Roma, veio<br />
para trabalhar na formação dos seminaristas.<br />
Em 1929, a 5 <strong>de</strong> maio, <strong>de</strong>sembarcou<br />
em Marcelino Ramos, o francês<br />
Irmão João Creff ms, um santo<br />
religioso que, na sua simplicida<strong>de</strong>, era<br />
homem <strong>de</strong> ação e oração inteiramente<br />
<strong>de</strong>dicado à causa vocacional saletina.<br />
Irmão João se <strong>de</strong>sdobrou em diferen-<br />
tes ativida<strong>de</strong>s básicas para a construção<br />
e o bom andamento da Escola<br />
Apostólica. Pôs-se logo a visitar a região<br />
para recrutar novos seminaristas<br />
e para difundir a revista "O Mensageiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette", fundada<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1917. A<br />
busca <strong>de</strong> recursos financeiros para a<br />
Escola Apostólica se tornou para ele<br />
uma missão incontornável. Para tanto<br />
se pôs a percorrer o Estado do Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Sul. Nem sempre era bem<br />
recebido pelos ricos. Encontrava mais<br />
facilmente acolhida junto aos pobres.<br />
Disse ele, certa vez:<br />
Ir. Creff, ms<br />
"Muitas vezes o trabalho é duro, mas<br />
quanto mais dificulda<strong>de</strong>s encontro, mais<br />
sinto aumentar a coragem"<br />
(LIVRO TOMBO I, da Escola Apostólica, pg. 87)<br />
As primeiras colunas mestras da Escola Apostólica<br />
estavam, assim, erigidas.<br />
Pe. Picard, ms<br />
21
O aumento do número <strong>de</strong> seminaristas,<br />
em 1929, exigia providências<br />
urgentes para a instalação a<strong>de</strong>quada<br />
e <strong>de</strong>finitiva da Escola Apostólica.<br />
O Conselho Geral enviou, então, como<br />
Visitador, o Ecônomo Geral, Pe. Eugênio<br />
Picard ms. Sua missão era orientar<br />
a construção da obra no alto do<br />
morro. Desembarcou no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
a 3 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1930. Era largamente<br />
experiente no trato <strong>de</strong> construções.<br />
Chegando a Marcelino Ramos,<br />
a 23 <strong>de</strong> abril, pôs <strong>de</strong> imediato, mãos à<br />
obra. Os operários competentes eram<br />
raros. Por acaso, Pe. Picard encontrou<br />
num hotel da Vila, um jovem austríaco,<br />
<strong>de</strong>sempregado, José Hoenberger.<br />
Foi logo contratado para trabalhar na<br />
construção. Permaneceu a serviço do<br />
Seminário pelo resto <strong>de</strong> sua vida. Desempenhava<br />
diferentes funções: pedreiro,<br />
encanador, eletricista e pa<strong>de</strong>iro. Muito<br />
prestativo, tornou-se popularmente<br />
conhecido como "José Pa<strong>de</strong>iro".<br />
José Hoenberger, o<br />
“José Pa<strong>de</strong>iro”<br />
Ir. João Creff ms, Pe. André Duguet ms, Pe. Simão Bacelli ms (2 o Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos), Pe. Francisco Allard ms e<br />
os seminaristas <strong>de</strong> 1929 em frente a Escola Apostólica.
29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1930 - Bênção da Pedra Fundamental<br />
da nova Escola Apostólica<br />
Definido o projeto arquitetônico da Escola, e apresentado ao<br />
Conselho Regional e ao Conselho Geral, sua aprovação foi concedida<br />
a 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1930. Na festa dos Apóstolos Pedro e Paulo, 29 <strong>de</strong><br />
junho <strong>de</strong>sse mesmo ano, foi lançada a pedra fundamental pelo Pe.<br />
Picard, em presença dos Missionários Saletinos, seminaristas, autorida<strong>de</strong>s<br />
locais e da população <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Os seminaristas, a 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1931, foram transferidos <strong>de</strong><br />
seu primeiro “ninho”, a Casa Paroquial, para um pavilhão no alto do<br />
morro. O prédio do Seminário, ainda inacabado, somente a 23 <strong>de</strong><br />
março abrigaria os 30 seminaristas apesar da situação gran<strong>de</strong>mente provisória.<br />
Em abril, as aulas na nova Escola pu<strong>de</strong>ram enfim iniciar, com<br />
restrito quadro <strong>de</strong> funcionários.<br />
A 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931, pela primeira vez, em Marcelino Ramos,<br />
foi celebrada uma Procissão do Santíssimo Sacramento. A escadaria<br />
da entrada principal da nova Escola Apostólica tinha sido ornada com<br />
carinho para servir <strong>de</strong> altar durante a procissão. O Santíssimo foi levado<br />
pelo Padre Superior, da capela provisória através do pátio anexo<br />
até a escadaria principal <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi dada a bênção solene. Padres,<br />
apostólicos, alunos do Colégio Cristo Rei, as Irmãs <strong>de</strong> São José e<br />
uma gran<strong>de</strong> multidão <strong>de</strong> fiéis acompanharam a cerimônia.<br />
23
4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1931 - Altar para a Procissão do Santíssimo Sacramento, instalado na entrada da Escola<br />
24<br />
Em seu primeiro ano <strong>de</strong> funcionamento,<br />
a Escola se tornava, portanto,<br />
um pólo <strong>de</strong> atração religiosa para o<br />
povo <strong>de</strong> Marcelino Ramos. A celebração<br />
antecipava <strong>de</strong> certa forma, o que<br />
aconteceria no futuro, por ocasião das<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>Romaria</strong>s.<br />
No final <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1932,<br />
Dom Antônio Reis, novo Bispo Diocesano<br />
<strong>de</strong> Santa Maria, visitou a Paróquia<br />
e a nova Escola Apostólica. No<br />
mesmo ano chegou o norte-americano<br />
Pe. Francisco Amos Connor ms,<br />
futuro Pároco e um iniciador das <strong>Romaria</strong>s.<br />
No dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1932, pela primeira vez foi celebrada<br />
uma missa solene na Escola Apostólica.<br />
Para a noite <strong>de</strong>sse dia, uma gran<strong>de</strong><br />
surpresa. Estava prevista a apresentação<br />
<strong>de</strong> uma peça teatral pelos apostólicos.<br />
Foi, porém, substituída pela cerimônia<br />
da Bênção do Santíssimo Sacramento.<br />
Um povo numeroso se fez<br />
presente.<br />
A 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1933, houve<br />
missa cantada na Capela da Escola<br />
Apostólica. Convidado pelo Irmão<br />
João, um grupo <strong>de</strong> agricultores da região<br />
participou da celebração. Ao par<br />
disso, junto à Igreja Paroquial, outras<br />
cerimônias eram organizadas para a população<br />
da Vila.<br />
No início <strong>de</strong> 1934, o Pe. André<br />
Duguet ms percorreu a região do Alto<br />
Uruguai, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, anteriormente<br />
visitada pelo Irmão João, em<br />
vista do recrutamento <strong>de</strong> novos apostólicos.<br />
O Irmão João foi <strong>de</strong>pois enviado<br />
a diferentes regiões do Sul, para<br />
recrutar candidatos e recursos financeiros.<br />
Percorreu diversas Dioceses<br />
com a permissão dos respectivos Bispos.
1932 - Dom Antonio Reis<br />
Bispo <strong>de</strong> Santa Maria-RS<br />
1932 - Pe. Francisco Amos Connor ms e paroqui<strong>anos</strong><br />
na entrada do Seminário<br />
1932 - Seminaristas e padres “acampam” no prédio ainda em construção.<br />
25
SEM MEDO DA<br />
POBREZA<br />
Tendo-se encontrado com Dom<br />
Antônio, Irmão João pediu-lhe a bênção<br />
para seu trabalho vocacional nas<br />
Paróquias da Diocese <strong>de</strong> Santa Maria,<br />
RS. Dom Antônio lhe disse: "Vai,<br />
há vocações para todos. Diga a todos<br />
que lhes envio minhas melhores bênçãos!".<br />
Nesse ano ainda, foram concluídos<br />
os trabalhos <strong>de</strong> construção da<br />
Capela do Seminário. Foi inaugurada<br />
a 19 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1934. A visita <strong>de</strong><br />
Dom Antônio Reis e do Superior Geral,<br />
Pe. Etienne Cruveiller ms, fez parte<br />
do calendário.<br />
Ao final <strong>de</strong> sua visita, simpática<br />
e animadora, o Padre Geral <strong>de</strong>ixou<br />
uma mensagem escrita na qual, entre<br />
outras coisas, afirma:<br />
Pe. Etienne Cruveiller ms<br />
Superior Geral em visita ao <strong>Brasil</strong> - 1934<br />
"(...) Que honra para todos nós sermos chamados a formar sacerdotes e<br />
religiosos. Mas igualmente, que responsabilida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>les não fizermos verda<strong>de</strong>iros<br />
religiosos, sacerdotes segundo o coração <strong>de</strong> Deus, e zelosos missionários!<br />
(...) É ele (i.e., o bom espírito religioso) que presidiu a bela funda-<br />
ção saletina do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. (...) Religiosos animados pelo espírito<br />
<strong>de</strong> fé e sem medo da pobreza, acumularão riquezas muito mais preciosas que<br />
as disputadas pelas pessoas mundanas. (...) Honra, pois, a nossos queri-<br />
dos Padres e Irmãos pelo bem já realizado. Não receamos afirmar que eles<br />
verão as bênçãos do céu fecundar seus esforços enquanto mantiverem, nessa<br />
casa, o bom espírito que os anima. É nesse sentido que acrescentamos aos<br />
nossos agra<strong>de</strong>cimentos e aos nossos melhores encorajamentos, a muito cor-<br />
dial e afetuosa bênção do pai <strong>de</strong> família. Marcelino Ramos, Festa <strong>de</strong> Santa<br />
Rosa <strong>de</strong> Lima, 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1934.<br />
Pe. Etienne Cruveiller ms, Superior Geral"<br />
(in LIVRO TOMBO I da Escola Apostólica, pgs. 95-96)<br />
26
Pe. Brandley, ms Pe. Rochedreux, ms Pe. Allaman, ms Pe. Hoegger, ms<br />
A partir <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1934, as Irmãs <strong>de</strong> São José num magnífico<br />
testemunho <strong>de</strong> Vida Religiosa,<br />
começaram a prestar, por longos <strong>anos</strong>,<br />
relevantes serviços domésticos aos seminaristas<br />
da Escola Apostólica. Eram<br />
cerca <strong>de</strong> quarenta estudantes.<br />
A 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1935, com<br />
a bênção das estátuas <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette instaladas na Capela<br />
da Escola Apostólica, foi realizada pela<br />
primeira vez, na mesma Escola, a festa<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. Muitos<br />
agricultores da região assistiram à solenida<strong>de</strong>.<br />
Outros não vieram por causa<br />
da chuva, mas se reuniram na capela<br />
da respectiva comunida<strong>de</strong> para a recitação<br />
do terço e o canto das Ladainhas<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora. Os presentes<br />
à cerimônia na Escola Apostólica, após<br />
a Missa, almoçaram no bosque anexo.<br />
Em 1935, ainda, o Pe. Francisco<br />
Allard ms foi nomeado Superior e<br />
Diretor da Escola Apostólica, o Pe.<br />
Teodoro Brandley ms, Ecônomo Local,<br />
e o Pe. Pascal Rochedreux ms, Pároco<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
A Escola, nesse mesmo ano, recebeu<br />
a visita <strong>de</strong> dois Bispos: Dom<br />
José Barea, <strong>de</strong> Caxias do Sul, RS, que<br />
subiu e <strong>de</strong>sceu o morro, a pé, conforme<br />
promessa feita, e Dom Antônio<br />
Mazzarotto, <strong>de</strong> Ponta Grossa, PR, afirmando<br />
ser <strong>de</strong>voto <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette.<br />
Em 1936, a 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, veio<br />
o suíço Pe. Alberto Allaman ms que<br />
por longos <strong>anos</strong> foi professor na Escola,<br />
Mestre <strong>de</strong> Noviços, Diretor dos<br />
estudantes <strong>de</strong> Filosofia e <strong>de</strong> Teologia<br />
e Superior Provincial.<br />
Em novembro <strong>de</strong> 1938, Pe. Simão<br />
Bacelli ms, Superior Provincial, em<br />
viagem pela Europa, pediu <strong>de</strong>missão<br />
do cargo. Para substituí-lo, o Conselho<br />
Geral nomeou sem <strong>de</strong>mora, o ex-<br />
Superior Geral, o francês e competente<br />
entomologista Pe. Celestino Crozet ms<br />
para ser o Superior Provincial e colaborar<br />
na formação dos seminaristas e<br />
noviços. Nesse tempo chegou também<br />
o Pe. Francisco Xavier Hoegger ms,<br />
suíço, que por longos <strong>anos</strong> se <strong>de</strong>dicou<br />
à Escola Apostólica.<br />
Somente em 1943 o prédio da<br />
Escola recebeu o revestimento externo.<br />
Em virtu<strong>de</strong> do aumento significativo<br />
do número <strong>de</strong> seminaristas nessa<br />
época, foi construído um anexo em ma<strong>de</strong>ira<br />
para abrigar algumas salas <strong>de</strong> aula<br />
e possibilitar ativida<strong>de</strong>s culturais.<br />
27
1934 - Pe. Cruveiller ms, Superior Geral, na diligência e Pe. Bacelli ms, a cavalo.<br />
Gradativamente, sobretudo pela<br />
<strong>de</strong>dicação incansável <strong>de</strong> Irmão João e<br />
a abnegada generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inúmeros<br />
benfeitores, a Escola Apostólica ou<br />
Seminário Salette, equipava-se com<br />
salas e móveis a<strong>de</strong>quados. Os dias<br />
corriam repletos <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> oração,<br />
<strong>de</strong> celebrações, retiros, estudo,<br />
aulas dadas pelos próprios Padres com<br />
a ajuda <strong>de</strong> alguns leigos, esportes e trabalhos<br />
manuais na proprieda<strong>de</strong>.<br />
28<br />
1938 - Comunida<strong>de</strong> e alunos na visita do Pe. Celestino Crozet ms (<strong>de</strong> barba, ao centro)
TESTEMUNHO Pe. Antonio Bortolini, ms<br />
OS SEMINARISTAS E A ROMARIA<br />
A vida do Seminário, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, foi orientada por um rigoroso e<br />
disciplinar programa que buscava, na mentalida<strong>de</strong> da época, a formação<br />
religiosa e sacerdotal <strong>de</strong> seus candidatos.<br />
Entre os acontecimentos que marcavam o ano escolar, <strong>de</strong>stacava-se,<br />
como ponto alto, a <strong>Romaria</strong> ao Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette, no<br />
último domingo do mês <strong>de</strong> setembro.<br />
Ao aproximar-se a data da <strong>Romaria</strong>, os seminaristas voltavam-se, ansiosamente,<br />
para o acontecimento, pois, oriundos <strong>de</strong> famílias simples e <strong>de</strong><br />
regiões incultas, conheciam apenas os eventos das respectivas comunida<strong>de</strong>s.<br />
Para todos nós a <strong>Romaria</strong> era um acontecimento marcante.<br />
No início do mês <strong>de</strong> setembro, começavam os preparativos <strong>de</strong>sse evento.<br />
Os seminaristas, distribuídos em grupos, esparramavam-se pelos pátios e<br />
pelo bosque. Uns encarregavam-se da limpeza do recinto; outros montavam<br />
as mesas e barracas para o atendimento aos romeiros; e terceiros<br />
assumiam a montagem do altar campal.<br />
Dava-se, porém, uma atenção especial ao programa religioso. A partir<br />
do dia primeiro <strong>de</strong> setembro, após o almoço, os seminaristas dirigiam-se à<br />
Capela para a reza das Ladainhas <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette; antes da<br />
janta, participavam da reza do terço; no dia 11, iniciava-se a novena em<br />
preparação às solenida<strong>de</strong>s da Aparição; às vésperas da <strong>Romaria</strong>, celebrava-se<br />
o Tríduo preparatório com Missa e pregação.<br />
Raiava o dia da <strong>Romaria</strong>. Perfilados, dois a dois, vestidos <strong>de</strong> batina<br />
preta, crucifixo no peito, sobrepeliz e barrete na cabeça, feitos pequenos<br />
clérigos, <strong>de</strong>scíamos a montanha, carregando em procissão a imagem <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette chorando. Às 8 horas, iniciava a procissão<br />
penitencial rumo ao Santuário.<br />
Misturados à multidão, animávamos<br />
o canto e a reza do Terço. Chegando<br />
ao recinto do Santuário,<br />
participávamos da Missa Campal<br />
e ficávamos à disposição dos romeiros.<br />
São momentos inesquecíveis.<br />
Estão guardados na memória...<br />
1960 - 25 a <strong>Romaria</strong><br />
29
A Direção e os outros membros<br />
da Comunida<strong>de</strong> doavam-se inteiramente<br />
à formação dos seminaristas. O Seminário<br />
Salette assim crescia segundo um<br />
estilo <strong>de</strong> vida mo<strong>de</strong>sto, disciplinado e<br />
eficiente, na busca <strong>de</strong> seus objetivos e<br />
relativamente isolado do que era chamado<br />
"mundo". Muitos membros da<br />
Província a ele <strong>de</strong>dicaram sua vida.<br />
O aumento continuado <strong>de</strong> alunos<br />
e o clima <strong>de</strong> euforia reinante na<br />
Igreja Católica na época, concluíram<br />
na <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se ampliar a Escola<br />
Apostólica com duas novas alas, na<br />
década <strong>de</strong> 1950. Anos após, a mudança<br />
da legislação educacional do pais<br />
levou a Escola a se organizar segundo<br />
as <strong>de</strong>terminações governamentais.<br />
No alto da Montanha, um dos sonhos tornou-se realida<strong>de</strong>, a Escola Apostólica.<br />
30
Tornou-se entida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong>nominada<br />
SEMINÁRIO SALETTE.<br />
Um otimismo inflado superlotou o internato<br />
saletino. Centenas <strong>de</strong> alunos<br />
nele viviam. Essa realida<strong>de</strong> exigia novas<br />
providências na linha da formação<br />
e da sustentação. Os tempos trouxeram<br />
novos ares, com conseqüências<br />
nem sempre <strong>de</strong>sejadas. Anos após, um<br />
ajustamento <strong>de</strong> rumos abriu caminho<br />
para uma formação sempre mais condizente<br />
com o sentido eclesial da Vida<br />
Religiosa e Sacerdotal. A Escola Apostólica<br />
ou Seminário Salette cumpriu assim<br />
longo percurso, perpassado <strong>de</strong> zelo<br />
missionário. Penoso muitas vezes. Fecundo<br />
sempre, criando marcas profundas<br />
nos que por ele passaram e no povo<br />
que sempre teve muito carinho com a<br />
instituição.<br />
Com o Santuário, o Fac-simile<br />
e as <strong>Romaria</strong>s Penitenciais, Marcelino<br />
Ramos tornou-se a referência saletina<br />
por excelência, no Sul do <strong>Brasil</strong>.<br />
Da esquerda para a direita:<br />
José Vicente Júnior; Antonio Val<strong>de</strong>arenas;<br />
Mathias Gassner; Nome <strong>de</strong>sconhecido;<br />
José Bogoni; Pe. André Duguet;<br />
Angelo Ziliotto; João Neukirchen.<br />
1932 - Primeiro grupo <strong>de</strong> Noviciado<br />
31
4 - As festivida<strong>de</strong>s saletinas<br />
Década <strong>de</strong> 30 - Ruas engalapadas, em frente à Igreja Matriz, na festa da Comunida<strong>de</strong><br />
O CICLO<br />
PAROQUIAL<br />
32<br />
A festa paroquial é tradição antiga<br />
nas comunida<strong>de</strong>s cristãs. O dia do<br />
Padroeiro é Dia <strong>de</strong> Festa. O povo se<br />
reúne com seu Pároco. Celebra-se a<br />
Missa. Muitas vezes se organiza uma<br />
procissão com a estátua ou estandarte<br />
do Santo Padroeiro. Os sinos reboam.<br />
Há fogos <strong>de</strong> artifício. Folguedos<br />
não faltam. Barracas <strong>de</strong> alimentação<br />
tomam conta do espaço em torno da<br />
Igreja. O povo se alegra. Sente-se unido.<br />
Louva o Senhor e volta para casa<br />
abençoado.<br />
Antes da chegada dos Missionários<br />
Saletinos em Marcelino Ramos,<br />
o povo da Paróquia São João Batista<br />
já celebrava a festa do Padroeiro, a<br />
24 <strong>de</strong> junho. Com a chegada dos Missionários,<br />
a comemoração do aniversário<br />
da Aparição <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
em LA SALETTE, a 19 <strong>de</strong> setembro,<br />
foi incorporada no calendário das festivida<strong>de</strong>s<br />
paroquiais.
