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Jornal O Claustro - 4ª ed - 2016

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DISCURSO INDIRETO<br />

A<br />

minha avó, quando soube que havia<br />

entrado em Psicologia, confiou-me,<br />

em surdina: “Estuda muito e acaba o<br />

teu curso, para daqui a uns anos tratares da<br />

minha cabeça”. Seguiu-se uma piscadela de<br />

olho atrevida e uma gargalhada pelas duas<br />

partilhada. Mal sabia ela - mal sabíamos nós<br />

todos - que passado uns meses ser-lheia<br />

diagnosticado um dos mais impi<strong>ed</strong>osos<br />

subjugadores da frágil mente humana: a<br />

Doença de Alzheimer.<br />

A cada 3 segundos, um novo caso de<br />

demência é diagnosticado no mundo. 45<br />

milhões é o numero de pessoas que sofrem<br />

atualmente de algum tipo de demência. Estima-se<br />

que, em 2050, esse número será o<br />

triplo - 185 milhões.<br />

Demência é um termo geral utilizado<br />

para descrever uma miríade de doenças caracterizadas<br />

pelo declínio progressivo da capacidade<br />

de funcionamento do indivíduo, envolvendo<br />

sintomas como perda de memória,<br />

de capacidade intelectual e de competências<br />

sociais e comunicacionais, bem como alterações<br />

nas reações emocionais. Alguns dos<br />

tipos mais comuns de demência incluem a<br />

Doença de Alzheimer, Demência Frontotemporal<br />

e a Doença de Parkinson. São doenças<br />

implacáveis e verdadeiramente aterradoras,<br />

tanto para quem delas padece, como para os<br />

que assistem ao seu rápido desenvolvimento.<br />

Infelizmente, sinto-o na pele - a cada regresso<br />

à minha terra natal vem anexado um<br />

crescente receio do inevitável dia em que<br />

a minha avó materna já não reconhecerá a<br />

neta mais nova. O sentimento de impotência<br />

de ver quem amamos debater-se com<br />

a Doença de Alzheimer, com um perpétuo<br />

estado de confusão, pautado, não raras<br />

vezes, por alucinações visuais e ideias delirantes<br />

enada poder fazer para ajudar é, no<br />

mínimo, avassalador e sufocante.<br />

Não se conhece cura para este tipo<br />

de doenças. Embora existam tratamentos<br />

que atenuem os efeitos nefastos e promovam<br />

uma melhoria na qualidade de vida,<br />

nenhum se mostrou capaz de retroc<strong>ed</strong>er ou<br />

imp<strong>ed</strong>ir o seu progresso, sendo o conhecimento<br />

atual das causas e mecanismos<br />

deste tipo de doença ainda ínfimo e lacunar.<br />

Todavia, é sabido que um dos primeiros<br />

sinais de demência é a gradual perda do<br />

sentido de orientação espacial.<br />

Foi nesse sentido que a empresa<br />

Deutsche Telekom, em parceria com a<br />

University College London, a Universidade<br />

de East Anglia e a Alzheimer’s Research,<br />

desenvolveu Sea Hero Quest, um jogo para<br />

telemóveis e tablets cujo derradeiro objetivo<br />

passa pela recolha de dados que auxiliem<br />

os investigadores a melhor compreenderem<br />

a natureza das demências. Segundo<br />

estimativas da equipa responsável pela<br />

criação do jogo, se este for jogado por 100<br />

mil pessoas durante apenas 2 minutos, obter-se-ão<br />

resultados equivalentes a mais de<br />

50 anos de pesquisa em laboratório!<br />

No decorrer do jogo, são recolhidas informações<br />

anónimas do modo como o jogador<br />

se orienta e desloca nos diferentes níveis,<br />

visando o estabelecimento de uma colossal<br />

base de dados a nível global da forma como<br />

as pessoas se orientam no espaço. Deste<br />

modo, os jogadores constituirão o grupo<br />

de controlo num estudo a ser desenvolvido<br />

sobre a capacidade de orientação espacial,<br />

O <strong>Claustro</strong> Página 14

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