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Cristina Barreto

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É quase isso: almoçamos amanhã?<br />

Os portugueses gostam de resolver tudo ˆ mesa. N‹o h‡ nada como um bom<br />

almo o de neg—cios, algo que nem Ž trabalho, nem tempo livre. E que pode<br />

acabar num bordel.<br />

Texto de João Nogueira Dias<br />

Aviso: este texto contŽm asinhas de camar‹o.<br />

Grelhadas.<br />

Os portugueses s—est‹o bem a comer ou a ver<br />

futebol. Se puderem ver futebol enquanto<br />

comem, ent‹o atingem uma felicidade apenas<br />

compar‡vel ˆ do Dalai Lama. Ou da Serenella<br />

Andrade.<br />

AtŽ os neg—ciospodem ser resolvidos ˆ mesa.<br />

Devem! Sim, os portugueses adoram almo os<br />

de trabalho, algo que n‹o Ž bem trabalho, mas<br />

tambŽm n‹o Ž bem tempo livre. Por outras<br />

palavras, uma espŽcie de boneca insufl‡vel da<br />

hora de almo o: n‹o Ž sexo, mas tambŽm n‹o<br />

Ž masturba ‹o.<br />

Este tipo de encontros t m sempre uma conversa<br />

introdut—ria, n‹o qual se Òenchem<br />

chouri osÓ,atŽ chegar o momento importante e<br />

onde muito est‡ em jogo. Voltemos ao sexo:<br />

esta conversa Ž como os preliminares, uma vez<br />

que, se o principal correr mal, ninguŽm se vai<br />

lembrar destes dez minutos iniciais.<br />

J‡ sem o teu chefe, que entretanto foi tirar a<br />

espinha do es—fago.<br />

Os almo os de trabalho podiam trocar, de vez<br />

em quando, com os casamentos, no que diz<br />

respeito ao final da refei ‹o. O pessoal<br />

mantinha-se s—brioe formal nos casamentos e<br />

acabava os almo os de trabalho b bado, com a<br />

gravata na cabe a, a camisa cheia de vinho, e<br />

dan ava o ÒApitao ComboioÓou o ÒDancing<br />

QueenÓ, de forma Žpica.<br />

Pior do que um mau almo o de trabalho Ž ter<br />

que trabalhar depois de um mau almo o de<br />

trabalho. N‹o Ž s—a moleza provocada pela<br />

barriga cheia e pelo efeito do vinho. ƒ querer<br />

que alguŽm fique com uma espinha de tubar‹o<br />

encravada no es—fago e saber que isso Ž<br />

improv‡vel. ƒ querer que alguŽm seja comido<br />

por um tubar‹o e n‹o existirem tubar›es ˆ m‹o.<br />

Um mau almo o de trabalho deveria dispensar-nos<br />

da tarde. E da manh‹ seguinte, caso<br />

fssemos,na mesma, a um bordel, com a malta<br />

da empresa.<br />

Chega a hora da sobremesa. O almo o atŽ<br />

correu mal, mas as partes parecem come ar a<br />

ceder. ‡ um entendimento no horizonte. ƒ<br />

como sexo de reconcilia ‹o. J‡ n‹o interessa<br />

quem paga a conta.<br />

Enquanto se discutem os assuntos importantes,<br />

ninguŽm come. Conhe o alguŽm que diz que se<br />

sente mal por ser o œnico ˆ mesa a comer,<br />

enquanto os neg—cioss‹o discutidos. Mas eu<br />

compreendo: a comida est‡ a arrefecer. Devia<br />

haver uma m‹e ou um pai ˆ mesa, nos almo os<br />

de trabalho, para nos mandar comer. E, mais<br />

importante, para dar um cacha o a quem se<br />

portasse mal.<br />

Imagina o teu chefe a comer peixe e a ficar ˆ<br />

rasca com uma espinha. Ou com um osso de<br />

camar‹o. O camar‹o n‹o tem osso, mas n‹o<br />

interessa para o caso. Um plano de reestrutura<br />

‹o financeira pode ir por ‡gua abaixo, n‹o<br />

por ser mal elaborado, mas porque o teu chefe<br />

tem um objecto pontiagudo espetado no<br />

es—fago.Pior poder‡ ser o teu dilema: salvar o<br />

chefe ou o plano de reestrutura ‹o? Pode surgir<br />

uma terceira apetitosa hip—tese:comer aquela<br />

œltima asinha de camar‹o.<br />

O camar‹o n‹o tem asinhas, mas vai dar ao<br />

mesmo.<br />

Um verdadeiro almo o de neg—cios demora<br />

muito mais do que o previsto. Se for mesmo<br />

bom, acaba pelo jantar. Se for excelente, acaba<br />

num bordel.<br />

Cr—nica

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