IMAGENS QUE<br />
VIERAM DA FRANÇA<br />
Ao Pe. Agostinho Poncet ms,<br />
primeiro Pároco, coube presidir a festa<br />
<strong>de</strong> São João Batista em 1928. Seu<br />
substituto, Pe. Simão Bacelli ms, organizou<br />
a primeira celebração em honra<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette na<br />
Paróquia, a 30 <strong>de</strong> setembro do mesmo<br />
ano.<br />
A solene celebração saletina foi<br />
precedida por um tríduo, na Igreja<br />
Matriz. Na missa da festa, algumas piedosas<br />
paroquianas receberam as insígnias<br />
da Confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette, <strong>de</strong>pois instituída oficialmente<br />
por Dom Atico Eusébio da Rocha<br />
em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1928. A Confraria<br />
é ligada à da Montanha <strong>de</strong> La<br />
Salette, fundada logo após a Aparição.<br />
Após a missa, grandiosa procissão percorreu<br />
as ruas do povoado, carregando<br />
triunfalmente um estandarte <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette e um ornamentado<br />
andor da imagem do Padroeiro,<br />
São João Batista. A partir daí,<br />
anualmente se celebrou na Paróquia,<br />
o dia comemorativo da Aparição.<br />
A 29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1930, na chácara<br />
do alto do morro, foi lançada a<br />
pedra fundamental do prédio da Escola<br />
Apostólica. A missa foi celebrada<br />
pelo Representante do Superior Geral,<br />
Pe. Eugène Picard ms, que veio<br />
para dirigir a construção da Escola.<br />
Na Igreja Matriz, um tríduo prece<strong>de</strong>u<br />
a festa do dia 19 <strong>de</strong> setembro.<br />
Numerosas comunhões foram ministradas.<br />
Foram abençoadas as estátuas<br />
que representam a Aparição. Vieram<br />
da França, doadas pela Confraria. A<br />
missa foi cantada pelos alunos da Escola<br />
Apostólica. A procissão percorreu<br />
os caminhos da localida<strong>de</strong>, com a<br />
imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora em lágrimas,<br />
carregada pela Confraria.<br />
Em 1931, com peculiar brilhantismo<br />
e preparado por um tríduo,<br />
foi celebrado o dia 19 <strong>de</strong> setembro,<br />
85º aniversário da Aparição, com missa<br />
cantada pelo coro do Colégio das Irmãs<br />
<strong>de</strong> São José e numerosas comunhões.<br />
Década <strong>de</strong> 30 - Barracas festivas na Praça da Matriz<br />
33
Dom Antonio Reis (à esquerda) e seu secretário particular<br />
Pe. Pascoal Librelotto, no Seminário, em 1934.<br />
A Confraria Nossa Senhora da<br />
Salette <strong>de</strong>u especial presença. Durante<br />
o tríduo, as pregações versaram sobre<br />
o dogma da Maternida<strong>de</strong> Divina<br />
<strong>de</strong> Maria, proclamado pelo Concílio <strong>de</strong><br />
Éfeso havia quinze séculos. Estrondosa<br />
alvorada prece<strong>de</strong>u a celebração da<br />
missa <strong>de</strong>sse dia. Uma imponente procissão<br />
carregou triunfalmente a imagem<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora chorando. Em benefício<br />
da Igreja Paroquial, houve <strong>de</strong>pois<br />
festejos animados, churrasco, chimarrão,<br />
doces, flores distribuídas pelas<br />
senhoras, orquestra <strong>de</strong> amadores e<br />
representações teatrais. A multidão presente<br />
e feliz era numerosa.<br />
O início do ano <strong>de</strong> 1932 foi marcado<br />
pela tomada <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> Dom<br />
Antônio Reis como novo Bispo Diocesano<br />
<strong>de</strong> Santa Maria, RS. Pouco<br />
<strong>de</strong>pois, no final <strong>de</strong> fevereiro, Dom Antônio<br />
fez sua primeira visita pastoral a<br />
Marcelino Ramos e à Escola Apostólica.<br />
Ainda em 1932, o Pe. Simão foi<br />
substituído pelo Pe. Fidélis como Pároco.<br />
Nesse ano, a solenida<strong>de</strong> saletina<br />
paroquial estava prevista para o dia 24<br />
<strong>de</strong> setembro, domingo, com tríduo preparatório,<br />
missa cantada e procissão<br />
com o andor <strong>de</strong> Nossa Senhora. A intensa<br />
chuva impediu a realização das<br />
cerimônias. A festa foi transferida para<br />
o dia 15 <strong>de</strong> outubro com a mesma programação.<br />
34
Na Escola Apostólica, o dia 19<br />
<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1932, porém, foi marcado<br />
pela primeira missa solene seguida<br />
<strong>de</strong> festa, churrasco e diversões.<br />
Diversos agricultores da região estavam<br />
presentes.<br />
À noite, uma surpreen<strong>de</strong>nte<br />
multidão participou da Bênção do<br />
Santíssimo Sacramento. O mesmo<br />
programa <strong>de</strong> festa e diversões foi repetido<br />
em 1933.<br />
No ano <strong>de</strong> 1934, o mês <strong>de</strong> setembro<br />
foi marcado pela visita pastoral<br />
<strong>de</strong> Dom Antônio Reis. Chegando a<br />
Marcelino Ramos no dia 15 <strong>de</strong> setembro,<br />
dirigiu-se à nova Escola Apostólica<br />
on<strong>de</strong> se hospedou. Visitou algumas<br />
capelas da Paróquia. No dia 19<br />
celebrou missa cantada na Escola<br />
Apostólica e participou dos festejos<br />
com os seminaristas. Posteriormente<br />
visitou outras capelas, sendo que no<br />
dia 23, durante missa solene na Escola<br />
Apostólica, proclamou o <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />
criação da Paróquia <strong>de</strong> Viadutos, RS.<br />
Ao final da visita, Dom Antônio<br />
<strong>de</strong>ixou uma mensagem escrita:<br />
"Com especial prazer <strong>de</strong>ixamos aqui registrado<br />
a nossa elevada e sincera admiração pelos mui-<br />
to zelosos e profundamente piedosos Padres<br />
Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette,<br />
que, com tanto carinho e abnegação apostólica<br />
vêm dirigindo os <strong>de</strong>stinos da Paróquia <strong>de</strong> São<br />
João <strong>de</strong> Marcelino Ramos. A eles e à sua prós-<br />
pera Escola Apostólica nossa mais afetuosa e<br />
escolhida bênção. Dom Antônio Reis,<br />
Marcelino Ramos, 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1934"<br />
(LIVRO TOMBO I da Escola Apostólica, pg. 98)<br />
Por causa da chuva, a festa paroquial<br />
foi pouco concorrida.<br />
Aos 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1935, Pe.<br />
Francisco Amos Connor ms, tomou<br />
posse do cargo <strong>de</strong> Pároco <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos. Sob sua direção, no dia<br />
19 <strong>de</strong> setembro, houve missa solene,<br />
com muitas comunhões na Igreja Matriz.<br />
Os festejos paroquiais foram feitos<br />
entre os dias 26 e 29 <strong>de</strong> setembro,<br />
com gran<strong>de</strong> participação do povo. Pe.<br />
Simão Bacelli ms foi o orador oficial.<br />
Dado o empenho pastoral dos<br />
Missionários, as celebrações em honra<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette na<br />
Paróquia, ao longo <strong>de</strong>sses poucos<br />
<strong>anos</strong>, atraíram fiéis cada vez mais numerosos.<br />
Embora fossem eles moradores<br />
da Paróquia, tornava-se previsível a<br />
importância que esses eventos religiosos<br />
assumiriam no futuro, com a participação<br />
do povo <strong>de</strong> regiões mais distantes,<br />
nas celebrações saletinas em<br />
Marcelino Ramos. A previsão se tornou<br />
realida<strong>de</strong> com as <strong>Romaria</strong>s a Nossa<br />
Senhora da Salette.<br />
35
AS ROMARIAS PENITENCIAIS<br />
1ª Fase:<br />
Do vale da dispersão ao<br />
monte da Reconciliação<br />
1947 - Romeiros chegando para a 12 a <strong>Romaria</strong><br />
Na cultura dos povos, as peregrinações<br />
a santuários ou locais sagrados<br />
sempre tiveram um forte e significativo<br />
apelo religioso. O senso do sagrado,<br />
da <strong>de</strong>pendência existencial, da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção, da atração<br />
da simpatia do além para com o ser<br />
humano, do reconhecimento da própria<br />
fragilida<strong>de</strong> face à gran<strong>de</strong>za do misterioso<br />
envoltório da vida, criou essa prática<br />
ritual entre os povos, com dimensões<br />
as mais variadas, inclusive sacrificiais<br />
e penitenciais.<br />
Nas intuições da fé num Deus<br />
<strong>de</strong>sconhecido que o convocava a caminhar<br />
rumo a uma terra prometida,<br />
mas, estranha, Abraão com seu clã fez<br />
longa peregrinação pelos <strong>de</strong>sertos do<br />
Oriente Médio. Pelo caminho marcava<br />
com símbolos consistentes, certos<br />
pontos referenciais do sentido da vida<br />
nova <strong>de</strong>scoberta nas experiências místicas<br />
dos encontros com o misterioso<br />
Deus que o impelia e amparava.<br />
O Povo <strong>de</strong> Israel, posteriormente,<br />
vivenciou experiências semelhantes<br />
em meio a gran<strong>de</strong>s tribulações da vida<br />
e a fortes confrontos bélicos na marcha<br />
do Egito para Canaã. Uma vez fixado<br />
na terra que lhe fora reservada<br />
pelo Senhor, Israel construiu um Templo<br />
para on<strong>de</strong>, com cantos festivos e<br />
<strong>de</strong> ação <strong>de</strong> graças, acorriam multidões<br />
para oferecer libações. O próprio Senhor<br />
Jesus, seus familiares e contemporâneos,<br />
viveram essa prática religiosa<br />
da peregrinação.<br />
36
TRILHAS<br />
MONTANHOSAS<br />
Essa prática encontrou continuida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong>sdobramento no âmbito<br />
cristão, sobretudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scoberta<br />
dos Lugares Santos da Vida, Paixão e<br />
Ressurreição <strong>de</strong> Jesus, o Cristo. Na<br />
Roma cristã, os locais do suplício e sepultura<br />
dos mártires, sobretudo os dos<br />
Apóstolos Pedro e Paulo, tornaram-se,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, pontos <strong>de</strong> atração religiosa<br />
e <strong>de</strong> simbólica expressão da unida<strong>de</strong><br />
da Igreja, na única fé dos inúmeros peregrinos<br />
das mais diferentes origens e<br />
culturas. A peregrinação para um local<br />
santo, era a figuração da caminhada da<br />
vida como tal, com suas fraquezas e lutas,<br />
com suas alegrias e sucessos, em<br />
busca do sentido da vida e do bem su-<br />
premo, Deus. A peregrinação <strong>de</strong> cristãos<br />
para Roma suscitou a ROMARIA.<br />
O Povo <strong>de</strong> Deus sente a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sentir-se POVO. A fé cristã<br />
não é uma experiência <strong>de</strong> vida exclusivamente<br />
individual. Tem raízes essenciais<br />
que se alimentam na experiência<br />
comunitária, a da Igreja. A eclesialida<strong>de</strong><br />
da fé é o suporte da vida cristã<br />
pessoal.<br />
Ao longo dos séculos <strong>de</strong> cristianismo,<br />
as romarias se multiplicaram,<br />
sobretudo com relação aos locais <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>voção mariana. Maria também foi<br />
peregrina em sua vida. Peregrina no<br />
discipulado junto ao próprio Filho Jesus.<br />
Peregrina no seio <strong>de</strong> uma Igreja<br />
<strong>de</strong> discípulos e missionários a caminho<br />
da plenitu<strong>de</strong> do Reino <strong>de</strong> Deus. Mãe<br />
dos peregrinos. Mãe dos filhos <strong>de</strong> Deus<br />
dispersos. Peregrina a serviço da construção<br />
da comunhão. Mãe da Reconciliação.<br />
Salette se insere nesse contexto<br />
religioso. Des<strong>de</strong> os primeiros dias após<br />
a Aparição <strong>de</strong> Nossa Senhora, a 19<br />
<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1846, multidões <strong>de</strong> fiéis<br />
subiam, por trilhas montanhosas<br />
muito difíceis, ao local visitado pela<br />
Mãe <strong>de</strong> Deus. No primeiro aniversário<br />
da Aparição, a 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1847, uma testemunha ocular da solenida<strong>de</strong>,<br />
M. PEYTARD, Prefeito Municipal<br />
<strong>de</strong> LA SALETTE, afirma:<br />
La Salette - França - Procissão ao anoitecer - 2006<br />
"Jamais se viu espetáculo tão tocante. Não se po-<br />
dia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> chorar ao se ouvir <strong>de</strong> todos os lados,<br />
repetirem-se os louvores do Senhor e <strong>de</strong> Maria por<br />
mais ou menos quarenta e cinco mil pessoas, entre<br />
as quais duzentos sacerdotes. A multidão era tão<br />
compacta que formava um só corpo. Uns se apoia-<br />
vam aos outros <strong>de</strong> forma tal que se temia, a todo<br />
instante, que muitas pessoas fossem asfixiadas pela<br />
massa. Felizmente, não houve o menor aci<strong>de</strong>nte a<br />
ser <strong>de</strong>plorado"<br />
(in La Galerie <strong>de</strong>s Portraits <strong>de</strong> La Salette, pg.36)<br />
37
Inúmeras pessoas, simples ou<br />
ilustradas, motivadas pelas lágrimas da<br />
"Bela Senhora" e por seu apelo à conversão,<br />
encontraram o caminho do<br />
Senhor. Paralelamente, populações inteiras<br />
das paróquias, vizinhas ou mais<br />
distantes, se voltaram para Deus.<br />
Eventos miraculosos se sucediam. Espontaneamente<br />
o povo cristão percebeu<br />
o cerne espiritual do "Fato da<br />
Salette" e passou a invocar a Nossa<br />
Senhora como "Reconciliadora dos<br />
pecadores...".<br />
38<br />
As maravilhas <strong>de</strong> Deus através<br />
<strong>de</strong> Maria, Mãe da Reconciliação, não<br />
cessam hoje e sempre a atrair em "romaria",<br />
ao Santuário Basílica <strong>de</strong> La<br />
Salette, multidões do mundo inteiro.<br />
A equipe sacerdotal para servir<br />
os peregrinos, constituida por ocasião<br />
da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se construir o Santuário<br />
e do reconhecimento oficial da autenticida<strong>de</strong><br />
do Fato, por parte do Bispo<br />
<strong>de</strong> GRENOBLE, Dom Philisbert <strong>de</strong><br />
Bruillard, evoluiu em sua organização<br />
interna e pastoral e <strong>de</strong>u origem à atual<br />
Congregação dos Missionários <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette. Inspirada<br />
no fato da Aparição, a Congregação<br />
buscou os princípios <strong>de</strong> sua espiritualida<strong>de</strong><br />
firmada no tripé "Oração,<br />
Conversão e Zelo". Intuiu a Reconciliação<br />
como carisma congregacional.<br />
Cresceu. Assumiu missões estrangeiras.<br />
Construiu Santuários Saletinos.<br />
Organizou junto a eles <strong>Romaria</strong>s <strong>de</strong><br />
caráter popular, penitencial e reconciliador,<br />
em coerência com o sentido<br />
da Aparição. As <strong>Romaria</strong>s, são hoje,<br />
marcas do carisma da Congregação.<br />
O Pe. Clemente Henrique<br />
Moussier ms, chegado em 1902, trouxe<br />
o sonho <strong>de</strong> erigir um Santuário <strong>de</strong>dicado<br />
a Nossa Senhora da Salette,<br />
no coração do <strong>Brasil</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
então Capital da República. O zelo<br />
apostólico pela causa da Boa Nova, o<br />
amor filial a Nossa Senhora da Salette<br />
e a compaixão evangélica pela multidão<br />
dos pobres e se<strong>de</strong>ntos da Palavra<br />
no <strong>Brasil</strong> aninhavam-se no coração <strong>de</strong><br />
Pe. Moussier e dos <strong>de</strong>mais saletinos<br />
que vieram a seguir. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>les<br />
comportava igualmente uma Casa para<br />
a Formação <strong>de</strong> Missionários nativos do<br />
<strong>Brasil</strong> e mediações para uma pastoral<br />
<strong>de</strong> peregrinação reconciliadora. As circunstâncias<br />
os obrigaram a protelar a<br />
realização do projeto.
Vista parcial <strong>de</strong> Marcelino Ramos - Década <strong>de</strong> 60<br />
Finalmente, o Conselho Regional<br />
da Congregação no <strong>Brasil</strong>, a 3 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong> 1928, <strong>de</strong>ixou claro o intento <strong>de</strong><br />
erigir um Santuário junto à Escola Apostólica<br />
em projeto no sul do <strong>Brasil</strong>, em<br />
Marcelino Ramos.<br />
Pe. Picard ms, que veio para<br />
orientar a construção da Escola Apostólica,<br />
pensava, em 1931, também na<br />
construção <strong>de</strong> um "Fac-Simile", uma<br />
reprodução do local da Aparição. Faria<br />
parte do conjunto monumental religioso<br />
com o Santuário e a Escola Apostólica,<br />
no alto do morro, nas cercanias<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos. Esse conjunto<br />
seria um pólo <strong>de</strong> atração para os <strong>de</strong>votos<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette.<br />
Os Missionários inspirados sem-<br />
pre nas palavras e atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora em sua Aparição, queriam dar<br />
às comemorações saletinas um caráter<br />
expressivo <strong>de</strong> oração e reconciliação.<br />
O projeto em mente era o <strong>de</strong> uma<br />
"romaria penitencial" e não apenas <strong>de</strong><br />
uma "festa paroquial". <strong>Romaria</strong> que expressasse<br />
uma verda<strong>de</strong>ira caminhada<br />
<strong>de</strong> conversão, como se fazia na Montanha<br />
<strong>de</strong> LA SALETTE, na França.<br />
A geografia <strong>de</strong> Marcelino Ramos<br />
se prestava para o intento da celebração<br />
<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s Penitenciais<br />
Saletinas. A Vila, na baixada, situada à<br />
beira do Rio Uruguai, tinha sua Igreja<br />
Matriz no centro. Em lugar <strong>de</strong> procissões<br />
reduzidas em tamanho, pelas ruas<br />
da localida<strong>de</strong>, surgiu a idéia <strong>de</strong> uma<br />
caminhada mais imponente morro acima,<br />
em meio a um bosque frondoso,<br />
até à Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette na Escola Apostólica. A Capela<br />
era o ponto <strong>de</strong> referência da <strong>de</strong>voção<br />
popular saletina em Marcelino<br />
Ramos. Uma distância <strong>de</strong> um quilômetro<br />
e meio, mais ou menos, separa a<br />
Igreja Matriz e o Seminário. Na procissão<br />
seria carregado o andor <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora chorando. Cantos e rezas<br />
seriam feitos ao longo do caminho.<br />
Uma procissão como apelo à conversão.<br />
Peregrinação, símbolo da caminhada<br />
<strong>de</strong> vida na fé. A essas idéias<br />
básicas, outras sugestões ao longo dos<br />
<strong>anos</strong> po<strong>de</strong>riam ser acrescentadas às<br />
celebrações.<br />
39
Enquanto isso, as festivida<strong>de</strong>s<br />
saletinas prosseguiam na Paróquia,<br />
com a participação dos seminaristas<br />
resi<strong>de</strong>ntes inicialmente na Casa Paroquial<br />
e <strong>de</strong>pois na Escola Apostólica no<br />
alto do morro. Logo <strong>de</strong> início se impôs<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sdobrarem<br />
as celebrações saletinas: uma comemoração<br />
mais simples no dia 19 <strong>de</strong> setembro,<br />
por ser normalmente um dia<br />
<strong>de</strong> semana; outra, mais solene, no último<br />
domingo <strong>de</strong> setembro. Essa prática<br />
se fixou. Para tanto, Paróquia e<br />
Seminário já materialmente estruturados,<br />
<strong>de</strong>ram-se as mãos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo.<br />
A <strong>Romaria</strong> anual é testemunha<br />
<strong>de</strong>ssa prática.<br />
Em 1936, o Pe. Francisco Amos<br />
Connor ms, Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos,<br />
com o incentivo do Irmão João<br />
Creff ms e o dos Missionários da Escola<br />
Apostólica, convidou o Pe. Benjamin<br />
Busatto, Pároco <strong>de</strong> Boa Vista<br />
<strong>de</strong> Erechim, para pregar o tríduo da<br />
festa <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette na<br />
Igreja Matriz <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
O Irmão João, promotor vocacional<br />
e propagador <strong>de</strong> "O Mensageiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette", convidou<br />
os zeladores e zeladoras da revista<br />
a comparecerem à solenida<strong>de</strong>.<br />
Anos mais tar<strong>de</strong>, a Revista <strong>de</strong> outubro<br />
<strong>de</strong> 1946, ao fazer uma retrospectiva<br />
das <strong>Romaria</strong>s, apresenta esse dado<br />
histórico:<br />
Pe. Benjamim Busatto, primeiro gran<strong>de</strong> incentivador das <strong>Romaria</strong>s da Salette<br />
"Foi em 1936 que vieram a Marcelino Ramos, os quatro<br />
primeiros peregrinos. Convidados por carta, chegaram a<br />
18 <strong>de</strong> setembro, dois zeladores do Estado <strong>de</strong> Santa<br />
Catarina, às sete horas e outro do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, às<br />
oito horas. Duas zeladoras viajaram três horas para as-<br />
sistir o tríduo. Assim se iniciou o movimento atual".<br />
40
PADRE BENJAMIM<br />
Uma das zeladoras, Dorila<br />
Chiesa, <strong>de</strong>vota fiel <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette, veio <strong>de</strong> Getúlio Vargas, RS,<br />
com uma caravana em ônibus.<br />
Pe. Benjamim era natural <strong>de</strong><br />
Nova Palma, RS. Foi or<strong>de</strong>nado sacerdote<br />
em 1926. No ano seguinte foi<br />
nomeado Pároco <strong>de</strong> Erechim. Gran<strong>de</strong><br />
orador, lançou sementes <strong>de</strong> Evangelho,<br />
ainda hoje férteis. Serviu a essa<br />
região durante 24 <strong>anos</strong>. Depois foi ao<br />
Mato Grosso <strong>de</strong> on<strong>de</strong> voltou para<br />
aten<strong>de</strong>r os doentes no Hospital em<br />
Gaurama. Viveu 59 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> sacerdócio.<br />
No dia 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1984,<br />
morreu num horrível aci<strong>de</strong>nte automobilístico,<br />
na periferia da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Erechim. Tinha um profundo amor a<br />
Nossa Senhora da Salette. Dizia: "Ela<br />
nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> me aten<strong>de</strong>r!". Diariamente<br />
<strong>de</strong>punha uma rosa junto a uma<br />
pequena imagem da Salette, em seu<br />
aposento. Nutria gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> aos<br />
Missionários Saletinos.<br />
O Pe. Benjamim havia entendido<br />
o <strong>de</strong>sejo dos Missionários quanto<br />
ao sentido <strong>de</strong> uma <strong>Romaria</strong>. Ao ser<br />
convidado para a pregação do tríduo,<br />
incentivou um grupo <strong>de</strong> paroqui<strong>anos</strong><br />
seus a fazerem, naquela ocasião, uma<br />
peregrinação penitencial a Marcelino<br />
Ramos, em cumprimento <strong>de</strong> uma promessa.<br />
Anos mais tar<strong>de</strong>, a 10 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 1982, na pg. 9 do jornal a "A VOZ<br />
DA SERRA", <strong>de</strong> Erechim, Pe.<br />
Benjamim publicou um artigo intitulado<br />
"Os Saletinos na Diocese <strong>de</strong> Erechim",<br />
no qual afirma:<br />
"Em 1936, vésperas <strong>de</strong> um levante político no<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e vésperas do golpe <strong>de</strong> Ge-<br />
túlio Vargas criando o Estado Novo, nós,<br />
diante do perigo, organizamos um trem <strong>de</strong> ro-<br />
meiros a Marcelino Ramos, para pedir a<br />
Deus ajuda por meio <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette, que diziam era tão milagrosa. E <strong>de</strong><br />
fato começamos um movimento, 600 pessoas,<br />
com nossa romaria que hoje é uma roma-<br />
ria inter-estadual... Desta romaria muitos<br />
outros Santuários copiaram o mo<strong>de</strong>lo. O co-<br />
meço foi tudo em Marcelino Ramos".<br />
41
TESTEMUNHO Pe. Clorálio Caime, ms<br />
42<br />
EU VI A PRIMEIRA ROMARIA!<br />
Eu me lembro. Era seminarista estudante na "Escola Apostólica" <strong>de</strong> Marcelino Ramos. Tinha<br />
16 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando presenciei a primeira <strong>Romaria</strong> em honra a Nossa Senhora da<br />
Salette, em 1936. Pensando naquele dia, eu jamais imaginaria que ali estava começando um<br />
gran<strong>de</strong> movimento religioso. É um longo tempo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> graças que merece ser lembrado e<br />
celebrado.<br />
Era domingo, 20 <strong>de</strong> setembro. Choveu neste dia, mas a chuva não esfriou o ânimo dos<br />
romeiros. Tão pouco atrapalhou a sua caminhada da Estação Ferroviária até a pequena Capela<br />
do Seminário. O grupo <strong>de</strong> romeiros era da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> José Bonifácio, hoje Erechim, que vieram<br />
acompanhados pelo seu pároco, Pe. Benjamim Busatto, amigo dos Missionários Saletinos e<br />
<strong>de</strong>voto <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. O que levou esses valentes romeiros a viajarem até Marcelino<br />
Ramos foi ver <strong>de</strong> perto a virgem da Salette chorando e conhecer sua mensagem que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1928, quando os Missionários Saletinos se estabeleceram na Paróquia <strong>de</strong> São João Batista,<br />
propagaram sua <strong>de</strong>voção por aquelas redon<strong>de</strong>zas.<br />
Aí, no alto do morro foi o lugar do primeiro encontro <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong> oração e <strong>de</strong> reconciliação.<br />
Lembro <strong>de</strong> nossa alegria <strong>de</strong> jovens seminaristas ao participarmos <strong>de</strong>sse significativo acontecimento.<br />
A nossa pequena Capela que serviu para acolher estes "primeiros romeiros" era muito<br />
simples. O forro era <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira trabalhada, formando pequenos retângulos. A imagem <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Salette chorando estava ali <strong>de</strong>ntro e chamava a atenção <strong>de</strong> todos. Os padres disseram<br />
que ela tinha sido trazida da França. Vários bancos também <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira serviam para nos<br />
ajoelharmos durante as nossas orações. Muitas vezes rezei nesta capela, diante <strong>de</strong> Nossa Senhora...<br />
Só me resta dizer: obrigado Mãe da Salette, por tantas graças recebidas <strong>de</strong> vosso Filho,<br />
por vossa misericordiosa intercessão! Sim, para nós jovens seminaristas e, para mim <strong>de</strong> modo<br />
especial que, após 1946, ano <strong>de</strong> minha or<strong>de</strong>nação sacerdotal até 1960, participei vivamente das<br />
<strong>Romaria</strong>s, <strong>de</strong>sejo congratular-me com tantos romeiros que foram chegando <strong>de</strong> tantos lugares e<br />
pedir, em nome <strong>de</strong> todos, a benção <strong>de</strong> Deus Pai, <strong>de</strong> seu Filho Jesus e <strong>de</strong> Nossa Mãe, a Virgem<br />
da Salette.<br />
Des<strong>de</strong> então romeiros chegaram aos milhares.<br />
Ajoelharam-se, rezaram, confessaram, regressaram melhores.<br />
Muitos romeiros vêm ainda. Ajoelham-se, oram, confessam, regressam:<br />
- Tristes, por não po<strong>de</strong>rem <strong>de</strong>morar-se mais...<br />
- Mas, felizes, por haverem ali permanecido algumas horas.<br />
E a Santa Virgem, a "Bela Senhora", continua a falar, na alma fiel e dócil <strong>de</strong> todo piedoso<br />
romeiro. Ela fala como falou outrora.<br />
Incansável, Ela repete a mensagem <strong>de</strong> penitência e <strong>de</strong> lágrimas.<br />
Suas palavras <strong>de</strong> outrora são as mesmas <strong>de</strong> hoje. Basta querer compreen<strong>de</strong>r.<br />
Que diz?... Ela disse e ainda diz:<br />
"VINDE, FILHOS MEUS, NÃO TENHAIS MEDO, AQUI ESTOU PARA<br />
VOS CONTAR UMA GRANDE NOVIDADE."
