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que, de algum mo<strong>do</strong> indecifrável, éramos responsáveis por nosso destino?<br />
A Sra. Grant propôs que tentássemos velejar de novo, mas a experiência nos<br />
ensinara que, inflada pelo vento, a vela provocaria a inclinação <strong>do</strong> barco e a água<br />
voltaria a entrar pela borda. Nessas circunstâncias, suas palavras foram<br />
desconsideradas, mas eu percebia que ela tentava apresentar algum tipo de<br />
solução que não fosse apenas sentar e esperar. Sua sugestão foi seguida por um<br />
silêncio longo e desanima<strong>do</strong>r, afinal rompi<strong>do</strong> pelo Sr. Nilsson:<br />
— Nesse caso, precisamos re<strong>mar</strong>.<br />
O Sr. Hardie emitiu um grasni<strong>do</strong> debocha<strong>do</strong> que talvez fosse uma risada e<br />
disse que teríamos dificuldade até para acompanhar a corrente, ao que o Sr.<br />
Nilsson retrucou:<br />
— Não falo em re<strong>mar</strong> na direção da América, ainda que seja o continente<br />
mais próximo. Acho que devemos re<strong>mar</strong> de volta para a Inglaterra.<br />
Ele nos contou então a história de <strong>do</strong>is noruegueses que alguns anos antes<br />
tinham atravessa<strong>do</strong> o oceano Atlântico em um barco a remo aberto tipo esquife<br />
de dezoito pés.<br />
— Mas eles eram rema<strong>do</strong>res experientes! — exclamou o coronel.<br />
E era verdade que, das oito pessoas designadas pelo Sr. Hardie, apenas o Sr.<br />
Nilsson e o coronel mostravam alguma aptidão no manejo <strong>do</strong>s remos.<br />
— E no auge da boa forma — acrescentou o diácono.<br />
— A alternativa seria ficar à deriva esperan<strong>do</strong> a morte — cortou o Sr. Nilsson.<br />
Após um instante de reflexão, Hardie concor<strong>do</strong>u.<br />
— Talvez até cruzemos com um navio no caminho. — Meu coração encheuse<br />
de esperança, até ele acrescentar: — Ou talvez não. Existe a possibilidade de o<br />
Empress Alexandra ter se desvia<strong>do</strong> da rota, ou de a guerra ter afeta<strong>do</strong> o número<br />
de navios em circulação entre os <strong>do</strong>is continentes, o que explicaria o fato de<br />
ainda não termos si<strong>do</strong> resgata<strong>do</strong>s.<br />
O coronel e o Sr. Nilsson ficaram encarrega<strong>do</strong>s de nos ensinar a re<strong>mar</strong>, mas<br />
muitas mulheres e também Michael Turner, o mais velho <strong>do</strong>s homens, eram<br />
fracos demais ou não tinham aptidão para a tarefa. Quan<strong>do</strong> começamos, foi<br />
anima<strong>do</strong>r ver o barco fender a água com o vento sopran<strong>do</strong> de trás em vez de<br />
propeli<strong>do</strong> por uma ventania feroz que ameaçava nos derrubar o tempo to<strong>do</strong> e nos<br />
obrigava a lutar contra forças com as quais não tínhamos condições de competir.<br />
Porém, mesmo aqueles que haviam si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>s fortes o bastante para<br />
re<strong>mar</strong> logo se cansaram. Ao fim de apenas dez minutos o remo <strong>do</strong> coronel<br />
escapou da forqueta, e consumimos uma energia preciosa recuperan<strong>do</strong>-o da<br />
água. Ele, o Sr. Nilsson e a Sra. Grant conseguiram cumprir to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de<br />
uma hora que fora designa<strong>do</strong> para cada turno, mas a maioria perdia o ritmo<br />
depois das primeiras remadas. Surgiram bolhas em nossas mãos, apesar das<br />
proteções que o Sr. Hardie improvisara com tiras de cobertores. Quan<strong>do</strong> o Sr.<br />
Preston veio me render ao fim <strong>do</strong> turno, mergulhei a mão no oceano, na