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É quase isso: almoçamos amanhã?<br />
Os portugueses gostam de resolver tudo ˆ mesa. N‹o h‡ nada como um bom<br />
almo o de neg—cios, algo que nem Ž trabalho, nem tempo livre. E que pode<br />
acabar num bordel.<br />
Texto de João Nogueira Dias<br />
Aviso: este texto contŽm asinhas de camar‹o.<br />
Grelhadas.<br />
Os portugueses s—est‹o bem a comer ou a ver<br />
futebol. Se puderem ver futebol enquanto<br />
comem, ent‹o atingem uma felicidade apenas<br />
compar‡vel ˆ do Dalai Lama. Ou da Serenella<br />
Andrade.<br />
AtŽ os neg—ciospodem ser resolvidos ˆ mesa.<br />
Devem! Sim, os portugueses adoram almo os<br />
de trabalho, algo que n‹o Ž bem trabalho, mas<br />
tambŽm n‹o Ž bem tempo livre. Por outras<br />
palavras, uma espŽcie de boneca insufl‡vel da<br />
hora de almo o: n‹o Ž sexo, mas tambŽm n‹o<br />
Ž masturba ‹o.<br />
Este tipo de encontros t m sempre uma conversa<br />
introdut—ria, n‹o qual se Òenchem<br />
chouri osÓ,atŽ chegar o momento importante e<br />
onde muito est‡ em jogo. Voltemos ao sexo:<br />
esta conversa Ž como os preliminares, uma vez<br />
que, se o principal correr mal, ninguŽm se vai<br />
lembrar destes dez minutos iniciais.<br />
J‡ sem o teu chefe, que entretanto foi tirar a<br />
espinha do es—fago.<br />
Os almo os de trabalho podiam trocar, de vez<br />
em quando, com os casamentos, no que diz<br />
respeito ao final da refei ‹o. O pessoal<br />
mantinha-se s—brioe formal nos casamentos e<br />
acabava os almo os de trabalho b bado, com a<br />
gravata na cabe a, a camisa cheia de vinho, e<br />
dan ava o ÒApitao ComboioÓou o ÒDancing<br />
QueenÓ, de forma Žpica.<br />
Pior do que um mau almo o de trabalho Ž ter<br />
que trabalhar depois de um mau almo o de<br />
trabalho. N‹o Ž s—a moleza provocada pela<br />
barriga cheia e pelo efeito do vinho. ƒ querer<br />
que alguŽm fique com uma espinha de tubar‹o<br />
encravada no es—fago e saber que isso Ž<br />
improv‡vel. ƒ querer que alguŽm seja comido<br />
por um tubar‹o e n‹o existirem tubar›es ˆ m‹o.<br />
Um mau almo o de trabalho deveria dispensar-nos<br />
da tarde. E da manh‹ seguinte, caso<br />
fssemos,na mesma, a um bordel, com a malta<br />
da empresa.<br />
Chega a hora da sobremesa. O almo o atŽ<br />
correu mal, mas as partes parecem come ar a<br />
ceder. ‡ um entendimento no horizonte. ƒ<br />
como sexo de reconcilia ‹o. J‡ n‹o interessa<br />
quem paga a conta.<br />
Enquanto se discutem os assuntos importantes,<br />
ninguŽm come. Conhe o alguŽm que diz que se<br />
sente mal por ser o œnico ˆ mesa a comer,<br />
enquanto os neg—cioss‹o discutidos. Mas eu<br />
compreendo: a comida est‡ a arrefecer. Devia<br />
haver uma m‹e ou um pai ˆ mesa, nos almo os<br />
de trabalho, para nos mandar comer. E, mais<br />
importante, para dar um cacha o a quem se<br />
portasse mal.<br />
Imagina o teu chefe a comer peixe e a ficar ˆ<br />
rasca com uma espinha. Ou com um osso de<br />
camar‹o. O camar‹o n‹o tem osso, mas n‹o<br />
interessa para o caso. Um plano de reestrutura<br />
‹o financeira pode ir por ‡gua abaixo, n‹o<br />
por ser mal elaborado, mas porque o teu chefe<br />
tem um objecto pontiagudo espetado no<br />
es—fago.Pior poder‡ ser o teu dilema: salvar o<br />
chefe ou o plano de reestrutura ‹o? Pode surgir<br />
uma terceira apetitosa hip—tese:comer aquela<br />
œltima asinha de camar‹o.<br />
O camar‹o n‹o tem asinhas, mas vai dar ao<br />
mesmo.<br />
Um verdadeiro almo o de neg—cios demora<br />
muito mais do que o previsto. Se for mesmo<br />
bom, acaba pelo jantar. Se for excelente, acaba<br />
num bordel.<br />
Cr—nica