Havia realmente, no meio do<br />
povo, um gran<strong>de</strong> receio face à expansão<br />
do comunismo russo pelo mundo<br />
afora. O <strong>Brasil</strong> tinha sido vítima da<br />
"Intentona Comunista" em 1935. A<br />
Espanha vivia uma guerra civil<br />
impiedosa. Pressentia-se a 2ª Guerra<br />
Mundial. Era preciso suplicar a Nossa<br />
Senhora para que reinassem a paz e a<br />
justiça no mundo.<br />
A revista "SALETTE" publicou<br />
em 2003, alguns artigos sobre as primeiras<br />
<strong>Romaria</strong>s. No número <strong>de</strong> janeiro-fevereiro,<br />
pgs. 3-5, o Pe. Bejamim<br />
Busatto situa o contexto da primeira<br />
<strong>Romaria</strong> em 1936:<br />
"Aqui vai a história verda<strong>de</strong>ira, porque começou em<br />
Erechim. Tinham (sic), eu e meu vigário, voltado <strong>de</strong><br />
Buenos Aires, ou melhor <strong>de</strong> Luján, Santuário mais<br />
célebre da América do Sul, <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong> Aparecida.<br />
Vimos verda<strong>de</strong>iramente o que era uma romaria. Pieda<strong>de</strong>.<br />
Silêncio. Oração, presença <strong>de</strong> Deus e da Vir-<br />
gem. (...) Na volta, já no <strong>Brasil</strong> (...). A coisa estava<br />
para estourar (i.e., o Golpe do Estado Novo, em 1937: nota do<br />
autor). . (...) Foi então que nos lembramos da romaria<br />
à Salette a fim <strong>de</strong> obter da Virgem a graça <strong>de</strong> nos<br />
livrar do <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue. Estávamos pra lá<br />
<strong>de</strong> cansados <strong>de</strong> revoluções, as <strong>de</strong> 30 e 32, as últimas. Nem se falou com os padres da<br />
Salette, nem com o Irmão João, o gran<strong>de</strong> amigo da Salette. Haveríamos <strong>de</strong> ir todos<br />
confessados, à Salette, num trem especial, rezando toda a viagem <strong>de</strong> ida. Só gente gran<strong>de</strong>.<br />
(...) Sábado à tar<strong>de</strong> na (sic) Igreja Matriz <strong>de</strong> São José encheu-se <strong>de</strong> gente. Confissões.<br />
De madrugada saiu o trem com rezas e cânticos sacros. Cada um levava sua comida.<br />
Prevenido o Irmão João e os padres, nos receberam na estação e subimos ao Santuá-<br />
rio (ou Seminário?...), então, mal começado. O Pe. Simão nos recebeu. Rezou-se a<br />
missa. Todos comungaram. (...) Depois do meio-dia voltamos. Fomos em 660 pessoas.<br />
Como temos sauda<strong>de</strong>s daquela primeira romaria. <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> Verda<strong>de</strong>...".<br />
Uma tradição mantida<br />
por muito tempo:<br />
O Padre aguardando os<br />
Romeiros na<br />
Estação Ferroviária.<br />
(De costas: Ir. João Creff, ms).<br />
1962 - 27 a <strong>Romaria</strong><br />
43
1937 - 2 a <strong>Romaria</strong> - Celebração no altar campal, anexo à Capela interna do Seminário (pare<strong>de</strong> branca).<br />
Foi uma caminhada sem maior<br />
organização, improvisada, "não oficial".<br />
Procissão feita ao longo <strong>de</strong> trilha<br />
íngreme, estreita e pedregosa em meio<br />
à floresta. O caminho penitencial convidava<br />
à oração e à meditação, ao canto<br />
<strong>de</strong> louvor, <strong>de</strong> bênção e perdão, <strong>de</strong><br />
proteção e reconciliação.<br />
Aos peregrinos <strong>de</strong> Erechim juntaram-se<br />
outros da região <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos. O grupo, em sua composição,<br />
ultrapassava, pois, os simples<br />
limites geográficos da Paróquia São<br />
João Batista. O ato religioso carregava<br />
consigo um caráter regional, marcadamente<br />
popular. Era a nota que<br />
aparecia pela primeira vez nas solenida<strong>de</strong>s<br />
saletinas <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Ao final das cerimônias, os peregrinos,<br />
cerca <strong>de</strong> duas mil e quinhentas pessoas,<br />
partiram exultantes, com a promessa<br />
<strong>de</strong> voltarem no ano seguinte.<br />
44
ÚLTIMO DOMINGO<br />
DE SETEMBRO<br />
Dessa forma iniciava um movimento<br />
religioso <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />
no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. O evento saletino<br />
<strong>de</strong> 1936 foi o fato gerador das <strong>Romaria</strong>s<br />
em Marcelino Ramos e mo<strong>de</strong>lo<br />
para tantas outras hoje realizadas sob<br />
diversas <strong>de</strong>voções, em outros locais<br />
sulinos, em outros Estados do <strong>Brasil</strong>,<br />
inclusive no Paraguai. Des<strong>de</strong> então, nunca<br />
mais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> crescer o movimento<br />
em torno Àquela que chora, a Mãe da<br />
Salette. Devoção e entusiasmo levaram<br />
o Povo <strong>de</strong> Deus a prosseguir por essa<br />
trilha religiosa popular e penitencial.<br />
Em 1937, nova <strong>Romaria</strong> foi "oficialmente"<br />
estabelecida para o último<br />
domingo <strong>de</strong> setembro. O Conselho<br />
Provincial dos Missionários Saletinos<br />
aprovou a proposta. A festa do dia 19<br />
<strong>de</strong> setembro prosseguiria em caráter<br />
local, paroquial. Festejos populares teriam<br />
seu espaço na cida<strong>de</strong>. Paralelamente,<br />
a Escola Apostólica faria celebrações<br />
internas no dia comemorativo<br />
da Aparição. A gran<strong>de</strong> solenida<strong>de</strong>, porém,<br />
na forma <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>, teria lugar<br />
no último domingo <strong>de</strong> setembro, envolvendo<br />
as duas instituições: Paróquia<br />
e Escola Apostólica.<br />
Em verda<strong>de</strong>, o programa da<br />
<strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1937 foi organizado pelos<br />
responsáveis da Paróquia e da Escola<br />
Apostólica. Previa uma procissão a<br />
partir da Igreja Matriz até o alto do<br />
monte on<strong>de</strong> seria celebrada a missa<br />
num altar campal.<br />
1937 - 2 a <strong>Romaria</strong> - Dom Antonio Reis e Pe. Amos ms, acolhem romeiros na Estação Ferrovária<br />
45
REDE<br />
FERROVIÁRIA<br />
O povo da região para além dos<br />
limites da Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos<br />
seria convidado a participar da celebração.<br />
O acesso por trem era fácil.<br />
As autorida<strong>de</strong>s da Re<strong>de</strong> Ferroviária foram<br />
contatadas para a previsão do<br />
transporte <strong>de</strong> peregrinos do sul e do<br />
norte pela via férrea. Outros viriam a<br />
pé, a cavalo, <strong>de</strong> carreta ou automóveis<br />
pelas precárias estradas <strong>de</strong> terra.<br />
No mês <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1937, o Irmão<br />
João foi à Paróquia <strong>de</strong> Boa Vista<br />
<strong>de</strong> Erechim, para preparar a <strong>Romaria</strong> a<br />
Nossa Senhora da Salette. Voltou dizendo<br />
que o povo e o Pe. Benjamim<br />
estavam entusiasmados com o projeto.<br />
1937 - Dom Antonio Reis retornando a Santa Maria após a 2 a <strong>Romaria</strong>.<br />
A 22 <strong>de</strong> agosto, o então Pároco<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos também foi a Boa<br />
Vista <strong>de</strong> Erechim para encontrar-se<br />
com o Bispo <strong>de</strong> Santa Maria, Dom<br />
Antônio Reis. Falava-se muito da futura<br />
<strong>Romaria</strong>.<br />
Com a ajuda <strong>de</strong> duas paroquianas,<br />
Dna. Hermelinda Zanella e Dna.<br />
Adélia Zambonatto, Pe. Benjamim passou<br />
a <strong>de</strong>dicar-se intensamente à organização<br />
do evento. A notícia tomou impulso<br />
nos Estados do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />
Sul e <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />
Na Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos,<br />
o mês <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1937 foi<br />
aberto com o canto das Ladainhas.<br />
Uma novena preparou a população<br />
para o dia 19, quando houve missa na<br />
Igreja Matriz.<br />
O tríduo para a <strong>Romaria</strong>, realizada<br />
no dia 26 <strong>de</strong> setembro, foi pregado<br />
pelo gran<strong>de</strong> orador, Pe. Simão<br />
Bacelli ms, um dos primeiros Missionários<br />
Saletinos a chegarem ao <strong>Brasil</strong>.<br />
Ele havia conhecido pessoalmente<br />
Melânia, a vi<strong>de</strong>nte da Aparição. Em todas<br />
as noites do tríduo uma banda <strong>de</strong><br />
música, acompanhada pelo estandarte<br />
da Confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette, buscava os paraninfos da festivida<strong>de</strong><br />
em suas próprias casas. Na noite<br />
do sábado, dia 25, foi apresentada<br />
uma peça teatral em homenagem a Dom<br />
Antônio Reis, proclamado "Romeiro número<br />
um!", gran<strong>de</strong> incentivador das<br />
<strong>Romaria</strong>s.
TESTEMUNHO Pe. Aldacir Carniel, ms<br />
O TREM DA ROMARIA<br />
Quando o norte do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e o oeste <strong>de</strong> Santa Catarina não conheciam o asfalto<br />
e as estradas por terra eram precárias, o trem era o meio <strong>de</strong> transporte mais seguro e confortável.<br />
Por Marcelino Ramos circulavam, normalmente, três trens diários: o Internacional, o Misto e<br />
o Noturno. No último domingo <strong>de</strong> setembro, porém, em função da <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette, disponibilizavam-se trens extras partindo <strong>de</strong> Passo Fundo, Erechim, Caçador, Joaçaba,<br />
Estação Maratá e outras localida<strong>de</strong>s.<br />
A notícia <strong>de</strong> uma Santa que chora, que alcança curas e conforta a alma, correu rápida,<br />
contagiou a região e fez <strong>de</strong> Marcelino Ramos uma referência do Sagrado.<br />
Dom Antonio Reis, Bispo <strong>de</strong> Santa Maria-RS e da Igreja Local, acreditava em romarias<br />
como forma <strong>de</strong> manter viva a fé do povo e como instrumento <strong>de</strong> evangelização. Anualmente, com<br />
romeiros da Diocese, se antecipava ao dia. Sua chegada era aguardada com espocar <strong>de</strong> fogos,<br />
charrete especial e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cavaleiros que o escoltavam da Estação Ferroviária até o Seminário.<br />
O mesmo fazia o Pe. Simão Bacelli com os romeiros vindos do Rio <strong>de</strong> Janeiro, então<br />
capital da República.<br />
Do sábado para o domingo, a noite toda, era um vai e vem <strong>de</strong> trens com seus apitos e um<br />
contínuo fluir <strong>de</strong> romeiros imantados <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mística. Era bonito e comovente<br />
contemplar aquela gente do povo, <strong>de</strong> várias etnias e condições sociais, homens circunspectos,<br />
pessoas <strong>de</strong> fé esclarecida, subindo escadarias, galgando a montanha para diante <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora esquecer os pequenos sem-sentidos da vida e encontrar o sentido maior - Deus.<br />
Hoje, na memória, ouço o trem apitando, prestes a transpor a ponte metálica e eu, com<br />
meus oito <strong>anos</strong>, coroinha <strong>de</strong> batina preta e sobrepeliz, me apressando para alcançar as Senhoras<br />
da Confraria para aí, junto aos trilhos, sorrir e acenar com alegria para aqueles que chegavam<br />
em busca <strong>de</strong> paz e proteção divina. Isto eu vi e vivi!...<br />
O dia da <strong>Romaria</strong> foi muito bonito.<br />
O gran<strong>de</strong> dia! Manhã criança ainda,<br />
<strong>de</strong> todos os lados chegavam romeiros<br />
a pé, a cavalo, <strong>de</strong> carroça, jardineiras,<br />
autos e caminhões. Veio um<br />
trem <strong>de</strong> Boa Vista <strong>de</strong> Erechim com<br />
onze vagões. O Pároco, Pe. Bejamim<br />
Busatto e o Prefeito Municipal acompanhavam<br />
os fiéis <strong>de</strong>votos da Salette.<br />
Outro trem veio <strong>de</strong> Perdizes, SC. Foram<br />
todos recepcionados por Dom<br />
Antônio, na estação ferroviária.<br />
47
1938 - 3 a <strong>Romaria</strong> - Procissão pelas ruas em direção ao Seminário<br />
Várias missas foram celebradas<br />
na Igreja Matriz. Houve confissões e<br />
comunhões numerosas. Após a Missa<br />
Festiva, às 9hs00, iniciou a procissão<br />
penitencial. Um cortejo sem formação<br />
<strong>de</strong>finida ou fileiras humanas organizadas<br />
pois a massa popular era compacta<br />
<strong>de</strong>mais. Cantos e preces foram entoados,<br />
até a esplanada da Escola Apostólica,<br />
um imponente, mas austero e<br />
inacabado prédio. O andor, com Nossa<br />
Senhora em lágrimas, foi carregado<br />
em procissão, acompanhado por<br />
Dom Antônio, a pé. Chegada a procissão<br />
no alto do morro, num vasto<br />
terreno, espraiava-se o povo em torno<br />
<strong>de</strong> um simples e bem ornamentado<br />
altar campal, on<strong>de</strong> foi celebrada a mis-<br />
48<br />
sa pelo Pe. Agostinho Poncet ms. O<br />
canto dos seminaristas solenizou a cerimônia.<br />
Pe. Simão fez o sermão. O<br />
Bispo se dirigiu à multidão no final da<br />
celebração. Depois, o bosque próximo<br />
à Escola serviu <strong>de</strong> cenário on<strong>de</strong> o<br />
povo refez as energias com saboroso<br />
churrasco e bebidas. Às 16hs00, Pe.<br />
Simão, em local próximo ao Seminário,<br />
fez a narrativa da Aparição, o que<br />
"comoveu muito os peregrinos". Seguiram-se<br />
a oração do terço, as ladainhas<br />
e a Bênção do Santíssimo Sacramento<br />
dada pelo Pe. Francisco Amos<br />
Connor ms. Concluídas as cerimônias,<br />
os peregrinos, muitos com os olhos<br />
marejados em lágrimas, tomados do<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> voltarem no ano seguinte,<br />
retornaram à suas casas. Calcula-se<br />
em três mil o número <strong>de</strong> romeiros.<br />
No dia 27, Dom Antônio voltou<br />
a Santa Maria. Os seminaristas se <strong>de</strong>spediram<br />
<strong>de</strong>le na Escola Apostólica. Os<br />
Padres o acompanharam até a Estação<br />
Ferroviária.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1937 tornou-se<br />
<strong>de</strong> certa forma, o padrão das subsequentes.<br />
Definiu as principais características<br />
que marcam até hoje, a maior<br />
e mais popular peregrinação saletina<br />
no <strong>Brasil</strong>.
1938 - 3 a <strong>Romaria</strong> - Procissão pelas ruas <strong>de</strong> Marcelino Ramos<br />
Ao longo dos <strong>anos</strong>, certas novida<strong>de</strong>s<br />
se incorporaram no contexto das<br />
<strong>Romaria</strong>s. O evento crescia em número<br />
<strong>de</strong> participantes e no espírito religioso<br />
caracterizadamente penitencial, <strong>de</strong><br />
conversão e reconciliação. Peregrinos<br />
andando a pé por <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> quilômetros,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antevéspera da <strong>Romaria</strong>,<br />
chegam cansados, mas felizes e<br />
se abrigam em barracas, ou no bosque<br />
anexo, ou em pouco confortáveis<br />
recintos postos à disposição pelo Seminário.<br />
A cida<strong>de</strong> não oferece condições<br />
suficientes para tamanha multidão.<br />
Muitas vezes o tempo é chuvoso e frio.<br />
Exige sacrifícios. Na lama, a subida ao<br />
monte é difícil. Há os que a percorrem<br />
a pés <strong>de</strong>scalços ou até <strong>de</strong> joelhos. Sinalizam<br />
assim o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conversão<br />
em sua vida e o agra<strong>de</strong>cimento por favores<br />
divinos obtidos por intercessão<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora.<br />
Paulatinamente foram incluídas<br />
novas solenida<strong>de</strong>s tanto no dia 19 quanto<br />
no último final <strong>de</strong> semana <strong>de</strong> setembro,<br />
momento da gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>.<br />
Além da procissão luminosa, à luz <strong>de</strong><br />
velas e ao som <strong>de</strong> preces e cânticos,<br />
serpenteando nas trevas montanha acima,<br />
e envolvendo o andor <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora chorando, na noite <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong><br />
setembro, introduziu-se a prática <strong>de</strong> uma<br />
segunda procissão luminosa no sábado<br />
à noite, véspera da gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>.<br />
Alto-falantes orientam a caminhada. Um<br />
conjunto <strong>de</strong> emissoras radiofônicas com<br />
o tempo passou a formar uma re<strong>de</strong> para<br />
a transmissão dos acontecimentos. Ao<br />
fim da procissão noturna, cerimoniais<br />
a<strong>de</strong>quados são realizados: Bênção do<br />
Santíssimo Sacramento, encenações da<br />
Aparição, Adoração do Santíssimo, celebrações<br />
<strong>de</strong> missas e confissões. Muitos<br />
sacerdotes, saletinos ou não, acolhem<br />
os que buscam a paz do Senhor.<br />
49
APÓS A MISSA<br />
CAMPAL<br />
Muitos Bispos também marcaram<br />
honrosamente presença em certas<br />
<strong>Romaria</strong>s: Dom Antônio Reis, Bispo<br />
<strong>de</strong> Santa Maria, Diocese-Mãe da<br />
Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos, Dom<br />
Newton <strong>de</strong> Almeida Batista, Bispo <strong>de</strong><br />
Uruguaiana, Dom José Barea e Dom<br />
Benedito Zorzi, Bispos <strong>de</strong> Caxias do<br />
Sul, Dom Frei Cândido Bampi, Bispo<br />
<strong>de</strong> Vacaria, Dom Daniel Hostin, Bispo<br />
<strong>de</strong> Lages, Dom Cláudio Colling,<br />
Bispo <strong>de</strong> Passo Fundo, Dom João<br />
Hoffmann e Dom Girônimo Zanandréa,<br />
Bispos <strong>de</strong> Erechim, Dom Ivo<br />
Lorscheiter, Bispo <strong>de</strong> Santa Maria,<br />
Dom Pedro Fedalto, Arcebispo <strong>de</strong><br />
Curitiba, o Car<strong>de</strong>al Dom Paulo<br />
Evaristo Arns, Arcebispo <strong>de</strong> São Paulo<br />
e Dom Pedro Sbalchiero Neto, primeiro<br />
Bispo Saletino do <strong>Brasil</strong>.<br />
Ao final das cerimônias noturnas,<br />
os sinos reboam e o silêncio <strong>de</strong>voto<br />
se faz.<br />
50<br />
Na manhã da <strong>Romaria</strong>, mais<br />
peregrinos chegam aos milhares, transportados<br />
por trens especiais vindos do<br />
norte e do sul, em tempos antigos, e<br />
por veículos, os mais diversos, em tempos<br />
mo<strong>de</strong>rnos, por estradas embarradas,<br />
talvez poeirentas, mais tar<strong>de</strong> asfaltadas.<br />
Romeiros das mais diferentes<br />
regiões e com as mais diversas motivações<br />
<strong>de</strong> fé, sob o peso das tribulações<br />
da vida se aproximam da Mãe<br />
da Salette para chorarem com Ela.<br />
Após a missa matinal na Igreja<br />
Matriz, nova procissão se forma para<br />
escalar o monte da Reconciliação. Ao<br />
final da caminhada, o Bispo Diocesano<br />
celebra, com os sacerdotes presentes,<br />
a solene missa do dia, em altar campal,<br />
provisório antigamente, hoje <strong>de</strong>finitivamente<br />
instalado. É um acontecimento<br />
impressionante ver <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
milhares <strong>de</strong> romeiros congregados em<br />
torno da Mãe do Senhor, contritos,<br />
pedindo saú<strong>de</strong>, paz e reconciliação,<br />
<strong>de</strong>votamente participando da Eucaristia,<br />
sob sol escaldante ou <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />
chuva fria.<br />
À tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pois do almoço frugal<br />
e apressado, cerimônias complementares<br />
encerram a <strong>Romaria</strong>.<br />
No Fac-simile, local on<strong>de</strong> estátuas<br />
representam a Virgem Mãe da Reconciliação,<br />
frente ao Santuário, é feita<br />
a narrativa da Aparição em Salette.<br />
Lágrimas doridas se mesclam à oração<br />
do Terço. A Bênção do Santíssimo<br />
Sacramento, seguida da Bênção aos<br />
doentes, abre espaço para uma palavra<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida. E a multidão <strong>de</strong>saparece.<br />
Volta para casa, feliz, carregada<br />
das bênçãos celestes, impregnada<br />
<strong>de</strong> prece, <strong>de</strong> fé, <strong>de</strong> gratidão e reconciliação.<br />
Ao longo do ano, inúmeros visitantes<br />
passam pelo Santuário diariamente<br />
para um tempo <strong>de</strong> oração ou<br />
celebração. Um sacerdote se põe à<br />
disposição dos peregrinos.<br />
Tudo isso exige organização e<br />
trabalho. Estafante, sem dúvida. São<br />
muitos, porém, os colaboradores, tanto<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos, quanto <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s<br />
circunvizinhas. Voluntários que<br />
não se cansam <strong>de</strong> alegremente prestar<br />
serviço na preparação e bom andamento<br />
das <strong>Romaria</strong>s. Os <strong>de</strong>sdobramentos<br />
da primeira peregrinação, em<br />
1936, tão simples e espontânea, exigem<br />
hoje maior doação e participação.<br />
O amor a Nossa Senhora da Salette é<br />
a fonte única <strong>de</strong> tamanha resistência.<br />
A cada dia 19 é celebrada missa<br />
especial no Santuário, para comemorar<br />
a Aparição. Muitas pessoas<br />
acorrem à cerimônia para estarem com<br />
Maria. O Santuário exerce constante<br />
e forte fascínio religioso para um povo<br />
se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong> Deus.
