Jornal O Claustro - 4ª ed - 2016
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Poemas à beira-mar<br />
No Entardecer dos Dias de Verão<br />
Francisco Santo<br />
Comparar-te a um Dia de Verão?<br />
Comparar-te a um dia de verão?<br />
Há mais ternura em ti, ainda assim:<br />
um maio em flor às mãos do furacão,<br />
o foral do verão que chega ao fim.<br />
Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;<br />
outras, desfaz-se a compleição doirada,<br />
perde beleza a beleza; e o que perdeu<br />
vai no acaso, na natureza, em nada.<br />
Mas juro-te que o teu humano verão<br />
será eterno; sempre crescerás<br />
indiferente ao tempo na canção;<br />
e, na canção sem morte, viverás:<br />
Porque o mundo, que vê e que respira,<br />
te verá respirar na minha lira.<br />
William Shakespeare,<br />
in “Sonetos”<br />
No entardecer dos dias de Verão, às vezes,<br />
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece<br />
Que passa, um momento, uma leve brisa...<br />
Mas as árvores permanecem imóveis<br />
Em todas as folhas das suas folhas<br />
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,<br />
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...<br />
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!<br />
Fôssemos nós como devíamos ser<br />
E não haveria em nós necessidade de ilusão<br />
...<br />
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida<br />
E nem repararmos para que há sentidos ...<br />
Mas graças a Deus que há imperfeição no<br />
Mundo<br />
Porque a imperfeição é uma cousa,<br />
E haver gente que erra é original,<br />
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.<br />
Se não houvesse imperfeição, havia uma<br />
cousa a menos,<br />
E deve haver muita cousa<br />
Para termos muito que ver e ouvir ...<br />
Alberto Caeiro, in “O Guardador de<br />
Rebanhos - Poema XLI”<br />
Francisco Santo<br />
O <strong>Claustro</strong> Página 5