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comadre florzinha teste

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COMADRE FLORZINHA<br />

Adaptação da lenda e ilustrações<br />

por Marina Helena Müller.<br />

1ª edição / junho de 2016


Lembro como se fosse hoje.<br />

Eu e meu irmão brincávamos<br />

de esconde-esconde perto da mata,<br />

pois meus pais estavam brigando,<br />

como de costume, dentro de casa.<br />

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Eu e minha família morávamos<br />

no interior de Recife havia menos<br />

de 6 meses porque meu pai havia perdido<br />

seu emprego e tivemos que nos mudar.


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Eu ainda não havia feito muitos amigos<br />

por ali, por isso insistia que meu irmão<br />

brincasse comigo quase que o tempo todo.<br />

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Ele gostava de brincar pois sempre<br />

ganhava, mas também porque assim<br />

ficávamos longe da gritaria de nossos pais.


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Naquela época as brigas em nossa casa<br />

estavam piores do que jamais haviam<br />

sido. Eram mais seguidas e mais violentas.<br />

Sempre acabavam com minha mãe chorando<br />

e meu pai bebendo uma garrafa inteira<br />

de um líquido transparente e fedorento.<br />

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Lembro de minha mãe gritar para irmos<br />

brincar fora de casa até que ela e meu pai<br />

se resolvessem. Então era o que fazíamos.


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Aquele dia já era o 4º seguido de brigas,<br />

portanto eu e meu irmão fomos brincar<br />

de esconde-esconde perto da mata.<br />

De lá, não costumávamos ouvir os berros<br />

que vinham da casa, mas não naquele<br />

dia - estavam muito altos.<br />

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Na minha vez de me esconder, tive a súbita<br />

vontade de adentrar na mata, pois, além<br />

de ter certeza de que meu irmão não me<br />

encontraria, lá era silencioso e acolhedor.


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Caminhei muito longe entre as árvores -<br />

eram lindas. Havia pássaros e seus cantos<br />

eram gostosos de ouvir - totalmente<br />

opostos dos berros de meus pais.<br />

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Encontrei uma árvore enorme e me escondi<br />

atrás de seu tronco, na esperança de ganhar<br />

aquela partida de esconde-esconde.<br />

Fiquei esperando algum sinal de meu irmão,<br />

ansiosa, mas desde então nunca mais o vi.


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Eu esperei por muito tempo encostada<br />

naquele tronco - esperei o que pareceu<br />

uma eternidade. Quando finalmente<br />

resolvi levantar e tentar voltar para casa,<br />

eu já não sabia mais qual direção seguir.<br />

Não lembrava de qual caminho eu havia<br />

vindo. Me perdi e caí em desespero.<br />

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Imagino que se passaram horas até que<br />

tentei arriscar os primeiros passos em uma<br />

direção que eu não tinha certeza se deveria<br />

tomar. Não cheguei a lugar nenhum.<br />

Já começara a escurecer e eu me sentia<br />

cada vez mais perdida. Esperei que minha<br />

família me encontrasse e nada.


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Já começara a escurecer e eu me sentia cada<br />

vez mais perdida. Esperei por horas para<br />

que minha família me encontrasse e nada.<br />

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A primeira noite que passei no meio<br />

da floresta foi a pior de todas, pois<br />

eu nada conhecia, sentia fome e frio,<br />

mas com o tempo tudo isso melhorou.


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Até hoje não sei se minha família<br />

me procurou ou sentiu minha falta.<br />

Eu senti falta deles no início, hoje não<br />

mais. Os barulhos da floresta são muito<br />

melhores do que brigas incessantes.<br />

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Conforme o tempo dentro da floresta passou,<br />

aprendi a colher frutas e conviver com os<br />

animais. Aprendi táticas para não passar frio<br />

e maneiras mais confortáveis de dormir. Estou<br />

tão acostumada a viver aqui, faz tanto tempo.


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Às vezes encontro algumas pessoas, mas<br />

quase todas querem apenas nos fazer mal.<br />

Certa vez, por exemplo, vi dois caçadores<br />

vagando pela floresta com armas enormes.<br />

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Ouvi os dois falando sobre uma menina<br />

que se perdeu na floresta e dizem que morreu<br />

desnutrida, mas nunca encontrei outra<br />

menina por aqui. Por fim, descobri que<br />

queriam matar raposas. Tive que atacar eles<br />

para que fossem embora, não tive escolha.<br />

Nunca mais ousaram aparecer na floresta.


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Outra vez, lembro-me de encontrar um rapaz<br />

cortando uma árvore linda, lar de vários<br />

pássaros amigos meus. Novamente, tive<br />

que assustá-lo antes que derrubasse a árvore<br />

e deixasse todos aqueles animais sem lar.<br />

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Pulei por cima dele e o mordi no ombro com toda<br />

força que consegui. Dei uns arranhões fortes<br />

com essas minhas unhas compridas e lembro que<br />

assim que ele conseguiu se desvencilhar de mim,<br />

saiu correndo gritando “É a Comadre Florzinha,<br />

ela me atacou!!! Socorro!!!”


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Fico me perguntando o que seria Comadre<br />

Florzinha pois nunca ouvi falar disso.<br />

Da onde tiraram esse nome tão estranho?<br />

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Mas enfim, vocês devem me achar uma pessoa<br />

má, pois fico atacando as pessoas que vem pra<br />

floresta, não é? Deixa eu te contar, na verdade<br />

eu só estou protegendo os animais, as árvores<br />

e as plantas porque esse é o único lar que<br />

me restou - e dessa vez quero ele bem cuidado.


Este livro foi impresso em papel couché fosco 300g. Para sua diagramação foi utilizada a fonte Alegreya<br />

Regular, tamanho 15.

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