1945 - 10 a <strong>Romaria</strong><br />
Dom José Barea -<br />
Bispo <strong>de</strong><br />
Caxias do Sul-RS.<br />
51
1942 - 7 a <strong>Romaria</strong> - Altar Campal na área posterior do Seminário<br />
É inviável <strong>de</strong>screver tudo que<br />
acontece em cada <strong>Romaria</strong>. Cada uma<br />
tem suas surpresas e traços diferenciais.<br />
Só é possível assinalar certos fatos<br />
ou circunstâncias marcantes.<br />
Em maio <strong>de</strong> 1938 o Irmão João<br />
Creff ms fundou a "Novena <strong>de</strong> Missas",<br />
hoje conhecida como "Liga <strong>de</strong><br />
Missas" sugerida pelo povo que <strong>de</strong>sejava<br />
participar dos benefícios espirituais<br />
da Congregação Saletina.<br />
Em setembro do mesmo ano,<br />
Dom Antônio Reis veio para uma visita<br />
pastoral à Paróquia <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos e participar da <strong>Romaria</strong>. Pela<br />
primeira vez foi impresso um folheto<br />
com o programa da peregrinação. No<br />
dia 25 <strong>de</strong> setembro, dia da gran<strong>de</strong><br />
<strong>Romaria</strong>, o Bispo e seu Secretário<br />
recepcionaram os romeiros junto à Estação<br />
Ferroviária e acompanharam a<br />
procissão a pé. À tar<strong>de</strong>, o Bispo ofi-<br />
ciou a Bênção do Santíssimo Sacramento.<br />
Na <strong>de</strong>spedida dos romeiros,<br />
Dom Antônio os acompanhou até a<br />
Estação Ferroviária.<br />
No Relatório da Visita Pastoral<br />
feita nessa ocasião, o Bispo <strong>de</strong>clara:<br />
"Marcelino Ramos é um lugar escolhido por Ma-<br />
ria Santíssima para erigir seu trono <strong>de</strong> Mãe da<br />
Misericórdia. Recomendamos por isso que se levante<br />
um templo, gran<strong>de</strong> e belo, conforme requer a necessida<strong>de</strong><br />
dos serviços religiosos e a dignida<strong>de</strong> do cul-<br />
to. Dissemos também, que esta Vila é como que, o<br />
solar <strong>de</strong> visitas <strong>de</strong> nossa Diocese e <strong>de</strong> todo o Estado,<br />
por isto, não po<strong>de</strong>-se (sic) esperar por mais tempo o<br />
início da nova igreja. Com a união <strong>de</strong> todos os habitantes<br />
muito fácil será <strong>de</strong> levar a bom termo este em-<br />
preendimento"<br />
(LIVRO TOMBO I - Paróquia São João Batista,<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos, pg. 38)<br />
52
1943 - Fac-simile, representação do local da Aparição, em frente a Escola Apostólica<br />
Afirma ainda que Marcelino Ramos<br />
é "uma mimosa parcela <strong>de</strong> nossa<br />
Diocese". Dom Antônio participou das<br />
<strong>Romaria</strong>s até 1949.<br />
O movimento saletino <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos era forte <strong>de</strong>mais para se<br />
<strong>de</strong>ter entre as montanhas e vales do Rio<br />
Uruguai. Aos poucos, pela própria iniciativa<br />
dos peregrinos saletinos, surgiram<br />
cá e lá, pelo <strong>Brasil</strong> afora, locais <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>voção ou romarias a Nossa Senhora<br />
da Salette. Em 1938 ainda, além da<br />
<strong>Romaria</strong> em Marcelino Ramos, a Virgem<br />
Mãe da Salette foi celebrada nas<br />
mais diversas localida<strong>de</strong>s: Passo Fundo,<br />
RS, Cacequi, RS, Mercês <strong>de</strong><br />
Dimantina, MG, Natal, RN, Buricá,<br />
Assú, RN, Estância, SE, Rosário, RS,<br />
Santo Ângelo, RS, Ressaquinha, MG,<br />
Penedo, AL, etc. Na região sul do <strong>Brasil</strong><br />
essa repercussão da Salette se <strong>de</strong>ve<br />
ao particular trabalho <strong>de</strong> divulgação,<br />
feito pelo Irmão João. Nas regiões<br />
centro e norte, a divulgação foi feita<br />
pelo Irmão Rafael Rozec ms, então<br />
responsável pela revista "O Mensageiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette".<br />
Em 1939, foi preparado o local<br />
do "fac-simile" (local que representa o<br />
fato da Aparição). A primeira estátua<br />
a ser instalada foi a <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
falando com os vi<strong>de</strong>ntes Maximino e<br />
Melânia, abençoada por Dom Antônio<br />
Reis no dia da <strong>Romaria</strong>. A imagem<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora chorando foi instalada<br />
por ocasião da <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1941.<br />
A <strong>de</strong> Nossa Senhora subindo aos céus<br />
foi posta inicialmente, sobre um pe<strong>de</strong>stal<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, na <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1942.<br />
Por ocasião da <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1943 o<br />
pe<strong>de</strong>stal foi substituído pelo atual,<br />
constituído <strong>de</strong> pedra única.<br />
53
1943 - Romeiros no Fac-simile<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1940 foi divulgada através <strong>de</strong> jornais<br />
<strong>de</strong> Erechim, <strong>de</strong> Passo Fundo e<br />
Porto Alegre. Foi mais concorrida que<br />
as anteriores. Cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil peregrinos<br />
<strong>de</strong>la participaram. A chuva na<br />
madrugada, porém, impediu a vinda <strong>de</strong><br />
muitos outros romeiros. Um fato <strong>de</strong>sagradável<br />
empanou em parte, o bri-<br />
54<br />
lhantismo da solenida<strong>de</strong>. Cerca <strong>de</strong> trezentos<br />
romeiros sofreram uma intoxicação<br />
alimentar inexplicável. Não houve,<br />
porém, nenhum caso fatal.<br />
No dia 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1941<br />
começou a novena para a <strong>Romaria</strong> do<br />
dia 28. Em vista da <strong>Romaria</strong> foram arrecadados<br />
produtos alimentícios coloniais.<br />
Apesar da chuva no sábado, 27,<br />
chegaram a pé, <strong>de</strong> Vila Áurea, cerca<br />
<strong>de</strong> quarenta peregrinos, com algumas<br />
Irmãs da Sagrada Família e o Pároco.<br />
Essa prática se manteve por longos<br />
<strong>anos</strong> e com número sempre maior <strong>de</strong><br />
participantes. À noite, na Matriz, o Bispo<br />
Dom Antônio, afirmou: "Amanhã<br />
vamos lançar o aviso da construção do<br />
Santuário. Vamos indicar o lugar, colocar<br />
uma cruz e no ano que vem vamos<br />
lançar a primeira pedra".<br />
O dia da <strong>Romaria</strong> transcorreu<br />
com seu programa habitual. Após a<br />
Missa Campal, Dom Antônio anunciou<br />
a boa nova: a construção do Santuário<br />
a Nossa Senhora da Salette, sonhado<br />
pelos primeiros saletinos chegados em<br />
Marcelino Ramos, em 1928. À tar<strong>de</strong>,<br />
o Bispo abençoou e plantou uma cruz<br />
no local <strong>de</strong>stinado ao futuro Santuário,<br />
no lado sul da Escola Apostólica.
No mesmo ano <strong>de</strong> 1941, o Pároco<br />
Pe. Francisco Amos Connor ms<br />
retirou-se da Paróquia e foi substituído<br />
pelo Pe. Simão Bacelli ms.<br />
Em 1942, Dom Antônio Reis<br />
chegou no dia 25 <strong>de</strong> setembro. Lamentou<br />
que nada ainda fora preparado para<br />
o lançamento da pedra fundamental do<br />
Santuário, além <strong>de</strong> pequenas terraplanagens.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> setembro<br />
foi realizada sob o peso do clima<br />
da II Guerra Mundial.<br />
Em 1943, Dom Antônio fez nova<br />
Visita Pastoral à Paróquia, durante o<br />
mês <strong>de</strong> março. Abençoou e lançou a<br />
pedra fundamental da futura Igreja Paroquial.<br />
No final do Relatório da Visita,<br />
o Bispo afirma:<br />
1942 - 7 a <strong>Romaria</strong><br />
"Aos prezados sacerdotes do querido Seminário Apostólico o<br />
nosso reconhecimento. A hospedagem que nos ofereceram, o ca-<br />
rinho e solicitu<strong>de</strong> com que nos trataram, transformaram nossa<br />
viagem em dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso antes que <strong>de</strong> trabalhos. Que o bom<br />
Deus e Nossa Senhora da Salette protejam e amparem os zelo-<br />
sos Missionários da Salette, conservem a preciosa vocação dos<br />
alunos para que se tornem zelosos Missionários um dia e re-<br />
compensem a todos por tudo que por nós fizeram"<br />
(LIVRO TOMBO I da Paróquia São João Batista <strong>de</strong> Marcelino Ramos, pg. 61)<br />
55
BÊNÇÃO DA PEDRA<br />
E anuncia que o lançamento da<br />
pedra fundamental do futuro Santuário<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette seria<br />
feito por ocasião da gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong><br />
naquele ano.<br />
A <strong>Romaria</strong> aconteceu a 26 <strong>de</strong><br />
setembro. Perto do "Fac-simile", junto<br />
à Escola Apostólica, Dom Antônio<br />
celebrou a missa campal em altar provisório.<br />
O sermão foi pronunciado por<br />
Dom Cândido, Bispo <strong>de</strong> Vacaria. Após<br />
a Missa celebrou-se a bênção e lançamento<br />
da pedra fundamental do futuro<br />
Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette.<br />
1943 - 8 a <strong>Romaria</strong> - Dom Antonio abençoa a Pedra Fundamental do Santuário<br />
56
O teor da Ata inserida na Pedra<br />
Angular é o seguinte:<br />
"Em nome da Santíssima Trinda<strong>de</strong>, invocado no ano do nascimento <strong>de</strong> Nosso Se-<br />
nhor Jesus Cristo <strong>de</strong> mil novecentos e quarenta e três, no dia vinte e seis <strong>de</strong> setembro,<br />
dia da Gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong> em honra a Nossa Senhora da Salette, sob o Pontificado<br />
do Papa Pio XII gloriosamente reinante, sendo Bispo <strong>de</strong>sta Diocese <strong>de</strong> Santa Ma-<br />
ria Dom Antônio Reis; Presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos do <strong>Brasil</strong> Dr. Getúlio<br />
Vargas; Interventor do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul Dr. Ernesto Dornelles; Supe-<br />
rior Geral dos Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette Revmo Pe. Estevan<br />
Cruveiller; Provincial dos mesmos no <strong>Brasil</strong> Rev. Pe. Celestino Crozet; Prefeito Mu-<br />
nicipal <strong>de</strong> José Bonifácio Dr. Jerônimo Teixeira <strong>de</strong> Oliveira; Delegado <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos Sr. Tenente Telmo Dornelles Azambuja; Vigário da Paróquia<br />
<strong>de</strong> São João Batista em Marcelino Ramos Rev. Pe. Simão Bacelli; Superior Local<br />
dos Missionários da Salette Rev. Pe. Francisco Allard, nesta Paróquia e Vila <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos, na chácara dos Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette, o<br />
Digníssimo Bispo Diocesano, Dom Antônio Reis benzeu e colocou na presença do<br />
Exmo. e Revmo. Dom Frei Candido Maria <strong>de</strong> Caxias, Bispo Prelado <strong>de</strong> Vacaria,<br />
do Digníssimo Secretário Geral do Bispado <strong>de</strong> Santa Maria, Mons. Paschoal Go-<br />
mes Librelotto, do Secretário Particular Pe. Achyles Bertoldo, dum gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> Párocos e Sacerdotes <strong>de</strong>sta Diocese <strong>de</strong> Santa Maria e das Dioceses vizinhas e dos<br />
Romeiros, esta Pedra Angular do Santuário <strong>de</strong>dicado a Nossa Senhora da Salette"<br />
(LIVRO TOMBO I da Escola Apostólica, pgs. 168-169)<br />
57
VIOLENTA<br />
TEMPESTADE<br />
Outro fato inédito marcou esse<br />
dia: vinte soldados do Exército sediado<br />
em Cruz Alta, RS, sob a direção do<br />
Pe. José Busatto, Capelão Militar, hastearam<br />
a ban<strong>de</strong>ira da Pátria e a do<br />
Vaticano junto ao altar campal, e cantaram<br />
louvores a Maria Santíssima,<br />
para admiração <strong>de</strong> todos. Os romeiros,<br />
ao final do dia, se retiraram profundamente<br />
impressionados.<br />
O ano <strong>de</strong> 1944 foi marcado<br />
pelas gran<strong>de</strong>s preocupações ocasionadas<br />
pela II Guerra Mundial e por<br />
grave enfermida<strong>de</strong> do Bispo <strong>de</strong> Santa<br />
Maria, Dom Antônio Reis. Assim mesmo,<br />
o Bispo chegou a Marcelino Ramos<br />
no dia 23 <strong>de</strong> setembro. No domingo,<br />
24, a <strong>Romaria</strong> teve um êxito<br />
além <strong>de</strong> toda expectativa. O dia foi extraordinariamente<br />
belo.<br />
Em 1945, na noite <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong><br />
abril, uma violenta tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sabou<br />
sobre a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcelino Ramos<br />
e <strong>de</strong>rrubou a Igreja Matriz. Um<br />
soldado da Brigada Militar morreu <strong>de</strong>baixo<br />
dos escombros. Com gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong><br />
o Pároco conseguiu chegar<br />
ao altar para retirar o Santíssimo Sacramento<br />
e levá-lo à capela do Hospital<br />
São João. A única estátua que<br />
resistiu ao <strong>de</strong>sastre foi a <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette em lágrimas. Ao retirá-la<br />
<strong>de</strong>ntre as ruínas, o Pároco afirmou:<br />
"Ela po<strong>de</strong> continuar a<br />
chorar!"<br />
(LIVRO TOMBO I da Escola<br />
Apostólica, pg. 187)<br />
Essa imagem é carregada em<br />
procissão nas <strong>Romaria</strong>s anuais. Após<br />
a catástrofe, a construção da nova Igreja<br />
Matriz tomou maior impulso.<br />
A <strong>Romaria</strong> saletina foi celebrada<br />
no domingo, dia 30 <strong>de</strong> setembro.<br />
No dia 28, chegou por trem, do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, Dom Antônio Reis. Cansado,<br />
mas transbordante <strong>de</strong> alegria,<br />
afirmou:<br />
"Nunca <strong>de</strong>ixarei <strong>de</strong> as-<br />
sistir a estas <strong>Romaria</strong>s.<br />
Quando não pu<strong>de</strong>r mais<br />
aqui da terra, acompa-<br />
nha-las-ei do céu!"<br />
(In CARTA CIRCULAR sobre a<br />
<strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1945)<br />
Avaliou-se em 15 mil ou mais, o<br />
número <strong>de</strong> romeiros. Cerca <strong>de</strong> 50 sacerdotes<br />
marcaram presença na <strong>Romaria</strong>.<br />
58<br />
1943 - 8 a <strong>Romaria</strong> - Dom Cândido, Bispo <strong>de</strong> Vacaria-RS.
TESTEMUNHO Pe. Arlindo Fávero, ms<br />
OS TRABALHADORES<br />
Deus me conce<strong>de</strong>u a graça <strong>de</strong> participar das <strong>Romaria</strong>s Saletinas em Marcelino Ramos,<br />
através daquilo que consi<strong>de</strong>ro a forma mais nobre: o serviço <strong>de</strong> acolhimento aos romeiros. Este<br />
serviço envolve a montagem <strong>de</strong> umas trinta equipes <strong>de</strong> voluntários que <strong>de</strong> livre e espontânea<br />
vonta<strong>de</strong> se dispõem a servir no atendimento aos romeiros. Eu diria que a graça da Salette abriu<br />
caminhos para que conseguíssemos o apoio <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, pessoas, comunida<strong>de</strong>s e zeladores<br />
da Revista, que se tornaram uma espécie <strong>de</strong> suporte para as <strong>Romaria</strong>s. São pessoas e instituições<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos e <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s vizinhas. Gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o apoio do Hospital<br />
Carida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Erechim e do Grupo <strong>de</strong> Escoteiros Tupinambás, também da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Erechim.<br />
Além <strong>de</strong>stes, contamos muito com o apoio sempre prestativo e amigo das comunida<strong>de</strong>s locais<br />
da Paróquia São João Batista <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
O trabalho com estas equipes eu chamo <strong>de</strong> a "outra romaria": a romaria dos colaboradores<br />
e voluntários, que três, quatro meses antes já estão aguardando, ansiosos, o convite para prestar<br />
a sua colaboração. Fazem <strong>de</strong> seu trabalho na <strong>Romaria</strong> uma espécie <strong>de</strong> compromisso sagrado.<br />
De um lado encontramos romeiros e <strong>de</strong>votos que dizem que participarão das romarias enquanto<br />
Deus lhes <strong>de</strong>r vida e saú<strong>de</strong> e aqui encontramos voluntários que se comprometem a prestar a sua<br />
colaboração até o fim <strong>de</strong> suas vidas.<br />
Para mim é gratificante e maravilhoso fazer este trabalho da montagem das equipes <strong>de</strong><br />
serviço porque isto me permite o contato com aquilo que há <strong>de</strong> mais digno e nobre no coração<br />
humano: a gratuida<strong>de</strong>, a disponibilida<strong>de</strong>, a doação e o serviço. É um trabalho gratificante porque<br />
também me permite dar o melhor <strong>de</strong> mim na solidarieda<strong>de</strong> e na fraternida<strong>de</strong>.<br />
A cada <strong>Romaria</strong> faço novas amiza<strong>de</strong>s e fortaleço as antigas. Na verda<strong>de</strong> a <strong>Romaria</strong> já faz<br />
parte do calendário afetivo e <strong>de</strong>vocional <strong>de</strong> todos. E, no meio <strong>de</strong>stes voluntários estou eu, sem<br />
po<strong>de</strong>r retribuir a todos, a não ser por palavras e pela minha amiza<strong>de</strong>. A <strong>Romaria</strong> tem muito do<br />
testemunho <strong>de</strong>stes abnegados voluntários. Obrigado a todos vocês.<br />
1947 - 12 a <strong>Romaria</strong> - Nada,<br />
nem mesmo a lama, impe<strong>de</strong> a<br />
caminhada até o alto, on<strong>de</strong><br />
está o Santuário, ainda em<br />
construção, e o Fac-simile <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette.<br />
59
2ª Fase:<br />
O Santuário do<br />
encontro reconciliador<br />
60<br />
Um Santuário é o local simbólico<br />
do Sagrado por excelência. Nele o<br />
povo se sente acolhido pelo Senhor<br />
Deus. Nele a presença do Pai parece<br />
mais consistente. É a "casa do Pai".<br />
Nele a Mãe <strong>de</strong> Jesus, Mãe da Igreja,<br />
no imaginário da fé, se encontra para<br />
receber os filhos, dar-lhes a bênção,<br />
compensar suas dores com o afeto maternal<br />
impregnado <strong>de</strong> graça. No Santuário<br />
o peregrino se <strong>de</strong>tém em sua<br />
caminhada <strong>de</strong> vida e encontra a felicida<strong>de</strong><br />
da Reconciliação que procura.<br />
O ano <strong>de</strong> 1946 tinha significado<br />
especial: comemorava-se o 1º Cente-<br />
nário da Aparição em LA SALETTE.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong>via ser engalanada com<br />
ornamentos e rituais apropriados. Para<br />
facilitar sua preparação, a redação e<br />
administração da revista "O Mensageiro<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette" foram<br />
transferidas do Rio <strong>de</strong> Janeiro para<br />
Marcelino Ramos.<br />
Para marcar o ano festivo, logo<br />
no início, a 16 <strong>de</strong> fevereiro, chegaram<br />
ao Seminário o construtor Betanin e<br />
seu eficiente mestre <strong>de</strong> obras, Adolpho<br />
Spessatto, para <strong>de</strong>terminar as medidas<br />
da construção do Santuário. Pouco<br />
tempo <strong>de</strong>pois, os trabalhos iniciaram.
O infatigável Irmão João se pôs em<br />
busca <strong>de</strong> auxílios. Os pl<strong>anos</strong> <strong>de</strong> construção<br />
haviam sido estudados pelos<br />
Missionários e pelos dois Bispos, Dom<br />
Antônio, <strong>de</strong> Santa Maria, e Dom José<br />
Barea, <strong>de</strong> Caxias do Sul. Dom Antônio<br />
os assinou com os Missionários.<br />
Com sua bênção, <strong>de</strong>ixou a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
começar a obra sem <strong>de</strong>mora e <strong>de</strong> levála<br />
até o fim sem parar. Seria, no <strong>Brasil</strong>,<br />
o marco maior do 1º Centenário da<br />
Aparição <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette.<br />
1946 - 11 a <strong>Romaria</strong> - cartaz <strong>de</strong> divulgação<br />
61
No mês <strong>de</strong> março, Dom Antônio<br />
Reis estando em Barro (Gaurama),<br />
o Superior Provincial, Pe. André<br />
Duguet ms, foi até lá para prever com<br />
o Bispo as cerimônias comemorativas.<br />
Os festejos do Centenário, previstos<br />
naquele encontro, tiveram grandioso<br />
esplendor. Culminaram com a<br />
<strong>Romaria</strong>, a 29 <strong>de</strong> setembro. Impressos,<br />
anunciando o programa do evento,<br />
haviam sido divulgados. O número<br />
<strong>de</strong> romeiros chegou à cifra <strong>de</strong> trinta mil,<br />
com alguns vindos do Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />
<strong>de</strong> São Paulo, outros <strong>de</strong> Santa Catarina<br />
e a maioria do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Na<br />
véspera, diversos cavaleiros vieram<br />
para participar da procissão luminosa.<br />
A procissão noturna carregando o<br />
andor <strong>de</strong> Nossa Senhora, cantando e<br />
rezando, chegou ao Fac-simile, junto<br />
ao Santuário em obras. Grupos <strong>de</strong><br />
pessoas, moças e rapazes, caminhavam<br />
a pé <strong>de</strong>scalço. Quatro ju<strong>de</strong>us<br />
acompanharam a procissão e a pés<br />
<strong>de</strong>scalços galgaram os <strong>de</strong>graus do<br />
Fac-simile. O canto era sustentando<br />
pelos seminaristas saletinos.<br />
Na manhã da <strong>Romaria</strong>, os trens<br />
e cerca <strong>de</strong> 800 ônibus, caminhões e<br />
automóveis chegaram lotados. Chegado<br />
o momento, iniciou a procissão matinal,<br />
com duração <strong>de</strong> três horas, rumo<br />
ao Santuário cuja construção estava no<br />
início. Dom Antônio estava à espera no<br />
altar campal. Momentos antes tinha chegado<br />
um telegrama muito especial, enviado<br />
pelo Papa Pio XII, assinado pelo<br />
Car<strong>de</strong>al Montini, futuro Papa Paulo VI:<br />
1946 - Santuário em obras<br />
"27, Cida<strong>de</strong> do Vaticano. Augusto Pontífice presente com<br />
paternais votos, solene celebração Centenário Nossa Se-<br />
nhora da Salette, invoca propícia com maternais graças,<br />
celestial Rainha e augurando dignos frutos vida pieda<strong>de</strong><br />
cristã, envia <strong>de</strong> coração Bispos, fiéis reunidos, implorada<br />
Bênção Apostólica"<br />
(in CARTA CIRCULAR sobre a <strong>Romaria</strong> do Centenário)<br />
62
A leitura do telegrama levou ao<br />
auge o entusiasmo da multidão.<br />
Ao final da celebração, Dom<br />
Antônio fez uma alocução pela qual<br />
convocava o povo a colaborar na construção<br />
do Santuário. Finda a alocução,<br />
rezou diante da Mãe em pranto e da<br />
multidão ajoelhada, longo Ato <strong>de</strong> Consagração<br />
da Diocese a Nossa Senhora<br />
da Salette. Seguem alguns tópicos<br />
<strong>de</strong>sse texto:<br />
1946 - Dom Antonio Reis - Homilia<br />
"Bondosa Senhora, que há cem <strong>anos</strong> aparecestes nas montanhas da Salette para dirigir<br />
aos homens vossa advertência maternal e trazer-lhes a mensagem da divina mise-<br />
ricórdia, olhai neste momento para o povo cristão aqui reunido, que cheio <strong>de</strong> confiança<br />
espera em vós. Estamos numa hora angustiosa e in<strong>de</strong>cisa para os <strong>de</strong>stinos da huma-<br />
nida<strong>de</strong>. As forças do mal, organizadas e coesas, trabalham sem <strong>de</strong>scanso para impor<br />
aos homens o jugo da <strong>de</strong>scrença, o império da malda<strong>de</strong> e a escravidão do egoísmo. Os<br />
construtores do novo mundo estão mais uma vez <strong>de</strong>monstrando a inconsistência das<br />
soluções sem Deus. Mãe bondosa, mais do que nunca reconhecemos a necessida<strong>de</strong> premente<br />
<strong>de</strong> vossa po<strong>de</strong>rosa intercessão. (...) Apresentai a vosso Filho a homenagem re-<br />
paradora <strong>de</strong>sta romaria, feita <strong>de</strong> fé ar<strong>de</strong>nte e amorosa <strong>de</strong>dicação. (...) Abençoai a<br />
todos os presentes, vossos fiéis <strong>de</strong>votos, que em vossas mãos <strong>de</strong>põem confiantes o rosário<br />
<strong>de</strong> seus piedosos <strong>de</strong>sejos e o magnificat <strong>de</strong> sua perene e eterna gratidão. Senhora da<br />
Salette, sobre todos os que aqui vêm recordar vossa aparição, jorre perenemente a fonte<br />
milagrosa dos inesgotáveis favores divinos. Assim seja. Dom Antônio Reis, Bispo <strong>de</strong> Santa Maria"<br />
(in O Mensageiro <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette, novembro <strong>de</strong> 1946, pg. 221-222)<br />
63
64<br />
1947 - 12 a <strong>Romaria</strong> - O Santuário em construção
TESTEMUNHO Pe. José Balbinotti, ms<br />
GRANDES ANUNCIADORES DO REINO DE DEUS<br />
É uma unanimida<strong>de</strong> entre os Missionários Saletinos a afirmação, extremamente positiva,<br />
sobre os gran<strong>de</strong>s pregadores e oradores que passaram pelo Santuário nestes <strong>75</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s<br />
em Marcelino Ramos. A mensagem <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette tem um apelo muito forte <strong>de</strong><br />
conversão e reconciliação e esta realida<strong>de</strong> é apresentada, na <strong>Romaria</strong>, como uma esperança que<br />
nos vem do próprio anúncio e testemunho <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />
Todos fazem menção a nomes como: Dom Antonio Reis, Dom Claudio Kolling, Dom Paulo<br />
Evaristo, Car<strong>de</strong>al Arns, Pe. Simão Bacelli, Pe. Olívio Bedin e o próprio Pe. Benjamin Busatto que<br />
<strong>de</strong>u início às <strong>Romaria</strong>s e foi o primeiro convidado, pelos Padres Saletinos, para pregar o Tríduo em<br />
preparação à festa <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette, na Paróquia, no ano <strong>de</strong> 1936.<br />
Sem duvida, este é um momento muito esperado pelos fiéis peregrinos que participam das<br />
<strong>Romaria</strong>s, pois aquelas palavras, proferidas na homilia, são fonte <strong>de</strong> alento, esperança e ânimo<br />
para a caminhada.<br />
Há vários <strong>anos</strong> as pregações em cada <strong>Romaria</strong> sempre estiveram em consonância com a<br />
Igreja do <strong>Brasil</strong>, mais precisamente com a Campanha da Fraternida<strong>de</strong>, fazendo assim eco, mantendo<br />
viva a temática abordada, nos momentos fortes da caminhada da Igreja e da realida<strong>de</strong> brasileira.<br />
A pregação na <strong>Romaria</strong> vem sendo um momento forte <strong>de</strong> evangelização.<br />
1947 - 12 a <strong>Romaria</strong><br />
Após o almoço, Pe.Simão<br />
Baccelli ms fez a narrativa da Aparição.<br />
Às 15hs00, <strong>de</strong>pois da Bênção do<br />
Santíssimo e da Bênção aos doentes,<br />
começou a dispersão do povo romeiro.<br />
Os trabalhos da construção do<br />
Santuário prosseguiam em ritmo acelerado.<br />
Em fevereiro do ano <strong>de</strong> 1947,<br />
Dom Antônio fez nova Visita Pastoral<br />
à Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Como <strong>de</strong> hábito, hospedou-se na Escola<br />
Apostólica. Constatou o estado<br />
das obras <strong>de</strong> construção do majestoso<br />
Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette.<br />
No Relatório da Visita Pastoral<br />
Dom Antônio <strong>de</strong>clara:<br />
65
"Não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dizer que os dias passados no convento <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette on<strong>de</strong> fomos fidalgamente atendidos<br />
e obsequiados pelos bons Padres da Salette, serão para mim<br />
inolvidáveis. Passei no Tabor naqueles dias. Que pieda<strong>de</strong>, que<br />
espiritualida<strong>de</strong>, que vida <strong>de</strong>votamente religiosa se leva lá. A memorável<br />
comunida<strong>de</strong> dos Padres Saletinos, os escolásticos e no-<br />
viços do Noviciado e os alunos do Seminário. Um Seminário e<br />
uma Escola Apostólica mo<strong>de</strong>lares. Aon<strong>de</strong> vigora entre os alu-<br />
nos o melhor espírito. Que esperança promissora para a Santa<br />
Igreja. Deixo consignados aqui os meus maiores elogios, os meus<br />
louvores e sinceros agra<strong>de</strong>cimentos aos bons e piedosos Padres<br />
Saletinos, ao Revdo. Pe. Provincial, Pe. André Duguet, a toda<br />
a comunida<strong>de</strong> e aos esperançosos seminaristas e apostólicos<br />
saletinos"<br />
(LIVRO TOMBO I da Paróquia São João Batista <strong>de</strong> Marcelino Ramos, pg.76)<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1947 correu otimamente, apesar da<br />
chuva que caiu à tar<strong>de</strong>. A presença <strong>de</strong><br />
romeiros foi mais ou menos igual à da<br />
<strong>Romaria</strong> do Centenário. Pela manhã<br />
vieram os trens <strong>de</strong> diferentes proveniências.<br />
O número <strong>de</strong> ônibus, <strong>de</strong> caminhões<br />
e carros era incalculável. Tomavam<br />
conta das ruas da cida<strong>de</strong>. As missas<br />
eram celebradas sem interrupção.<br />
Por causa do vulto imenso da população<br />
presente, a procissão matinal no<br />
domingo, dia 28, só po<strong>de</strong> começar às<br />
9hs00. O povo seguia, não em fileiras,<br />
66<br />
mas em massa compacta, <strong>de</strong>sfraldando<br />
estandartes, cantando e carregando o<br />
andor da Virgem da Salette. Era comovente<br />
verem-se peregrinos subindo<br />
<strong>de</strong>scalços, a íngreme e pedregosa encosta<br />
que leva ao alto do morro da<br />
bênção reconciliadora. Muitos sacerdotes<br />
marcaram presença e voltaram<br />
para casa carregando nas dobras do<br />
coração as dores, as lágrimas e pecados<br />
dos romeiros penitentes. No altar<br />
campal, Dom Antônio presidiu a celebração<br />
da missa.<br />
Em 1948, foram convidados os<br />
Bispos <strong>de</strong> Lages, <strong>de</strong> Caxias do Sul,<br />
Vacaria, Uruguaiana e Santa Maria,<br />
bem como o Sr. Governador do Estado,<br />
Dr. Valter Jobim, para participarem<br />
da solenida<strong>de</strong> da <strong>Romaria</strong> e inauguração<br />
do Santuário. Na noite <strong>de</strong> sábado,<br />
25 <strong>de</strong> setembro, a chuva ameaçava<br />
cair. A procissão luminosa pô<strong>de</strong><br />
ser realizada com céu límpido. No dia<br />
seguinte, dia da <strong>Romaria</strong>, com tempo<br />
ameaçador mais uma vez, iniciou a procissão<br />
durante a qual a chuva <strong>de</strong>sandou.<br />
Os fiéis, cerca <strong>de</strong> quinze mil pessoas,<br />
apesar <strong>de</strong> encharcados pela chuva,<br />
não hesitavam em mostrar seu amor<br />
à Virgem em pranto ao longo do percurso<br />
da procissão. No fim da missa<br />
campal, Dom Antônio <strong>de</strong>u a bênção<br />
ao Santuário apesar <strong>de</strong> inacabado e às<br />
estátuas sobre o altar mor. Na noite<br />
<strong>de</strong> Natal, o Santuário foi solenemente<br />
inaugurado com a celebração da Primeira<br />
Missa do neo-sacerdote Pe.<br />
Ângelo Rigoni ms.
1948 - O<br />
altar mor<br />
original do<br />
Santuário.<br />
67
1949 - 14 a <strong>Romaria</strong> - Primeira Missa campal no átrio posterior do Santuário.<br />
O dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1949<br />
foi <strong>de</strong>cretado feriado municipal. No<br />
sábado à tar<strong>de</strong>, dia 24, em Missa<br />
Pontifical celebrada por Dom Antônio,<br />
houve a bênção solene do Santuário<br />
com eloquente sermão <strong>de</strong> Pe. Simão<br />
Bacelli ms. À noite se realizou nova<br />
procissão luminosa. Um aspecto <strong>de</strong>slumbrante<br />
no meio da escuridão. Um<br />
rio <strong>de</strong> luzes <strong>de</strong>rramava-se pelas encostas<br />
enquanto os peregrinos entoavam<br />
cânticos e recitavam o rosário. No<br />
Fac-simile houve novo sermão <strong>de</strong> Pe.<br />
Simão, pregador do tríduo e Bênção<br />
do Santíssimo Sacramento.<br />
No domingo <strong>de</strong> manhã, dia 25,<br />
às 9hs00, com ameaça <strong>de</strong> forte aguaceiro,<br />
iniciou a procissão ao Santuário.<br />
A oração dos romeiros a Nossa<br />
Senhora serenou os céus e a chuva não<br />
veio. Após a missa Dom Antônio fez<br />
piedosa consagração a Nossa Senhora<br />
da Salette. Pela primeira vez a Missa<br />
Campal foi celebrada do alto <strong>de</strong> um<br />
átrio externo, anexo aos fundos do<br />
Santuário, para uma multidão imensa<br />
espraiada na esplanada entre a mata<br />
próxima e o Santuário. O número <strong>de</strong><br />
comunhões chegou a cinco mil. O <strong>de</strong><br />
peregrinos foi <strong>de</strong> vinte mil. Às 15hs30<br />
as solenida<strong>de</strong>s religiosas estavam encerradas.<br />
1949 - Dom Antonio Reis fazendo a homilia.<br />
68
A 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1950, <strong>de</strong>cretado<br />
Ano Santo pelo Papa Pio XII,<br />
o Pe. Cláudio Colling foi or<strong>de</strong>nado<br />
Bispo Auxiliar <strong>de</strong> Santa Maria, na Catedral<br />
Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />
A 4 <strong>de</strong> maio, Dom Cláudio fez uma<br />
rápida visita ao Seminário em Marcelino<br />
Ramos. Mais tar<strong>de</strong> foi nomeado<br />
Bispo Diocesano da nova Diocese<br />
<strong>de</strong> Passo Fundo, RS.<br />
No dia 19 <strong>de</strong> setembro o mau<br />
tempo não permitiu a realização da<br />
procissão luminosa. Na véspera da<br />
<strong>Romaria</strong>, dia 23, apesar do tempo chuvoso,<br />
os peregrinos chegavam <strong>de</strong> todas<br />
as partes e à noite, com céu estrelado,<br />
houve tríduo e procissão luminosa.<br />
No dia da <strong>Romaria</strong>, dia 24, embora<br />
o tempo continuasse chuvoso, houve<br />
a participação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> vinte mil<br />
peregrinos. A Missa Campal foi celebrada<br />
por Dom Newton <strong>de</strong> Almeida<br />
Batista, Bispo <strong>de</strong> Uruguaiana, RS.<br />
Dom Antônio Reis não po<strong>de</strong> comparecer.<br />
TESTEMUNHO Pe. Isidro Perin, ms<br />
A MINHA RESPOSTA VOCACIONAL<br />
Um dos pontos altos da romaria a Nossa<br />
Senhora da Salette é a Missa Campal após a chegada<br />
da procissão. Minha vocação saletina tem<br />
ligação profunda com a Missa Campal da peregrinação<br />
<strong>de</strong> 1952. Eu participava pela primeira vez. Naquela data<br />
eu estava num processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão vocacional. Eu balançava<br />
entre os Francisc<strong>anos</strong> e os Saletinos. Pois bem, naquela<br />
<strong>Romaria</strong> eu me <strong>de</strong>ixei encantar pela beleza da Missa<br />
Campal presidida por D. Clãudio Colling, vendo os seminaristas,<br />
como coroinhas, <strong>de</strong> batina preta e sobrepeliz<br />
na cor branca. Eles faziam a coleta e cantavam. Cantavam<br />
a vozes. Eu sonhava em ser como eles.<br />
No início as Missas eram celebradas na parte <strong>de</strong><br />
trás do Santuário, <strong>de</strong>pois, a cada <strong>Romaria</strong>, se fazia um<br />
altar campal sempre provisório e agora o recinto do Santuário<br />
dispõe <strong>de</strong> um Altar Campal digno das <strong>Romaria</strong>s.<br />
Em qualquer lugar em que se realizavam, as Missas Campais<br />
foram sempre o momento <strong>de</strong> ver todo aquele povo<br />
ali reunido para ouvir a Palavra <strong>de</strong> Deus e participar da<br />
Mesa da Eucaristia. Os cantos, as orações, o silêncio e a<br />
bênção sempre foram momentos muito bonitos da <strong>Romaria</strong>.<br />
Todos na fé reunidos em torno do altar on<strong>de</strong> Cristo<br />
se faz presença viva.<br />
Na travessia do rio Uruguai, voltando da <strong>Romaria</strong><br />
<strong>de</strong> 1952, olhando para o Seminário no alto da montanha,<br />
eu disse à minha mãe: "Mãe, é ali que eu vou realizar minha<br />
vocação". Ela respon<strong>de</strong>u: "Se a Mãe da Salette te<br />
chama, vai...".<br />
Hoje eu diria que a resposta aos apelos <strong>de</strong> Deus<br />
passa pela fragilida<strong>de</strong> dos meios e pelo testemunho dos<br />
que ousaram respon<strong>de</strong>r "sim"! Eu tive coragem para dizer<br />
o meu "sim" porque fui a uma <strong>Romaria</strong>.<br />
1997 - 62 a <strong>Romaria</strong> - Missa Campal<br />
69
A 16 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1951 chegaram<br />
os quatro gran<strong>de</strong>s sinos, <strong>de</strong> som<br />
belíssimo, importados da França por<br />
obra e mérito <strong>de</strong> Irmão João Creff ms.<br />
Do alto da torre do Santuário passariam<br />
a anunciar a misericórdia do Senhor<br />
e o materno amor <strong>de</strong> Maria, Mãe da<br />
Reconciliação.<br />
1951 - 16 a <strong>Romaria</strong> - Bênção dos sinos do Santuário<br />
A 8 <strong>de</strong> abril foi criada a nova<br />
Diocese <strong>de</strong> Passo Fundo, RS, com a<br />
nomeação <strong>de</strong> seu primeiro Bispo, Dom<br />
Cláudio Colling, que tomou posse do<br />
cargo a 22 <strong>de</strong> julho.<br />
70<br />
Durante todo o mês <strong>de</strong> setembro<br />
houve palestras transmitidas pela<br />
Rádio Salette, <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
A <strong>Romaria</strong>, muito concorrida, foi realizada<br />
com muita pieda<strong>de</strong> no dia 30 <strong>de</strong><br />
setembro, um dia límpido e belo. Os<br />
peregrinos eram cerca <strong>de</strong> vinte mil.<br />
Dom Cláudio Colling, que pela primeira<br />
vez participava da <strong>Romaria</strong>, presidiu a<br />
celebração eucarística. E, às 14hs00,<br />
Dom Cláudio, com toda a solenida<strong>de</strong>,<br />
proce<strong>de</strong>u à bênção dos quatro magníficos<br />
sinos. Depois do cerimonial tradicional<br />
os romeiros partiram para seus<br />
lares com o coração repleto das bênçãos<br />
do Senhor.
Novo Jubileu estava prestes a<br />
acontecer. O dia 1º <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1952<br />
marcava o 1º Centenário <strong>de</strong> Fundação<br />
da Congregação dos Missionários<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. A 18<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1952 celebrou-se<br />
também o Cinqüentenário da chegada<br />
do Fundador da Missão Saletina no<br />
<strong>Brasil</strong>, o Pe. Clemente Henrique<br />
Moussier ms.<br />
No dia da <strong>Romaria</strong>, 28 <strong>de</strong> setembro,<br />
o tempo amanheceu ameaçador.<br />
A chuva, porém, ficou na ameaça<br />
apenas. Os trens chegavam. Ônibus e<br />
automóveis vinham <strong>de</strong> toda parte.<br />
Compareceram romeiros <strong>de</strong> Porto<br />
Alegre, <strong>de</strong> São Paulo e do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Aproximadamente 25 mil peregrinos<br />
ao todo. As missas e confissões<br />
se sucediam na Matriz. À procissão do<br />
domingo, seguiu-se a Missa Campal<br />
celebrada por Dom Cláudio Colling.<br />
1952 - 17 a <strong>Romaria</strong><br />
Chegada da Procissão<br />
ao Santuário<br />
71
A 2 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1953 foi celebrado<br />
o Jubileu <strong>de</strong> Prata da Escola<br />
Apostólica. A <strong>Romaria</strong>, com cerca <strong>de</strong><br />
trinta mil participantes, foi realizada no<br />
dia 27 <strong>de</strong> setembro. O dia era esplêndido.<br />
De vinte a trinta mil romeiros participaram<br />
das cerimônias tradicionais<br />
pela manhã e pela tar<strong>de</strong>.<br />
Em novembro, foi realizada em<br />
Erechim, RS, a 3ª Festa Nacional do<br />
Trigo. Num dos mostruários com rica<br />
exposição <strong>de</strong> cereais, foi montado um<br />
belíssimo altar ornado <strong>de</strong> trigo, com as<br />
três estátuas <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette. O expositor não fez isso por<br />
acaso. Pensava em Nossa Senhora da<br />
Salette como protetora dos campos e<br />
lavouras. "O Mensageiro <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Salette", em setembro <strong>de</strong><br />
1955, pg. 259s, publica essa notícia<br />
acompanhada <strong>de</strong> longo artigo do Pe.<br />
Godofredo Schnei<strong>de</strong>r sj, sob o título<br />
"Nossa Senhora da Salette fala aos<br />
agricultores". O fato serviu para divulgar<br />
a <strong>de</strong>voção à "Padroeira dos Agricultores".<br />
Em maio e junho <strong>de</strong> 1957, a<br />
mesma Revista publicou cartas <strong>de</strong> diversos<br />
Bispos do <strong>Brasil</strong> solicitando e<br />
72<br />
1956 - 21 a <strong>Romaria</strong><br />
abençoando a proclamação <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Salette sob esse título patronal.<br />
O Car<strong>de</strong>al Eugène Tisserant,<br />
Secretário da Sagrada Congregação<br />
para a Igreja Oriental e Protetor da<br />
Congregação dos Missionários Saletinos,<br />
se dispôs a manter conversações<br />
com a Santa Sé, sobre o assunto (Cf.<br />
"O Mensageiro...", setembro, 1957, p.<br />
360).<br />
O mês <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1954 foi<br />
solenizado como nos <strong>anos</strong> anteriores.<br />
As chuvas torrenciais impediram a realização<br />
da procissão luminosa do sábado<br />
à noite, véspera da <strong>Romaria</strong>. A<br />
Hora Santa e a missa <strong>de</strong> meia-noite,<br />
na Matriz, foram, no entanto, concorridíssimas.<br />
A <strong>Romaria</strong> do dia 26 <strong>de</strong><br />
setembro foi realizada com gran<strong>de</strong> espírito<br />
<strong>de</strong> fé e pieda<strong>de</strong>. O transporte rodoviário<br />
ficou prejudicado pela chuva.<br />
Em compensação, os trens <strong>de</strong> diferentes<br />
proveniências vieram superlota-<br />
dos. Ao menos quinze mil pessoas participaram<br />
das solenida<strong>de</strong>s. Muitos vieram<br />
a pé, <strong>de</strong> longe. A procissão matinal<br />
foi penosa por causa da lama. A<br />
missa campal foi celebrada por Dom<br />
Cláudio Colling. À tar<strong>de</strong>, após as cerimônias<br />
<strong>de</strong> praxe, a multidão se dispersou,<br />
levando para seus lares uma<br />
in<strong>de</strong>lével impressão <strong>de</strong> conforto espiritual.<br />
Em 1955, o mês <strong>de</strong> setembro<br />
foi solenizado diariamente na Igreja<br />
Matriz. No dia 19, à noite, realizou-se<br />
a tradicional procissão luminosa rumo<br />
ao Santuário. No sábado à noite, véspera<br />
da <strong>Romaria</strong>, o povo em gran<strong>de</strong><br />
multidão, caminhou em procissão luminosa<br />
até o Santuário apesar da intensa<br />
chuva. No dia 25, com gran<strong>de</strong><br />
espírito <strong>de</strong> oração celebrou-se a <strong>Romaria</strong><br />
Penitencial, segundo o roteiro habitual.<br />
Foi uma <strong>Romaria</strong> memorável em<br />
todos os sentidos.
TESTEMUNHO Ir. E<strong>de</strong>milton dos Santos, ms<br />
UMA CORRENTE DE LUZ<br />
Embora soubesse que existia uma <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette em Marcelino<br />
Ramos, participei pela primeira vez no ano <strong>de</strong> 2004. Entre tantas coisas que me chamaram<br />
atenção uma que mais me impactou foi a procissão luminosa: uma verda<strong>de</strong>ira corrente <strong>de</strong> luz<br />
percorrendo as ruas <strong>de</strong> Marcelino Ramos, subindo a montanha até o Santuário e, chegando lá,<br />
se espalhando pelo pátio. Eu tinha feito uma cirurgia uma semana antes e por isso acompanhei<br />
tudo do Altar Campal. Aqueles pontinhos <strong>de</strong> luz se misturando com a escuridão, <strong>de</strong>ixando o "pátio<br />
da <strong>Romaria</strong>" iluminado, era algo <strong>de</strong> uma beleza in<strong>de</strong>scritível.<br />
Senti minha fé tão pequena diante da manifestação daquele povo que, na simplicida<strong>de</strong>,<br />
expressava a sua fé <strong>de</strong> uma maneira tão natural. Na <strong>Romaria</strong> ninguém sente vergonha em se<br />
ajoelhar para agra<strong>de</strong>cer ou pedir. Um gesto que parece ser tão sem sentido para alguns, mas<br />
para quem o faz é tão significativo.<br />
Deixei-me envolver por toda aquela beleza e senti em mim uma gran<strong>de</strong> paz que vinha da<br />
simplicida<strong>de</strong> do povo que recorria a Nossa Senhora para um encontro reconciliador com Jesus.<br />
A luz das velas ilumina a escuridão. Uma vela seria insignificante, milhares <strong>de</strong>las somam-se<br />
formando a força necessária para iluminar aquele ambiente. Assim, percebi a gran<strong>de</strong>za da Luz<br />
<strong>de</strong> Cristo na minha vida.<br />
Depois participei <strong>de</strong> várias outras <strong>Romaria</strong>s em outras equipes <strong>de</strong> trabalho. No entanto, no<br />
momento da procissão luminosa do sábado à noite, eu passava uns momentos por lá para renovar<br />
aquele primeiro sentimento. Toda vez que lembro da procissão e das velas faz-se presente<br />
em mim a Luz <strong>de</strong> Cristo como guia a iluminar minha vida e vocação...<br />
2004 - 69 a <strong>Romaria</strong><br />
A 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1956, por<br />
causa do mau tempo não foi realizada<br />
procissão luminosa à noite. Na véspera<br />
da <strong>Romaria</strong>, à noite, porém, a<br />
procissão pô<strong>de</strong> ser realizada. No dia<br />
30, dia radiante, muitas missas foram<br />
celebradas na Igreja Matriz e no Santuário.<br />
As confissões eram infindáveis.<br />
Dom Cláudio ajudou a aten<strong>de</strong>r confissões.<br />
Depois celebrou a missa campal<br />
ao final <strong>de</strong> uma interminável procissão.<br />
73
A MAIS BELA<br />
ROMARIA<br />
Mais <strong>de</strong> 600 carros estacionavam<br />
on<strong>de</strong> podiam. Os trens haviam<br />
chegado abarrotados <strong>de</strong> peregrinos.<br />
Uma caravana <strong>de</strong> 109 pequenos romeiros,<br />
estudantes do Colégio Menino<br />
Jesus, das Irmãs <strong>de</strong> Notre Dame,<br />
em Passo Fundo, RS, <strong>de</strong>ram uma nota<br />
inesquecível ao evento. Homens, senhoras,<br />
anciãos subiam vagarosamente<br />
a montanha. A imagem da Mãe da<br />
Salette em pranto, carregada por romeiros,<br />
flutuava por sobre a cabeça<br />
dos 25 mil peregrinos. Muitas senhoras<br />
subiam a pés <strong>de</strong>scalços pela pedregosa<br />
trilha que leva ao Santuário.<br />
Foi uma das mais belas <strong>Romaria</strong>s.<br />
Um fato significativo aconteceu<br />
nessa ocasião: um peregrino, Emílio <strong>de</strong><br />
Souza Jardim, proveniente <strong>de</strong> Itaqui,<br />
RS, percorreu a pé e <strong>de</strong> mala em punho,<br />
a longa distância <strong>de</strong> 900 quilômetros,<br />
caminhando durante mais <strong>de</strong><br />
um mês. Veio para agra<strong>de</strong>cer e confirmar<br />
o dom da fé católica que havia<br />
recebido em 1950 <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar<br />
por diversas outras religiões. Outro peregrino,<br />
<strong>de</strong> Porto Alegre, estava extasiado<br />
pelo que vira e ouvira. Sentia tanta<br />
alegria, satisfação e paz como jamais<br />
havia sentido.<br />
74<br />
No ano <strong>de</strong> 1957, o dia 19 <strong>de</strong><br />
setembro foi bonito apesar <strong>de</strong> barrento.<br />
O programa costumeiro teve seu<br />
lugar. Na <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro,<br />
eram intermináveis as confissões e comunhões,<br />
dois componentes indispensáveis<br />
para uma romaria penitencial<br />
saletina. Calcula-se em 20 mil o número<br />
<strong>de</strong> romeiros. O tempo foi muito<br />
favorável. Dom Cláudio Colling não<br />
pô<strong>de</strong> comparecer.<br />
A partir <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />
1958, Dom Cláudio fez a visita pastoral<br />
à Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
No dia 28, participou da <strong>Romaria</strong> que<br />
<strong>de</strong>finiu como "maravilhosa, com ótimo<br />
tempo e com a presença <strong>de</strong> milhares<br />
<strong>de</strong> romeiros, <strong>de</strong> S. Excia. Revma. Dom<br />
Frei Cândido, Bispo <strong>de</strong> Vacaria, e muitos<br />
sacerdotes" (LIVRO TOMBO II<br />
da Paróquia, pg. 14). Mais <strong>de</strong> trinta<br />
mil pessoas participaram da <strong>Romaria</strong><br />
Penitencial, com milhares <strong>de</strong> confissões<br />
e comunhões. A 26 <strong>de</strong> setembro,<br />
antevéspera da <strong>Romaria</strong>, o Pe. André<br />
Duguet ms, primeiro Diretor da Escola<br />
Apostólica e ex-Provincial, falecera em<br />
São Paulo e a 30 <strong>de</strong> setembro, dois dias<br />
após a <strong>Romaria</strong>, o Pe. Fidélis Willi ms,<br />
ex-Superior Regional, fundador da Revista<br />
"O Mensageiro <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette", atualmente "Salette", e<br />
ex-Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos, que<br />
havia celebrado Bodas <strong>de</strong> Diamante <strong>de</strong><br />
Sacerdócio pouco tempo antes, faleceu<br />
no hospital <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>.<br />
Em 1959, a gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>,<br />
celebrada no dia 27 <strong>de</strong> setembro, foi<br />
<strong>de</strong> muita chuva. Nem por isso o entusiasmo<br />
do povo romeiro arrefeceu.<br />
Eram cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil pessoas. Alguns<br />
romeiros <strong>de</strong> Corumbá, MS, também<br />
se fizeram presentes. Dom Cláudio não<br />
participou da <strong>Romaria</strong>. Era admirável<br />
a pieda<strong>de</strong> e o espírito <strong>de</strong> fé e <strong>de</strong> penitência.<br />
Uma caravana <strong>de</strong> duzentos romeiros,<br />
acompanhados por uma <strong>de</strong>zena<br />
<strong>de</strong> sacerdotes, havia partido <strong>de</strong> Porto<br />
Alegre em ônibus, no sábado, véspera<br />
da <strong>Romaria</strong>, apesar do mau tempo.<br />
Chegando a Lagoa Vermelha, RS,<br />
não pu<strong>de</strong>ram prosseguir a viagem em<br />
virtu<strong>de</strong> do péssimo estado da rodovia.<br />
Demonstrando boa vonta<strong>de</strong> e fervoroso<br />
espírito <strong>de</strong> sacrifício e fé, reuniram-se<br />
numa capela da cida<strong>de</strong> e participaram<br />
<strong>de</strong> missa, em união <strong>de</strong> corações<br />
com os peregrinos presentes em<br />
Marcelino Ramos. Os carros chegavam<br />
ao Santuário à força <strong>de</strong> empurrões<br />
por causa da lama.<br />
Na procissão luminosa do sábado,<br />
uma senhora, <strong>de</strong>baixo da chuva,<br />
subiu <strong>de</strong> joelhos a trilha para o Santuário,<br />
afundando-se no lodo pedregoso.<br />
Outra senhora que estivera sujeita<br />
à amputação <strong>de</strong> uma perna por causa<br />
<strong>de</strong> um câncer, e fora curada do mal<br />
por intercessão <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette, veio à <strong>Romaria</strong> em sinal <strong>de</strong> gratidão.<br />
A <strong>Romaria</strong> foi excepcionalmente<br />
piedosa, penitencial.
1959<br />
24 a <strong>Romaria</strong><br />
1961<br />
26 a <strong>Romaria</strong><br />
<strong>75</strong>
A 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1960, na França,<br />
faleceu o Pe. Simão Baceli ms, intrépido<br />
missionário saletino, incansável<br />
animador das <strong>Romaria</strong>s, ex-Pároco<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos e ex-Superior<br />
Provincial. Era Doutor em Filosofia<br />
e em Teologia. Dos seus 50 <strong>anos</strong> <strong>de</strong><br />
sacerdócio, passou 49 no <strong>Brasil</strong>. A 30<br />
<strong>de</strong> junho faleceu o Irmão Rafael Rozec<br />
ms, gran<strong>de</strong> divulgador da Salette, sobretudo<br />
no Nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong>, e Diretor<br />
da revista "O Mensageiro <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette".<br />
A novena em preparação ao dia<br />
19 <strong>de</strong> setembro teve ótima repercussão.<br />
A cada noite, uma pequena procissão,<br />
carregando o estandarte <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette, partia <strong>de</strong><br />
uma família da cida<strong>de</strong> em direção à<br />
Igreja Matriz. A chuva na semana que<br />
prece<strong>de</strong>u a <strong>Romaria</strong> a 25 <strong>de</strong> setembro<br />
impediu muita gente <strong>de</strong> fazer-se presente<br />
ao acontecimento religioso. A<br />
subida da encosta que leva ao Santuário<br />
estava péssima. O espírito <strong>de</strong> oração<br />
e conversão prevaleceu nas cerimônias<br />
da <strong>Romaria</strong>. Um peregrino afirmou:<br />
Outro gran<strong>de</strong> sonho se concretiza: O Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette<br />
"Gosto mais do dia como está, pois a gente que vem,<br />
vem para rezar e os que tiverem pensado que a Ro-<br />
maria Penitencial fosse uma festa, ficam em casa, e<br />
é melhor para eles e para nós também"<br />
(In "O Mensageiro...", novembro-<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1960, pg. 22)<br />
76
Todos rezavam. Dizia uma senhora:<br />
"Até meu marido que em casa<br />
nunca reza, subiu a la<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> terço na<br />
mão e rezando em voz alta" (Ib., pg<br />
24). Uma caravana trouxe a pé, um<br />
andor da Padroeira dos Agricultores.<br />
Por causa da lama, muitos caiam pelo<br />
chão. Não se ouviam lamentos, no entanto.<br />
Um casal catarinense havia feito<br />
uma caminhada <strong>de</strong> 140 quilômetros<br />
para agra<strong>de</strong>cer uma cura alcançada.<br />
Um ancião <strong>de</strong> quase oitenta <strong>anos</strong> fez<br />
30 quilômetros a pé, tombando mais<br />
<strong>de</strong> uma vez no barro. Centenas <strong>de</strong> jovens<br />
vieram a pé <strong>de</strong> Erechim. Os sacerdotes<br />
passaram <strong>de</strong> 12 a 15 horas<br />
no confessionário. Na noite do sábado,<br />
a procissão luminosa concluiu com<br />
uma Hora Santa pela primeira vez rezada<br />
no Santuário.<br />
O estimadíssimo "Romeiro número<br />
UM", Dom Antônio Reis, foi chamado<br />
para junto <strong>de</strong> Deus no começo<br />
<strong>de</strong> 1961. Gran<strong>de</strong> Bispo e incentivador<br />
das <strong>Romaria</strong>s Saletinas. A 23 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1960 havia enviado uma carta ao<br />
Superior do Seminário:<br />
"Caríssimo Padre (...) Infelizmente não po<strong>de</strong>rei tomar parte na gran<strong>de</strong> e piedosa Ro-<br />
maria Penitencial. É com verda<strong>de</strong>ira sauda<strong>de</strong> que recordo as romarias <strong>de</strong> que participei.<br />
Mas continuo sempre um romeiro. Minhas pobres orações e sacrifícios aí estarão como<br />
testemunho <strong>de</strong> filial confiança na po<strong>de</strong>rosa Nossa Senhora da Salette. Faço os mais<br />
ar<strong>de</strong>ntes votos pelo máximo êxito da <strong>Romaria</strong>. Conforme seu pedido, aqui vai a melhor <strong>de</strong><br />
minhas bênçãos para os apostólicos, a Comunida<strong>de</strong> e em favor <strong>de</strong> V. Revma.”<br />
Do sempre muito amigo, Antônio, Bispo <strong>de</strong> Santa Maria.<br />
1935 - Dom Antonio em almoço festivo na chácara do Seminário<br />
77
TESTEMUNHO Pe. Presentino Rovani, ms<br />
A FONTE QUE CURA<br />
Para mim é muito significativo aquilo que aconteceu no dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1846, na<br />
montanha da Salette, na França, no local on<strong>de</strong> Nossa Senhora sentara para chorar. Ali nasceu uma<br />
pequena fonte d'água límpida, a qual, daquele dia em diante, nunca mais secou.<br />
O que mais me impressiona nas <strong>Romaria</strong>s é ver as enormes filas que se formam para apanhar<br />
água na fonte da Santa Maria Reconciliadora. Fico profundamente impressionado ao contemplar<br />
os <strong>de</strong>votos peregrinos e a <strong>de</strong>dicação, carinho e disponibilida<strong>de</strong> dos escoteiros e <strong>de</strong>mais encarregados<br />
da fonte, no servir e distribuir esta água tão <strong>de</strong>sejada que sacia e nos faz reviver! Todos<br />
têm uma certeza: esta água alimenta e cura o corpo e a alma. Disto sou testemunha e me prostro<br />
para apanhar e beber <strong>de</strong>sta água porque também eu creio que, por ela, Deus po<strong>de</strong> manifestar sua<br />
graça e restabelecer a saú<strong>de</strong>.<br />
Recordo aquela mensagem da Samaritana na Bíblia. É preciso passar <strong>de</strong>sta água para a<br />
outra fonte <strong>de</strong> água que jorra para a vida eterna. Sim, Senhor, dá-me <strong>de</strong>ssa água para saciar toda<br />
minha se<strong>de</strong>! (Jo 4,7-15).<br />
Quando você vier ao Santuário <strong>de</strong> Marcelino Ramos, não esqueça <strong>de</strong> que ali há uma fonte <strong>de</strong><br />
água benta.<br />
2004 - 69 a <strong>Romaria</strong><br />
78<br />
Dom Cláudio, em setembro, fez<br />
Visita Pastoral. No dia 19, às 19hs30<br />
celebrou missa na Igreja Matriz, seguida<br />
pela procissão luminosa até o Santuário.<br />
Pregou o tríduo preparatório à<br />
25ª <strong>Romaria</strong> a 24 <strong>de</strong> setembro. Na<br />
procissão luminosa, no sábado à noite,<br />
dia 23, mais <strong>de</strong> cinco mil romeiros<br />
se fizeram presentes. O dia foi chuvoso.<br />
Durante aquela noite, vinte e cinco<br />
sacerdotes perfizeram ao menos 120<br />
horas <strong>de</strong> atendimento no confessionário.<br />
Mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil comunhões foram<br />
dadas aos fiéis. Ao todo em torno <strong>de</strong><br />
40 mil romeiros vieram ao Santuário.<br />
Apesar da chuva insistente, o cerimonial<br />
todo foi realizado. Seis emissoras<br />
<strong>de</strong> rádio entraram em ca<strong>de</strong>ia para a<br />
transmissão do evento religioso.
1962 - 27 a <strong>Romaria</strong> - O número elevado <strong>de</strong> veículos<br />
Em 1962, o mês <strong>de</strong> setembro<br />
foi solenizado como <strong>de</strong> hábito. A <strong>Romaria</strong>,<br />
celebrada a 30 <strong>de</strong> setembro,<br />
diferentemente dos três <strong>anos</strong> anteriores<br />
teve um tempo excelente. Houve<br />
gran<strong>de</strong> afluência <strong>de</strong> povo. Entre 50 e<br />
60 mil romeiros. A procissão domini-<br />
cal foi compacta. Muitos perfizeram o<br />
percurso a pés <strong>de</strong>scalços, fato que a<br />
muitos impressionava. Trens especiais<br />
vieram. Calcula-se um total <strong>de</strong> 1200<br />
veículos. Veio uma caravana <strong>de</strong> São<br />
Paulo e outra <strong>de</strong> Mato Grosso. Sete<br />
rádios transmitiram a realização do programa.<br />
Dom Cláudio celebrou a Missa<br />
Campal. Muito presente nas orações<br />
dos fiéis esteve a abertura do Concílio<br />
Ecumênico Vaticano II, que aconteceria<br />
logo após, a 11 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1962.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1963 foi celebrada<br />
no dia 29 <strong>de</strong> setembro, apesar do<br />
tempo chuvoso.<br />
Em 1964, o clima político do país<br />
entrou em pânico por causa da revolução<br />
militar <strong>de</strong> março. Apesar <strong>de</strong> tudo,<br />
o dia 19 <strong>de</strong> setembro seguiu o ritual<br />
tradicional, com gran<strong>de</strong> participação <strong>de</strong><br />
fiéis. A 27 <strong>de</strong> setembro, a gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong><br />
Penitencial transcorreu com a<br />
presença <strong>de</strong> enorme multidão <strong>de</strong> peregrinos,<br />
num dia esplêndido. Diversos<br />
trens transportaram os romeiros,<br />
além dos mais <strong>de</strong> mil e trezentos carros.<br />
Os padres que atendiam as confissões<br />
eram vinte e oito. Dom Cláudio<br />
estava em Roma, participando do<br />
Concílio Vaticano II.<br />
79
SESSENTA MIL<br />
ROMEIROS<br />
Em agosto <strong>de</strong> 1965, a população<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos viveu gran<strong>de</strong><br />
preocupação por causa da enchente<br />
do Rio Uruguai. Uma verda<strong>de</strong>ira calamida<strong>de</strong>.<br />
Houve queda <strong>de</strong> neve. A <strong>Romaria</strong><br />
Penitencial, a 26 <strong>de</strong> setembro,<br />
teve menor frequência que os <strong>anos</strong> anteriores,<br />
por causa do mau tempo.<br />
Mesmo assim, entre quinze e vinte mil<br />
pessoas estavam presentes. Foi uma<br />
<strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> fé<br />
e <strong>de</strong> penitência.<br />
Apesar das inúmeras celebra-<br />
ções <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s Saletinas <strong>de</strong> menor<br />
vulto em diferentes localida<strong>de</strong>s, a <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos atrai sempre o maior<br />
número <strong>de</strong> peregrinos. Uma das<br />
maiores concentrações aconteceu por<br />
ocasião da <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1966. Eram<br />
cerca <strong>de</strong> sessenta mil os romeiros. Na<br />
procissão, homens e senhoras <strong>de</strong> pé<br />
no chão, ou movendo-se <strong>de</strong> joelhos,<br />
subiam o monte. Durante a noite da<br />
véspera da <strong>Romaria</strong>, realizada no dia<br />
25, a Igreja Matriz ficou aberta para<br />
atendimento <strong>de</strong> confissões por parte <strong>de</strong><br />
28 sacerdotes. Houve mais <strong>de</strong> doze mil<br />
comunhões.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1967 foi prejudicada pelo mau tempo.<br />
Foi muito intensa do ponto <strong>de</strong> vista<br />
espiritual. Vinte e seis emissoras <strong>de</strong><br />
rádio ajudaram a preparar a <strong>Romaria</strong>.<br />
Trens e automóveis trouxeram os peregrinos<br />
vindos <strong>de</strong> todas as partes. Só<br />
<strong>de</strong> União da Vitória, PR, veio um trem<br />
composto por vinte e cinco vagões.<br />
Calcula-se em vinte e cinco mil o número<br />
<strong>de</strong> romeiros.<br />
Aspecto interno<br />
do Santuário antes<br />
da reforma <strong>de</strong> 1968<br />
80
1970<br />
35 a <strong>Romaria</strong><br />
Momento da<br />
Bênção Final<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> 1968, por diferentes<br />
razões, foi feita uma reforma interna<br />
do Santuário. Cúpula, altar-mor<br />
e altares laterais foram <strong>de</strong>molidos.<br />
Novos confessionários e bancos foram<br />
feitos. O anexo posterior ao Santuário,<br />
local das Missas Campais, foi remo<strong>de</strong>lado.<br />
Em outubro realizou-se a<br />
celebração dos quarenta <strong>anos</strong> <strong>de</strong> fundação<br />
da Escola Apostólica. Em agosto<br />
<strong>de</strong> 1968, Dom Cláudio visitou Marcelino<br />
Ramos em companhia do Governador<br />
do Estado, Sr. Walter Peracchi<br />
Barcelos, para a inauguração <strong>de</strong> algumas<br />
obras. A <strong>Romaria</strong>, realizada a 30<br />
<strong>de</strong> setembro, foi chuvosa. Mesmo assim,<br />
cerca <strong>de</strong> quinze mil romeiros compareceram.<br />
Em 1969, a <strong>Romaria</strong>, realizada<br />
a 29 <strong>de</strong> setembro, teve a presença <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> quarenta mil peregrinos e <strong>de</strong><br />
três Bispos: Dom Cláudio Colling, <strong>de</strong><br />
Passo Fundo, Dom Cândido e Dom<br />
Henrique Gelain, <strong>de</strong> Vacaria.<br />
A <strong>Romaria</strong>, no dia 27 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1970, teve um tempo maravilhoso.<br />
Avaliou-se em quarenta mil o<br />
número <strong>de</strong> romeiros.<br />
A 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1971, no<br />
Hospital do Câncer, em São Paulo, SP,<br />
o queridíssimo e santo Irmão João<br />
Creff ms entregou-se <strong>de</strong>finitiva e plenamente<br />
nas mãos <strong>de</strong> Deus. Uma perda<br />
irreparável para a Província no <strong>Brasil</strong><br />
e para o Santuário e Seminário <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos em especial.<br />
81
Um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> sacerdotes das<br />
Paróquias circunvizinhas prestou colaboração<br />
no atendimento espiritual.<br />
A 15 <strong>de</strong> outubro, Dom Cláudio<br />
Colling veio a Marcelino Ramos para<br />
se <strong>de</strong>spedir do povo, uma vez que, com<br />
a criação da Diocese <strong>de</strong> Erechim, <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ser o Pastor <strong>de</strong>sta região.<br />
82<br />
A Confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette em Marcelino Ramos, foi fundada em 30 <strong>de</strong> Setembro<br />
<strong>de</strong> 1928, pelo Pe. Simão Bacelli, com o objetivo <strong>de</strong> incentivar a <strong>de</strong>voção a Nossa Senhora<br />
da Salette, divulgar a mensagem da Reconciliação e rezar pelas vocações sacerdotais e religiosas.<br />
É fácil i<strong>de</strong>ntificar as pessoas que fazem parte da Confraria, elas usam uma fita azul no pescoço<br />
e em uma das pontas da fita está uma linda medalha <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. Nas<br />
missas, em dias <strong>de</strong> festa, na <strong>Romaria</strong>, no dia da Aparição e em outros momentos celebrativos, é<br />
comum encontrá-las dando testemunho, ajudando e marcando presença na caminhada da Igreja<br />
local.<br />
Eu mesmo posso dizer da enorme ajuda que a Confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette presta<br />
para a <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> Marcelino Ramos. Elas sempre se preocupam com a ornamentação do<br />
andor <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette que acompanha as procissões. Elas sabem fazer o andor<br />
ficar muito bonito, com flores, véus, tecidos e até luzinhas que na procissão noturna dão um <strong>de</strong>staque<br />
à imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora chorando.<br />
É muito significativo o SIM que<br />
elas dão. Sinal da doação, do esforço<br />
e do compromisso com a divulgação<br />
da Mensagem e da <strong>de</strong>voção a<br />
Nossa Senhora da Salette. Nestes <strong>75</strong><br />
<strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>s em Marcelino Ramos,<br />
temos muito a agra<strong>de</strong>cer à Confraria<br />
pelo trabalho e pelo apoio que<br />
nos dão.<br />
A CONFRARIA DE NOSSA SENHORA DA SALETTE<br />
TESTEMUNHO Pe. Renoir Dalpizol, ms<br />
2008 - Senhoras da Confraria - Marcelino Ramos<br />
A 1º <strong>de</strong> agosto, foi instalada a<br />
Diocese <strong>de</strong> Erechim com a tomada <strong>de</strong><br />
posse <strong>de</strong> seu primeiro Bispo, Dom<br />
João Hoffmann. Dom João se fez presente<br />
nas celebrações do dia 19 <strong>de</strong> setembro<br />
no Seminário Salette. Na <strong>Romaria</strong><br />
Penitencial, celebrada a 26 <strong>de</strong><br />
setembro, o tempo foi muito bonito.
Em fevereiro <strong>de</strong> 1972 Dom<br />
João Hoffmann fez sua primeira visita<br />
pastoral à Paróquia <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Também esteve presente à <strong>Romaria</strong><br />
<strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> setembro. Por ocasião<br />
da <strong>Romaria</strong> houve acontecimentos <strong>de</strong>sagradáveis:<br />
no dia 22, na região <strong>de</strong><br />
Coxilha Seca, uma Kombi <strong>de</strong> peregrinos<br />
capotou. Na noite <strong>de</strong> 23, o trem<br />
misto proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> União da Vitória,<br />
PR, superlotado <strong>de</strong> peregrinos, colidiu<br />
com outro que estava parado na<br />
estação <strong>de</strong> Volta Gran<strong>de</strong>, SC, matando<br />
quatro pessoas. No dia da <strong>Romaria</strong>,<br />
24, após as cerimônias, na partida<br />
dos peregrinos, um carro <strong>de</strong> Paim Filho,<br />
RS, per<strong>de</strong>u o freio, empurrando<br />
uma senhora e uma criança contra um<br />
prédio, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Apesar disso tudo, a <strong>Romaria</strong><br />
atingiu sua finalida<strong>de</strong>. Quanto à <strong>Romaria</strong><br />
<strong>de</strong> 1972, um anônimo "Romeiro<br />
Observador", como se intitula, escreve:<br />
"Neste ano a romaria foi gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais. Bonito<br />
ver homens <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s e modas ficar ho-<br />
ras perdidas a olhar para a Virgem assentada<br />
numa pedra, sobre a relva, com o rosto entre as<br />
mãos orvalhadas <strong>de</strong> pranto; olham para ela, e<br />
quando não rezam com os lábios, olham-na e ca-<br />
lam. Custam <strong>de</strong>sviar-se <strong>de</strong>ssa imagem. Logo ao<br />
lado há um conjunto <strong>de</strong> três imagens brancas,<br />
também na relva. A Virgem fala com a inocên-<br />
cia das crianças vi<strong>de</strong>ntes da aparição em Salette<br />
e os homens sérios se aproximam, olham, absor-<br />
vem-lhe a fisionomia (sic), tentam escutá-la e se<br />
vão <strong>de</strong>vagarinho (sic), calmamente, <strong>de</strong>vagarinho<br />
(sic) se afastando, com medo <strong>de</strong> perturbá-la. E<br />
sobem uma escadaria <strong>de</strong> tijolo para no tope olhar<br />
outra imagem branca da mesma Virgem, sobre<br />
uma pedra alta, voltada para o céu: os homens<br />
levantam a cabeça, olham-na, olham na direção<br />
don<strong>de</strong> vem a salvação (...) O pensamento se er-<br />
gue: sublima-se mais esta vida, pensa-se no rumo<br />
da viagem para a "Casa do Pai"... o orgulho vai<br />
caindo, a fé avolumando, tomando conta da gente.<br />
Este parece ser o milagre repetido em cada roma-<br />
ria da Salette".<br />
83
1980 - 45 a <strong>Romaria</strong><br />
Dom João Hoffmann<br />
na Missa Campal<br />
Em 1973, a 19 <strong>de</strong> setembro, por<br />
causa da chuva, não se realizou a procissão<br />
luminosa. Foi transferida para o<br />
dia 23. No sábado, véspera da <strong>Romaria</strong><br />
celebrada no dia 30, choveu<br />
muito novamente. No entanto, gran<strong>de</strong><br />
multidão acorreu ao Santuário. Dom<br />
João Hoffmann e Dom Henrique<br />
Gelain, Bispo <strong>de</strong> Vacaria, estiveram<br />
presentes.<br />
Na <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1974, houve uma extraordinária<br />
participação do povo. Cinqüenta mil<br />
ou mais peregrinos se fizeram presentes,<br />
transportados por trens especiais<br />
84<br />
e por cerca <strong>de</strong> dois mil automóveis.<br />
Mais <strong>de</strong> trinta sacerdotes atendiam as<br />
confissões. Dom João Hoffmann presidiu<br />
a celebração. O bom tempo colaborou.<br />
A 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, faleceu o<br />
Pe. Francisco Amos Connor ms, um<br />
dos iniciadores das <strong>Romaria</strong>s Saletinas,<br />
Pároco <strong>de</strong> Marcelino Ramos e Superior<br />
Provincial.<br />
Em 19<strong>75</strong>, nas celebrações em<br />
preparação ao dia 19 <strong>de</strong> setembro, a<br />
frequência dos fiéis foi muito boa. A<br />
<strong>Romaria</strong>, no dia 28, apesar da chuva<br />
na véspera, congregou mais <strong>de</strong> trinta<br />
mil peregrinos.<br />
Pela primeira vez, a revista<br />
"SALETTE", com as bênçãos do Bispo<br />
Dom João Hoffmann, publicou, em<br />
1976, um número especial para os meses<br />
<strong>de</strong> setembro e outubro, com o texto<br />
da novena "Família em <strong>Romaria</strong>", uma<br />
Novena preparatória para as celebrações<br />
saletinas. Como são muitas as <strong>Romaria</strong>s<br />
Saletinas praticadas, sobretudo<br />
no sul do <strong>Brasil</strong>, esse texto se tornou<br />
um instrumento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor<br />
para prepará-las em família ou comunida<strong>de</strong>s<br />
cristãs. A aceitação foi total.<br />
Santuários organizaram entre 300 e<br />
500 grupos <strong>de</strong> nove famílias cada um,<br />
para fazer os nove encontros previstos.<br />
Nos <strong>anos</strong> seguintes, para cada<br />
<strong>Romaria</strong>, novo texto é preparado, sempre<br />
sobre um tema central.
1977 - 42 a <strong>Romaria</strong> - Novena preparatória<br />
O tema procura refletir os gran<strong>de</strong>s problemas<br />
sócio-religiosos do momento,<br />
na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à tradição da Igreja no<br />
<strong>Brasil</strong> e da espiritualida<strong>de</strong> saletina da<br />
qual faz parte o chamado “combate aos<br />
males contemporâneos”, traço pastoral<br />
intuído pelos primeiros sacerdotes<br />
da Congregação na década <strong>de</strong> 1850.<br />
No ano <strong>de</strong> 1976, dada a novena<br />
preparatória para o dia 19 <strong>de</strong> setembro,<br />
a missa e a procissão luminosa à<br />
noite tiveram gran<strong>de</strong> participação <strong>de</strong><br />
povo no Santuário <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
Foi um dia maravilhoso. Na noite<br />
da véspera da <strong>Romaria</strong> houve ameaça<br />
<strong>de</strong> temporal. Como não aconteceu,<br />
foi realizada a procissão luminosa.<br />
Na <strong>Romaria</strong> do dia 26 houve mais<br />
ou menos <strong>de</strong>zoito mil comunhões. Dom<br />
João Hoffmann pregou sobre a Reconciliação.<br />
Em agosto <strong>de</strong> 1977, as Irmãs <strong>de</strong><br />
São José que serviram generosamente<br />
no Seminário por longos <strong>anos</strong>, <strong>de</strong>ixaram<br />
<strong>de</strong> ali trabalhar, levando a imensa<br />
gratidão <strong>de</strong> todos os membros da comunida<strong>de</strong><br />
saletina, por toda a <strong>de</strong>dicação<br />
que tiveram por eles. As solenida<strong>de</strong>s<br />
saletinas, <strong>de</strong> 19 e 25 <strong>de</strong> setembro<br />
<strong>de</strong> 1977, foram preparadas com a ajuda<br />
da revista "SALETTE". O número<br />
especial com o texto da novena alcançou<br />
a tiragem <strong>de</strong> vinte e cinco mil exemplares.<br />
Aproximadamente setenta mil<br />
romeiros fizeram-se presentes.<br />
Em 1978 houve gran<strong>de</strong> solenida<strong>de</strong><br />
em razão do cinqüentenário <strong>de</strong><br />
Fundação da Paróquia <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos e o da Fundação da Escola<br />
Apostólica. No dia 24 <strong>de</strong> setembro, a<br />
<strong>Romaria</strong> se constituiu num evento maravilhoso.<br />
Aproximadamente 65 mil pessoas<br />
compareceram à solenida<strong>de</strong>, provenientes<br />
<strong>de</strong> todos os recantos do sul<br />
do <strong>Brasil</strong>. Cinco emissoras <strong>de</strong> rádio<br />
transmitiram a celebração do evento.<br />
85
Em setembro <strong>de</strong> 1979, na véspera<br />
da <strong>Romaria</strong> do dia 29, choveu e<br />
não foi possível realizar a procissão noturna.<br />
O dia 30 permaneceu nublado.<br />
O ambiente da <strong>Romaria</strong> foi, no entanto,<br />
<strong>de</strong> muita <strong>de</strong>voção, com a participação<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30 mil romeiros.<br />
A <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1980 seguiu o esquema<br />
tradicional.<br />
Em 1981, Pe. Arlindo Fávero<br />
ms foi nomeado Diretor do Seminário<br />
e Santuário, e da revista "SALETTE".<br />
Empreen<strong>de</strong>dor, Pe. Arlindo, em 1983<br />
<strong>de</strong>u início a uma reforma notável no<br />
Santuário e no Seminário. Alguns <strong>anos</strong><br />
mais tar<strong>de</strong>, a cúpula do Santuário, o<br />
Santuário da Luz", o Altar Campal foram<br />
construídos. Em 2008 <strong>de</strong>u-se início<br />
à construção do "Santuário da Reconciliação",<br />
para o atendimento <strong>de</strong><br />
confissões.<br />
Em 1983, os trens <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />
circular em Marcelino Ramos, o que<br />
trouxe dificulda<strong>de</strong>s para muitos romeiros.<br />
Para a <strong>Romaria</strong>, os trens <strong>de</strong>ram<br />
lugar aos ônibus e automóveis vindos<br />
às centenas, muitos <strong>de</strong>les estacionando<br />
na margem catarinense do Rio Uruguai,<br />
uma vez que a balsa não dava<br />
conta da travessia do rio para todos.<br />
86<br />
TESTEMUNHO Pe. Claudino Lise, ms<br />
São 14 horas, anunciam os alto-falantes. O povo peregrino<br />
já está sabendo que esse é um momento especial <strong>de</strong> oração.<br />
Aglomerados diante do Santuário, ao redor do altar campal,<br />
sentados na grama, cercando as imagens, faça chuva, faça<br />
sol, o povo está unido parecendo um mar <strong>de</strong> gente. É o momento<br />
do Terço Meditado.<br />
São motivações rezadas a partir das palavras <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora em sua mensagem que pe<strong>de</strong> conversão, oração, respeito...<br />
e por sua expressão <strong>de</strong> dor. Por que a mãe chora?<br />
Um momento esperado no Terço é quando duas <strong>de</strong>zenas<br />
são rezadas pelos romeiros. São mães e pais, jovens, idosos<br />
que em fila se colocam diante dos microfones e rezam a Ave-<br />
Maria antece<strong>de</strong>ndo um pedido ou graça. É um sentimento <strong>de</strong><br />
gratidão, <strong>de</strong> pedidos, que se misturam à tristeza em rostos com<br />
lágrimas, cansados, angustiados, marcados pela violência das<br />
drogas, alcoolismo, <strong>de</strong>sprezo, <strong>de</strong>semprego, filhos <strong>de</strong>sligados<br />
da comunida<strong>de</strong>, do amor e <strong>de</strong> Deus.<br />
É o Terço, momento <strong>de</strong> oração que envolve o povo, mesmo<br />
que os sentimentos sejam diferentes. É partilha <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong><br />
reza e <strong>de</strong> confiança. Que bom viver perto da Mãe que interce<strong>de</strong><br />
por nós, junto a Deus.<br />
A RECITAÇÃO DO TERÇO<br />
2003<br />
68 a <strong>Romaria</strong>
1976<br />
43 a <strong>Romaria</strong><br />
Vista aérea<br />
no dia da<br />
<strong>Romaria</strong><br />
87
No ano <strong>de</strong> 1985, aconteceram<br />
duas particularida<strong>de</strong>s em relação à celebração<br />
da Salette:<br />
- no dia 19 <strong>de</strong> setembro não<br />
houve procissão luminosa por causa da<br />
chuva;<br />
- no dia 29, dia da comemoração<br />
cinqüentenária das romarias saletinas<br />
em Marcelino Ramos, participaram<br />
da solenida<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta mil<br />
romeiros. O Car<strong>de</strong>al Arcebispo <strong>de</strong><br />
São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns<br />
ofm, Dom Ivo Lorschei<strong>de</strong>r, Bispo <strong>de</strong><br />
Santa Maria e Presi<strong>de</strong>nte da CNBB,<br />
Dom João Hoffmann, Bispo <strong>de</strong> Erechim,<br />
e Dom Urbano Algayer, Bispo<br />
<strong>de</strong> Passo Fundo, participaram da solenida<strong>de</strong>.<br />
A Paróquia São João Batista <strong>de</strong><br />
Marcelino Ramos, o Seminário e o<br />
Santuário <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette<br />
tiveram sucessivamente laços eclesiásticos<br />
com as três Dioceses: Santa Maria,<br />
Passo Fundo e Erechim.<br />
1985 - 50 a <strong>Romaria</strong> - Dom Paulo Evaristo, Car<strong>de</strong>al Arns - Missa campal<br />
88
1985 - 50 a <strong>Romaria</strong> - Cruz erguida no átrio da <strong>Romaria</strong> comemorativo à <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> número 50<br />
Ao final da procissão luminosa<br />
<strong>de</strong> 28, à noite, o Car<strong>de</strong>al Dom Paulo<br />
Evaristo fez a pregação. Às 5hs00 do<br />
domingo, dia da <strong>Romaria</strong>, no Santuário,<br />
teve início a programação religiosa<br />
com celebração <strong>de</strong> missas sucessivas<br />
e atendimento <strong>de</strong> confissões. Às<br />
8hs00 partiu da Igreja Matriz a grandiosa<br />
procissão carregando o andor<br />
da Virgem em lágrimas e uma gran<strong>de</strong><br />
cruz <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com a inscrição das<br />
cifras "1936-1985" e do tema da <strong>Romaria</strong>:<br />
"Repartir o pão". Dom Ivo presidiu<br />
a Missa Campal, concelebrada<br />
pelos outros três Bispos presentes. O<br />
sermão foi feito novamente pelo Car<strong>de</strong>al<br />
Dom Paulo Evaristo. Às 15hs00<br />
foi dada a Bênção com o Santíssimo<br />
Sacramento e, a seguir, foi plantada no<br />
recinto do Fac-simile, a Cruz trazida<br />
na procissão da manhã. Pe. Arlindo<br />
Fávero ms, Diretor do Santuário, apresentou<br />
ao povo romeiro um terço doado<br />
pelo Papa João Paulo II aos Missionários<br />
Saletinos no <strong>Brasil</strong>. O terço foi<br />
<strong>de</strong>positado no Santuário como símbolo<br />
da bênção do Papa aos romeiros <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette.<br />
89
O dia havia começado encoberto,<br />
sem sol. Trovões se fizeram ouvir na<br />
hora da Bênção, à tar<strong>de</strong>. A chuva não<br />
<strong>de</strong>morou. Chuva <strong>de</strong> verão. Rápida. Forte<br />
como a bênção do Senhor sobre todos<br />
os peregrinos <strong>de</strong>sse dia que, impregnados<br />
<strong>de</strong> graças e <strong>de</strong> chuva, voltaram<br />
às pressas para casa.<br />
Num artigo intitulado "A 50ª <strong>Romaria</strong><br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette", em<br />
"Salette" <strong>de</strong> janeiro-fevereiro <strong>de</strong> 1986,<br />
pg. 18-19, Pe. Arlindo Fávero ms afirma:<br />
"Celebrar cinquenta <strong>anos</strong> <strong>de</strong> romarias é comemorar<br />
uma vitória. (...) É uma vitória <strong>de</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />
<strong>de</strong>dicados a Deus e a serviço <strong>de</strong> seu povo. É uma ale-<br />
gria animar a fé viva do povo simples e sofredor que<br />
encontra alento e força, graças e perdão, aos pés da<br />
Virgem que chora".<br />
1993 - 58 a <strong>Romaria</strong><br />
“...Comunicai isso a<br />
todo o meu povo.”<br />
90
TESTEMUNHO Pe. Il<strong>de</strong>fonso Salva<strong>de</strong>go, ms<br />
Lembro-me com especial emoção, quando ainda jovem, em romaria, visitei<br />
o Santuário Nossa Senhora da Salette em Marcelino Ramos-RS. Fui ao encontro<br />
<strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> mim mesmo. Entre as conversas e rezas entrei na fila das<br />
confissões. Tive a graça <strong>de</strong> ser atendido por um sacerdote que paternalmente<br />
me ouviu, disse-me algumas palavras e rezou por mim. Voltei para casa feliz e<br />
saltitando, pois além <strong>de</strong> conhecer o Santuário, tão falado por todos, fui "banhado<br />
por uma água" que mudou para sempre e por completo minha tenra vida.<br />
Lembro-me que alguns <strong>anos</strong> mais tar<strong>de</strong>, quando entrei no Seminário, também<br />
em Marcelino Ramos, uma <strong>de</strong> minhas funções, nas <strong>Romaria</strong>s, como seminarista,<br />
era organizar a famosa fila das confissões: muita gente, poucos padres,<br />
aquelas filas intermináveis que não se sabia bem on<strong>de</strong> terminava uma e começava<br />
a outra.<br />
Hoje me emociono, quando, como padre, coloco-me lá naqueles confessionários<br />
e pacientemente recebo em confissão tantos peregrinos. Busco distribuir<br />
com alegria e fé a "água" do perdão e da reconciliação. Impressiono-me<br />
com a fé do povo que entra na "fila"; com que confiança as pessoas abrem o<br />
coração; com que alegria e até com lágrimas nos olhos vejo que recebem o perdão<br />
e com que emoção vivem o mistério <strong>de</strong>ste Sacramento.<br />
Para mim, participar e viver estes três momentos, foram e sempre serão,<br />
fonte <strong>de</strong> viva fé no perdão <strong>de</strong> Deus, através do Sacramento da Confissão. Confissão<br />
e <strong>Romaria</strong> da Salette são sinônimos.<br />
TRÊS MOMENTOS DE UMA GRANDE EMOÇÃO<br />
2009 - 74 a <strong>Romaria</strong><br />
Santuário da Reconciliação,<br />
em construção,<br />
local <strong>de</strong>stinado às confissões.<br />
91
1993 - 58 a <strong>Romaria</strong><br />
Dom João Hoffmann e<br />
Dom Girônimo Zanandréa<br />
Em 1986, durante o dia 19 <strong>de</strong><br />
setembro, choveu, o que motivou o número<br />
menor <strong>de</strong> romeiros. No dia 28,<br />
porém, gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> romeiros,<br />
cerca <strong>de</strong> quarenta mil, e muitos sacerdotes<br />
fizeram <strong>de</strong>sta <strong>Romaria</strong> um acontecimento<br />
admirável. O dia era aprazível.<br />
Dom Pedro Fedalto, Arcebispo<br />
<strong>de</strong> Curitiba, PR, foi o pregador oficial<br />
nesta <strong>Romaria</strong>.<br />
92<br />
Em 1987, a 10 <strong>de</strong> junho, Dom<br />
João Hoffmann celebrou seu Jubileu <strong>de</strong><br />
Prata <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nação Episcopal. O dia<br />
19 <strong>de</strong> setembro e o dia da <strong>Romaria</strong>,<br />
27, transcorreram normalmente apesar<br />
das ameaças <strong>de</strong> chuva.<br />
A 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1988 foi or<strong>de</strong>nado<br />
Bispo Coadjutor <strong>de</strong> Erechim,<br />
o Pe. Girônimo Zanandréa. A 26 <strong>de</strong><br />
junho foi celebrado o 60º Aniversário<br />
<strong>de</strong> fundação da Paróquia São João<br />
Batista, <strong>de</strong> Marcelino Ramos. Em setembro<br />
houve missões paroquiais.<br />
A <strong>Romaria</strong>, realizada nos dias 24 e 25<br />
<strong>de</strong> setembro, teve tempo bom. Houve muitos<br />
sacerdotes presentes com Dom Girônimo<br />
Zanandréa e povo numeroso. Muitos peregrinos<br />
vieram num trem especial <strong>de</strong> Porto<br />
União, SC.<br />
Em 1989, nada <strong>de</strong> diferente ocorreu<br />
no dia 19 <strong>de</strong> setembro. A <strong>Romaria</strong> celebrada<br />
no dia 24 <strong>de</strong> setembro, teve seu programa<br />
habitual, mas sob chuva intensa. Assim<br />
mesmo, cerca <strong>de</strong> 15 mil romeiros <strong>de</strong>la participaram.<br />
Via-se muitos segurarem seus calçados<br />
nas mãos para enfrentar o barro.
Em 1990, uma novena prece<strong>de</strong>u<br />
a celebração do dia 19 <strong>de</strong> setembro.<br />
Nesse dia se fez, como <strong>de</strong> costume, a<br />
procissão luminosa até o Santuário.<br />
Apesar do mau tempo, o número <strong>de</strong><br />
fiéis presentes ao ato, foi gran<strong>de</strong>. A <strong>Romaria</strong><br />
foi realizada nos dias 29 e 30 <strong>de</strong><br />
Tenho para comigo que um dos momentos mais fortes, emocionante e comovente, da<br />
<strong>Romaria</strong>, é assistir a encenação da aparição <strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. Dou meu testemunho<br />
como um figurante amador que teve a emoção e a alegria <strong>de</strong> ser o pequeno Maximo, no dia<br />
da aparição, em uma das encenações. Confesso o meu nervosismo ao me encontrar diante dos<br />
olhos <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> romeiros em expectativa, como quem espera voltar ao tempo <strong>de</strong> 1846, nos<br />
Alpes Franceses e reviver o que viram e ouviram aquelas duas pobres e inocente crianças.<br />
Roupas <strong>de</strong> camponesa, flores na cabeça e nos pés daquela "Bela Senhora" sentada sobre<br />
uma pedra a chorar sem parar, davam a idéia <strong>de</strong> um cenário místico, curioso e comovente.<br />
Sim, comovente, pois quem não se comove ao ver alguém chorar? E sobre tudo, sabendo tratarse<br />
<strong>de</strong> uma mãe. As lágrimas na Aparição provocam lágrimas no coração...<br />
A indignação <strong>de</strong> Maximino no primeiro momento da Aparição conclama a todos os romeiros<br />
a olharem para uma linda mulher. O convite carinhoso "Vin<strong>de</strong>, meus filhos, não tenhais medo",<br />
parece esten<strong>de</strong>r-se a cada um dos que estão ali presenciando aquela encenação. Afinal, todos<br />
nós, que tomamos conhecimento da Mensagem, nos sentimos um pouco Maximino e um pouco<br />
Melânia. As palavras ditas em seguida, pela "Bela Senhora", que por sua vez o fazia em prantos,<br />
gerava uma expectativa em cada frase, soava como um aconselhamento <strong>de</strong> mãe que<br />
inquestionavelmente falava com razão. Cada romeiro ali presente parecia enten<strong>de</strong>r sem <strong>de</strong>mais<br />
explicações que as palavras <strong>de</strong> Maria não eram direcionadas somente àquelas duas crianças,<br />
senão a cada um dos que ali estavam.<br />
O final da encenação era sempre como uma bênção <strong>de</strong> envio dirigida a cada romeiro:<br />
“Vão meus filhos, transmitam isto a todo o meu povo”.<br />
UM MOMENTO DE PURO ENCANTO<br />
TESTEMUNHO Pe. Cristian P. Oliveira, ms<br />
setembro. As celebrações "foram<br />
momentos fortes on<strong>de</strong> se percebeu<br />
a <strong>de</strong>voção, a fé e o sofrimento <strong>de</strong> um<br />
povo que, apesar das dificulda<strong>de</strong>s,<br />
não <strong>de</strong>sanima e continua sua caminhada"<br />
(LIVRO TOMBO IV da Paróquia<br />
<strong>de</strong> Marcelino Ramos, pg. 33).<br />
2007<br />
72 a <strong>Romaria</strong><br />
Encenação da<br />
Aparição
1992 - 57 a <strong>Romaria</strong><br />
Chegada da imagem<br />
1993 - 58 a <strong>Romaria</strong><br />
Momento da celebração<br />
94
1994<br />
59 a <strong>Romaria</strong><br />
Procissão<br />
O dia 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1991<br />
foi marcado pelas solenida<strong>de</strong>s costumeiras,<br />
com um número surpreen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
peregrinos. Da <strong>Romaria</strong>, a 29 <strong>de</strong> setembro,<br />
participaram milhares <strong>de</strong> fiéis.<br />
Em 1992, o dia 19 <strong>de</strong> setembro<br />
foi celebrado com novena preparatória,<br />
missa e procissão luminosa. A participação<br />
<strong>de</strong> féis foi muito gran<strong>de</strong>. Na<br />
gran<strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>, no dia 27, cerca <strong>de</strong><br />
50 mil pessoas marcaram presença.<br />
Em 1993, entre os dias 8 a 14 e<br />
21 a 23 <strong>de</strong> setembro, Dom João<br />
Hoffmann fez nova visita pastoral à<br />
Paróquia e presidiu a <strong>Romaria</strong>.<br />
De 22 a 28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1996,<br />
os Missionários <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette da Província brasileira celebraram,<br />
com uma Assembléia Provincial,<br />
no Seminário Salette, em Marcelino<br />
Ramos, o 150º aniversário da Aparição<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora.<br />
1996<br />
61 a <strong>Romaria</strong><br />
Procissão<br />
95
SESQUICENTENÁRIO<br />
O povo <strong>de</strong> Marcelino Ramos<br />
participou em multidão das cerimônias<br />
religiosas alusivas ao evento, com<br />
procissão luminosa no sábado, dia 27<br />
<strong>de</strong> janeiro e solene missa no Santuário.<br />
O dia 19 <strong>de</strong> setembro foi solenemente<br />
festejado. Para marcar o sesquicentenário<br />
da Aparição, houve uma<br />
missa às l0hs00 no Santuário, presidida<br />
por Dom Girônimo Zanandréa. O<br />
templo estava superlotado. Houve o<br />
lançamento <strong>de</strong> um selo postal comemorativo<br />
da data. No dia 29 foi realizada<br />
a <strong>Romaria</strong> apesar do mau tempo.<br />
O número <strong>de</strong> peregrinos, no entanto,<br />
foi muito gran<strong>de</strong>. Houve muitas<br />
confissões."Encerrou-se o sesquicentenário<br />
com um gran<strong>de</strong> convite para<br />
todos levarem para seus lares uma mensagem<br />
<strong>de</strong> paz, confiança e reconciliação.<br />
Somos mensageiros da reconciliação"<br />
(LIVRO TOMBO IV da Paróquia,<br />
pg. 80).<br />
O ano <strong>de</strong> 1997 iniciou com as<br />
obras <strong>de</strong> restauração da Igreja Matriz.<br />
No dia 28 <strong>de</strong> março, Sexta Feira<br />
Santa, se fez uma procissão penitencial<br />
da Igreja Matriz até o Santuário. Teve<br />
1998<br />
63 a <strong>Romaria</strong><br />
gran<strong>de</strong> sucesso religioso. O dia 19 <strong>de</strong><br />
setembro foi comemorado como <strong>de</strong><br />
hábito. O dia da <strong>Romaria</strong>, 28, porém,<br />
foi chuvoso o que não impediu a presença<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30 mil romeiros.<br />
No mês <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1998, Dom<br />
Girônimo Zanandréa fez mais uma visita<br />
pastoral à Paróquia <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos. No encerramento da visita,<br />
Dom Girônimo quis registrar:<br />
"Um profundo agra<strong>de</strong>cimento ao Pároco, Pe. Jacintho<br />
Pasin ms, e aos Padres do Seminário Nossa Senhora<br />
da Salette e à Equipe dos Missionários Saletinos, pelo<br />
excelente trabalho pastoral que vêm realizando nesta Pa-<br />
róquia"<br />
(LIVRO TOMBO IV da Paróquia, pg. 85b)<br />
96<br />
1998<br />
63 a <strong>Romaria</strong>
TESTEMUNHO Ir. Renildo <strong>de</strong> Jesus Brito, ms<br />
Muitos são os romeiros que saem <strong>de</strong> suas casas para acompanhar <strong>de</strong> perto a <strong>de</strong>voção a Nossa<br />
Senhora da Salette em Marcelino Ramos. Essa visita, principalmente em dia <strong>de</strong> <strong>Romaria</strong>, é um<br />
sinal <strong>de</strong> muitas graças e bênçãos. Eu quero aqui, como humil<strong>de</strong> <strong>de</strong>voto, testemunhar a minha emoção<br />
e a <strong>de</strong> muitos outros, no momento em que se aproxima do Santuário, a imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette, em procissão, trazida pelos romeiros.<br />
O povo na procissão aos poucos vai chegando e se integrando aos fiéis que por ali ficam a<br />
esperar o gran<strong>de</strong> encontro com Maria. De repente em meio à multidão vem Ela, enfeitada, em meio<br />
a luzes <strong>de</strong> velas ou ornada <strong>de</strong> flores, sendo trazida nos ombros dos peregrinos. Os sinos repicam, os<br />
animadores exclamam em alta voz: "Viva Nossa Senhora da Salette, viva a Mãe <strong>de</strong> Jesus, viva a<br />
nossa Mãe!...” e todos batem palmas emocionados. Não é difícil ver no rosto <strong>de</strong> muitos, algumas<br />
lágrimas.<br />
Neste momento a sensação é que o nosso coração está em sintonia com Deus. É um momento<br />
muito importante e forte. Ela que vem para trazer mais paz, amor, bênçãos; vem para amenizar o<br />
sofrimento; vem para nos trazer conforto; vem para lembrar ao povo que Deus é puro amor.<br />
Como é lindo receber Maria, nossa mãe do céu e saber que Ela vai <strong>de</strong>rramar muitas bênçãos<br />
sobre todo o povo a seus pés. O Santuário passa a ser um pedacinho <strong>de</strong> Belém trazendo muita<br />
sauda<strong>de</strong>, alegria e esperança...<br />
A CHEGADA DA IMAGEM<br />
2004<br />
69 a <strong>Romaria</strong><br />
97
O ano <strong>de</strong> 1998 também foi marcado<br />
pelo falecimento do Bispo Emérito<br />
<strong>de</strong> Erechim, Dom João Hoffmann,<br />
no dia 27 <strong>de</strong> junho. Havia exercido o<br />
episcopado até o dia 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong><br />
1994, quando foi substituído por Dom<br />
Girônimo na direção da Diocese <strong>de</strong><br />
Erechim.<br />
No dia 19 <strong>de</strong> setembro, apesar<br />
do tempo ruim, compareceu muita gente<br />
nas celebrações habituais. Na noite<br />
do sábado, dia 26, embora chuvoso,<br />
foi realizada a procissão luminosa ao final<br />
da qual Dom Orlando Dotti, Bispo<br />
<strong>de</strong> Vacaria, RS, proclamou bela mensagem<br />
a todos os romeiros. No domingo,<br />
27, dia da <strong>Romaria</strong>, a inclemência<br />
do tempo não impediu a participação<br />
<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20 mil romeiros nas cerimônias.<br />
"Foi um dia <strong>de</strong> muita penitência,<br />
oração e sacrifício" (LIVRO TOM-<br />
BO IV da Paróquia, pg. 87).<br />
Em 1999, a 10 <strong>de</strong> setembro, iniciou<br />
a novena em preparação à festa<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora da Salette. O dia<br />
19, domingo, foi ensolarado. Por isso,<br />
muita gente participou das cerimônias.<br />
A <strong>Romaria</strong>, a 26 <strong>de</strong> setembro, foi precedida<br />
por um tríduo e procissão luminosa<br />
no sábado à noite, seguida da<br />
Bênção do Santíssimo Sacramento e<br />
<strong>de</strong> uma encenação da Aparição. O domingo<br />
da <strong>Romaria</strong> foi esplêndido e a<br />
multidão <strong>de</strong> romeiros foi calculada em<br />
40 mil pessoas em busca da reconciliação.<br />
1999 - 64 a <strong>Romaria</strong> - O povo em oração, junto à imagem <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Salette, na Igreja Matriz.<br />
98
1999 - 64 a <strong>Romaria</strong><br />
Novo estacionamento,<br />
agora com pavimentação<br />
asfáltica.<br />
2003 - 68 a <strong>Romaria</strong><br />
Novo local para<br />
acen<strong>de</strong>r velas.<br />
99
NOVO MILÊNIO<br />
No ano <strong>de</strong> 2000, o dia 19 <strong>de</strong><br />
setembro foi preparado por uma novena<br />
com boa participação das comunida<strong>de</strong>s<br />
da Paróquia. O dia foi chuvoso.<br />
Assim mesmo, houve um gran<strong>de</strong><br />
número <strong>de</strong> fiéis <strong>de</strong>votos que participaram<br />
da Missa matinal no Santuário, do<br />
terço meditado, à tar<strong>de</strong>, no "Facsimile",<br />
da missa vespertina na Matriz<br />
e da procissão luminosa até o Santuário,<br />
à noite. Na <strong>Romaria</strong> do dia 24, o<br />
tempo foi inclemente. A chuva cessou<br />
ao meio-dia. Apesar <strong>de</strong> tudo, compareceram<br />
em torno <strong>de</strong> 15 mil romeiros.<br />
2001: O novo milênio viu um<br />
dado novo na Paróquia <strong>de</strong> Marcelino<br />
Ramos: a celebração <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
dos Navegantes, no dia 11 <strong>de</strong> fevereiro,<br />
com uma procissão fluvial a partir<br />
da cida<strong>de</strong> até o novo balneário <strong>de</strong><br />
águas termais junto ao Rio Pelotas. A<br />
procissão foi encerrada com missa<br />
campal.<br />
No dia 26 <strong>de</strong> setembro, iniciou,<br />
no Santuário, o tríduo em preparação<br />
para a <strong>Romaria</strong> do dia 30, celebrada<br />
sob um tempo muito chuvoso. No entanto,<br />
a solenida<strong>de</strong> foi muito bonita e<br />
seguida com espírito <strong>de</strong> muita pieda<strong>de</strong><br />
e penitência pelos peregrinos.<br />
2000 - 65 a <strong>Romaria</strong><br />
100<br />
2002<br />
67 a <strong>Romaria</strong>
2003 - 68 a <strong>Romaria</strong><br />
Ao longo <strong>de</strong> 2002, na Igreja<br />
Matriz, o dia 19 <strong>de</strong> cada mês foi solenizado<br />
em honra a Nossa Senhora da<br />
Salette. No dia 19 <strong>de</strong> setembro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
cedo começaram a chegar <strong>de</strong>votos<br />
para as cerimônias no Santuário.<br />
Às 9hs30, a missa solene foi celebrada<br />
pelo Pe. Isidro Perin ms, Superior<br />
Geral dos Missionários Saletinos. Durante<br />
a celebração, foram entregues<br />
medalhas comemorativas do Centenário<br />
da chegada <strong>de</strong> Pe. Clemente<br />
Henrique Moussier ms, a benfeitores<br />
e colaboradores dos Missionários e a<br />
zeladores da revista "SALETTE". No<br />
domingo, 29, Dom Girônimo abençoou<br />
solenemente o novo altar campal em<br />
frente ao Santuário. Fizeram-se presentes<br />
Missionários Saletinos <strong>de</strong> 21<br />
países, para comemorar o Centenário<br />
da chegada do Pe. Moussier ms. O<br />
tempo foi favorável, o que permitiu a<br />
presença <strong>de</strong> ao menos 40 mil romeiros.<br />
2003 - 68 a <strong>Romaria</strong><br />
Altar Campal abençoado<br />
na <strong>Romaria</strong> do ano<br />
anterior (2002).<br />
101
2003 - 68 a <strong>Romaria</strong><br />
102<br />
De 2003 a 2009 as <strong>Romaria</strong>s,<br />
com tempo agradável ou chuvoso, foram<br />
realizadas sem maiores alterações<br />
no esquema tradicional. A <strong>de</strong> 2004,<br />
tratou do tema da água, fazendo eco à<br />
Campanha da Fraternida<strong>de</strong>, com o<br />
lema “Salette, fonte <strong>de</strong> Deus para a vida<br />
da humanida<strong>de</strong>”.<br />
Destaque se po<strong>de</strong> fazer à <strong>Romaria</strong><br />
<strong>de</strong> 2008 que foi consi<strong>de</strong>rada uma<br />
das maiores senão a maior já realizada.<br />
Sob um céu muito bonito, no Santuário,<br />
Dom Girônimo presidiu a celebração<br />
da missa do dia 19 e nos dias<br />
27 e 28 <strong>de</strong> setembro, à luz do tema<br />
“Vida: dom <strong>de</strong> Deus, compromisso<br />
cristão”. Ao menos 50 mil pessoas rezaram,<br />
caminharam e testemunharam<br />
o quanto “tudo é pela graça <strong>de</strong> Deus”.<br />
Em 2009, a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Salette, a 19 <strong>de</strong> setembro,<br />
foi comemorada ao final <strong>de</strong> uma<br />
novena pregada por Missionários Saletinos,<br />
na Igreja Matriz. O dia foi muito<br />
lindo, o que permitiu muita gente se<br />
reunir para a missa matinal no Santuário,<br />
presidida por Dom Girônimo. Às<br />
18hs00, no Santuário foram cantadas
2004 - 69 a <strong>Romaria</strong> - Interior do Santuário<br />
as Vésperas do Ofício Próprio <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Salette. Algumas<br />
pessoas participaram do rito e se disseram<br />
encantadas. À noite, ao final da<br />
missa na Igreja Matriz, teve início a<br />
procissão luminosa em direção ao Santuário.<br />
A multidão, carregando a imagem<br />
da Virgem em lágrimas, se <strong>de</strong>teve<br />
diante do altar campal para acompanhar<br />
a encenação da Mensagem da<br />
Aparição e receber a solene Bênção<br />
do Santíssimo Sacramento. A tar<strong>de</strong> do<br />
sábado, dia 26, foi chuvosa. Mesmo<br />
assim, os preparativos prosseguiam<br />
frenéticos. Às 19hs00 houve missa<br />
na Igreja Matriz e, logo após, com<br />
tempo mais aberto, a procissão luminosa<br />
seguiu rumo à colina da Reconciliação.<br />
Houve nova representação<br />
da Mensagem, seguida da Bênção<br />
do Santíssimo Sacramento. No<br />
dia 27, o domingo da <strong>Romaria</strong>, apesar<br />
da madrugada chuvosa, o povo<br />
romeiro cresceu em número calculado<br />
em 25 ou talvez 30 mil peregrinos.<br />
Cedo as pessoas compareciam ao<br />
Santuário para participar <strong>de</strong> missas ou<br />
receber o sacramento do perdão.<br />
103
2007 - 72 a <strong>Romaria</strong><br />
2009 - 74 a <strong>Romaria</strong> - Missa das 12 horas - Bênção aos doentes no Santuário<br />
Na Igreja Matriz, ao mesmo<br />
tempo, os peregrinos abriam seu coração,<br />
<strong>de</strong>ixando-se reconciliar com<br />
Deus, reconciliação que repercute na<br />
vida da própria pessoa e no relacionamento<br />
com o próximo. Cantos e louvores<br />
a Nossa Senhora da Salette ressoavam<br />
na Igreja. Finda a missa matinal,<br />
iniciou a gran<strong>de</strong> procissão em direção<br />
ao Santuário. A lama do caminho<br />
não era empecilho para a caminhada<br />
<strong>de</strong> fé. Precedida pelos membros<br />
da Confraria <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Salette e orientada por alto-falantes, a<br />
multidão penitente, mas, jubilosa, levava<br />
aos ombros o andor da Mãe da<br />
Salette, entre hinos e preces. Muitos<br />
andavam a pés <strong>de</strong>scalços e sob guarda-chuvas.<br />
Um romeiro garbosamente<br />
ostentava um letreiro com os seguintes<br />
dizeres: "Há 43 <strong>anos</strong> venho à <strong>Romaria</strong><br />
e não estou cansado!" A imagem<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora foi acolhida com exclamações<br />
<strong>de</strong> louvação e prece e ao<br />
ruído <strong>de</strong> foguetes mesclado ao som do<br />
carrilhão <strong>de</strong> sinos do Santuário. Dom<br />
Girônimo, acolitado por diversos sacerdotes,<br />
presidiu a Missa Campal. Fez<br />
um sermão muito apreciado.<br />
Já era meio-dia. Todos tomaram<br />
seu tempo para a necessária alimentação.<br />
104
TESTEMUNHO Pe. Angelo Perin, ms<br />
Às 14hs00, porém, foram convidados<br />
a participarem da oração do<br />
Terço, no recinto do Fac-simile, seguida<br />
da Bênção do Santíssimo Sacramento,<br />
antecedida da Bênção aos doentes,<br />
individualmente concedida pelos<br />
sacerdotes presentes no Santuário.<br />
A dispersão se <strong>de</strong>u sem <strong>de</strong>longas, após<br />
a <strong>de</strong>spedida a todos. Concluía assim a<br />
74ª <strong>Romaria</strong> Penitencial a Nossa Senhora<br />
da Salette.<br />
E agora, já é mês <strong>de</strong> setembro<br />
novamente. O ano é 2010. Tudo está<br />
quase pronto para mais uma <strong>Romaria</strong>.<br />
A <strong>de</strong> número <strong>75</strong>. Esta não será muito<br />
diferente das anteriores. Aguarda-se<br />
tempo bom, mas sabe-se que se chover<br />
também será um lindo e significativo<br />
momento <strong>de</strong> vivência da fé. É bom<br />
que se diga que haverá uma novida<strong>de</strong>,<br />
será inaugurado o “Santuário da Reconciliação”,<br />
um lugar abençoado e<br />
por muito tempo aguardado. Ali muitos<br />
encontrarão a reconciliação pelo<br />
Sacramento do Perdão, já que ele está<br />
<strong>de</strong>stinado para este fim.<br />
Deus sempre foi muito bom<br />
conosco. Des<strong>de</strong> o início Ele esteve<br />
aqui, neste Santuário, juntamente com<br />
o seu povo e, nós temos a certeza, estará<br />
também aqui nos próximos <strong>75</strong><br />
<strong>anos</strong> e assim por todo o sempre...<br />
Ainda está bem viva em minha lembrança o último domingo <strong>de</strong><br />
setembro <strong>de</strong> 1954, quando, pela primeira vez, participei da <strong>Romaria</strong><br />
da Salette em Marcelino Ramos, RS. Tinha na ocasião 8 <strong>anos</strong>. Muitas<br />
coisas me marcaram nesse dia: as celebrações, os cantos, as<br />
orações, os gestos <strong>de</strong> penitência, a fé simples e confiante <strong>de</strong> tantos<br />
romeiros... Tudo falava <strong>de</strong> Deus. Mas, o momento mais forte foi a<br />
celebração final com a exposição do Santíssimo e a bênção da saú<strong>de</strong>.<br />
Lembro-me <strong>de</strong> minha mãe, Margarida, rezando com tanta pieda<strong>de</strong>,<br />
a multidão <strong>de</strong> mãos erguidas para o alto numa gran<strong>de</strong> suplica<br />
pela saú<strong>de</strong> e pelos sofredores. Na simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criança pu<strong>de</strong> captar<br />
o anseio <strong>de</strong> vida, dom maior <strong>de</strong> Deus, no coração <strong>de</strong> cada romeiro.<br />
Mais tar<strong>de</strong> entendi melhor que a vida existe para a gente apren<strong>de</strong>r<br />
a amar e que a vida é para ser doada a exemplo da Virgem Maria,<br />
que não guardou nada para si. Foi toda <strong>de</strong> Deus e toda das pessoas.<br />
Agra<strong>de</strong>ço a Deus esta experiência fontalizante que continua<br />
alimentando minha vida <strong>de</strong> religioso e sacerdote saletino. Hoje, entendo<br />
melhor a eucaristia <strong>de</strong> Jesus como uma entrega <strong>de</strong> amor total<br />
"para que o mundo tenha vida"; a bênção da saú<strong>de</strong> como o anseio<br />
do ser humano que se une ao anseio <strong>de</strong> Deus que <strong>de</strong>seja "vida<br />
digna e abundante para todos". Compreendo com mais clareza a<br />
mensagem e as lágrimas <strong>de</strong> Maria em Salette: "Há tanto tempo que<br />
sofro por vós". A dor e o sofrimento no mundo são expressões da<br />
falta <strong>de</strong> amor solidário e comprometido, conforme a Boa Nova <strong>de</strong><br />
Jesus.<br />
Reportando-me novamente à <strong>Romaria</strong> <strong>de</strong> 1954, recordo-me<br />
da expressão <strong>de</strong> alegria e esperança com que os romeiros regressavam<br />
para suas casas e comunida<strong>de</strong>s. E, espontaneamente, balbucio<br />
um hino: "Pelas estradas da vida, nunca sozinho estás; contigo<br />
pelo caminho, Santa Maria vai".<br />
A BÊNÇÃO FINAL<br />
2005<br />
70 a <strong>Romaria</strong>
2009<br />
74 a <strong>Romaria</strong><br />
Andor <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora
Conclusão<br />
Como as águas do Rio<br />
Uruguai, banhando vales e quebradas,<br />
fluem mansamente em<br />
direção ao oceano sem limites,<br />
a bênção reconciliadora que<br />
brota da Salette irriga mentes<br />
e corações, frutificando em vida<br />
nova no secreto das almas<br />
peregrinas à procura do "Mar<br />
da Vida", o Infinito Deus.<br />
Des<strong>de</strong> 1846 essa bênção<br />
vem transformando pessoas e<br />
povoações. Milhares! Milhares<br />
<strong>de</strong> "filhos <strong>de</strong> Deus dispersos"<br />
(Jo 11,52) pelo mundo afora,<br />
<strong>de</strong>sgarrados do Caminho, subitamente<br />
imersos, porém, no<br />
calor das Lágrimas da Mãe da<br />
Reconciliação <strong>de</strong>rramadas junto<br />
ao regato Sézia, reencontram<br />
o horizonte do viver. E<br />
para lá seguem peregrinando.<br />
Nesse percurso se encontra o<br />
"Poço da Água Viva", no <strong>de</strong>serto<br />
da vida, junto ao caminho<br />
dos que perseguem o sonho<br />
que Deus ajuda a sonhar. É preciso<br />
caminhar mais. Caminhar<br />
sem parar! Peregrinos sempre,<br />
à sombra do Senhor que nos<br />
protege. Ao lado da Mãe que<br />
nos convoca junto a si. Convocação<br />
para a conversão a<br />
seu Filho. Reconciliados e reconciliadores,<br />
viveremos na<br />
paz que o Pai a todos <strong>de</strong>sejou<br />
na noite <strong>de</strong> Natal do Cristo Jesus,<br />
nosso Irmão, por Maria,<br />
Mãe da Reconciliação.<br />
Nessa dinâmica das<br />
"Águas da Vida" da Reconciliação,<br />
o mundo será novo também.<br />
Marcelino Ramos recebeu<br />
essa bênção dada <strong>de</strong> muitas<br />
maneiras. A <strong>Romaria</strong> Penitencial<br />
a Nossa Senhora da Salette<br />
é caminho que Deus lhe põe à<br />
disposição. Des<strong>de</strong> 1928 seus<br />
Missionários labutam nessa terra.<br />
Prepararam o chão para<br />
que, a partir <strong>de</strong> 1936, o povo<br />
se tornasse caminheiro <strong>de</strong> Maria<br />
e, entre cantos <strong>de</strong> júbilo e<br />
súplicas <strong>de</strong> misericórdia, suba<br />
até o Santuário <strong>de</strong> seu Filho e<br />
Senhor Jesus. Há <strong>75</strong> <strong>anos</strong>!<br />
Graças a Ti, Mãe! Graças<br />
ao teu e nosso Pai!<br />
107
FONTES DOCUMENTAIS :<br />
- CRÔNICAS DE UMA MISSÃO, 100 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> presença saletina no <strong>Brasil</strong>, cap. III, "A<br />
messe é gran<strong>de</strong>...", Pe. Atico Fassini MS, Editora Berthier, Passo Fundo, RS, 2001.<br />
- MARCELINO RAMOS: História e Turismo, Organizadores: Lour<strong>de</strong>s Zago Isoton e<br />
Irineu José Isoton, Editora São Cristóvão, Erechim, RS, 2006.<br />
- LIVROS TOMBO I-IV, da Paróquia São João Batista, <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
- LIVROS TOMBO I-II, da Escola Apostólica, <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
- Coleção da revista "O MENSAGEIRO DE NOSSA SENHORA DA SALETTE", <strong>de</strong>pois<br />
"Revista SALETTE", do Arquivo do Seminário <strong>de</strong> Marcelino Ramos.<br />
- DIRETÓRIO PROVINCIAL DOS SANTUÁRIOS SALETINOS, obra coletiva, sem data.<br />
- O SANTUÁRIO, Memória, Presença e Profecia do Deus Vivo, Pontifício Conselho para<br />
a pastoral dos Migrantes e Itinerantes, Paulinas, 1999.<br />
- LA GALERIE DES PORTRAITS DE LA SALETTE, Pe.Victor Hostachi ms, s/d.<br />
- DIRECTOIRE SUR LA PIÉTÉ POPULAIRE ET LA LITURGIE - Príncipes et<br />
Orientations, Congrégation Pour Le Culte Divin Et La Discipline Des Sacrements,<br />
Cité du VATICAN, décembre 2001.